Arquitetura religiosa românica, gótica, maneirista, barroca, neoromânica, neogótica e neomanuelina. Catedral de edificação românica afonsina e gótica, com sucessivas alterações ao longo do tempo, tendo sido alvo de restauros revivalistas, que lhe deram uma fácies medieval. Conjunto composto por igreja de planta em cruz latina, composta por três naves escalonadas, as laterais encimadas por trifório, casa uma delas com seis tramosdivididas por pilares fasciculados, com transepto saliente e cabeceira composta por abside e deambulatório com várias capelas radiantes. Possui corpos adossados, formando vários anexos, capela lateral, camarim e a sacristia. Tem claustro quadrangular de dois pisos, adossado à fachada posterior, formando apenas três alas. A igreja possui coberturas interiores diferenciadas, em falsas abóbadas de berço na nave central e transepto, de aresta nas laterais, em cruzaria de ogivas no deambulatório e respetivas capelas e em abóbada de lunetas na capela-mor. Fachadas em cantaria de calcário, amarelo e lioz, rematadas por ameias ornamentais, de feitura recente, pouco rasgada por fenestrações, resultando num templo escuro interiormente, exceto no corpo da capela-mor, intensamente iluminado. Fachada principal harmónica, composta por corpo central com portal escavado, formado por várias arquivoltas de volta perfeita, assentes em colunas e capitéis com decoração vegetalista, encimado por varanda e enorme rosácea. É flanqueada por torres sineiras rasgadas por frestas que permitem iluminar as escadas de acesso, com ventanas em arcos de volta perfeita. As fachadas laterais possuem portas travessas confrontantes, a do lado S. atualmente entaipada. Interior com coro-alto, tendo acesso por porta no lado do Evangelho, surgindo uma no lado oposto, que dá acesso às dependências superiores do lado S., transformadas em espaços museológicos. A nave e transepto são percorridos por trifório estreito, de cariz românico, tendo, ao centro do transepto o altar-mor, iluminado por torre lanterna octogonal. A capela-mor possui as fachadas revestidas a calcários de várias tonalidades, o mesmo sucedendo no pavimento e com cobertura ornada por pinturas de temática mariana e estuque. Nesta, surgem tribunas, dois órgãos e dois túmulos régios barrocos. Na parede testeira, simples altar, encimado por painel com pintura alusiva ao orago. As capelas colaterais são profundas, a do lado do Evangelho maior, com um portal maneirista, flanqueada por pilastras e rematado em friso e cornija, possuindo interior com nave e capela-mor decorado com pinturas e estuque barroco, com retábulo da mesma tipologia; a oposta é simples, com acesso pelo deambulatório. Este possui capelas poligonais, com acesso por arcos apontados e iluminadas por janelas com o mesmo perfil com vários lumes, onde surgem simples altares de cantaria, duas delas com portas de acesso ao claustro. Este possui um piso com cobertura em abóbada de aresta e pavimento lajeado, aberto para a quadra por arcadas com espelho ornado por óculos, surgindo, em duas das alas capelas várias, as do lado N. protegidas por grades metálicas, todas com coberturas em abóbadas ogivais. Duas alas possuem dois pisos, surgindo, na zona superior, a zona do arquivo e arrumos, com acesso por escada de caracol no ângulo SE. e por portão que se rasga no muro que prolonga a fachada lateral. Possui uma capela particular adossada, com cobertura em abóbada de ogiva e acesso por portal escavado, apontado e sublinhado por alfiz, surgindo, no lado oposto, a sacristia, maneirista, retangular, com mesa central, dois arcazes, lavabo e oratório no lado O., sendo intensamente iluminado e possuindo cobertura em abóbada de berço. Catedral bastante alterada pelos restauros revivalistas que sofreu ao longo dos séculos 19 e 20, que lhe deram