Arquitectura religiosa, barroca. Mosteiro feminino da Ordem de Santa Brígida, de planta composta pela zona monacal, em torno de um claustro rectangular, ao qual se justapõe, nos extremos do lado NO., 2 corpos também quadrilongos, um deles correspondente à igreja, que delimitam um pátio central. A igreja é filiável no programa decorativo das "igrejas de ouro", que resultam essencialmente da combinação do dourado da talha com o azul e branco dos azulejos figurativos e com as cores vermelhas e roxas sobressaindo das pinturas, mas onde a componente arquitectónica é pouco complexa, com nave única, capela-mor, coros sacristia anexa. Estas características repetem-se na igreja dos Cardais (v. PT031106220055) e na do Mosteiro de Santos-o-Novo (v. PT031106410143), sendo as três igrejas os principais exemplos da arquitectura religiosa desta época, evocando o chamado "estilo nacional", visível na decoração dos retábulos laterais, no mor e nos do coro-baixo. Também é visível no gosto pelos embutidos, presente no pavimento, paredes da capela-mor e banco do retábulo-mor. Existência de púlpito no lado do Evangelho, com acesso pela parede e com talha dourada do mesmo período, revelando uma forte unidade de estilo. Na zona monacal surge uma rede de corredores longitudinais desenvolvidos ao longos das alas, articulados com escadas nos extremos das mesmas, os quais permitem a circulação não só nos pisos mas também entre os pisos, com compartimentos desenvolvidos ao longo das fachadas principaos das alas e também do claustro. Edifício notável não só pela sua considerável dimensão, gosto pela simetria na zona conventual, apesar de algo adulterada pelas suas actuais funções, mas especialmente pela igreja, constituindo um notável exemplo de complementaridade das artes, com todo o espaço forrado a talha, do estilo nacional, com a persistência dos acantos enrolados, com telas pintadas, com a vida de Santa Brígida, Santo Agostinho e cenas Cristológicas ou Marianas, os embutidos de calcário e azulejos que, com cenas de género, nos mostram episódios alegóricos, mostrando o carácter diáfono do prazer, bem patente no coro-baixo, com cenas do Cântico dos Cânticos. Aliás, a azulejaria não se cinge ao interior da igreja, existindo uma gande diversidade tipológica, podendo observar-se azulejos monócromos de figura avulsa, padronados e de temática seriada com o tema das albarradas e das folhas de acanto, ao mesmo tempo que se observam painéis do período pombalino, e sobretudo pela abundância, que permitiu que os mesmos fossem aplicados no revestimento não só de zonas circulação e compartimentos mas também nos capialços das janelas, em muros exteriores e até mesmo em cornijas de emolduramento, com reaproveitamentos nos elementos de remate dos corpos que formam o pátio exterior. Os retábulos, especialmente os do coro-baixo e o mor sofreram reformas no séc. 18, com introdução de elementos joaninos, bem patentes nos nichos em arco de volta perfeita, flanqueados por estípides que terminam em elegantes cariátides, podendo ser do mesmo período o que resta do arcaz da sacristia, transformado em mesas dos altares do coro-baixo. O portal de acesso, apresenta, contudo, uma estrutura que manifesta a transição do período maneirista para o barroco, bem visível no remate, onde os pináculos típicos dos esquemas de Vignola se mantêm, ladeando uma tabela, que se encurva e remata nos célebres frontões semicirculares maneiristas.
