Forte construído no séc. 17, pela Coroa, para defesa da barra de Tavira, com traçado abaluartado, e reformado ainda na mesma centúria, com redução do programa construtivo, devido à perda de importância estratégica, na sequência do assoreamento e alteração da linha de costa. Já na década de 70, do séc. 16, durante o reinado de D. Sebastião, se procedera ao inicio da construção de uma fortificação, na denominada ilha das Lebres, junto à foz do rio Gilão. No entanto, a perda de importância estratégica resultante das alterações geomorfológicas da barra e do consequente assoreamento dos canais, levam ao prolongamento das obras e à sua própria interrupção, no início do séc. 17, desconhecendo-se como seria o seu projeto inicial, que é atribuído ao engenheiro italiano João Maria Benette. O atual forte estava em construção em 1617, contemplando, segundo um desenho anotado de Alexandre Massai, o recinto magistral, de planta poligonal, composta por cinco baluartes, três virados à barra e dois virados a terra, e as obras exteriores, formadas por fosso lajeado que, ao que parece, era para ser alagado, e o caminho coberto de traçado tenalhado. A frente virada à barra estava mais adiantada, com os baluartes cinco palmos acima do cordão, enquanto os virados a terra ainda não chegavam ao cordão. Pouco depois, em 1621, Massai sugere o seu desmantelamento e o reaproveitamento da pedra no Torreão do Lastro, que considera mais importante para a defesa de Tavira, ou noutras construções no norte de África. Apesar do forte não ter deixado de funcionar, a construção foi reformada, demolindo-se os dois baluartes virados a terra, para aproveitamento dos seus materiais, e dos quais não existem quaisquer vestígios, alterando-se igualmente a implantação dos edifícios de apoio no interior do recinto, o que, possivelmente, explica a diferença do remate na frente virada a terra, sem ter cordão. Assim, o forte apresenta planta poligonal, composta por frente virada a terra retilínea e a oposta formada por três baluartes, o central maior e os de ângulo muito irregulares. Tem a escarpa exterior em talude, em alvenaria de pedra à fiada e cunhais em cantaria, rematados em parapeito liso ou em cordão e parapeito liso, respetivamente. A meio da cortina virada a terra, abre-se o portal, em cantaria almofadada, atualmente sem remate, desconhecendo-se qual o primitivo perfil , precedido por ponte sobre o fosso, parcialmente entulhado. No interior, ao longo da frente com baluartes, desenvolve-se adarve, existindo no baluarte central bateria quadrada sobrelevada e, dispersas no recinto, ruínas de vários edifícios de apoio. Entre elas, a do paiol, a poente, de planta retangular e com a fachada lateral esquerda contrafortada; a da casa da guarda, junto à cortina entre o baluarte central e o disposto a nascente, também de planta retangular e com um contraforte de ângulo, e um quartel, na gola do baluarte nascente. Junto deste último ficava o poço, já referido por Massai em 1617. No ângulo de espalda poente do baluarte central existe guarita, com estrutura tosca, de construção mais tardia. É possível que o caminho coberto de traçado tenalhado nunca tenha sido construído, até devido à limitada importância estratégica do forte, e que leva a ser utilizado exclusivamente como depósito de pólvora, pelo menos a partir de 1792, e a ser abandonado definitivamente, a partir de 1830.
Planta poligonal composta por uma frente retilínea, virada a noroeste e a terra, e por três baluartes, os de ângulo muito irregulares, na frente oposta, virada a sudeste e à barra. Apresenta paramentos com a escarpa exterior em talude, em alvenaria de pedra à fiada, argamassada, com cunhais em cantaria e rematados em parapeito liso, na frente noroeste, e em cordão e parapeito liso, nas restantes frentes, ainda que o cordão se encontre interrompido em alguns troços. No flanco e face do baluarte nascente, o parapeito é rasgado por dois vãos retilíneos, pertencentes à antiga casa do governador, construída junto à escarpa interior. Sobre o parapeito do ângulo de espalda poente do baluarte central, eleva-se estrutura, correspondendo a pequeno corpo, tipo guarita, em alvenaria. A meio da frente noroeste abre-se portal, de que conserva apenas parte das jambas, em cantaria almofadada, e sem remate, precedido por ponte de alvenaria. INTERIOR: ao longo de grande parte do parapeito e atrás das construções erguidas no forte, desenvolve-se adarve, em alguns setores pavimentado a alvenaria de pedra, e seccionado por contrafortes que reforçam o parapeito; no ângulo flanqueado do baluarte, central existe bateria quadrangular, sobrelevada e no baluarte nascente vestígios de ter sido lajeado. No ângulo poente da frente noroeste, junto aos paramentos, ergue-se paiol, de planta retangular simples e sem cobertura, com fachadas aprumadas, em alvenaria de pedra e vestígios de reboco, com a fachada nascente, onde tinha vão de acesso, parcialmente derrubada e a fachada sudeste reforçada com três contrafortes de esbarro, o frontal disposto de ângulo. No ângulo de espalda poente do baluarte central, parcialmente sobre o parapeito e avançando para o interior, existe guarita curva, de estrutura tosca, com cobertura plana e rasgada por fresta de tiro e acesso retilíneo; nas suas imediações existe escada para o parapeito. Entre o baluarte central e o baluarte a nascente, existem as estruturas em ruína do antigo corpo da guarda, de planta retangular, com contraforte na fachada principal e na lateral direita, a primeira com vestígios de vão de acesso. Seguem-se, para nascente, as ruínas dos antigos quartéis, de planta retangular irregular, com paramento delimitando a gola do baluarte.
