Arquitectura residencial, maneirista e revivalista. Palácio urbano maneirista de grande sobriedade, integrado na tipologia dos palácios urbanos de planta quadrada, com pátio central e manifestando exteriormente a usual divisão social do espaço. Fenestração de molduras rectilíneas simples. Interior com alguns painéis de azulejos barrocos inspirados em gravuras. Ambiente essencialmente romântico em consequência da decoração revivalista efectuada na 2ª década do séc. 20. Conservando em grande parte, a sua integridade, constitui um bom exemplo de palácio urbano maneirista. Caracteriza-se exteriormente pela sobriedade, simplicidade e lineariedade, oriundas do estilo chão, e pela abertura regular de vãos, o que lhe confere um sentido horizontal. Contraste entre o rigor das fachadas e a exuberância interior romântica. Cada sala foi decorada e mobilada de forma diferente: pátio central e a escada de acesso ao andar nobre em neo-árabe; a toilette de senhoras e salão de baile em neorecocó; hall do andar nobre e antiga sala de jogos em neorenascença (apesar de no hall surgirem já alguns apontamentos de arte nova); antiga sala de leitura, de bridge e a de bilhar em neogótico. Os azulejos da sala de Direcção, do 1º quartel do séc. 18, integram-se no chamado Ciclo dos Mestres, e têm muitas afinidades com os da Quinta do Molha Pão, do mesmo proprietário. O 1º nível do lambril do antigo jardim são posteriores, mas apresentam alguns problemas de inserção cronológica e de interligação com os do 2º nível. Desconhecemos se são originários deste espaço. Os azulejos das outras salas são de Jorge Colaço, um dos pintores nacionalistas mais representativos. Inspiraram-se nas estâncias dos " Lusíadas ", representam o meio rural português, com fainas e festas religiosas, caçadas e touradas medievais, revelando um inflamado patriotismo e um apego saudosista ao passado, foram executados na Fábrica de Sacavém. É considerado como um dos melhores conjuntos do seu trabalho.
Planta quadrangular composta, com vários corpos articulados à volta de 3 pátios - 2 deles já cobertos. Frontespício virado a N., de 2 pisos separados por friso, parastática, cornija saliente encimada por uma outra sensívelmente recuada. Portal de verga recta entre pilastras, entablamento sobrepujado por urnas sobre socos, ladeando a janela de sacada, com frontão triangular do 2º piso. Janelas quadrangulares emolduradas a cantaria no 1º, excepto sobre as escadinhas de São Luís, onde são pequenas e rectangulares. No 2º piso, janelas de sacada com cornija saliente. Fachada lateral, a O., ritmada por parastáticas, formando 3 corpos. R/c. com lojas e sobrelojas de fenestração irregular; as janelas do 1º e 2º piso são iguais às do frontespício. Ao centro, abre-se vão de arco pleno com enquadramento de cantaria ligado a janela de moldura e cornija mais rica; sobre esta, janela de varanda sensivelmente mais saliente e pedra de armas *1. Interior com divisões profusa e exuberantemente decoradas. Na fachada O. escada de acesso à Casa do Alentejo com lambril de mármore, paredes imitando cantaria e tecto com medalhões pintados. Gabinete da Direcção com lambril de azulejos figurados e tecto de caixotões lisos. Pátio árabe, com lambril de azulejos de padrão, arcos canelados sobre colunas de escaiola, separadas por outras apoiando nichos com lanternas. No 2º piso janelas de sacada com arcos de ferradura canelados sobre colunas. Enquadramentos e frisos geométricos. Cobertura piramidal de ferro e vidro. Hall e escada para andar nobre com azulejos de padrão e motivos geométricos em estuque. No patim intermédio arcada sobre colunas e mobiliário com incrustações de madrepérola. No hall do andar nobre lambril de madeira, paredes pintadas e frisos superiores com estuques e paisagens pintadas. À esquerda salão, de dupla vidraça entre pilastras, sobreportas pintadas, espelhos e outros elementos; no tecto grande tela. No topo palco entre colunas e cariátides ligado à antiga sala de jogos por proscénio. Nesta, lambril de madeira, janelas de dupla vidraça com enquadramento decorativo de madeira, ritmada por duplas colunas e frisos, tecto com tela redonda figurando " Fortuna ". Ao hall segue-se do lado direito a antiga sala de leitura, com alto lambril de nogueira, encimado por friso de azulejos inspirados nos Lusíadas. Comunica à esquerda com 2 salas: numa lambril de madeira, azulejos com cenas da feira regional de Santa Eulália e lareira no topo. Na outra lambril de azulejos tendo no 1º nível cenas galantes e no 2º enrolamentos florais. À direita comunica com hall secundário, de lambril de azulejos. Em frente a antiga sala de bilhar, com lambril de madeira e azulejos com cenas de caça e tourada. Ao palácio liga-se anexo estreito e, no ângulo entre os 2 troços de muralha, casa com cisterna.
Materiais
Calcário, azulejos, estuques, pinturas, telas, madeira, ferro, vidros e espelhos. Pavimento de madeira, lajes ou ladrilhos. Cobertura de telha, a 1 e 2 águas.
Observações
*1 - desconhecemos as modificações ocorridas em finais do séc. 16 início do 17 que permitiram construí-lo naquele local; a sua área ocupou: 1) espaço entre 2 lanços de muralha fernandina e um muro ameado que em 1464 era designado de curral velho e em 1558 foi aforado a Afonso Zuniga (vide fotografia 2 e anexo documental); 2) torre, sob o actual cunhal NO., aforada pela cidade a 29 Julho 1572 a Jorge da Costa e a 7 Fevereiro 1608 vendida a Cristóvão de Hiranço, a N. da qual se erguiam 3 prédios, o último deles em gaveto - distribuição ainda hoje existente a seguir ao palácio; 3) recanto do muro da cidade (a S. da torre), confrontando exteriormente com as portas de Santo Antão e a que se seguia a S. o recinto das portas onde a cidade tinha aforado 2 chãos - o último deles confrontava com o outro muro das portas e a nascente com uma porta da cidade; as portas duplas de Santo Antão foram remodeladas em 1727 e ruiram com o terramoto de 1 Novembro 1755; ignoramos, no entanto, o que aconteceu com as 2 torres e muro da cidade; é possível que tenham sido parcial ou totalmente demolidas para a construção do palácio no séc. 17 ou aproveitadas na parte inferior do mesmo procedendo-se então, pós terramoto, à regularização da fachada poente; e bem possível que assim tivesse sido, visto o autor do artigo "Arquitectura Portuguesa" dizer que para a construção da escada de acesso ao clube foi necessário fazer um "grande desaterro e demolir uma parede antiquíssima, de rija alvenaria, com cinco metros de espessura" (Lisboa, 1919, nº 19, p. 38).