Planta rectangular composta por claustro quadrangular, ao qual se adossam duas alas, formando um U, dando origem a um pátio rectangular, fechado por muro e portão; a ala do lado Sudoeste corresponde à igreja e a oposta a uma das alas que forma o asilo, o qual é, ainda composto por cinco pavilhões, uma de maiores dimensões, rectangular e situado a N., surgindo dois rectangulares a Nordeste e outros dois a Sudoeste. A igreja articulava-se com o Convento, através dos coros, persistindo essa ligação no que concerne ao coro-alto. O PÁTIO é fechado, a NO., por muro de altura variável, adaptando-se ao declive do terreno, revestido a cantaria e encimado por grades de ferro pintadas de verde e com os extremos lanceolados; ao centro, rasga-se portal rectilíneo, flanqueado por dois pilares toscanos, assentes em altos plintos, rematados por candeeiros metálicos, sendo protegido por duas folhas metálicas. No interior do pátio, pavimentado a calçada á portuguesa, erguem-se algumas árvores, entre as quais uma palmeira e, ao centro, um chafariz do tipo centralizado, de tanque quadrangular e coluna central formando a bica. O conjunto possui fachadas rebocadas e pintadas de branco ou vermelho, rematadas por cornija e platibanda plena, no caso de se manter as originais, em betão e com guarda metálica nas novas alas e corpos. No lado direito do pátio, ergue-se a IGREJA, de planta longitudinal, composta por nave, capela-mor, a antiga sacristia adossada ao lado esquerdo, a actual capela mortuária, as dependências paroquiais na zona posterior, construídas no séc. 20, e os dois coros sobrepostos. A fachada principal, virada a E., abre para o pátio, rasgada por sete janelas rectilíneas, duas de menores dimensões, marcando o coro-baixo, e por portal com acesso por escadaria de cinco degraus, com corrimão adossado à fachada; é de verga recta e moldura almofadada, flanqueada por quatro pilastras toscanas, assentes em plintos paralelepipédicos, todos almofadados, encimadas por pináculos bojudos e gomeados, rematada por friso, ornado por padrão geométrico, e por cornija, que sustentam espaldar de perfil curvo, onde surgem as armas da Ordem e a inscrição "VENI CORONABERIS" (entra e serás coroado), sobrepujado por frontão semicircular, de tímpano concheado, encimado por dois pináculos que centram cruz latina; é protegido por porta de duas folhas de madeira almofadada e pintada de verde, com bandeira, formando dois almofadados. Fachada lateral esquerda adossada ao claustro, sendo a oposta, rectilínea, encimada por tabela rectangular horizontal, assente em duas mísulas, rematada por frontão triangular e com aletas volutadas. Na tabela, evolui um painel de azulejo, em monocromia, azul sobre fundo branco, com moldura recortada e flanqueado por quarteirões, contendo uma cena de género *1; no frontão, evolui uma albarrada, rodeada por festões de flores, surgindo, nas aletas, azulejo de padrão policromo, sobre faixa fitomórfica, em monocromia, azul sobre fundo branco. Adossado à fachada, um pequeno corpo, compondo a capela mortuária, com acesso por portal de verga recta e moldura recortada, encimado pelas armas do fundador. É prolongado por um muro, rasgado por amplo portão rectilíneo. INTERIOR com as paredes totalmente revestidas a azulejo e com dois andares de telas pintadas, envolvidas por molduras de talha dourada, com cobertura em falsa abóbada de berço, pintada com vários apainelados recortados, ornados por rosetões e elementos fitomórficos, possuindo, no central, a representação de "Nossa Senhora da Conceição" rodeada de anjos, acantos e festões de flores; o pavimento é em ladrilho cerâmico vermelho; a estrutura assenta em ampla cornija de cantaria e possui tirante metálico; sobre a cornija, na parede fundeira, uma luneta pintada, a representar uma "Lamentação de Cristo morto". Esta tem amplo vão de verga recta e moldura de cantaria, ladeado por duas portas, protegidas por folha de madeira almofadada e com respiradouros na zona superior, que correspondem aos confessionários das freiras, com pequeno postigo no lado oposto, rodeado por painéis de azulejo com anjos que sustentam grinaldas de flores, encimado pelo vão do coro-alto, com a mesma forma e tapado por portada de madeira, ornadas por arabescos, e vidro fosco; ambos se encontram rodeados por cinco telas pintadas, com molduras de talha, representando cenas da vida de Santa Brígida. O portal possui guarda-vento de madeira encerada, encimado por bandeira de vidro. No lado do Evangelho, com acesso pela parede, através de porta de verga recta, o púlpito, de perfil recortado, com bacia em cantaria de calcário, com mísula em talha dourada, ornada de acantos, e guarda plena, também em talha dourada, formando apainelados de acantos, colunas torsas e, na face frontal, um querubim, envolvido por cartela. Elevado por degraus de calcário vermelho e protegido por teia de madeira balaustrada, o presbitério, com pavimento embutidos de calcário de várias tonalidades (vermelho, negro e branco), formando quadrados que encerram uma flor de quatro pétalas. Neste, integram-se duas estruturas retabulares à face, dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus (Evangelho) e a Nossa Senhora de Fátima (Epístola). Arco triunfal de volta perfeita em cantaria de calcário, com pormenores de calcário vermelho, com fecho saliente e assentes em plintos paralelepipédicos e pilastras toscanas, de fustes almofadados, possuindo um tirante metálico, dando acesso à capela-mor. Esta possui cobertura em falsa abóbada de berço, pintada com enorme