uma feição neoromânica e neogótica, apesar de aproveitar alguns elementos originais, nomeadamente na Capela de São Bartolomeu, na capela-mor, onde as janelas primitivas fora desentaipadas, e no claustro, que apresenta, no muro divisório da quadra uma faceta gótica, com os seus vãos mainelados e espelhos ornados por óculos com elementos fitomórficos. A fachada principal resulta de uma reforma, exceto o portal, de transição do período românico para o gótico, visível no tipo de decoração dos capitéis; possui dois níveis de silhares, um de lioz e outro mais antigo, mas surgem pedras mais modernas nas zonas do embasamento, revelando que houve uma desmontagem de algumas fachadas e reaproveitamento e introdução de novas cantarias a substituir as que se achavam arruinadas. Possui um amplo deambulatório, revelando que se tratava, simultaneamente, de uma igreja de peregrinação, em torno do culto das relíquias de São Vicente, o qual seria, inicialmente aberto, como em Alcobaça, tendo sido fechado nas alterações góticas, que lhe deram uma capela à semelhança da Batalha, com duplo clerestório, cobertura em abóbada de ogivas, que descarregava nos arcobotantes, cujos vestígios ainda são visíveis no exterior da cabeceira, apesar de desativados pela existência de uma cobertura de solução barroca, em abóbada de lunetas. Os muros de cada capela estão em ângulo reto com o lado do polígono onde nascem. O eixo de cada uma situa-se no apótema dos lados e não na bissetriz, como no deambulatório de Alcobaça. Mantém intactas, graças aos esforços e teorias de Raul Lino e Baltasar de Castro, a Capela do Santíssimo e a capela-mor com a sua decoração pós-terramoto, exceto no facto de ter sido removido um dos órgãos da capela-mor, substituído por um instrumento de execução recente. O espólio das antigas capelas e elementos que as adornavam encontram-se espalhados por vários imóveis, foram vendidos ou estão arrecadados nas dependências do edifício. Possui pintura notável dos séculos 16 e 17, bem como imaginária da mesma época, destacando-se a figura do orago, em cuja capela se encontra uma grade de execução românica, com decoração em enrolamentos que terminam em figuras fantásticas, zoo e antropomórficas ou em elementos vegetalistas. Uma das capelas do claustro mantém a aparência com que ficou após o terramoto, com alguns elementos de embutidos de calcários nos capialços dos vãos e nas paredes, excetuando os vãos de aceso, intervencionados nos restauros do séc. 20. Possui uma capela particular adossada, a de São Bartolomeu, protegida por grade metálica barroca, mas cuja intervenção oitocentista alterou profundamente, com o seu redimensionamento e a feitura de novas fenestrações, com colocação de vitral. A sacristia mantém a sua estrutura maneirista e o Camarim do Patriarca, no lado oposto, integra uma estrutura retabular proveniente de uma das capelas radiantes, de talha dourada e com vários painéis pintados. O presépio, oriundo da Patriarcal da Ajuda, é uma peça notável, tendo alguns temas raros, como "A queda dos ídolos" e as arquiteturas, com profusão de colunas, estátuas e obeliscos, refletindo uma influência dos desenhos de Giovanni Battista Piranesi. Algumas figuras não são pintadas, refletindo a cor vermelha do barro e duas têm um trabalho muito cuidado, ligável aos "biscuit" de Meissen.
