Arquitectura residencial, setecentista e oitocentista. Palácio de fundação setecentista, de que subsiste a estrutura de planta recta, com profundas alterações nos séc. 19 e 20, que lhe atribuíram características neoclássicas, com planta em U, abrindo para jardim posterior, mas introduzindo esquemas típicos da construção francesa, como o recurso ao telhado alteado de mansarda, com cobertura em ardósia e telha patinada, integrando trapeiras de madeira. A fachada é clássica, simétrica, dividida por vários panos, por duas ordens de pilastras toscanas, com remate em balaustrada, que corre todo o edifício, ornamentada com pináculos e interrompido, nos panos extremos por remates em frontões triangulares com acrotérios de escultura figurativa; evolui em dois pisos, integrando mezanino, o inferior revestido a silharia fendida, dando um ar rústico, possuindo vários vãos rectilíneos, os do piso superior constituindo janelas de sacada, com guardas balaustradas ou em ferro forjado. As fachadas laterais seguem o mesmo esquema, mas as sacadas ou varandins têm guardas de ferro forado, executadas no séc. 20, durante a intervenção dos anos 40. O interior possui vestíbulo e escadaria de aparato com guarda em bronze, que leva a vários salões com pavimentos em parquet e coberturas pintadas ou em estuque, adornadas por elementos de talha, fogões de sala em mármore e sobreportas com telas pintadas. Possui várias salas intercomunicantes, algumas alteradas para se adaptarem às novas funções. A fachada posterior abre para um jardim formal, protegido pelos braços do U e que liga a construção semelhante, efectuada no séc. 20, com o objectivo de instalar diversos organismos e associações estatais. Edifício que marca a praça para onde se abre, apesar da dissonância com os edifícios que foram sendo construídos, mas com plenas afinidades com o gosto francês, clássico e eclético do Hotel Avenida Palace (v. PT031106). Ocupa grande parte da ala E. da praça e terá tido um papel fundamental na definição da estrutura do Passeio Público. Mantém uma fachada clássica, executada no final do séc. 18, com alterações no 19, possuindo mezanino sobre o piso inferior e interessante jogo de panos, onde dois se distinguem pelo tratamento dos ses portais, flanquedos por colunas, que sustentam as sacadas do piso superior e que são marcados visualmente pelos frontões triangulares que os encimam. As fachadas possuem janelas rematadas por friso, flanqueado por mísulas, que sustentam cornija e pequenos frontões ou espaldares recortados, rematados por cornija contracurva, contrastando com o perfil rectilíneo dos vãos. Constitui uma novidade em Portugal, pela sua dimensão, pela criação de dois andares nobres, introduzindo os esquemas romanos em Portugal. Possui uma exuberante decoração em algumas salas do interior, ultrapassando a simplicidade do vestíbulos, uma zona de atendimento, com motivos escultóricos, onde se destaca a escadaria monumental ao gosto Luís XIV, a sala do fogão em estilo renascença, o salão nobre em estilo Luís XVI, e a ornamentação neorocaille, considerada como um exemplo do paradigma do gosto oitocentista. Na zona inferior mantém as salas de um antigo restaurante, que procurou recuperar s ideais neomedievais e neomanuelinos nas salas que recriam um mosteiro, com as celas, um claustro fingido e um amplo refeitório. Nos anos 40 do séc. 20, foi-lhe acrescentado, na fachada posterior, um corpo com características semelhantes, de planta em U, que obrigou à redimensão e reestruturação do jardim, para instalar várias salas e uma biblioteca, bem como nos anos mais recentes, um edifício rectilíneo, de cobertura plana, onde funciona um refeitório.
