Setor urbano. Área urbana situada em encosta. Área rural medieval de jurisdição régia com expansão moderna e contemporânea. Estruturado no século 16 por via de pólo religioso monástico (ordem hieronimita, São Jerónimo), o eixo ribeirinho consolidou-se através de aquisição régia de várias quintas, dando origem a dois pólos palatinos de diferente contexto, o palácio de veraneio e depois, na sequência do terramoto, o palácio real sede da corte. Urbanização contemporânea marcada pela implantação de vários conjuntos de habitação económica. Inicialmente povoada a meia encosta, foi no lugar de Belém que, com as expedições marítimas e a fundação do mosteiro dos Jerónimos, ganhou expressão urbana. A área Belém / Ajuda adquiriu importância no século 18, após o terramoto, com a transferência da corte para ocidente. Nesta área urbana implantam-se dois palácios reais (Belém e Ajuda). O século 20 conheceu a construção de grandes equipamentos públicos na área correspondente às cercas e quintas, desarticuladas da malha urbana, ao mesmo tempo que se instalaram bairros económicos e sociais isolados da malha urbana preexistente. O território apresenta uma malha fortemente marcada pela propriedade régia, militar e religiosa no início da encosta, contrapondo-se a uma malha urbana consolidada a meia encosta, predominantemente residencial, voltando a ser menos densa na zona do Palácio da Ajuda, situando-se os bairros económicos na periferia de Monsanto.
Área composta por malha urbana heterogénea, cujo núcleo inicial se constituiu junto à Calçada do Galvão, próximo da Igreja da Memória. As actividades marítimas e o estabelecimento dos frades Jerónimos propiciaram o crescimento de um pequeno aglomerado junto à praia do Restelo, que passou a ser conhecido por Belém. A compra régia de várias quintas promoveu uma nova ocupação, que no século 18 se desenvolvia paralela ao rio, através do eixo linear que ligava o subúrbio ocidental ao centro. Após o terramoto iniciou-se o processo de construção do conjunto palatino no alto da Ajuda, que não ofereceu grandes alterações à estrutura fundiária preexistente, sendo só em meados do século 20 que a expansão urbana teve um novo impulso com a construção de bairros económicos. O povoamento da área terá começado no lugar de Alcolena, até ao século 16 a única aldeia do Reguengo de Algés, situado a meia encosta, junto à Estrada do Penedo que dava acesso a Benfica, Lumiar e Queluz. A presença de um ancoradouro no Restelo e a preparação das expedições marítimas fomentaram o desenvolvimento deste povoado a O. da cidade de Lisboa, que se destacava pelo número de habitantes. Junto à praia, o Infante D. Henrique mandou construir uma ermida de devoção a Nossa Senhora, onde posteriormente foi edificado o Mosteiro de Santa Maria, que se tornou o elemento polarizador do núcleo urbano ribeirinho, alterando-se o topónimo de Restelo para Belém. A propriedade religiosa na zona de Belém teve grande impacto no desenvolvimento da estrutura urbana, pois foi através dos aforamentos feitos pelos monges junto à praia que se deu início ao crescimento linear, demarcando a Rua Direita de Belém. A venda de terrenos proporcionou a construção de várias casas, entre as quais a do arquiteto João de Castilho, junto ao largo do mosteiro, bem como as Quintas de Baixo e de Cima de D. Francisco de Portugal, hoje o Palácio de Belém e o Jardim Botânico Tropical. A povoação de Belém continuava distante do centro, apesar da sua crescente importância, sendo o seu acesso feito por barco ou por azinhagas que percorriam as zonas de Santos e Alcântara, passavam pelo rio Seco, subiam até ao Alto da Ajuda e desciam a Calçada do Galvão. Simultaneamente à construção de uma ermida no Alto da Ajuda, lugar onde existiam alguns casais, foi constituída a nova paróquia com o mesmo nome, num