Conjunto formado pela igreja de planta em cruz latina composta por três naves, cada uma de seis tramos, transepto pouco saliente, cabeceira composta por capela-mor e deambulatório com dez capelas radiantes, duas de planimetria retangular e as restantes poligonais; possui adossados a sacristia retangular, à fachada S., a Capela de Bartolomeu Joanes, de planta poligonal, e o Camarim do Patriarca de planta retangular, à fachada N.; a E. desenvolve-se o claustro de planta retangular irregular, com três alas e dois pisos. Evolui na horizontal, com os corpos articulados, possuindo coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na nave central, duas e quatro águas respetivamente no claustro, Camarim do Patriarca e no edifício da sacristia, tendo a capela-mor sete águas; as naves laterais, capela de Bartolomeu Joanes e capelas do deambulatório são cobertas por terraços. Fachadas em cantaria aparente, de aparelho isódomo misturando o calcário amarelo, de extração mais antiga, e o lioz, mais branco. Fachada principal virada a O., marcada por embasamento proeminente, com o corpo central de dois registos, divididos por mísulas, que sustentam o peitoril da janela em arco de volta perfeita e assente em colunas, dando lugar a um pequeno terraço, para onde se rasga uma rosácea, envolvida por friso de elementos ovalados e moldura saliente; na zona inferior, o portal escavado, constituído por quatro arquivoltas semicirculares assentes em oito capitéis de decoração vegetalista e figurativa. Está ladeado por duas torres de três registos, o primeiro marcado por pequenas frestas, o segundo por janelas maineladas, divididas por três coluna toscanas e capitel com decoração fitomórfica, e o terceiro pelas sineiras de volta perfeita, escavadas por cinco arquivoltas, assentes em impostas salientes e em três colunas de fustes lisos e capitéis decorados por elementos bolbosos; as torres rematam em ameias decorativas prismáticas. Fachada lateral esquerda, virada a N., formada por corpos de diferentes alturas adossados, constituindo a Capela de Bartolomeu Joanes e o Camarim do Patriarca. A nave é rasgada por porta travessa em arco abatido, com moldura saliente, sublinhada por três arquivoltas, assentes em duas colunas de fuste liso e capitéis com decoração vegetalista; é antecedido por pequena galilé, com acesso por vão em arco apontado, com duas arquivoltas sustentadas por duas colunas e dois pilares prismáticos, com capitéis de folhagem; para este abre uma porta em arco de volta perfeita, de acesso ao Camarim do Patriarca. O topo do transepto é marcado por duas janelas retilíneas e por janela em arco apontado, assente em duas colunas e com o vão dividido em três lumes por arcos de volta perfeita, encimado por bandeira, decorado por elementos rendilhados vazados. A zona da Capela do Santíssimo possui algumas janelas, ao nível do pavimento. A Capela de Bartolomeu Joanes é em cantaria de calcário lioz, rematado por friso assente em mísulas e ameias decorativas prismáticas, com a fachada rasgada por duas janelas semelhantes às do topo do transepto, possuindo, na face O, uma pequena rosácea circular. O Camarim do Patriarca tem três panos e dois registos, marcado por contrafortes, rasgado por uma janela de arco apontado em cada pano. No lado esquerdo, surge o muro que prolonga a fachada e envolve a zona superior do claustro, onde se rasga um portal de verga reta, flanqueado por duplas pilastras assentes em plintos únicos e encimada por friso e cornija, protegido por duas folhas de madeira *1; várias janelas marcam o muro correspondente ao segundo registo do claustro, rematado por uma cornija saliente. A fachada lateral S. tem, na zona da nave, dois contrafortes, duas frestas e três janelas maineladas, duas assentes em três colunas de fuste liso e capitéis fitomórficos, que sustentam arcos de volta perfeita; uma delas, assenta numa única coluna, sendo envolvida por arco de volta perfeita, sobre impostas salientes e capitéis cúbicos com coluna de fuste liso. No topo do transepto, surgem duas janelas em arco de volta perfeita, assente em colunas, sobre a qual está implantada uma rosácea circular. À nave, adossa-se a sacristia, com dois registos definidos por friso e cornija e quatro panos formados por duas ordens de pilastras, sendo