Arquitectura religiosa barroca e rococó. Capela de nave única sem capela-mor, com acrescento de uma nave a N. com acesso a partir de dois arcos. Retábulo rococó. Interessante exemplar de arquitectura barroca, implantada numa das zonas tradicionalmente mais importantes da cidade, junto à sua principal fonte pública. Existem muitas semelhanças entre o portal principal e o Pórtico da Portaria do Convento de Nossa Senhora da Graça de Tavira (v. PT050814050018), da autoria do Arquitecto Diogo Tavares que, para além da vasta obra que deixou em Tavira, como a Igreja de São José do Hospital (v. PT050814060019) ou a Ermida de São Sebastião (v. PT050814060005), é o responsável pela fachada da Igreja do Carmo de Faro (v. PT050805040010); na provável origem destas analogias está a possibilidade de algum dos responsáveis do Convento da Graça tenha sido Juiz da Confaria de Nossa Senhora da Piedade e patrocinado a sua (re)construção, nos meados do Séc. 18 (LAMEIRA, 1996). Dupla nave conseguida pelo acrescento a N., que afasta este templo das tipologias comuns modernas. Tímpano do portal decorado com um coração ardente em baixo-relevo; Empena da fachada de carácter cenográfico, com amplo frontão de composição dinâmica com volutas laterais, assumindo o impacto urbanístico pretendido; Retábulo-mor rococó com aplicações de talha dourada.
Planta longitudinal regular composta por nave, dupla capela intercomunicante, em forma de segunda nave, a N. e sacristia. Massa simples disposta na vertical, com cobertura uniforme em telhado de duas águas, à excepção da segunda nave (com telhado de uma água) existindo ainda um campanário adossado ao ângulo NO. que potencia ainda mais em altura o edifício. Embasamento irregular ao longo das três fachadas visíveis, sugerido por uma banda polícroma. Fachada principal virada a E. organizada em dois panos; pano principal corresponde à nave da igreja, compõe-se de dois registos delimitados por cunhais que terminam em impostas: primeiro registo, definido por portal de arco recto em cantaria sobrepujado por tímpano que continua a moldura do lintel, protegido por frontão triangular incompleto nas arestas laterais; decoração do tímpano composta por um coração ardente trespassado por um punhal, em baixo-relevo; a ladear o portal principal, do lado N., uma pequena placa rectangular horizontal *1; segundo registo composto por um óculo elíptico moldurado ao centro do alçado; empena rematada por frontão contracurvado interrompido, delimitado por duas volutas que terminam nas impostas dos cunhias, sublinhadas por uma cornija decorativa policromada um pouco abaixo do frontão, e encimado axialmente por uma cruz; segundo pano corresponde à nave N. e apresenta-se como uma massa sem decoração, com beiral arrancando abaixo da voluta N. do frontão do pano principal. Fachada lateral N. abre para a R. dos Pelames e compõe-se de dois corpos definidos a um só registo cuja altura é sublinhada pela cota mais baixa do terreno em que se implanta esta secção N. do imóvel; corpo E., corresponde à nave N. do interior, é uma massa homogénea sem decoração, com beiral assente directamente na caixa murária; segundo corpo corresponde à Sacristia e diferencia-se do anterior pela existência do campanário, que prolonga em altura o volume da sacristia, ostenta, sensivelmente ao centro, um óculo quadrilobado; campanário com sineira voltada a E., bem acima do nível dos telhados da nave, de arco de volta perfeita enquadrando o sino, terminando em frontão contracurvado irregular definido por duas volutas com uma terminação circular ao centro. Fachada lateral S. virada para uma artéria secundária, apresenta uma divisão idêntica à da fachada N., mas sem o impacto em altura daquela; compõe-se de dois panos sem decoração, correspondendo o E. à nave, delimitado junto à fachada principal por cunhais e com beiral assente directamente na caixa-murária, com uma placa de azulejos indicativa da Rua em que se encontra; segundo pano corresponde à sacristia e divide-se em dois registos, sendo o primeiro ocupado por uma porta de arco recto com moldura em cantaria e o segundo por uma janela quadrangular de reduzidas dimensões. Fachada posterior, virada a O., completamente adossada. INTERIOR: Nave rectangular pouco profunda com cobertura em abóbada de berço que repousa em cornija uniforme a todo o rectângulo. Iluminação escassa proporcionada apenas pelo óculo da fachada principal. Nave N. mais baixa que a principal e de tecto recto em estuque, com acesso a partir de dois arcos de volta perfeita assentes em três suportes, duas pilastras adossadas nos extremos e um pilar oitavado ao centro, assente em base rectangular e com imposta e capitel sugeridos, havendo ainda um arco toral que parte deste pilar central e repousa no interior da caixa-murária a N. Pavimento das naves uniforme e decoração policromada das paredes a imitar mármore a um terço da altura e a toda a extensão das paredes. Retábulo-mor composto por sotobanco, banco, corpo e ático, de estrutura vertical tripartida: eixos laterais simétricos e de planta recta, com uma porta de de arco rebaixado profusamente decorada que se eleva até ao nível do banco; corpo composto por molduras douradas de decoração sinuosa inscrita; corpo central: sotobanco trapezoidal com medalhão ao centro e decoração horizontal moldurada; banco composto por sucessão de molduras delimitadas verticalmente; corpo de planta côncava delimitada por pilastras com volutas e incrustações de dourado, terminado em capitéis compósitos que sustentam o entablamento; interior fechado por vidraça; ático acompanha a curvatura da abóbada e separa-se dos corpos inferiores por um entablamento de dupla cornija que arranca do corpo central e se prolonga pelos laterais; decoração de carácter radial, vegetalista com volutas. SACRISTIA: espaço rectangular de reduzidas dimensões, com iluminação escassa de N. e de S., com acesso a partir das portas dos corpos laterais do retábulo-mor.
Materiais
Alvenaria rebocada e caiada; cantarias; madeira nas portas e no retábulo; telha; vidro no óculo; tijoleira; estuque
Observações
*1 - Placa da Câmara Municipal de Tavira contendo informações básicas sobre a História da capela, em português e em inglês; 2 - a campanha barroca do Convento graciano de Tavira foi já estudada por Daniel Santana, que identifica claramente as obras então realizadas com o Arquitecto Diogo Tavares (SANTANA, 2001)