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Edifício na Praça D. Pedro IV, n. 21 - 27/ Tabacaria Mónaco

Edifício na Praça D. Pedro IV, n. 21 - 27/ Tabacaria Mónaco

O ponto de interesse Edifício na Praça D. Pedro IV, n. 21 - 27/ Tabacaria Mónaco encontra-se localizado na freguesia de Santa Maria Maior no municipio de Lisboa e no distrito de Lisboa.

Edifício residencial multifamiliar e comercial pombalino e arquitectura comercial, eclética e art déco. Prédio de rendimento, integrado nos planos pombalinos, de planta rectangular simples e evoluindo em cinco pisos, com águas-furtadas nas coberturas. O segundo piso apresenta tratamento mais cuidado, com janelas que abrem para sacada corrida, com vãos rectilíneos nos pisos inferiores e em arco abatido no antepenúltimo, todos com molduras de cantaria recortadas. No piso inferior, situam-se lojas, tendo a tabacaria Mónaco, um estabelecimento comercial de planta rectangular de reduzidas dimensões, de fundação oitocentista e na época destinado à venda de produtos específicos, de qualidade, como os tabacos, ou de distribuição restrita, como a imprensa estrangeira. Apresenta uma decoração concebida no seu todo, quer no aproveitamento do espaço quer na sua concepção estética, revelando um hibridismo que provém não só do eclectismo dos elementos decorativos utilizados (pintura naturalista, mobiliário neoclássico, caixilharias neogóticas, entalhamentos neobarrocos) como também da inspiração buscada em ambientes intimistas religiosos (capelas) ou domésticos (habitação). Em todo o projecto da tabacaria salienta-se a integração das artes, visto vários artistas se proporem a trabalhar em conjunto. A renovação qualitativa deste espaço aponta para uma preocupação oitocentista, onde a decoração de interiores arquitectónicos assentava na ideia da unidade das artes. O Café Nicola é um estabelecimento comercial com uma decoração interior art déco tardia, na época destinada a um público mais cosmopolita e refinado. Edifício pombalino, a que foi acrescentado mais um piso, elevando-se na cércea dos demais lotes que compõem a praça, este de sacada corrida, seccionada por papagaios. A Tabacaria Mónaco constitui um exemplar quase único duma tabacaria do fim do século 19, sendo um dos poucos estabelecimentos comerciais da sua época que mantém a actividade inicial, bem como a decoração interior e o mobiliário sem alterações. A azulejaria, da Fábrica das Caldas e com desenho de Rafael Bordalo Pinheiro, ilustram a vertente caricaturista deste artista, numa corrente minoritária em termos de produção de azulejos no século 19. O Café Nicola, inaugurado em 1929 e concebido pelo arquitecto Norte Júnior, obedeceu a uma linha mais mundana, exuberante e com uma rápida capacidade de absorção das correntes e gostos - uma estética citadina, muitas vezes revivalista, onde o fascínio pelo novo luxo urbano e civilizado, encontra nos equipamentos civis o suporte para a afirmação de autores. Este ecletismo historicista é caracterizado por uma modelação algo excessiva e pela saturação decorativa. O Café Nicola é um claro testemunho do ecletismo exuberante, ainda de tradição fino-oitocentista, que se desenvolveu nos primeiros anos do século 20. Norte Júnior nesta obra prende-se ainda à imagem oitocentista exótica, de linhas curvas e com recorrências a um sentido clássico da composição. Um eco tardio de uma gramática que, apesar de tudo, ainda fazia o gosto de muitos arquitectos. Em 1935, Raul Tojal coordena as obras de modernização, na qual utilizou uma gramática arte déco essencialmente gráfica e sintética. Gosto inspirado num estilo geométrico, expresso em: vãos rectos emoldurados por padrão vegetalista estilizado; divisão decorativa das paredes em sectores rectangulares através de pilastras simplificadas; cadeiras, mesas e candeeiros que obedecem também a uma estruturação geométrica. O recurso a espelhos, a cuidada atenção do mobiliário, as cores claras e lisas, a sanca de iluminação indirecta, são aspectos que mantém a traça original.