rasgada em cada piso por quatro janelas, as inferiores de peitoril e protegidas por grades e as superiores de pequena sacada, com bacia de cantaria e guarda em ferro forjado; a estrutura remata em friso e cornija; na face O., surge cruz relevada no embasamento saliente, óculo e duas meias lunetas, aparecendo, na zona superior, duas janelas. Sucede-se o pano de muro aparelhado do claustro, rematado por ameias, onde se abre uma janela em arco apontado e, no extremo S., uma janela mainelada, envolvida por arco apontado, com moldura em toro, contendo dois lumes em arco apontado, assentes em colunas de fuste liso e capitéis de folhagem, sobre o qual surge quadrifólio vazado, possuindo guarda em cantaria, vazada por duas pequenas rosáceas. Fachada posterior com alto muro, onde se rasgam janelas de diferentes dimensões e perfis, marcando os dois registos do claustro, sendo rematada pelo beiral do telhado. Sobre o cruzeiro do transepto, é visível uma torre lanterna quadrangular, com cobertura de quatro águas, sendo rasgada por várias janelas e várias portas. A partir do claustro, vislumbra-se o exterior da cabeceira, com capela-mor poligonal, rasgada por nove janelas retilíneas, molduradas e remate em cornija; mais baixas, as nove capelas do deambulatório, retangulares, tendo, entre cada uma delas, espesso contraforte, que absorvia o peso da primitiva abóbada da capela-mor, transportado através dos arcobotantes, atualmente desativados; cada capela tem três janelas em arco apontado e o corredor do deambulatório amplos janelões apontados com quatro lumes. Junto à capela-mor, um muro com o arranque dos arcos da primitiva torre lanterna. INTERIOR com as naves e os tramos marcados por pilares cruciformes, que sustentam os arcos torais das falsas abóbadas de berço da nave central e das abóbadas de aresta das laterais. Por cima dos arcos formeiros, de ambos os lados da nave central corre o trifório que se prolonga nos braços do transepto *2 com cobertura em abóbada de berço. Coro-alto em cantaria, com acesso por porta de verga reta na parede fundeira, que acede à torre N. e às dependências sobre o Camarim. No lado oposto, uma porta semelhante de acesso à torre S. e ao espaço museulógico do Tesouro. Portal axial protegido por guarda-vento de madeira, ladeado por pias de água benta embutidas no muro. Ainda na parede fundeira, surge o batistério, rasgado no muro e com acesso por arco trilobulado, assente em pilastras toscanas, tudo ornado por botões, estando protegido por gradeamento de ferro forjado dourado; sobre o acesso, cartela recortada com inscrição latina; o interior tem as paredes forradas a azulejo figurativo, a azul e branco, representando episódios da vida de Santo António, com cobertura em abóbada de aresta pintada com acantos; possui uma pia batismal em mármore, de forma octogonal, com as faces formando apainelados. No lado do Evangelho, a Capela de São Bartolomeu, de planta retangular e dividida em dois tramos, com cobertura em abóbadas de ogiva e pavimento em mosaico geométrico. O acesso processa-se por arco apontado escavado na espessura do muro, com cinco arquivoltas assentes em bases altas, que sustentam oito colunas e duas pilastras, ornadas com capitéis fitomórficos, rematando em gablete; é protegido por grade de bronze com elementos geométricos e fitomórficos estilizados. No lado direito, a mesa de altar e, na parede fundeira, o túmulo com jacente do fundador da capela, assente em quatro colunas e decorado nas faces com o escudo do defunto; nas janelas, vitrais com temática mariana. Junto à porta travessa, uma lápide sepulcral acede ao carneiro de D. Rodrigo da Cunha, com inscrição. No lado da Epístola, a porta de acesso à sacristia, de planta retangular, com pavimento em tijoleira vermelha, com dois arcazes e um oratório