Arquitectura religiosa, manuelina (igreja, claustro, sacristia, refeitório), maneirista (capela-mor e forro do transepto), revivalista (remate da torre, antigo dormitório, sala do capítulo) e modernista (ala E do anexo e Biblioteca da Marinha). Convento hieronimita com igreja-salão manuelina (onde se incluem as igrejas matrizes de Arronches e de Freixo de Espada-à-Cinta), de planta longitudinal em cruz latina, de três naves à mesma altura cobertas por abóbada única, rebaixada, polinervada com combados, apoiada em pilares oitavados. Braços do transepto escalonados em altura relativamente ao cruzeiro, coberto com abóbada de berço polinervada. Retábulos em barroco nacional e rococós. Ábside maneirista retangular no exterior e de topo semi-circular no interior coberta por berço de caixotões de mármore. Externamente, o corpo da igreja apresenta uma volumetria horizontalizante, rectangular, de aspecto unitário, coberto com um telhado de duas águas. Claustro de planta quadrangular com octógono inscrito, com dois pisos de arcadas maineladas e galerias abobadadas com polinervuras. Sacristia retangular de abóbada única rebaixada, tornejante. A torre e o corpo do antigo dormitório foram profundamente alterados por intervenções revivalistas neo-manuelinas que introduziram elementos decorativos de temática marinha, rendilhados e arco-botantes, igualmente aplicados nas alas norte e poente do anexo, mas abandonados na ala nascente, onde se evidencia a presença do betão armado, expressando total ruptura com a tendência anterior. O Mosteiro de Santa Maria de Belém é um complexo arquitectónico e funcional, articulando as componentes de serviço público aos mareantes, cenóbio, mausoléu e palácio. É a única igreja do séc. 16 europeu onde se atinge a plena isotropia, constituindo o exemplo tecnicamente mais avançado do programa estrutural-espacial das igrejas-salão. Externamente apresenta massa horizontalista, paralelepipédica, de registo único com cobertura unificadora de telhado a duas águas, refletindo a espacialidade interna unificada, visível e ampla com três naves que se elevam identicamente sob uma única abóbada de perfil muito rebaixado, que se apoia em raros pilares octogonais esculpidos com bandas verticais de grutescos, delimitadas por finos colunelos, colocados equidistantemente em comprimento e largura, anulando eixos direccionais com o concurso da luz que entra directamente e uniformemente por grandes janelas rasgadas nos muros de cinta. A abóbada é de intradorso planificado, provido de uma complexa rede de nervuras retilíneas (liernes e terceletes) e curvas (combados), onde confluem três técnicas construtivas distintas: a polinervura gótica-final, os combados isabelinos e platerescos e a abóbada-à-vela do Renascimento, e onde, superando as mesmas, foram suprimidos os arcos torais e formeiros, definidores de tramos, solução que conduz à total fusão do espaço e eficaz distribuição do empuxo, maioritariamente vertical dado o perfil rebaixado, e sua descarga nos pilares e em mísulas embebidas na caixa murária. Na intersecção com o cruzeiro os pilares são mais grossos, tetralobados, a fim de suportarem também a cobertura daquele, em abóbada de berço dotada de rede de nervuras onde se incluem arcos torais e formeiros. O claustro não foi erguido ao mesmo tempo que a igreja, existindo dois muros mestres em cujo espaço foi lançada escadaria sob a qual se abrem os denominados "confessionários", dotados de paredes divisórias transversais que realizam o travamento dos dois muros. Os pilares da ala norte e o primeiro da ala oeste são diferentes dos restantes na esculturação e temática. A decoração arquitetónica do claustro é predominantemente profana, exceptuando as esculturas dos nichos do varandim e os medalhões com símbolos da Paixão de Cristo e relevos alusivos a São Jerónimo nos pilares das galerias, o que, aliado à sua planta e estrutura produz um ambiente palaciano e cénico adequado à existência de Hospedarias Reais no segundo piso.
Complexo de planta composta, constituída por dois rectângulos, abarcando duas quadras, a menor contendo o claustro, circundado pela portaria, pelo refeitório, pela sacristia, pela Sala do Capítulo e pela igreja, e a maior por um vasto edifício que inclui o antigo dormitório, adossado a três alas de dois pisos envolvendo pátio rectangular. Volumes articulados de massa horizontal. Coberturas diferenciadas de telhados, terraços e zimbórios. IGREJA: planta longitudinal em cruz latina, composta por corpo da igreja, de três naves, transepto de topos rectilíneos e ábside rectangular. Fachada principal orientada, semi-oculta pela ligação ao corpo sul do anexo através de passagem abobadada em berço sob terraço. Portal em arco polilobado com brasão de armas real pendente do fecho e encimado por três nichos separados por pilastras com Natividade, Anunciação e Reis Magos *2; ladeiam a porta dois nichos com estátuas de vulto de D. Maria de Aragão e Castela e São João Baptista (à direita) e D. Manuel I e São Jerónimo (à esquerda) enquadradas por pilastras rematadas por ânforas e contendo nichos que albergam figuras de Apóstolos. A sul avança corpo quadrangular de dois registos, rasgado por janelas de arco pleno e rematado por torre sineira amparada por arcobotantes e coberta por zimbório poligonal. Fachada sul rematada em platibanda; apresenta cinco tramos definidos por contrafortes; dois janelões altos em arco pleno com colunelos de decoração torsa ladeiam grande pórtico de dois lumes decorado com motivos vegetalistas