painel recortado, ladeado por painéis de menores dimensões e rosetões, possuindo, ao centro, elementos fitomórficos entrelaçados e albarradas, que se repetem lateralmente; no lado da Epístola, é visível a pintura anterior, setecentista, que segue o mesmo esquema; pavimento em embutidos de calcário preto e branco, formando um enxaquetado. Sobre supedâneo de cinco degraus centrais, com as zonas laterais em embutidos de mármore e plintos galbados, ergue-se o retábulo-mor, de talha dourada, planta recta e três eixos definidos por quatro colunas torsas, ornadas por pâmpanos, que se prolongam em duas arquivoltas, dando origem a apainelados entrecortados por aduelas no sentido do raio, tendo no fecho um escudo, rodeado por anjos e pela imagem de Deus Pai. Ao centro, tribuna do tipo camarim, com luz proveniente do lado esquerdo, com o fundo apainelado e ornado por acantos, integrando trono expositivo de três degraus; esta é fechada por tela pintada, a representar uma alegoria à Eucaristia, sendo movível. Na base da tribuna, surge estrutura de talha tripartida, tendo, ao centro nicho trilobado, ladeado por dois nichos em arco de volta perfeita, assentes em pilastras toscanas, contendo peanhas com imaginária, ladeados por estípides, que terminam em cariátides; rematam em cornija e elementos recortados e vazados. Nos eixos laterais, apainelados de acantos, separados por querubins, possuindo, ao nível do banco, as figuras do Menino (Evangelho) e Cristo Redentor (Epístola). Sotobanco em embutidos de calcário, formando friso de rosetões, a banqueta com profusa decoração fitomórfica e o altar-mor com cinco apainelados, ornados por motivos geométricos; sobre este, o sacrário em forma de templete, com pilastras e remate em cornija; é ladeado por duas portas de verga recta e moldura em cantaria de calcário vermelho, de acesso à zona paroquial e à tribuna. Nas paredes laterais, sobre o supedâneo, dois painéis com embutidos de calcário, formando cartela, envolvido por acantos e animais fantásticos, o do Evangelho com inscrição e o da Epístola com as armas da benfeitora. CORO-BAIXO com paredes revestidas a azulejo figurativo e a talha, com cobertura em abóbada de lunetas, bastante abatida, ornada por grotesco, que centra um medalhão em quadrifólio com a representação de uma "Adoração da Eucaristia"; nos pendentes da abóbada, surge a representação, em "grisaille" de uma Fénix e de um pelicano a alimentar os filhos, ambos símbolos de Cristo, "um Agnus Dei" e SantoAgostinho com o favo de mel; pavimento em tijoleira vermelha, tendo duas sepulturas com lápides em calcário, pertencentes a D. Isabel Henriques e à filha, Soror Juliana Maria de Santo António. Na parede fundeira, totalmente revestida a talha dourada, surgem, a ladear uma porta central de verga recta, encimada pela pintura de uma "Sagrada Família", duas estruturas retabulares dedicadas, actualmente, ao Sagrado Coração de Jesus e ao Crucificado. O intradorso do vão de acesso acha-se revestido a talha dourada, com acantos, que enquadram telas pintadas, a representar um Cristo Redentor, Nossa Senhora da Conceição e uma visão Celeste. Junto aos retábulos, uma mesa com tampo em calcário vermelho e pé em lioz. CAPELA mortuária bastante simples, rebocada e pintada de branco, com pavimento em ladrilho vermelho e com altar de madeira, protegido por estrutura do mesmo material. O ASILO evolui em dois pisos, rasgado regularmente por janelas de peitoril rectilíneas com caixilharias de alumínio lacado de verde, excepto na zona mais antiga, em que aproveita as antigas janelas, com molduras de cantaria de calcário. O corpo do extremo esquerdo, prolongado por muro, remata em frontão triangular, tal como a fachada posterior da igreja, com o tímpano revestido a azulejo, formando uma albarrada em monocromia, azul sobre fundo branco, rodeada por festões de flores, surgindo, nas aletas, azulejo de padrão policromo, sobre faixa fitomórfica, no interior e exterior, possuindo, na tabela, uma cena de género *1, mas com faltas de alguns azulejos. O acesso é feito pelo pátio, pela ala virada a N., com fachada rematada em platibanda plena e tripartida, com o corpo central marcado por pilastras pintadas de bege, que sustentam remate em frontão triangular; é rasgado por portal recortado, flanqueado por pilastras de fuste almofadado, que sustentam cornija curva, sob a qual surge um açafate com flores; sobre esta, janela de peitoril, contendo relógio circular e pano de peito rebocado e pintado, com moldura de cantaria, revelando que a janela era de maiores dimensões. Os panos laterais são semelhantes, possuindo duas janelas de peitoril no piso inferior e duas de varandim, com guarda em ferro forjado, no superior, todas com molduras simples em cantaria. No lado O., fechado o pátio, fachada de dois pisos, com janelas de peitoril no piso inferior e de varandim no superior, tendo acesso pela casa do guarda, situada no extremo esquerdo. INTERIOR evolui em tono do CLAUSTRO com cinco arcadas por ala, assentes em pilares toscanos, de um único piso, formando terraço no superior, protegido por guarda metálico. No piso inferior, coberturas em abóbadas de aresta e pavimento em lajeado, abrindo, para cada ala, várias portas e janelas, todas rectilíneas. A quadra possui árvores de médio e grande porte e vegetação espontânea. A partir da ala E., acede-se a escadaria e ao CORO-ALTO, com cobertura de madeira em masseira, formando apainelados recortados, pintados de branco, com molduras salientes e vermelhas, enquadradas por fundo pintado de bege escuro.