território correspondente ao antigo reguengo de Ribamar. Mas a freguesia da Ajuda teria a sua sede distante dos dois principais núcleos de povoamento (Alcântara e Belém), que localizados à beira rio se tornaram mais populosos e apenas se autonomizaram administrativamente mais tarde. Em 1726 D. João V adquiriu várias quintas em Belém: duas quintas aos condes de Aveiras, uma no atual Palácio de Belém e a outra junto à Calçada do Galvão, ambas conhecidas por Quinta de Baixo; a Quinta do Meio comprada aos condes da Calheta, com entrada pelo Pátio das Vacas, o Museu Agrícola Colonial; e a Quinta de Cima conhecida por Jardim Botânico da Ajuda, adquirida ao conde de Óbidos; as três propriedades eram praticamente contíguas e faziam parte de um conjunto significativo de terras que o rei possuía nesta zona da cidade, para além da Tapada da Ajuda e dos palácios de Alcântara e Pedrouços. Também as qualidades aprazíveis desta zona rural atraíram a nobreza no início do século 18, possibilitando a abertura de ruas, com destaque para a Rua da Junqueira e o início da Calçada da Ajuda até ao Pátio das Vacas. Ao longo do eixo Alcântara / Algés, formado pela Rua da Junqueira, Rua de Belém e Rua de Pedrouços edificaram-se quintas de veraneio e palácios, e ainda o Convento das Salésias com a cerca delimitada pela Rua Alexandre Sá Pinto, Rua dos Quartéis e Calçada da Boa-Hora. Com o terramoto de 1755 a corte mudou-se definitivamente para a área ocidental do termo de Lisboa, tendo-se observando um aumento significativo da população. O rei instalou-se em terreno contínuo à Quinta de Cima, conhecido por Casal Tojal, num paço em madeira resistente aos abalos sísmicos, apelidada de Real Barraca da Ajuda. O crescimento urbano orientou-se para N., com o prolongamento da Calçada da Ajuda (antiga Calçada Nova da Ajuda), que fazia a ligação entre os dois palácios. Junto a este eixo viário, acima da Travessa da Memória, surgiu uma área urbana de malha regular formada por quarteirões retangulares, truncados na Rua Brotero (antiga Rua da Paz) pelo percurso da ribeira dos Gafos, formando um largo residual com o mesmo topónimo. Do lado oposto da calçada, construíram-se os quartéis do Regimento N.º 1 (conde de Lippe) e dos Lanceiros N.º 2, que ainda ocupam uma vasta área, delimitada pela Rua do Embaixador, Travessa da Boa-Hora e Rua Alexandre Sá Pinto (antiga Rua das Freiras Salésias). As propriedades régias mantiveram grande expressão na zona de Belém e Ajuda até à República, enquanto os sucessivos projetos para o novo paço régio de grandes dimensões foram sendo interrompidos, por falta de verba e pelas invasões francesas. Após vários anos de espera o Palácio da Ajuda foi inaugurado em 1835, mas a sua construção ficou aquém do planeado, ficando o edifício isolado da malha urbana, interrompido a O. pelo final da Calçada da Ajuda e formando a E. um largo envolvido por pequenas construções de caráter rural. No século 20, em especial na década de 30, o crescimento urbano seguiu a meia encosta, com a construção do primeiro bairro social, destinado a famílias de militares (Bairro Novo da Ajuda, v. PT031106011178), que ocupou a zona N. do Quartel de Lippe. Na mesma época surgiram outros bairros económicos, construídos junto a vias estruturantes mas que permaneceram isolados: o Bairro do Alto da Ajuda (v. PT031106010911), no limite do do Parque Florestal de Monsanto, junto à Rua das Açucenas / Calçada do Mirante (antiga Rua de Caselas) e o Bairro das Terras do Forno de Belém (v. PT031106321179), ocupando o interior do quarteirão formado pela Calçada do Galvão, Rua das Pedreiras e Rua dos Jerónimos. Esta última via confrontava com a grande cerca do mosteiro, que constituía uma área reservada até à Época Contemporânea.
Materiais
Não aplicável
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