Planta rectangular simples, desenvolvendo-se em seis pisos - cave e quatro andares, de volumetria vertical, com cobertura homogénea em telhado de quatro águas, integrando águas-furtadas, parcialmente escondidas por uma platibanda balaustrada. A composição do edifício reflecte a sua ocupação, com o piso térreo integralmente ocupado por espaços comerciais (Tabacaria Mónaco, Livraria Diário de Notícias, Café Nicola e uma porta de acesso ao refeitório do Banco de Portugal), todas ela com decorações diferenciadas, de acordo com o gosto da época em que foram remodeladas; os restantes pisos estão ao serviço do BANCO DE PORTUGAL, com dois acessos, um pelo nº.16 da Rua 1º de Dezembro (antigo acesso da Tabacaria Mónaco, hoje ocupado por um elevador de serviço) e outro pelo lado do Rossio, numa entrada estreita e profunda, onde umas escadas e um elevador dão acesso aos restantes pisos. EDIFÍCIO com a fachada principal voltada à Praça D. Pedro IV de dois panos dividida por uma pilastra de cantaria que se alinha segundo o eixo centralizado do edifício, com os panos rebocados e pintados, apresentando, acima do primeiro piso, um friso de cantaria pouco saliente, salientada por uma varanda de sacada corrida, assente em base em cantaria e guarda metálica em ferro fundido, vazada. A composição simétrica da fachada é ritmada pela abertura regular de seis vãos de verga recta com emolduramento de cantaria recortada. No segundo piso, o andar nobre surgem, em cada pano, três vãos rectilíneos com moldura comum e divididos por pilastras de fustes almofadados, que sustentam o remate em friso e cornija. Os pisos imediatos possuem janelas de peitoril rectilíneas e em arco abatido, respectivamente, as segundas com os fechos salientes. No último piso, surge uma sacada corrida, seccionada por papagaios, com a bacia assente em modilhões, e com guardas metálicas em ferro fundido, para onde abrem janelas rectilíneas. A fachada posterior remata em cornija, acima da qual se eleva uma platibanda em balaustrada ritmada por acrotérios e é rasgada por seis vãos de verga recta em cada piso, sendo o piso térreo dominado pelas fachadas diferenciadas das lojas, o seguinte por janelas de sacada individual, com bacias em cantaria e guarda em ferro fundido; os segundo e terceiro pisos têm vãos de verga recta e o superior com vãos em arco abatido. TABACARIA MÓNACO com espaço único, de planta rectangular estreita e profunda, com acesso por porta de verga recta, rasgado sobre superfície rebocada e quase até ao limite da sacada do primeiro piso do edifício. A exiguidade do espaço interior, conformado a um rectângulo, é compensada por uma esmerada decoração a conjugar azulejaria, pintura mural e mobiliário. A fachada da loja circunscreve-se ao vão de verga recta, flanqueado por dois pilares, assentes em plintos salientes, ladeadas por dois painéis de azulejos de composição figurativa, policromos, representando cegonhas e rãs. No INTERIOR, a decoração murária e mobiliário contribuem para uma diferenciação funcional de um espaço arquitectonicamente não compartimentado, exceptuando a instalação sanitária. Assim, o tecto abobadado apresenta nas zonas do escritório (ao fundo) e da entrada caixotões de madeira, enquanto no espaço intermédio mostra pintura figurativa representando o céu com andorinhas esvoaçando. Nas paredes, a partir da zona do escritório, expositores de madeira encastrados a toda a altura, do lado direito, e até ao silhar de azulejos figurativos em monocromia azul e branco, do lado esquerdo. Estes retomam a temática dos painéis exteriores, conhecendo um desenvolvimento figurativo afim do espaço comercial que decoram: entre outros animais com atitudes humanas, observam-se rãs a ler os jornais "O Século" e o "Diário de Notícias". Do lado direito, os expositores são