Edifício principal de planta em U, abrindo os braços para um pequeno jardim na fachada posterior, de massas simples e horizontalizantes, com coberturas diferenciadas em telhados de três águas, em lousa, com cobertura do tipo mansarda holandesa nos extremos, possuindo águas-furtadas, iluminadas por cinco janelas rectilíneas, rematadas por frontão semicircular. O edifício evolui em dois pisos, separado por mezzanino no braço mais largo, tendo nas alas, o mezzanino sobre o piso superior. Fachadas percorridas por embasamento em cantaria de calcário, circunscritas por cunhais apilastrados da ordem colossal e rematadas em friso e cornija, a principal com platibanda, ritmada pelo aparecimento de balaustradas, sobrepujadas por pináculo cónicos. Fachada principal virada a E., com o piso inferior e o mezzanino em silharia fendida, imitando rusticado, sendo o superior rebocado e pintado de rosa. A fachada é simétrica, possuindo um largo corpo central e dois corpos laterais, exactamente iguais, divididos em três panos por pilastras colossais, rematadas por pináculos bolbosos, o central com frontão triangular, com os tímpanos ornados pelas armas dos Marqueses de Foz, ladeadas por acantos enrolados, com acrotério formado por grupo escultórico alegórico. O corpo central é rasgado por onze vãos, correspondendo a três portas em arco de volta perfeita e janelas rectilíneas, algumas transformadas em montras. O mezzanino possui onze janelas de peitoril rectangulares, com caixilharia de madeira e, no superior o mesmo número de janelas de sacada em cantaria com guarda balaustrada ou em ferro forjado. Os corpos laterais são divididos em três panos, o central rasgado por amplo portal, que invade o mezzanino, em arco de volta perfeita, com fecho saliente e volutado, flanqueado por colunas toscanas, assentes em altos plintos, e rematadas por friso dórico, formando a sacada da janela do piso superior, com guarda balaustrada, tendo, nos ângulos, pináculos bolbosos; o vão é rectilíneo e flanqueada por pilastras, no topo das quais surgem duas consolas que sustentam o frontão semicircular do remate. O portal é flanqueado por janelas ou portas rectilíneas, surgindo, no mezzanino, duas janelas de peitoril rectilíneas e com molduras simples, sobrepujadas por duas janelas de sacada em cantaria, com guarda em ferro forjado vazado, formando um feixe de elementos volutados, que se espraiam a partir do centro, e para onde abre janela rectilínea, com moldura simples e rematada por friso, com consola que suporta a cornija, sobre a qual evolui olho de boi. Os panos laterais repetem este esquema, com um eixo de vãos, composto por duas janelas rectilíneas sobrepostas, surgindo, no piso superior, janela de sacada. Fachada lateral esquerda, virada a S., evoluindo em três panos divididos por pilastras toscanas colossais, o do lado esquerdo com dois pisos, estando encimado pelo terraço que forma o jardim na fachada posterior, protegido por grade de madeira pintada de verde, e os demais com três pisos. No lado esquerdo, surgem duas portas de verga recta que centram janela de peitoril com o mesmo perfil, encimada por três janelas de varandim em arco de volta perfeita, todos com molduras de cantaria; o pano intermédio possui duas amplas janelas em arco abatido e protegidas por gradeamento no piso inferior, encimadas por três janelas de peitoril e por três de varandim, com guardas em fero forjado pintado de verde, sendo as portas janelas rectilíneas, rematadas por friso, ladeado por mísulas, e cornija; o pano do extremo direito possui janela de peitoril em arco abatido e moldura simples, encimado por três janelas de peitoril rectilíneas e por três de varandim, semelhantes às anteriores. A fachada lateral direita, virada a N., adapta-se ao forte declive do terreno, encontrando-se dividida em três panos por pilastras toscanas colossais, o do lado esquerdo de dois pisos e remate em entablamento e cornija saliente, rasgado por porta de verga recta e duas janelas rectilíneas, encimadas por três janelas de varandim semelhantes às da fachada oposta, com remate em cornija; no pano intermédio, bastante amplo, uma porta e quatro janelas rectilíneas no piso inferior, surgindo, no intermédio, sete janelas de varandim, semelhantes às anteriores, encimadas por outras sete de sacadas com bacias de cantaria, sustentadas por mísulas e com guardas em ferro forjado pintado de verde, para onde abrem portas-janelas rectilíneas e com molduras simples; no último piso, sete janelas de peitoril rectilíneas; o pano do extremo direito possui uma porta e duas ordens de janelas de varandim. Fachada posterior formando U, composta por cinco