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Convento e Igreja de São João de Alporão

Convento e Igreja de São João de Alporão

O ponto de interesse Convento e Igreja de São João de Alporão encontra-se localizado na freguesia de União de Freguesias da cidade de Santarém no municipio de Santarém e no distrito de Santarém.

Convento da Ordem de Malta, de arquitetura românica e gótica. Os muros robustos, os contrafortes exteriores, as bandas lombardas a nível da cornija, os pórticos em gablete, a decoração zoomórfica e vegetalista de capitéis, inserem-se dentro do formulário românico e restam como o único vestígio significativo da arquitectura românica de Santarém (SERRÃO, 1990). Por outro lado a verticalidade do edifício, o sistema de cobertura, a gramática decorativa de algumas mísulas e capitéis, inserem-se já no gótico. A igreja manifesta na sua construção duas campanhas essenciais, caracterizando-se a primeira pela edificação da nave única de planta rectangular e volume paralelepipédico, em silharia de calcário, de influência românica, datável do séc. 12; a segunda campanha manifesta-se no interior de linguagem proto-gótica visível na estrutura da cabeceira e no abobadamento primitivo da nave, observável no 3º tramo, antes do arco triunfal. O sistema de descarga da abóbada da ábside sobre os muros internos e a criação de um incipiente deambulatório, fórmula única inexistente no resto da Península Ibérica. Segundo Chicó, a nave primitivamente destinava-se a receber cobertura de madeira e não de abóbada de ogiva; por sua vez Serrão sugere a primitiva existência de uma abóbada de berço que teria possívelmente desabado num dos sismos ocorridos em Santarém no séc. 13. O pórtico saliente, de arquivoltas reentrantes e remate em gablete, no muro N., interrompe um contraforte por não se inserir no eixo do tramo. "A hibridez de elementos técnicos e decorativos, onde coexistem arcos torais e abóbadas de diferentes perfis, transformam São João de Alporão numa escola de experimentação arquitectónica da transição do séc. XII para o XIII" (CUSTÓDIO, 1996)

Planta longitudinal, orientada, composta pela nave e cabeceira poligonal mais baixa, de volume paralelepipédico. Fachada principal em empena triangular, de pano único e 3 registos demarcados por esbarros; no registo inferior abre-se o pórtico, inscrito em gablete que se eleva à altura do 2º registo; é formado por 5 arquivoltas de volta perfeita reentrantes descarregando em colunelos de capitéis vegetalistas; no registo superior grande rosácea de colunelos radiantes. Fachadas laterais de panos demarcados por contrafortes correspondendo aos tramos internos, onde se abrem seis frestas chanfradas quadrangulares, 3 de cada lado; um dos contrafortes da fachada N. encontra-se embebido numa porta lateral, também em gablete, transformada em janela. Cabeceira de planta poligonal, contrafortada, marcada em todo o seu perímetro por um esbarro. Nos panos do polígono abrem-se janelas rectangulares de maiores dimensões, semelhantes às frestas da nave e óculo; remate em modilhões (*1). INTERIOR: nave única de 3 tramos assinalados por pilastras facetadas; cobertura em abóbada de cruzaria com arcos torais de volta perfeita de tripla nervura, rematada por um fecho de folhagem espiralada; acesso à abside por arco triunfal de nervuras, sustentado por 3 colunas, de diferentes diâmetros, uma das quais participa da estrutura do presbitério, com capitéis de composição zoomórfica enquanto que os ladeantes são vegetalistas. A encimar o arco triunfal um óculo polilobado; abside com panos de duplas arcarias, criando-se entre eles um embrionário deambulatório (*2), apoiadas em colunelos e sobrepostas por óculos polilobados, com abóbada polinervada e perfis de nervuras de aresta chanfrada, rematada por pedras de fecho com símbolos da ordem dos Hospitalários. Vestigíos de transepto inscrito.

Materiais

Pedra calcária local (nave) e de Alcanede (cabeceira e presbitério)

Observações

"Nos sécs. XIII e XIV a Igreja de São João de Alporão fazia parte de um complexo monacal situado junto da porta de Alpram ou de Alporão, que se denominava Mosteiro de São João do Hospital, pelo que se pensa que uma das funções do templo junto à porta teria sido de proteger o acesso militar à cidade pelo lado Nascente e vigiar a entrada dos Judeus na cidade, de acordo com as regras estabelecidas entre os cristãos e aquela minoria étnica." *1: Os modilhões apresentam similaridades com a Fonte Medieval das Figueiras (v. 1416210004) (CUSTÓDIO, 1996, p. 49-53). *2: Para Jorge Custódio, o que alguns autores consideram de deambulatório, é a passagem de acesso a uma antiga torre. João Barreira (1927) faz sentir as semelhanças entre São João de Alporão e a Igreja de Quesmy, no Oise (2ª. metade do séc. XII); Mário Chicó (1954) refere a sua filiação com as igrejas ducentistas da IIê-de-France.