no fundo, tendo, ao centro, uma mesa de apoio, em brecha da Arrábida e lavabo de cantaria. No cruzeiro do transepto, eleva-se a torre lanterna octogonal com abóbada de cantaria de oito nervuras e florão central, assente sobre trompas de ângulo; sob esta, supedâneo com mesa de altar. No braço N., porta de acesso ao Camarim do Patriarca, dividido em dois tramos por retábulo de talha dourada e embutidos de mármore; em frente, a Capela do Santíssimo Sacramento *3, de três tramos, definidos por arcos assentes em pilastras toscanas e por arcadas no lado da Epístola, uma delas entaipadas, que constituem vãos de acesso ao deambulatório, protegidas por grades, tendo, no terceiro tramo, uma pequena ábside; a porta principal é em arco ligeiramente apontado, assente em pilastras e flanqueado por pilastras mais altas, que sustentam a cornija do remate. O interior tem cobertura em falsa abóbada de lunetas, tendo, sobre o altar, pequeno lanternim, criando o efeito de um camarim transparente, decorada com estuque pintado de dourado sobre fundo verde, com florões e quatro lunetas decoradas com alfaias litúrgicas: ostensório, naveta, campainha e cálice; lateralmente, dois medalhões com a Fénix e o Pelicano e dois relicários. Na parede testeira, retábulo de talha dourada e policroma. Paralela a esta, no braço S., para onde abria uma porta semelhante à anterior, surge a Capela de São Vicente *4, de dois tramos, com cobertura de madeira de sucupira, tendo um simples altar de cantaria. Mantém vestígios de policromia vermelha, indicando que possuiu pintura decorativa. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilar crucífero, dando acesso à capela-mor, de três tramos definidos por pilastras com capitéis jónicos, formando apainelados de calcários de tonalidades distintas (branca, vermelha, azul e amarela), com cobertura em abóbada de lunetas, revestida a estuque com três painéis pintados, representando Deus, Cristo e o Espírito Santo, surgindo, nas lunetas, temas marianos e cristológicos: Fénix, Agnus Dei, pão, sol, trigo, açucena, porta, rosa, pelicano e chamas; o conjunto é envolto por estuque pintado com motivos fitomórficos; o pavimento mostra um jogo geométrico de calcários de várias tonalidades. Em duas das faces do polígono, surgem as tribunas, constituídas por varandim com balaustrada, assente em cinco modilhões, sob as quais surgem dois armários, que ladeiam a parede testeira, com painel pintado, circunscrito por moldura de cantaria, representando a "Assunção da Virgem". Confrontantes, dois arcosólios com os túmulos de D. Afonso IV e D. Beatriz; igualmente confrontantes, dois órgãos de tubos, o do Evangelho sobre coreto e inserto em arco de volta perfeita e o oposto assente no pavimento. Surge, ainda, o cadeiral constituído por 60 cadeiras, dispostas em quatro fiadas *5. A ladear a capela-mor abre-se o corredor do deambulatório, através de arcos apontados, mas sendo visíveis os perfis dos primitivos arcos de volta perfeita dos absidíolos românicos; é coberto por uma abóbada nervada com cadeia longitudinal e iluminada por grandes janelas de perfis quadrados abertos sobre os arcos das oito capelas, cada qual com três frestas, decoradas com vitral com motivos fitomórficos ou geométricos, e cobertas por abóbadas de nervuras e pavimento em lajeado de calcário, possuindo todas elas mesas de altar em cantaria e nichos para guarda de alfaias. Do lado do Evangelho para o lado da Epístola, surgem as capelas do Espírito Santo, atual ponto de ligação ao claustro através de porta em arco apontado de acesso à ala N. do claustro e, no oposto, porta de verga reta que acede à zona posterior do retábulo do Santíssimo Sacramento, a Capela de Nossa Senhora da Penha de França, Capela de Santa Ana, Santa Maria Maior, Santo Ildefonso, São Cosme e São