Arquitectura religiosa, modernista, popular. Igreja paroquial de planta longitudinal, de nave e capela-mor únicas, edificada de raiz no local de um primitivo templo quinhentista, conjugando elementos modernistas com outros filiados numa certa tradição construtiva regional. Elementos modernistas ao nível dos alçados laterais, com junção dos corpos centrais, e principalmente nos elementos decorativos de iluminação (janelões da capela baptismal e da capela-mor). Elementos decorrentes de uma certa tradição regional e até nacional ao nível da utilização de contrafortes (na parede E. da nave e respectiva junção com a capela-mor), na hierarquização dos espaços (Capela-mor mais baixa que a nave) e na sucessão de tramos do interior através de arcaturas cegas de volta perfeita.
Planta longitudinal composta por nave e capela-mor, uma sacristia e uma dependência de arrumos a ladear a capela-mor, Capela baptismal e dependências de apoio ao longo da fachada N. e torre sineira adossada a S. da fachada principal. Planta regular não coincidindo o exterior, mais amplo, com o interior, que revela uma nave relativamente estreita. Volumes articulados dispostos verticalmente na fachada principal e progressivamente adquirindo maior horizontalidade à medida que se caminha para a capela-mor. Cobertura em telhado de duas águas sobre a nave (que integra a capela baptismal) e a capela-mor e a uma água sobre a sacristia, a arrecadação e as dependências a N., e em cúpula sobre a torre sineira. Fachada principal, antecedida por ampla escadaria, organiza-se a dois registos, sem marcação de corpos; primeiro registo composto integralmente pelo portal principal, de arco de volta perfeita formado por cantarias *1 com marcação de impostas e de bases; segundo registo com duas pequenas frestas dispostas verticalmente e em relação axial com o portal principal; fachada termina em empena triangular definida pela linha do beiral, encimada por uma cruz de ferro ao centro, sendo o desenvolvimento desta empena feito de forma regular para N. e interrompido pela torre sineira a S.; esta é de secção quadrangular e integra-se na secção SO. da igreja, sem marcação de linhas autónomas em relação ao prolongamento natural das fachadas O. e S. do templo; primeiro registo prolonga a fachada principal para S. sem qualquer elemento artístico ou estrutural saliente; segundo registo com um relógio que antecede um diminuto arco sineiro; empena em frontão curvo irregular, interrompendo a curva descendente da empena da fachada principal, com dois botaréus nos ângulos e um pináculo mais elaborado e de maiores proporções, ao centro da cúpula, encimado por uma rosa-dos-ventos. Fachada lateral N. compõe-se de três corpos definidos a um só registo, sendo o central mais saliente que os laterais; corpo O. mais elevado acompanhando a altura da nave central, corresponde ao alçado N. da capela baptismal e é protegido pelo ângulo NO. do adro; encontra-se integralmente preenchido por um janelão em forma de vela quinhentista, com moldura rectangular irregular interrompida e cruz de quatro braços iguais de dupla moldura ao centro. Corpo central organizado em quatro panos separados por largas pilastras adossadas ligeiramente salientes que se prolongam até ao telhado e moldam aí a linha do beiral; embasamento constante definido por uma massa de cimento saliente e pintada de cor diferente; primeiro pano, mais a O. é o único que se organiza a dois registos, beneficiando do declive do terreno, com uma porta ao centro, de arco recto com lintel e jambas em cantaria, encimada por uma janela em forma de cruz latina disposta verticalmente e composta por sucessões de quadrados sublinhados por moldura. os três inferiores e os dois dos braços cegos e os restantes com vidros aplicados, sendo as terminações do quadrado superior e dos braços em arco triangular; tipologia de janelas repete-se nas dos três panos seguintes, com a excepção do segundo pano, onde apenas o primeiro quadrado inferior e os dois dos braços são cegos; corpo termina em cornija que antecede o beiral, recto, sem acentuado declive do telhado. Corpo E. mais retraído em relação ao central, corresponde a uma dependência de arrumos e é o local onde o terreno é mais elevado, o que sublinha a horizontalidade deste corpo; compõe-se uma janela quadrangular com moldura em cantaria, antecedida pelo embasamento que acompanha o do corpo central. Fachada lateral S. apresenta uma organização semelhante à da fachada N., com três corpos distintos, mas aqui organizados a dois registos, pelo maior declive do terreno; corpo O. corresponde