Materiais
Estrutura em alvenaria de calcário, rebocada e pintada, e em cantaria de calcário; modinaturas, portal, embasamentos, cornijas, pavimentos, banco do altar, escadas, supedâneo, lápides em cantaria de calcário; embutidos com elementos de mármore; retábulos, portas, caixilharias, altares, molduras em madeira; painéis de azulejo tradicional; estuque pintado; guardas em ferro forjado; janelas com vidro simples; caixilharia de alumínio lacado; coberturas em telha.
Observações
*1 - estes azulejos poderão ser provenientes do interior do convento, havendo azulejos semelhantes na zona dos dormitórios. *2 - neste consta uma descrição circunstancial do espaço religioso, referindo-se que a igreja tinha o altar-mor e dois altares laterais, com uma sacristia adossada; o retábulo-mor era ornado por uma pintura a óleo a representar a "Exposição do Santíssimo", em péssimo estado de conservação; o coro-alto tinha duas capelas laterais em talha dourada, compostas por nichos, flanqueados por colunas; tinha duas ordens de assentos com 42 lugares e espaldar dividido por pilastras, dando origem a 28 mísulas com santos; o conjunto era executado em madeira de carvalho e4 casquinha, pintado de vermelho e amarelo. O coro-baixo, tinha dois altares com nichos para santos e sete apainelados, divididos por pilastras de talha. Na zona conventual, existiam várias capelas, uma com o altar flanqueado por quatro colunas torsas e com as ilhargas formadas por quatro apainelados pintados; existia uma capela com retábulo de talha dourada, com a tribuna de talha e duas portas pintadas com grinaldas de rosas; uma capela de madeira de carvalho, totalmente dourada, com duas colunas laterais, onde se integravam quatro maquinetas para relíquias e dois nichos, marcados por cúpulas; existia uma capela com uma estrutura retabular, mantendo os santos, protegidos por duas molduras de vidro, altar de madeira e duas meias-portas acharoadas com seis vidros; uma capela forrada de madeira, com um retábulo flanqueado por colunas e tendo uma pintura a óleo; uma armação de capela, com duas colunas em espiral, com arco e pintura em relevo a representar a figura de Deus Pai. Existia, ainda, um presépio de barro, tendo a maior parte das figuras defeitos. Tinha jardim com lago e poço, cerca, cerca denominada Mafra, as casas do capelão e várias terras. *3 - a listagem das imagens é enorme, constando de um Senhor da Cana Verde, de madeira, com uma capa de seda, um Senhor preso à coluna, de madeira, uma Nossa Senhora da Soledade de roca, com manto e vestido de seda bordado a prata, Nossa Senhora das Dores, São João Evangelista, Senhor dos Passos, cinco imagens com os Passos do Senhor, em madeira, dois Santos Cristos de madeira, 2 Cristos mortos, um Santo Cristo de marfim, uma Nossa Senhora da Soledade, de madeira, um Santo Cristo de madeira, uma Nossa Senhora da Conceição de roca, Nossa Senhora de Belém, de roca, uma Virgem de roca, uma outra com o Menino, sendo o conjunto em barro, duas Santas Brígidas de madeira, dois São José de madeira, dois Santo António, um de madeira e um em barro, um São Joaquim de madeira, um São João de madeira, um São João Evangelista de madeira; um São João Nepomuceno de madeira, um São Sebastião de madeira, um São Francisco de madeira, um São Bento e Santo António de roca, uma Santa Ana de roca, São Domingos e Santa Teresa em barro, um busto de Santa Apolónia, um São Camilo de madeira, uma Santa Dominicana, Santa Agostinha, em barro, um busto-relicário, em barro, uma Santa Luzia de madeira, Santa Bárbara de madeira, Santa sem o braço direito, Santos Mártires, de madeira, São Rafael com o Menino, de madeira, São Bernardo, de madeira, Santa Helena de madeira, meio-corpo de São Gonçalo de madeira, São Boaventura, Santa Rosa de Lima de madeira, São Tomás, de madeira, um Menino Jesus de cera em maquineta de vidro.