Espaço verde de recreio. Miradouro integrado em jardim de linguagem romântica, composto por dois tabuleiros ligados por escadas, o superior mais frondoso, composto por árvores, canteiros de flores e tanque central circular, sendo o inferior de cariz geométrico, com canteiros recortados, pontuados por bustos sobre altos plintos, com tanque central e, adossado ao muro de suporte de terras, um tanque semicircular, para onde verte uma cascata.
O jardim, de planta aproximadamente rectangular, molda-se à encosta em que assenta, organizando-se em dois tabuleiros, desnivelados entre si, estando o inferior nivelado e suportado por um troço de muralha e o superior por muro de suporte de terras, apresentando uma pendente regular para S.. Os tabuleiros comunicam através de duas escadaria laterais, fechadas por cancela gradeada e ambos desempenham a função de miradouros, pelo que são delimitados a E. e a S., por gradeamentos metálicos. O tabuleiro superior comunica com a Rua de São Pedro de Alcântara por lanços de escadas, intercalados com canteiros delimitados por pequenos gradeamentos. O jardim permite percursos exteriores, paralelo ao passeio ou paralelo ao miradouro, tendo, ao centro uma faica ocupada, pelo jardim é sugerido paralelamente ao passeio, sem se aceder ao miradouro, de S. para N., por dois canteiros, interrompidos por um pedestal com busto de homenagem a Eduardo Coelho, e por uma chafariz de grandes dimensões *2, fronteiro ao acesso N., ficando o topo N. do jardim ocupado por uma área desportiva vedada, encaixada relatvamente ao passeio exterior. O busto de homenagem a Eduardo Coelho é composto por um pedestal, em frente do qual surge uma base com um garoto a apregoar jornais, surgindo, sobre este, o busto do homenageado. Junto ao miradouro surgem, bancos e mesas, um telescópio e um painel de azulejo, interpretativo da panorâmica oferecida, equipamento que convida a desfrutar do miradouro. O tabuleiro é ensombrado por denso maciço arbóreo, composto por um conjunto de lódãos que surgem alinhados relativamente aos canteiros centrais. O tabuleiro inferior é um local de estadia por excelência, apresentando uma composição geométrica, constituída por talhões relvados, pontuados nas extremidades por estatuária, sustentada por altos plintos, representando divindades mitológica, a alguns heróis do período das descobertas e figuras literárias como Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, D. João de Castro, João de Barros, Luís de Camões, Afonso de Albuquerque e Infante D. Henrique, tendo ao centro, um chafariz de repuxo. Ao muro de suporte que sustenta o primeiro tabuleiro, parcialmente revestido por trepadeiras, está adossada um tanque *3, de forma semicircular, que recebe a água brotada por uma cascata. Surgem, ainda, os bustos de Marco Aurélio, da imperatriz Faustina, de Homero, Ulisses e de Mengs. O lado N. do tabuleiro é ocupado, quase na totalidade, por uma edificação em ruínas e, para S., abre-se um acesso a uma parcela triangular, de reduzidas dimensões, em que se instala uma área de estadia ajardinada.
Materiais
INERTES: calçada portuguesa. VEGETAL: árvores - lódão(Celtis australis)
Observações
*1 - "Do tabuleiro superior de S. Pedro de Alcântara goza-se um dos mais admiráveis panoramas de Lisboa, que vais dos terrenos tostados de Campolide até à Sé, em vagas ondulações, em tropéis de casaria esburacada, abrangendo toda a linha recortada dos outeiros orientais que o vale profundo da avenida separa da parte ocidental da cidade. Começa ao N. pelo casario novo das avenidas que irradiam até ao Campo Pequeno, de grandes cubos brancos aglomerados. A linha superior ondula depois pela cumeeira do monte de Santana, com a mancha amarela do convento das comendadeiras da Encarnação e as casas do pátio do Torel em estilo da Renascensa italiana, donde um tufo de verdura irrompe enfim entre as pedras e os muros. Para além deste vasto pano de fundo, espreita a torre da Penha de França, noutra ondulação distante. E as casas continuam umas após outras sobre o rasgão da Avenida, até ao montículo de S. Gens, comum ar campestre e uma ermidinha lá no alto, para descerem quase logo até à pesada Igreja da Graça e ás torres brancas de S. Vicente, recortando-se no azul do céu como se fossem de marfim. A cidade velha destaca-se agora perfeitamente: vem do velho castelo como uma pinha, mais amontoada numa confusão de paredes com buracos de janelas, e lá em cima, dos velhos muros sem carácter, desce até à baixa, e recorta-se até à velha Sé, de pedra doirada pela luz, que parece debruçar-se sobre a nesga azul do Tejo, debruada ao longe pelas colinas da Outra Banda, onde o castelo de Palmela ergue o severo perfil. Mas é ao entardecer que este panorama, cerceado na sua beleza, que poderia se empolgante, pelo aspecto vulgar e mesquinho da casaria, atinge o deslumbramento." (Guia de Portugal, p. 327). *2 - o tanque é proveniente da Quinta Real da Bemposta (v. PT). *3 - segundo alguns autores poderá ter vindo do Jardim do Regedor. *4 - a praça aberta para o chafariz era hexagonal, surgindo, ao centro, o chafariz, o de maiores dimensões e mais imponente construído em Lisboa, assinalando a zona final das obras das Águas Livres; era do tipo caixa de água, de planta rectangular, com dois níveis de tanques, o inferior com espaldar almofadado, formando cinco panos, os laterais reentrantes, rematados por platibanda, também almofadada, alteada e curva na zona central, onde se inscrevia uma bica, que, conjuntamente com outras duas, corria para um tanque amplo e lobulado; lateralmente, duas escadas levavam ao segundo piso, com espaldar tripartido, dividido por pilastras toscanas de silharia fendida, que sustentavam um entablamento dórico; o pano central apresentava painel recortado, assente em lacrimais e rematado em cornija interrompida, na base do qual surgiam quatro bicas em forma de florão; os panos laterais formavam apainelado rectangular, rasgado por óculo ovalado com moldura simples e fecho saliente; o remate era encimado por platibanda, urnas e, ao centro, a coroa real; sobre a estrutura, um templete, tripartido, dividido por paraestática de pilastras rusticadas e colunas de fuste liso e capitéis coríntios, assentes em plintos paralelepipédicos de faces almofadadas, que centravam apainelado rectangular, rematado por cornija; ao centro, vão de volta perfeita com moldura recortada e remate em frontão triangular, protegido por guarda balaustrada; nos panos laterais, apainelado rectangulares e óculos ovalados com motivo fitomórfico no topo; a estrutura rematava em entablamento, urnas com repuxos e era coberta por cúpula bolbosa, vazada por olhos-de-boi e coroada por esfera com repuxo fingido; esta zona superior funcionava como reservatório de água. *5 - o Chafariz interino era de espaldar simples, em cantaria de calcário lioz, onde surgiam cinco bicas, que jorravam para tanque rectangular, de bordos simples, a que se chegava por umas escadas de dois a cinco degraus, adaptando-se ao desnível do terreno.