Damião, Nossa Senhora da Conceição, com porta em arco apontado de acesso à ala S. do claustro, e Capela de São Sebastião. O CLAUSTRO possui três alas, duas delas, a N. e E., com contrafortes escalonados a marcar os tramos com arcadas apontadas e maineladas, assentes em duplas colunas com capitéis vegetalistas e, nos espelhos, óculos com decoração vazada de caráter geométrico. As suas alas, para onde se abrem várias capelas independentes, são cobertas por abóbadas de cruzarias de ogivas, que descarregam em mísulas; a ala N. possui sete capelas, todas com acesso elevado e por arco de volta perfeita assente em pilastras, protegido por grades metálicas, coberturas em falsas abóbadas de berço e pavimento em lajeado de calcário, exceto a primeira transformada em instalações sanitárias; sucedem-se as Capelas de São Lourenço, Nossa Senhora de Belém, Senhor Jesus da Boa Sentença, Santo António, Nossa Senhora da Tocha; na ala E., as Capelas de Santo Aleixo, São Miguel, Nossa Senhora da Terra Solta, uma sem orago definido, rasgada por dois nichos para alfaias e a Capela de Santo Estêvão. No registo superior do claustro, corre uma arcaria de perfil semicircular, com várias dependências com acesso por vãos de verga reta. No pátio do claustro, os vestígios da atividade arqueológica, que pôs a descoberto um poço-cisterna, várias habitações muçulmanas e uma calçada romana.
Materiais
Estrutura em cantaria de calcário lioz e amarelo; modinaturas, ameias, cornijas, colunas, pilares, pavimentos, coberturas, pilastras, escadas, altares, em cantaria de calcário; túmulos em calcário e mármore; tetos, portas, caixilharias, arcazes, retábulos, órgãos de madeira; janelas com vitral ou vidro do tipo catedral; coberturas com telhas; grades de ferro forjado ou bronze; painéis de azulejo tradicional; estuque decorativo.
Observações
1 - tinha remate em frontão interrompido por espaldar decorado por elementos fitomórficos e frontão triangular com cruz no vértice e possuía portão de bronze com decoração vegetalista estilizada e era ladeado por duas janelas molduradas, com friso e frontão semicircular, também interrompido por espaldar decorado por "ferronerie" e concheados; o portão foi transferido para a entrada principal da Capela de São Bartolomeu. *2 - Nos braços do transepto existiam capelas laterais e duas colaterais junto ao arco triunfal, removidas durante o restauro do séc. 20; no lado do Evangelho, a de SANTA ANA, instituída, no séc. 14, pelo cónego Domingos Fernandes, que deixou vários bens na zona da Moita e Sarilhos; em 1595, Martim Sanches, Moedeiro deixou dinheiro para a mesma indiciando que talvez a Irmandade dos Moedeiros já estivesse aqui instalada; antes do terramoto de 1755, possuía três esculturas, Santa Ana, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Carmo, a primeira refeita, constituindo uma Santa Ana a ensinar a Virgem a ler, e a segunda reformada por Manuel Vieira, em 1768, crendo-se que a terceira desapareceu; a primeira foi restaurada no IJF em 1985. Ao lado, a Capela de SANTA EULÁLIA, fundada por D. Pedro Peres, com bens em Óbidos; 1232 - Soeiro Viegas fez-se sepultar nesta; 1279, 3 Maio - sepultura de D. Mateus junto à mesma, deixando a herdade de Alperiate; os bens destinavam-se à construção da Capela de São Nicolau, no claustro, que ainda não se achava construído; quando esta o foi, os restos mortais do bispo permaneceram no local, não sendo trasladados para o novo espaço; no séc. 15, sofreu mudança de orago, passando a denominar-se de Santo Amaro, surgindo, no séc. 17, a imagem de Nossa Senhora da Quietação, no local; com o terramoto, estes oragos desapareceram, passando para o local, a Capela do Sagrado Coração de Jesus. No lado oposto, Capela de SÃO GERVÁSIO, instituída por D. Grácia, mãe do Conde D. Pedro de Barcelos, com bens