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Edifício na Avenida Álvares Cabral, n.º 67 a 67 B

Edifício na Avenida Álvares Cabral, n.º 67 a 67 B

O ponto de interesse Edifício na Avenida Álvares Cabral, n.º 67 a 67 B encontra-se localizado na freguesia de Campo de Ourique no municipio de Lisboa e no distrito de Lisboa.

Casa multifamiliar construída nos anos 40 do séc. 20, exemplo do compromisso, ensaiado em contexto urbano, entre o modernismo radical e as propostas de tendência nacionalista que percorrem a arquitectura portuguesa, em particular durante o Estado Novo. Subtraídos os elementos decorativos, quase poderíamos classificá-la como uma vivenda modernista, com aspectos comuns às experiências mais vanguardistas ensaiadas nos anos trinta, de que é exemplo o conjunto de moradias da Avenida António José de Almeida, em Lisboa, e para onde Cristino da Silva projectou também uma vivenda. Deste modo, o entendimento de uma arquitectura portuguesa por oposição ao internacionalismo da arte, avesso à tradição nacional, parece aqui consubstanciar-se num arranjo de fachada sobre uma volumetria modernista onde se mistura a reinterpretação de elementos eruditos e populares com aspectos modernistas: cornijas, que lembram as cachorrradas medievais, e beirados a contornarem coberturas em terraço; alpendres construídos com "traves" de betão, também no terraço; molduras de meia-cana, utilizadas no séc. 17, a dignificarem um espaço também moderno na habitação urbana - a garagem; ou o corpo da escada, saliente e depurado, rematado por um coruchéu, a lembrar uma torre sineira ou solarenga; e o desenho dos gradeamentos em ferro, de linhas curvilíneas e efeitos arredondados, muito diferente do geometrismo das caixilharias e gradeamentos originais do modernismo, com excepção, na casa de Cristino da Silva, para o envidraçado da escada. Recebe no mesmo ano os prémios Valmor e Municipal de Arquitectura. Esta dupla atribuição constitui de certa forma o reconhecimento público e oficial de uma arquitectura que, em consonância com as premissas ideológicas do regime, se queria "nacional". Neste sentido se pode igualmente interpretar o ressurgimento do Prémio Valmor, que passa a partir de 1938 a ser atribuído regularmente e perante modelos entretanto redefinidos, ao contrário das hesitações que pontuaram a década de trinta face às novas propostas modernistas, tendo inclusive estado suspensa a atribuição do Prémio entre 1931 e 1938.

Terreno de forma quadrangular, com o lado posterior de traçado oblíquo, ocupando o edifício grande parte da propriedade. A planta inscreve-se igualmente num quadrado, embora seja assimétrica e irregular, resultante da decomposição de um volume cúbico e da articulação dos corpos que organizam os espaços deste edifício de três pisos, projectado para albergar um atelier e duas habitações diferenciadas. A solução final concretiza-se na instalação do atelier no piso térreo, recolhido na metade posterior do imóvel e comunicante com o logradouro, enquanto que na zona anterior se localizam as garagens, em corpo central puxado até à face da rua: este corpo compõe a fachada principal que é continuada nos topos, ao nível do piso térreo, por dois estreitos muros revestidos a cantaria e onde se rasgam duas portas que, franquedas, conduzem a dois "pátios" descobertos - um de serviço (NE.) e outro a anteceder a entrada principal da casa (SO.). As habitações desenvolvem-se no primeiro e no segundo pisos, sendo beneficiadas na sua relação com o espaço envolvente por dois terraços - o da cobertura e o criado pelo recuo do último piso, aberto na frontaria - e por um mirante. No conjunto, de disposição horizontal, salienta-se em particular o corpo vertical da escada que liga os três pisos, localizado no eixo transversal da propriedade e projectado sobre o acesso descoberto que percorre o alçado SO., da frontaria até ao logradouro, interrompendo-o: este volume saliente, com o alçado virado ao Jardim Escola, é envidraçado. Sobre a sua cobertura, que um falso beirado denuncia, instalou-se um mirante com cobertura piramidal e acesso a partir do terraço. De uma forma geral, a composição atende ao princípio do simetrismo, particularmente visível na fachada principal, e cujos elementos decorativos partem, no essencial: da utilização de molduramentos de cantaria sobre as superfícies rebocadas e pintadas, particularmente ostensivos no piso térreo, através das molduras volumosas de meia cana para os vãos da garagem e para o da entrada comunicante com o atelier, aberto entre aqueles; também o vão da sacada do primeiro piso, a encimar uma entrada centralizada, conhece ornamentação particular, e no eixo dos quais se eleva, já no terraço do segundo piso, um alpendre entre os vãos da sala e sala de jantar, exibindo-se no pano central uma decoração azulejar; refira-se ainda a simulação dos beirados sobre o recorte de uma cornija, não só junto à cobertura mas igualmente prolongando a sua função decorativa pra os alçados, ao nível do primeiro piso, como se de um friso se tratasse; por fim, o característico catavento sobre o coroamento piramidal da "torre".

Materiais

Observações

EM ESTUDO *1 - em 1981, no âmbito do estudo, salvaguarda e protecção da arquitectura do século 20 em Lisboa, é publicado um Despacho da SEC (nº76, DR 212, II S., 15 de Set.) onde se afirma a necessidade de proceder "imediatamente aos estudos tendentes à classificação como imóveis de interesse público de todos os distinguidos com os prémios Valmor e Municipal de Arquitectura que ainda subsistam", intenção que não se restringe apenas aos imovéis consagrados por estes prémios emblemáticos, mas antes engloba "outros edifícios ou conjuntos pertencentes aos arquitectos desde José Luís Monteiro até aos modernistas mais famosos", incluindo a partir de Keil do Amaral, Fernando de Távora e Viana de Lima".