Arquitectura religiosa, maneirista e novecentista. Mosteiro beneditino feminino de que conserva apenas corpo rectangular, parcialmente pertencente à antiga igreja. Fachadas rebocadas e pintadas, a principal de três panos definidos por pilastras toscanas e rasgados regularmente por vãos rectilíneos, moldurados, abrindo-se no primeiro piso portas ou janelas de peitoril e no segundo janelas de varandim com guarda de ferro; no pano central conserva portal de verga recta, ladeada por pilastras que suportam entablamento.
Edifício de planta rectangular, de volume simples e cobertura homogénea em telhados de quatro águas. Fachadas de dois pisos, rebocadas e pintadas de branco, com pilastras toscanas nos cunhais, percorrida por embasamento de cantaria e terminadas em friso e cornija, sobrepujada por beirado simples. Fachada principal com três panos definidos por pilastras, rasgada regularmente por vãos rectilíneos com molduras simples. No pano central, o mais largo, abre-se descentrado amplo portal de verga recta, enquadrado por duas pilastras toscanas suportando entablamento, encimado por cornija e nicho; este possui arco de volta perfeita, almofadado, sobreposto por raios, volutas laterais e, ao centro, cartela recortada com a data de 1732 inscrita, assente em pilastras de fuste igualmente almofadado, interiormente com abóbada concheada e albergando imagem de pedra de São Bento, inferiormente inscrita com S P N BENEDICTI; enquadram o nicho duas volutas. No mesmo pano e no lateral esquerdo, rasgam-se no primeiro piso duas e três portas, respectivamente, integrando bandeiras, e no lateral direito três janelas de peitoril, com falsos brincos rectos e tendo também bandeiras; no segundo piso de todos os panos rasgam-se janelas de varandim, com bandeira muito estreita, e guarda de ferro; no pano esquerdo, entre as janelas, surge registo de azulejos, com as armas de Murça e filactera com a inscrição VILA DE MURÇA. Fachada lateral esquerda rasgada, no primeiro piso, por janela de peitoril central, com moldura de falsos brincos rectos, e, no segundo, por duas janelas iguais ladeando uma de varandim, com chave saliente e guarda de ferro; fachada lateral direita rasgada apenas, no segundo piso, por duas janelas de varandim, iguais. Fachada posterior rasgada no piso térreo por três janelas rectangulares com falsos brincos rectos e no segundo por janelas de varandim de esquema semelhante. INTERIOR completamente remodelado.
Materiais
Estrutura rebocada e pintada de branco; embasamento, frisos e cornijas, pilastras, acrotérios, colunas molduras dos vãos em cantaria de granito; caixilharia e portas de madeira; vidros simples; guardas de ferro; algerozes metálicos; cobertura de telha.
Observações
*1 - Do Inventário de alfaias, vasos sagrados e outros objectos pertencentes ao culto, entregues ao pároco da freguesia de Murça, Inácio de Sousa, constavam: uma custódia de prata, cravada de pedras (avaliada em 51$400); uma cruz de prata (180$00); um turíbulo de prata (31$000); uma naveta e colher de prata (20$000); um vaso sagrado de prata dourada (16$000); uma galheta e prato de prata (17$500); um cálix, patena e colherinha, de prata dourada (63$000); um frontal de púlpito, de veludo vermelho guarnecido de franja dourada (7$200); dois frontais dos altares laterais (2$000); painéis com a invocação de São Bento, do Menino Jesus, de Santa Ana, de Nossa Senhora da Conceição, do Senhor Crucificado; um oratório de pau, dourado, com as imagens de Nossa Senhora e de São José; as imagens de São Bento, Santa Escolástica, Nossa Senhora das Dores com vestido e manto de seda, do Senhor Crucificado que existia no altar de Nossa Senhora das Dores, a imagem de São Lourenço, a de São Sebastião, de Nossa Senhora das Necessidades, de São Caetano, de São José e a de São Macário; um sino pequeno (57$6000), um outro (67$200) e um outro pertencente ao relógio (67$200); um relógio de torre (3$000). O recheio da igreja foi, na sua maioria, transferido para a Igreja Paroquial, nomeadamente o retábulo lateral do lado do Evangelho, a imagem do Crucificado, o sacrário e várias imagens, ou vendido ao desbarato. *2 - Segundo documento do delegado do Tesouro do distrito de Vila Real, datado de 18 de Maio de 1900, após a primeira concessão do mosteiro de São Bento à Câmara Municipal, esta reformou uma parte do edifício, instalando ali os paços do concelho, repartição de Fazenda e Conservatória da comarca; na outra parte fez reparos para estabelecer o quartel militar, conforme a concessão lhe facultava, e onde desde logo e por diferentes vezes, foram alojadas tropas. Porém, a Câmara não pode restaurar o resto do edifício dentro do prazo marcado na primeira concessão, e prorrogação desta, havendo por isso, necessidade de renová-las. A Câmara Municipal pensou ali instalar a administração do concelho, e duas escolas primárias, mas não procedeu às obras necessárias em virtude das precárias circunstâncias do município. A Câmara julgava-se na posse de todo o edifício, a ponto de, quando surgiu a notícia que uma epidemia de peste bubónica assolava a cidade do Porto, resolveu logo tornar a parte do edifício, não aproveitada ainda pelas repartições públicas, em hospital dos empestados, prevenindo-se para a hipótese do flagelo atingir a vila de Murça, para o que efectuou diferentes obras. Uma grande parte do edifício, já estava restaurada e aproveitada para instalação das repartições públicas. Considerava ainda que, sendo o resto do edifício de absoluta necessidade para o município, por ali estar instalada e na parte já restaurada, com todas as repartições, e as escolas primárias, o edifício pouco ou nenhum valor poderia ter para estranhos.