na Ribeira; a 7 dezembro 1348, passou para o claustro, surgindo, no local a Capela de São Gregório de Nazianzo, fundada por D. Teresa Anes de Toledo; no séc. 17, surge, no local, a Capela de Nossa Senhora da Apresentação. Era ladeada pela Capela de SANTA CATARINA, fundada nos séc. 13 / 14 por Domingos Viegas, com casas na Judiaria, durando até ao séc. 18, altura em que se instalou no local o culto a Santo António, fomentado pelos Meninos do Coro. Todos tinham retábulos de embutidos de mármore, constituído por um arco de volta perfeita inscrito por duas pilastras coríntias, erguidas sobre plinto elevado, sendo rematado por arquitrave e friso, elementos suplantados, ao centro, por uma tabela retangular vertical entre duas aletas, onde apareciam, provavelmente, as insígnias de cada uma das Irmandades responsáveis pela manutenção das capelas; o ático apresentava, por cima da cornija, um frontão de lanços e, sobre o entablamento, na direção das pilastras, erguiam-se dois pináculos, em forma de balaústre torneado; integravam telas pintadas, atualmente arrecadadas na sacristia. O arco triunfal era flanqueado por dois retábulos, o do Evangelho dedicado a NOSSA SENHORA A GRANDE, cuja imagem foi colocada na Sé em 1520, trazida de França por Martim Afonso de Sousa, passando a ter duplo orado no séc. 17, com a introdução da imagem de Nossa Senhora da Conceição, com dupla Irmandade, administradas, em 1762, por Jerónimo Leite de Vasconcelos Pereira Malheiro. No lado oposto, a Capela de SANTIAGO, junto à qual se fez sepultar, D. Álvaro, em 1184, talvez o seu instituidor; ainda na Idade Média, surge no local a Nossa Senhora da Pombinha ou da Expectação; após o terramoto, está no local a Nossa Senhora da Pombinha, transitando para aqui, no final do séc. 18, o orago da Sé, Santa Maria Maior e, em 1718, a imagem de Santa Rosa de Viterbo, que não sobreviveu ao terramoto. O retábulo de Nossa Senhora a Grande possuía duas banquetas de madeira, pintadas de marmoreado azul e douradas, sobre a qual assentavam seis castiçais e um Cristo crucificado; a douragem foi executada por Simão Baptista de Carvalho, em Novembro de 1761. Ambas possuíam lâmpadas de prata, executadas em 1835. *3 - A Capela do Santíssimo teve uma fundação primitiva com outro orago, sendo dedicada ao Corpo de Deus, pelo cónego Afonso Martins, no séc. 14, para o que deixou terras em Sintra, que rendiam 75 libras anuais, destinadas à celebração de missas por sufrágio e para o ensino de jovens; no séc. 15, surge o novo orago do Santíssimo, que se manteve até aos nossos dias, ainda com um Irmandade proliferante; em 1720, ampliou o espaço com a anexação da capela contígua de Nossa Senhora da Luz, instituída por João Rodrigues em 1464, com testamento de Afonso Anes, almoxarife da Alfândega, e a mulher, D. Catarina da Cunha, datado de 28 de agosto de 1492, para nela se fazerem sepultar; a capela foi transformada em abside, com obras de Manuel Francisco e José Martins, por 7.896$635. *4 - a Capela de São Vicente só passa para o local após o terramoto de 1755, estando, anteriormente, na capela-mor; a capela da cabeceira foi fundada com o orago de Santa Cruz, surgindo, no séc. 16 com o de São Pedro, sendo posse de Rui Figueira e da mulher que deixavam várias casas, destinadas a missas por sufrágio. *5 - a cabeceira românica era composta por abside, flanqueada por absidíolos mais baixos, de que restam vestígios no pavimento da charola. *6 - Estêvão Domingues, Mateus Miguéis, Afonso Mendes, João de Alcochete, Pêro Pires, Garcia Pires, Domingos de Alcobaça, Pêro Galego, Domingos Pires Sintrão, Fernão Pais, Vicente Pais, Martim Cavaleiro, João Garcia Castelão, Lourenço Esteves Pessanha, Pedro Cota. *7 - na época medieval, não era permitida o sepultamento de laicos na capela-mor, reservada ao alto