interrompidos por um nicho, também de madeira, em arco pleno, tendo nas cantoneiras as iniciais do proprietário; alberga um lavatório semicircular sustentado por coluna de secção quadrada, ambos de mármore, apresentado a bacia decoração geométrica na base e bordo, enquanto no bojo se observa a inscrição "Águas de Sintra, Caneças e Moura". A parede de fundo do nicho é revestida por azulejos relevados de padrão vegetalista, em policromia. A zona de atendimento encontra-se marcada pelo balcão em "L", de disposição longitudinal, correndo junto ao expositor do lado direito e no enfiamento do escritório, área de acesso restrita, definida por uma estrutura paralelepipédica a meia altura, de madeira e vidro martelado. Ao lado do escritório e prolongando o eixo de circulação do público, localizam-se umas escadas de madeira com corrimão trabalhado que dão acesso, por uma porta com caixilharia de madeira e vidro fosco, à instalação sanitária. Sobre a cornija de remate do expositor esquerdo e junto ao arranque do tecto, num complemento realista à sua decoração, estão colocados cabos telefónicos sobre os quais poisam andorinhas. CAFÉ NICOLA de planta rectangular, evoluindo em dois pisos, incluindo a cave. Fachada trabalhada em cantaria, com um único vão em arco abatido, assente em duas estípides, ornadas por elementos vegetalistas e assentes em plintos paralelepipédicos, sustentando dois candeeiros metálicos, e, ao centro, em duas colunas de fuste liso e capitéis jónicos *1, e com grande friso, volutado nos extremos, onde está inscrito o nome do café; está protegido por caixilharias de madeira e vidro, de perfil sinuoso, flanqueado por dois delfins e dois plintos que sustentam duas esculturas de vulto. Na fachada posterior, um segundo acesso ao Café, através de porta de verga recta, flanqueado por três vãos envidraçados, com molduras em calcário, superiormente com friso de óvulos e dardos, surgindo, entre elas, caneluras; na base, vãos rectangulares jacentes e circulares, servindo de respiradouros. No INTERIOR, desenvolve-se, no piso térreo, a pastelaria, salão de chá e copa, surgindo, na cave, a sala de refeições, cozinha e instalações sanitárias. O salão é composto por dois rectângulos, com decoração interior rica em materiais nobres, como o vidro, os ferros, cromados, pedra e os espelhos. Possui pavimento de xadrez e as paredes laterais revestidas por placas de opalina, divididas por pequenos frisos cromados, sendo seccionado por balcão em L, com telas pintadas a ólelo, retratando vários episódios anedóticos ligados à vida do poeta Bocage. A romper o pavimento do café, existe uma escada de acesso à cave, actualmente a sala do restaurante. Junto à zona de refeições, e colocada numa posição centralizada em relação à entrada principal, estátua de Bocage. A sub-cave, serve de sala de refeições e apresenta decorações em ferro, cromados e paredes forradas a tecido acetinado. A iluminação processa-se por lustres. LIVRARIA DIÁRIO DE NOTÍCIAS de planta composta por dois rectângulos alinhados verticalmente, desenvolvida em quatro níveis diferentes, ao nível da cota do pavimento; junto à entrada do estabelecimento pelo lado do Rossio, é inferior à da via pública; através de uma estrutura metálica, que divide o pé direito da livraria em duas zonas comunicantes, há um aproveitamento do espaço interno, criando assim mais um nível.

Materiais

Tabacaria Mónaco - Pedra mármore, vidro simples, fosco e pintado, madeira exótica, azulejo; Café Nicola - Pedra mármore, cantaria, opalina, ferro, tecidos, espelhos, vidro, madeira, metais cromados; Edifício e Livraria do Diário de Notícias - Betão, ferro, vidro, madeira, alvenaria, azulejo.

Observações

*1 - segundo Juan Fernandéz Delgado as duas colunas na entrada do Café Nicola provêm de uma antiga igreja do século 16.