e grutescos, encimado por tímpano historiado; preenchem-no nichos com imagens dos Apostolos, de Profetas e Virgens Mártires, dos quatro Doutores da Igreja, da Virgem dos Reis e de São Miguel. Fachada este, ábside com janelas rectangulares; remate em platibanda com dois cupulins. INTERIOR: três naves antecedidas por coro assente em abóbada polinervada rebaixada, sustentada por arcos tudor que abrem para as naves, a norte, capela do Senhor dos Passos revestida de talha dourada com quatro pinturas da Paixão de Cristo, a sul, capela baptismal, seguindo-se as arcas tumulares de Luís de Camões e Vasco da Gama. As três naves são à mesma altura, cobertas de abóbada única rebaixada, polinervada com combados, assente em oito pilares octogonais esculpidos com grutescos e em mísulas embebidas na caixa murária. A norte rasgam-se dez nichos sobre pequenas portas. O cruzeiro é um espaço unitário coberto por abóbada de berço polinervada com combados, provida de arcos torais e formeiros, apoiada em mísulas e nos dois grandes pilares que rematam o corpo da igreja. Transepto revestido por arcossólios com túmulos; nos topos os de D. Sebastião e do cardeal-rei D. Henrique e altares de alabastro com frontais em relevo alusivos a São Jerónimo. Arco triunfal ladeado por dois púlpitos de pedra, octogonais, com decoração de grutescos. Capela-mor coberta por abóbada de berço de caixotões de mármore, possuindo lateralmente, as arcas tumulares de D. Manuel I, D. Maria de Aragão e Castela, D. João III e D. Catarina da Áustria, sobre elefantes de mármore. A parede testeira é semi-circular, apresentando grande sacrário de prata em forma de templete e revestimento com painéis pintados da Paixão de Cristo e Adoração dos Magos. Uma escadaria entre muros ascende ao coro-alto, com balaustarda de pedra e grande cadeiral de talha maneirista decorado com temática sacra e grutescos e pinturas dos Apóstolos. SACRISTIA: a norte do transepto, com acesso por corredor a partir do cruzeiro e pelo claustro. Planta rectangular, dois janelões a este, cobertura em abóbada tornejante, rebaixada, polinervada com combados, apoiada em mísulas e coluna central decorada com grutescos de onde arranca feixe de nervuras. CLAUSTRO: a norte da igreja, estabelecendo ligação com as dependências monacais; planta quadrada de dois pisos definidos por arcadas profusamente decoradas, de perfil abatido no primeiro registo e a pleno centro no segundo, subdivididas em arcos menores por mainéis; os vértices são cortados em chanfra na fachada interna, formando octógono. Remate em paltibanta decorada com medalhões e bustos maneiristas; cobertura exterior em terraço. As galerias são cobertas por abóbadas polinervadas sobre mísulas, com bocetes decorados. Nas quatro alas abrem-se portas em arcos polilobados para a sacristia e Sala do Capítulo (a este), Casa Pia (a norte), refeitório e portaria (a poente), "confessionários" e escadaria entre-muros (a sul.). O segundo piso apresenta um varandim decorado com grutescos e heráldica onde se inscrevem vinte e quatro nichos com esculturas em relevo de santas, santos e virtudes. CASA DO CAPÍTULO: A nascente, portal duplo, mainelado decorado com grutescos e imagens de vulto; planta rectangular com o topo norte facetado; abobadada; tribuna a sul, com dois janelões com vitrais a nascente e altar a norte. Ao centro arca tumular de Alexandre Herculano. REFEITÓRIO: Ala poente, planta rectangular; coberta com abóbada única, polinervada, rebaixada, assente em mísulas embebidas na caixa murária sobre friso torso; revestimento parietal com painéis de azulejo polícromos, compondo silhar. A sul, moldura de pedra a enquadrar pintura. A poente, cinco janelas decoradas, de perfis diferenciados. ANEXO (antigo Dormitório): Corpo longitudinal rectangular, voltado a sul, composto por vinte e quatr tramos de dois pisos divididos por contrafortes rematados por pináculos, o primeiro com arcos quebrados mainelados, envidraçados, e o segundo com janelas em arco pleno com cogulhos. A meio, corpo elevado com portal inscrito em vão de asa-de-cesto encimado por varanda com janelão trigeminado e duas janelas laterais, rematado por platibanda; nos extremos nascente e poente, duas torres octogonais rematadas por coruchéus poligonais. A norte, pátio rodeado por três alas: as norte e poente têm fachadas idênticas às da ala sul, exceptuando o topo poente da ala norte, com pano murário rebocado e cego no segundo registo. Remate em cimalha. Ala nascente com corpo destacado e rebaixado com porta envidraçada e acentuado contraforte não estrutural; fachadas de betão, sem decoração, divididas em panos idênticos por pilastras providas de gárgulas; nos dois registos pequenas janelas de rampa.
Materiais
Pedra calcária lioz da região de Lisboa e Sintra; mármore de Estremoz (capela-mor); mármore de Pero Pinheiro (restauros); madeira de castanho, brasileira e de casquinha; tijolo; telha românica e portuguesa; betão armado; vidro.
Observações
*1 - Classificado como "Mosteiro de Santa Maria de Belém / Mosteiro dos Jerónimos e Túmulos de D. Manuel I, de D. João III, de D. Sebastião e do Cardeal D. Henrique"; *2 - Todos denotam reaproveitamentos e apresentam molduras de gramática estranha ao Manuelino; *3 - Actualmente no Museu Arqueológico do Carmo; *4 - O tecto foi transferido para o Palácio Foz e em seguida para o Palácio das Necessidades; *5 - Simão José Luz Soriano forneceu os meios para construir os túmulos; *6 - Anteriormente os vãos eram 2 capelas; *7 - Quadro da autoria de Avelar Rebelo.