Arquitectura cultural e recreativa, modernista. Edifício construído para cinema em 1931, com remodelação do interior na década de 1950. Integra o grupo das primeiras salas edificadas na passagem da década de 20 para a de 30 do séc. 20, especificamente concebidas para a exibição de filmes e localizadas no contexto urbano do bairro residencial. Dentro deste grupo, o Cinema Paris tinha uma dimensão razoável, com projecto permeável à linguagem modernista, especialmente visível no tratamento da fachada principal e em alguns elementos adoptados na ornamentação interior. Ao contrário de outros exemplos, como o vizinho Cinema Europa (v. PT031106350667), totalmente reconstruído na década de 1960, o Paris responde às inovações técnicas da indústria cinematográfica e às alterações sociais de consumo de bens culturais, com um amplo projecto de renovação do interior, datado de 1955. O edifício, como hoje se apresenta, resulta assim de um projecto de 1930, do qual conserva a imagem exterior, e de um projecto dos anos 50, concretizado em alterações no interior. Atingido pela degradação, a avançar inexoravelmente de ano para ano, o antigo Cinema Paris parece estar num impasse, para o qual não se prevê solução a curto prazo. Arrola-se entre muitas outras salas de cinema que se encontram encerradas e cujo destino é incerto. Embora de qualidade arquitectónica diversa, de períodos distintos e de inserção e expressão urbanísticas igualmente diferentes, vejam-se, a título de exemplo - retirados de uma extensa lista - casos similares de impasse, como: o Cinema Odeon (PT031106450665) ou o Cinema Europa (v. PT031106350667), em Lisboa; o Cinema de Ovar (PT020115050056) ou o Cine-Teatro Neiva (PT011316280054), em Vila do Conde; ou o Cine-Teatro Júlio Diniz (v. PT011312150403), no Porto. O Cinema Paris está inscrito no inventário municipal de património e todos os pareceres do IPPAR desaconselham a demolição do imóvel.
Edifício de planta rectangular, com uma construção anexa, adossada, igualmente de planta rectangular. Desenvolve-se no sentido S.-N. e resulta da articulação de 3 corpos. O volume principal agrega 2 corpos: o do auditório, que, além do vão da sala, integra os espaços de estar para o público (átrio e foyer), as comunicações horizontais / verticais e a cabina da projecção, sobrepostos em 3 pisos reconhecíveis na fachada principal; e o da caixa de palco, volume que se eleva acima do corpo do auditório. As coberturas são diferenciadas e escalonadas, denunciando as alterações efectuadas ao projecto original em 1946 e entre os anos de 1955-1961. Assim, à cobertura primitiva, unificada, juntam-se as planas, motivadas pelo aumento da caixa de palco, em 1946, e pela reconstrução, nos anos 50, de nova caixa de palco, bem como pela deslocação da parede do proscénio, feita para aumentar o espaço da plateia e permitir o avanço frontal do balcão, que recua para a zona da caixa de palco de 1946, anulada nesta função nas obras de 1955-1961. O 3.º corpo está adossado a O. e constitui um anexo de planta rectangular, em dois pisos, reformulado e ampliado também nas 1955-1961: prolonga-se até mais de meio do auditório, comunica com este a partir da plateia e alberga as instalações sanitárias, o bar, o escritório e outras dependências de apoio ao cinema. No que respeita à composição, destaca-se, naturalmente a fachada principal que, face ao projecto primitivo, não recebeu alterações, excepção feita para a eliminação de alguns elementos de ornamentação, nomeadamente os frisos horizontais a marcar os pisos. Voltada a S., à face da rua e acompanhando a pendente, apresenta uma composição simétrica definida por um pano central, rematado por platibanda escalonada, e por dois panos laterais de enquadramento, mais estreitos. O pano central apresenta fenestração tripla correspondente no piso 0 às portas de acesso, precedidas de degraus, no piso 1 às janelas de iluminação do foyer do balcão e no piso 2 à cabina de projecção. As portas são protegidas por pala sustentada por mísulas.
Materiais
Observações
*1 - Descrição da sala foi efectuada a partir da análise dos seguintes desenhos: Corte longitudinal e corte transversal, planta do 1.º piso e Planta ao nível da cabina com as modificações exigidas pela IGE. Nesta última planta, que regista o acesso à escada de segurança, estão desenhados, junto à parede lateral esquerda, ao cimo do balcão, 3 camarotes e não dois, como consta na planta do piso 1, referente ao balcão. As plantas de lotação do Cinema, posteriores, portanto, à inauguração, registam, os 3 camarotes de cada lado do balcão. Trata-se, assim, de uma alteração possivelmente motivada para compensar a eliminação de uma fila de cadeiras exigida pela IGE, no sentido de possibilitar o traçado de uma coxia transversal. * 2 - Análise realizada a partir do desenho "Alteração da fachada principal [...] que a Sociedade Geral de Cinemas Lda. pretende fazer no cinema Paris...". * 3 - Esta fotografia vem publicada in FERNANDES, 1995, 79.