Núcleo urbano sede municipal. Vila situada em costa marítima. Vila medieval de jurisdição régia e senhorial, integrando vestígios de castelo e cerca urbana, com fortaleza marítima moderna inserida no sistema defensivo da barra do Tejo. Aglomerado de origem piscatória, função à qual se associa a vilegiatura na época contemporânea. Crescimento extramuros através de três eixos principais alinhados paralelamente ao leito da ribeira. Formação da praça (Praça Nova), aberta para a baía, onde se localiza a casa da câmara. Desenvolvimento urbano quinhentista na margem oposta, estruturado pela Rua Direita, de traçado rectilíneo, e pela fundação da Misericórdia. Frente costeira dominada por casas de veraneio de arquitectura ecléctica.
Conjunto urbano caracterizado por uma malha diversificada, fruto da sua localização, topografia e hidrografia, e de uma forte expansão urbanística contemporânea. O núcleo fundacional, situado junto à baía na encosta poente, onde se implantaram o castelo e a muralha trecentista, corresponde actualmente à área urbana delimitada entre a Rua Marques Leal Pancada (antiga Rua da Assunção), Avenida D. Carlos I e a Igreja de Nossa Senhora da Assunção (v. PT031105030103). Nesta área o tecido urbano encontra-se bastante alterado, à excepção da zona do Sítio do Castelo, identificando-se actualmente um traçado ortogonal com quarteirões rectangulares e lotes largos, característicos do início do século 20. O crescimento extramuros fez-se para N., em direcção à estrada para Colares e paralelamente à Ribeira das Vinhas, registando aí uma malha urbana pouco alterada, a partir da Porta da Vila, situada na Rua Marques Leal Pancada. Desta porta nascem as duas principais vias de crescimento do núcleo no final da época medieval: as Ruas dos Navegantes e do Poço Novo. Estes dois eixos caracterizam-se pela sua reduzida largura e adaptação à topografia, encontrando-se delimitados por quarteirões maioritariamente de forma alongada, muito parcelados e separados por becos ou escadas. Nesta área da vila predominavam as casas de dois pisos, com loja / oficina no piso térreo e habitação no piso superior, com acesso por porta independente, subsistindo ainda alguns exemplos deste tipo de arquitectura residencial. A partir do século 16, com a progressiva perda de função da muralha, o tecido urbano começa a consolidar-se para N. e a E., junto à baía e na orla costeira, a nascente da Ribeira das Vinhas. A Praça Nova (actual Largo 5 de Outubro) torna-se o centro administrativo da vila, espaço aberto para o mar, local onde se situa a Casa da Câmara (v. PT031105030065) e o actual edifício dos Paços do Concelho (Solar dos Condes da Guarda, v. PT031105030032). A nascente do eixo formado pela Praça Nova e a Rua Visconde da Luz (antiga Rua da Palma), os quarteirões articulam-se entre a área de expansão extramuros e a margem da Ribeira das Vinhas. Ainda no século 16, na margem oposta, estrutura-se um outro núcleo de crescimento, em função da Rua Direita, eixo perpendicular ao núcleo medieval, de ligação entre a ponte da Ribeira e a Rua Sebastião Carvalho de Melo / Largo da Igreja da Ressurreição (actual Largo da Estação) e da Misericórdia. Nesta zona, entre a Rua Fernando Tomás (antiga Rua Santa Catarina) e a Rua da Saudade, a adaptação da malha urbana ao terreno recortado da costa é visível através do esquema radial formado pelos quarteirões. O Largo da Misericórdia, onde se encontra a Igreja com mesma designação (v. PT031105030054) faz a transição para os quarteirões mais regulares definidos pela Rua Direita. As casas de dois pisos, com telhados múltiplos predominavam nesta área da vila, foram hoje substituídas por casas térreas. No séc. 17, a instabilidade política decorrente da Restauração provocou a reorganização da defesa do Reino, nomeadamente na barra do Tejo, sendo construída a Cidadela de Cascais, que integra as anteriores estruturas militares; foram ainda remodelados os fortes de Santa Marta, de Santa Catarina e de Nossa Senhora da Conceição. A fortificação abaluartada alterou o sistema defensivo da vila, mas não implicou mudanças significativas no tecido edificado, constituindo-se como uma estrutura autónoma no aglomerado urbano. Entre a cidadela