panos simétricos, evoluindo em dois pisos, com fachadas circunscritas por cunhais apilastrados e rematadas a platibanda plena, com almofadados, divididos por acrotérios de cantaria; as coberturas são vazadas por trapeiras ovaladas e com molduras volutadas. O pano central tem, no piso inferior, um ressalto hemisférico, onde se rasga ampla porta em arco abatido com moldura em silharia fendida, flanqueado por quatro portas rectilíneas com molduras recortadas; no piso superior, sacada corrida, com barriga central e guarda em ferro forjado, formando elementos enrolados, para onde abrem cinco portas-janelas, as laterais rectilíneas e com molduras recortadas, centrando uma de dupla moldura, rematada por frontão semicircular, assente em mísulas, encimado por troféu e as armas portuguesas. Os panos intermédios têm, no piso inferior, três portas com arcos abatidos e molduras em silharia fendida, sobre os quais se desenvolve uma sacada corrida, com guarda semelhante à do pano central, para onde abrem três portas-janelas rectilíneas com molduras recortadas e rematadas em cornija. Nos ângulos, surgem duas portas no piso inferior e duas janelas de sacada no superior, semelhantes às anteriormente descritas. O pano do lado direito tem uma janela de sacada em cada piso, surgindo, no lado direito, amplo terraço com guarda semelhante às das sacadas e acrotérios de cantaria, para onde abre amplo vão rectilíneo; sob este, um corpo com várias janelas e portas rectilíneas. O jardim é formado por dois canteiros recortados, com o espaço entre eles pavimentado a calçada, tendo, no lado oposto ao edifício, uma escadaria que leva a um pátio amplo, onde surge um corpo em U, rasgado uniformemente por janelas rectilíneas, com pátio coberto por floreiras que liga a um edifício de feitura recente, que forma o refeitório, com planta rectangular e rasgado por vãos simples rectilíneos. INTERIOR com vestíbulo revestido com painéis de azulejo. Deste parte a escadaria que liga ao segundo piso, evoluindo em três lanços, com degraus baixos de cantaria, tendo guarda vazada, em bronze fosco e dourado e aço polido, constituindo acantos enrolados, interrompidos pelas armas dos Marqueses da Foz. No patim, surge um baixo-relevo mitológico, com cenas bacantes, em mármore negro. No patamar, que cria uma galeria rectangular, onde surgem, a sustentar a cobertura, colunas e pilastras com os fustes lisos de mármore branco e capitéis coríntios dourados com bronze patinado de ouro, sustentados por plintos, entre os quais surge a guarda semelhante à das escadas, possuindo alguns panos convexos, ritmando a galeria. A SALA DO FOGÃO é de pequenas dimensões, rectangular, com lambril e cobertura em talha em branco, de madeira de carvalho, o tecto formando apainelados em losango e rectilíneos, criando almofadados, sendo mais rico o lambrim, dividido em painéis por pilastras decoradas por elementos fitomórficos, assentes em plintos com decoração variada, rematando em friso, formando, ao centro, arcos de volta perfeita, assentes em pilastras, com tímpano decorado por acantos, que formam toda a moldura, que envolvem rectângulo dividido em quatro painéis, possuindo, ao centro, uma carranca. O fogão é rectangular, assente em pilastras e encimado por friso e cornija, tudo em embutidos calcários, formando acantos enrolados, sobrepujado por duas cariátides de talha dourada, que sustentam um baldaquino do mesmo material. A SALA DOS ESPELHOS reflecte a influência de Queluz, rasgada por várias portas em arco abatido, com as sobreportas de forma ovalada, ostentando pintura e molduras de talha dourada, todas elas espelhadas, flanqueadas por 16 pilastras espelhadas e estípides de madeira, pintada de branco, permitindo reflectir a luz que entra pelas janelas. As portas centrais estão decoradas por troféus com elementos militares. O pavimento é em parquet, de madeiras de tonalidades distintas, formando um jogo geométrico, com tecto côncavo e ovalado, pintado com tema alegórico, representando Vénus, Baco e os 4 amores *1 e envolvido por decoração de estuque dourado, com motivos fitomórficos vários, com festões, plumas e pequenos enrolamentos, sobre sanca com painéis pintados, envolvidos por motivos ou apainelados fitomórficos. SALA LUÍS XVI é rectangular, com as paredes formando apainelados, forrados a papel, rasgado por várias portas e janelas, todas encimadas por pintura. Tecto plano pintado sobre sanca curva, com pequenas estrelas e figuras femininas desnudas, em estuque dourado, que flanqueiam painéis oitavados, pintados com amorinos. Pavimento em parquet e, no tecto, lustre em cristal de Veneza. A SALA DOS PAINÉIS é rectangular