Materiais
Estrutura em alvenaria de pedra, argamassada e/ou com vestígios de cimento; moldura do portal e janelas em cantaria.
Observações
*1 - A planta do forte da Ilha das Lebres, que está principiado à entrada da barra da cidade de Tavira, é representado com cinco baluartes, três na frente virada à barra e dois na frente oposta, virada a terra, envolvido por fosso e caminho coberto de traçado tenalhado. Na legenda consta: A - Poço de água doce que não está acabado; B - Estes três baluartes estão de sete palmos mais altos que o cordão com os seus contrafortes e estão terraplanados e quase em defesa; C - Estes dois baluartes estão mais baixos que o cordão e lhes falta daí para cima; D - Fosso ou cava que segundo informação dizem ser lajeado de pedra que não pude ver por estar entupido de areia as faces dos baluartes e cortinas são todas de pedra bem lavrada e parece que o dito fosso havia de estar cheio de água doce ou salgada; E - são as fundações das casas e armazéns os quais estão mais baixos que as outras paredes ou muros e assim a esta cortina é arrimada aos ditos fundamentos e parece que por cima havia de haver outros sobrados como se vê na segunda "traça"; F - todos os cunhais dos cinco baluartes são de pedra bem lavrada a regra aprumo e há muita quantidade dela. Contém em si o dito forte 860 varas de cordão a fora a que lhe falta que vale $550 a vara que monta a 437 Urs; a pedra vale 10 a 12 mil cruzados sendo como dizem o fosso lajeado e tudo o mais se tem advertido na sobre dita relação da cidade de Tavira. Na respetiva memória descritiva ou "relação", Alexandre Massai escreve que "(...) à entrada da barra (...) está uma ilha (Ilha das Lebres) e nela está começando um forte com cinco baluartes (...) três deles estão quase na sua necessária altura, que são os da parte da barra. Os outros dois, da parte da terra estão, em dezoito palmos de alto com todos os contrafortes e terrapleno e com o poço da água de beber dentro dele. O qual dizem quem mandou fazer el-rei Dom Sebastião que está em glória sendo governador do rei Dom Diogo de Sousa (...) dizem ser de arquitectura de João Maria Beneditte. E que ele se deixou de acabar por se mudar neste tempo a Barra para o lado leste de modo que à artilharia nele a não ofende" (Guedes, 1988: 101). *2 - Um outro documento, datado de 20 novembro do mesmo ano, refere que o forte possivelmente fora construído para defesa da barra de Tavira, antes de 1775, quando esta barra ficava em frente da cidade; sendo depois do terramoto deslocada para leste, e nesta data é defendida pelos fortes de Cacelas e da Conceição. Abandonado desde 1825 ou 1826, o forte de Santo António está bastante arruinado, tendo desaparecido do seu interior "todas as cantarias de portas, todas as lages das plataformas e todas as madeiras das casas, payoes, casa da guarda, etc; algumas paredes foram demolidas para roubarem a pedra; um poço muito bom revestido com pedras facetadas foi entulhado, destruído o gargalo e tiradas algumas aduelas do revestimento. As muralhas construídas em toda a extensão e espessura com boas alvenarias, estão bastante arruinadas devido principalmente às raízes das figueiras - terrível inimiga das construções nestes sítios - que se desenvolvem em grande número pelas fendas de alvenaria"; em consequência do estado de ruína e da importância desta fortificação, conclui-se que "será mal empregado qualquer sacrifício que se faça para a conservar" (Infraestruturas do Exército: Tombo dos Prédios Militares, PM2/Tavira, Proc.º n.º 2). *3 - Segundo a exposição de João Rosado da Silva Rijo, "os terrenos que circundam o forte são extrema com terrenos da Capitania do Porto de Tavira e da Hidráulica, que passam licenças para a apascentação de gados e apanha de caveiras e morraça e como a propriedade do Ministério da Guerra não está directamente demarcada, e está invadida, não só por rebanhos de outrem, e indivíduos que lhes colhe a morraça e rafeiras, não me reconhecendo aqueles a mim com direito aos mesmos terrenos pois que não se sabe onde comessam e onde acabam. Alem disso, de longa data vem o público usufruindo daqueles terrenos como de domínio publico". *4 - No auto de devolução, o forte é descrito do seguinte modo: "consta de uma fortaleza em completa ruína e de um terreno em volta da mesma, confrontando por todos os lados com o rio de Tavira, que o cerca com dois braços de água. O terreno é todo de areia (...). Apenas restam alguns alicerces e bocados de parede de alvenaria. Tem a área de setenta e cinco mil e sessenta e quatro metros quadrados. O valor de sete mil e novecentos escudos, conforme consta do respectivo tombo, e encontrasse desocupado".