clero; o monarca só recebeu autorização para se fazer sepultar no local, graças ao seu comportamento heróico na Batalha do Salado; fundaram cinco capelas na charola dedicadas à Santíssima. Trindade, Santa Ana, Santo Ildefonso com sacristia e São Cosme e Damião, e 24 mercearias, deixando as vilas de Alverca, Gradil, Alfândega da Fé e Viana do Alentejo, para manter estas instituições; algumas destas capelas serviram de funerárias aos administradores das mesmas, como a Martim Áfonos da Boca da Lapa, sepultado na Capela de Santa Ana, em março de 1454, sucedendo o mesmo à esposa; em 1467 o coro das capelas passou a funcionar na Capela de São Cosme e São Damião; os túmulos medievais, rodeados por uma estrutura em talha, foram alvo de um projeto de recuperação, conforme desenho de Baltasar Álvares, datado de 31 outubro 1605, mas a alteração não se efetuou, sendo os que chegaram ao terramoto de 1755. *8 - em 1385, são referidas as capelas não situáveis, de Todos os Santos, fundada por D. Sancha Rool, São Simão e Judas, do chantre Pedro Ramires, Santa Margarida, criada por João Fuas, Santa Marta, de Rui de Lemos e Teresa Veres, São João Baptista, de João Domingos Rounão e a da Trindade, de Maria Scola. *9 - através do zelo dos administradores e com clara proteção régia, solicitada por Bartolomeu Joanes no seu testamento, a Capela possuía, no séc. 18, inúmeros terrenos, que lhe conferiam um rendimento considerável; este constava de oito casas na cidade de Lisboa, que rendiam 66$668 reis; duas quintas, uma na Palma de Baixo e outra nos Olivais, em Lisboa, com renda de 13$020 reis; vinhas em Telheiras e Barcarena, com o rendimento de 6$220; uma quinta, azenhas, casas e pomar em Barcarena, com o rendimento de 21$510; um casal no Turcifal e outro em Barcarena, rendendo 27$200; Quinta da Chapueira, em Torres Vedras, duas em São João da Talha, uma delas denominada Quinta da Figueira, a Quinta do Rei, na vila de Alenquer e a da Silveira, na Caparica, rendendo um total de 65$880; a Capela tinha, pois, um avultado rendimento, num total de 200$498 anuais, que permitia cumprir as disposições testamentárias do instituidor, bem como as várias obras pias; não existem notícias da localização do seu hospital, sendo, certamente, integrado, durante o séc. 15, no de Todos os Santos, como aconteceu às demais instituições deste tipo que existiam em Lisboa. *10 - nesta data, surgem a Irmandade de São Miguel no claustro, na Capela de São Gervásio, a qual deambularia até ter local próprio, estando na Capela de São Bartolomeu, em 1649, a dos Calafates, instalada na Capela do Rei Salvador, Irmandade do Senhor Jesus da Boa Sentença, no claustro e Irmandade de Santo Aleixo, também no claustro, que congregava mendigos cegos. *11 - as obras visavam tornar a capela seu mausoléu, tendo criado uma Irmandade que ampliou a capela e passou a ocupar três tramos do espaço claustral; mandou, ainda, executar uma tribuna no topo ocidental, de onde assistia às cerimónias religiosas. *12 - as obras consistiram no arranjo da torre S., abertura de 8 óculos na abóbada de madeira da nave, remodelação da capela-mor, alargamento ou repartimentação das capelas consoante o poder das respetivas irmandades; pintura da cobertura da capela-mor e execução do estuque por Félix da Rocha. *13 - esta colocação tinha por fim uniformizar as capelas das igrejas da capital, conforme éditos do Marquês de Pombal, que assumia a preferência pela colocação de pinturas na zona retabular. *14 - esta escultura foi feita em 1909 por Anjos Teixeira e destinava-se a um monumento a efetuar nas Avenidas Novas. *15 - as alfaias da Capela foram distribuídas por outras igrejas, como pela Ordem Terceira de Santo Agostinho, situada na Igreja de Santo André e de Santa Marinha, que o monarca autorizaria em 27 de março de 1883.