e possui, dois grandes painéis a representar "O vendedor de Peixe" e a "Vendedora de fruta", com uma riqueza no tratamento das naturezas mortas. Na sanca medalhões pintados, a representar os Quatro Elementos, sendo iluminada por um lustre de feitura inglesa, de cristal e bronze. A SALA DE JANTAR possui tecto plano, decorado com pendentes e florões de estuque branco, com sanca curva, decorada com apainelados e festões, possuindo pavimento em parquet simples. É formada por apainelados e, num dos lados, possui quatro colunas de fuste liso, em mármore colorido, com capitéis coríntios, assentes em altos plintos paralelepipédicos, sendo iluminada por três lustres de cristal de Veneza. A GALERIA DOS BUSTOS constitui um estreito corredor, intensamente iluminado por portas-janelas rectilíneas, em frente das quais surgem portas que ligam a várias dependências, possuindo pavimento em enxaquetado e tecto em estuque, formando caixotões almofadados. Nos nembos, apresenta estípides em mármore verde, onde repousas vários bustos clássicos. A SALA DE JANTAR tinha uma bow-window, sobre o jardim, onde existe um lavabo em mármore branco. A BIBLIOTECA tem dois pisos, com armários simples de madeira, encerrando duas aquisições, a Livraria Duarte de Sousa e a Biblioteca Dulce Ferrão, com 26 mil volumes de Literatura e História de Portugal. Na cave subsistem elementos do restaurante Abadia, dividida em três dependências, identificadas por dísticos, uma o CLAUSTRUM, com um botequim onde se provavam vinhos, procurava reconstituir um claustro conventual, com planta quadrangular, constituindo um dos acessos, com um falso poço, a imitação de um pombal, onde várias mísulas sustentavam estruturas arquitectónicas, com figuras exóticas, como cabeças de elefante. O REFECTORIUM, uma ampla sala, inspirada nos refeitórios dos mosteiros medievais, com colunas duplas, com capitéis de colchete e com cenas inspiradas nas fábulas de La Fontaine, e as CELAS, pequenas dependências reservadas, existentes no segundo piso do claustrum, onde dominam arcos apontados, colunas de fuste lisos e capitéis bolbosos e arcos canopiais, de inspiração manuelina. Na fachada posterior, surge um CORPO construído na década de 40, de planta em U e com coberturas diferenciadas em telhados de, que se liga ao braço N. do principal através de uma torre de cinco pisos, rasgado, uniformemente por janelas rectilíneas. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas, com tectos de estuque, alguns com filetes dourados e pavimentos em madeira, excepto na BIBLIOTECA e SALÃO, onde o pavimento é de parquet e o tratamento dos tectos mais cuidado.
Materiais
Estrutura em alvenaria de calcário e betão (nos corpos da fachada posterior), rebocada e pintada; pilastras, colunas, balaustradas, sacadas, cornijas, frontões, acrotérios, em cantaria de calcário; pavimentos interiores em mármore; tectos em estuque; tectos em betão e com vigas de ferro; mansardas e tectos com estruturas de madeira; portas, lambris, filetes, pavimentos em madeira; guardas em ferro fundido e forjado ou em bronze; coberturas em telhas cerâmicas patinadas e vidradas, revestido, nas zonas laterais por ardósia; coberturas das mansardas em chapa de zinco; algerozes de zinco.
Observações
*1 - Zona Especial de Proteção Conjunta da Avenida da Liberdade e edifícios classificados na área envolvente. *1 - segundo Norberto de Araújo, a pintura dever-se-ia a Weenix, apelido que se aplica a dois pintores, Jean Baptiste e Jean, ambos a trabalhar na primeira metade do séc. 18, não sendo possível a sua intervenção no local em meados do séc. 19. *2 - Tristão Guedes de Queirós Correia Castelo Branco transformou o edifício numa residência de luxo, possuindo pinturas de Sneyders, Rembrandt, Sanches Coelho, Mignard, Sassoferrato, de Lucas Cranach a Herodíada, de Ribera a pintura de São Bento e São Paulo, com esculturas de Puget e Pigalle e panos de rás e gobelines, com as armas dos Montmorency. *3 - foram notificados para despejo Lopes & Rodrigues, António Matos e João Martins, Alberto de Oliveira, Sporting Club de Portugal, J. Gomes dos Santos, Lda., João Pereira Fernandes, Império da Moda, Lda., Café Abadia, Lda., Sociedade Animatográfica, Lda., Joaquim Nunes Ereira. *4 - cadeiras do séc. 18, bufete com pernas torneadas no patamar da escada principal, 4 candeeiros em forma de florão nas escadas, 2 lustres de Veneza, placas de metal e cristais para iluminação; guarda-vento giratório; várias peças para iluminação, radiadores a óleo, fogão de ferro máquina de lavar louça, balcão e ferro, utensílios de cozinha em obre, frigoríficos, jogo de órgão para efeitos de luz, espelhos diversos.