e o núcleo medieval situa-se o Convento da Piedade (actual Centro Cultural, v. PT031105030127), cuja cerca foi transformada em parque público (actual Parque Marechal Carmona, v. PT031105030283). O terramoto de 1755 originou grande destruição em Cascais: ficaram em ruínas os principais edifícios da vila, alguns deles nunca reconstruídos, como o palácio dos Condes de Monsanto (castelo), a muralha e a Igreja da Ressurreição, assim como a maior parte da arquitectura residencial; as igrejas da Assunção (Matriz), da Misericórdia e dos Navegantes, o convento da Piedade e a Casa da Câmara foram novamente edificados. A vila foi gradualmente reedificada, confirmando-se a orientação do crescimento para N.. Data provavelmente do século 18 o preenchimento dos quarteirões já traçados no séc. 16 da Avenida D. Afonso Sanches (antiga Rua da Pedreira), via paralela às Ruas dos Navegantes e do Poço Novo, assim como a formação do Largo Dr. Passos Vela, onde se localiza a Igreja dos Navegantes (v. PT031105030305). No final de Oitocentos, a instalação da família real no palácio dos governadores e a vinda de uma elite ligada à casa real, marcaram profundamente a imagem e o quotidiano da vila. A orla costeira a nascente da Praia da Ribeira foi sendo progressivamente ocupada com luxuosas casas de veraneio, de arquitectura revivalista, por vezes implantadas sobre o antigo sistema defensivo da vila (Palacetes dos Duques Palmela, v. PT031105030064 e do Duque de Loulé, v. PT031105030142, Chalet Faial, v. PT031105030141, Casa de D. António Lencastre, v. PT031105030143). A linha de caminho-de-ferro, entre Cascais e Pedrouços, teve igualmente um papel fundamental no desenvolvimento urbano, substituindo os "chars-à-bancs" e o vapor que faziam à ligação à capital. Foi traçada a Avenida Valbom, paralela à Rua Direita (actual Rua Frederico Arouca), formando com esta um dos maiores quarteirões do núcleo urbano, de configuração rectangular e paralelo à linha de costa. O eixo Avenida Valbom / Avenida Alexandre Herculano torna-se o principal acesso entre a estação e a encosta O. da Ribeira das Vinhas, limitando a N. as Ruas dos Navegantes, do Poço Novo e Afonso Sanches e dando significado urbano ao largo onde se encontra o jardim Visconde da Luz. Estas vias marcam a transição do tecido urbano medieval / moderno para a malha do séc. 20, caracterizada por um traçado ortogonal, quarteirões de forma rectangular e lotes largos, onde se tem vindo a privilegiar a construção em altura. Em simultâneo e a poente, junto à cidadela, com a abertura da Avenida D. Carlos I, foram aforados os terrenos militares junto ao forte de Santa Marta (v. PT031105030012) e da Parada. Construíram-se nesta época várias habitações, ex-líbris da vila de Cascais, como a Casa de Santa Maria (v. PT031105030145), a Torre de São Sebastião, actual Museu-Biblioteca Condes Castro Guimarães (v. PT031105030024), ou a Casa dos Condes de Arnoso (v. PT031105030146). Em direcção ao interior, a área foi gradualmente urbanizada ao longo da primeira metade do séc. 20: é caracterizada por quarteirões de configuração rectangular, compostos por lotes de grande dimensão onde se implantam moradias com jardim, destacando-se alguns exemplos na Avenida Emídio Navarro. Nos anos 40 do século passado, do plano para um novo centro administrativo resultou o encanamento e aterro da Ribeira das Vinhas e a demolição das suas pontes. Nessa sequência foi traçada a actual Alameda dos Combatentes da Grande Guerra e projectada a reformulação urbanística junto à praia da Ribeira, que implicou a demolição de alguns quarteirões quinhentistas, da muralha da Praia, e do Forte de Santa Catarina, bem como de vários outros edifícios (casino da praia, mercado de ferro, Hotel Globo, edifício dos CTT). Deste plano, parcialmente executado, construíram-se os edifícios da lota e da capitania do porto, e mais tarde o Hotel Baía, configurando a actual frente urbana da baía. Posteriormente foi urbanizada a área a N., com a abertura da Praça Sá Carneiro e da Avenida 25 de Abril como eixo de ligação à Estrada Marginal e à Estrada do Guincho.
Materiais
Não aplicável
Observações
*1 - Archivo General de Simancas (Boiça, Barros e Ramalho, 2001, pp. 41, 43 e 44).