à torre sineira, e é protegido pelo ângulo SO. do adro murado; é esta a zona da igreja onde o declive do terreno mais se acentua, sendo o espaço inferior ao muro que delimita o adro aproveitado para a construção de sanitários públicos, duas portas de arco recto e protegidas por um pequeno corrimão de ferro; primeiro registo da torre sineira ostenta uma lápide comemorativa, a pouca altura; segundo registo, ao nível da do arranque do telhado da nave, preenchido por um arco sineiro de volta perfeita, com a curvatura sublinhada por uma pequena moldura, sobrepujado por um frontão irregular em forma de arco canopial; corpo central corresponde a dependências de apoio ao templo e à comunidade, é idêntico ao corpo central da fachada N., com quatro panos delimitados por pilastras até ao telhado; distinção apenas na linha de embasamento que aqui é dupla, com uma base mais saliente ao nível do solo e uma moldura a sugerir a cota do interior; janelas em cruz latina de quadrados, sendo todos cegos à excepção do superior; corpo E. corresponde à Sacristia é preenchido por uma porta de arco recto com moldura em cantaria pintada adossada ao ângulo O. do corpo, a que se acede por uma escada pétrea disposta paralelamente ao alçado e protegida por corrimão também de pedra, com dois níveis de embasamento. Fachada posterior voltada a E. organizada em três corpos organizados a um registo, sendo delimitados apenas pela diferente linha do telhado; embasamento escalonado de N. para S. acompanhando o declive do terreno; corpo central corresponde à capela-mor e compõe-se de um amplo janelão de arco em volta perfeita, disposto verticalmente, com intradorso profundo contendo quatro arquivoltas e parapeito oblíquo; corpo termina em empena triangular antecedida por beiral; corpo N. com uma porta de arco recto a que se acede por um pequeno degrau, terminando em telhado disposto obliquamente de S. para N.; corpo S. com uma pequena jenal quadrangular com moldura em cantaria, sendo o telhado idêntico ao do corpo anterior, mas agora desenvolvendo-se de N. para S.; sendo a capela-mor mais baixa que a nave, é visível o segundo registo da fachada posterior da nave, com um óculo circular ao centro ladeado por quatro contrafortes, dois na intersecção da nave com a capela-mor e outros dois nos ângulos do alçado. INTERIOR: Portal principal protegido por guarda-vento de madeira; nave única delimitada lateralmente por tramos inscritos nas paredes, com cinco arcos cegos separados entre si por pilastras que se elevam até ao tecto e que repousam nos pés direitos dos arcos, estruturas quadrangulares com impostas bem marcadas por sucessão de molduras; tecto de madeira em três panos definidos longitudinalmente ao longo da nave; iluminação efectuada a partir de dois focos: as frestas verticais do segundo registo da fachada principal e o óculo na parede E. da nave. Capela baptismal a N. da nave, com acesso através de uma porta de madeira protegida com gradeamento de ferro, com dupla bandeira do arco, uma mais baixa rectangular com moldura de madeira e preenchimento férreo e outra superior, em forma de meia laranja acompanhando a volta perfeita perfeita do arco em que a porta se inscreve e com uma decoração férrea radial; interior com a pia baptismal ao centro, um recipiente circular assente em fuste circular apoiado numa base quadrangular, e revestimento azulejar a 3/4 de altura com padrão vegetalista-geométrico azul e branco; iluminação quadrangular através do grande janelão em forma de vela latina, na parede N.; Arco triunfal de volta perfeita sem pormenores decorativos ou marcação dos ângulos. Capela-mor quadrangular, mais baixa e mais estreita que a nave, a que se acede por de dois degraus, com o altar em plano mais elevado; tecto de madeira acompanhando o da nave; iluminação abundante através do amplo janelão a E.; a partir da capela-mor acede-se à Sacristia e à dependência de arrumos a N., ambas divisões quadrangulares irregulares; corredores laterais de apoio à comunidade com acesso a partir da capela-mor.
Materiais
Alvenaria rebocada e caiada; madeira, vidro, ferro, estuque
Observações
*1 - Pelo estado de desgaste da pedra e diferentes colorações, tudo indica que estas cantarias foram reaproveitadas de uma anterior estrutura, muito possivelmente de um anterior portal da igreja de época moderna; *2 - Nos meados do séc. 16 eram muitas as igrejas algarvias em que as paredes estavam pintadas com figuras de santos; Francisco Lameira dá-nos uma lista a partir das informações constantes das Visitações da Ordem de Santiago (LAMEIRA, 2000).