Conjunto arquitetónico residencial multifamiliar. Habitação económica de promoção pública estatal (FFH / Operação SAAL). Conjunto de grande dimensão, composto por edifícios multifamiliares em banda de quatro pisos, formando quarteirões abertos. Conjunto de grande simplicidade de acabamentos, compensada pela elegância dos detalhes e das proporções, e pelo rigor da geometria. A relação entre o conjunto e a malha urbana envolvente é de plena harmonia. O bairro foi estruturado e edificado no âmbito da actividade do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) criado em Agosto de 1974 pelo poder central, partindo da iniciativa de Nuno Portas, então secretário de Estado da Habitação e Urbanismo do II Governo Provisório. As chamadas "operações SAAL" decorreram entre 31 de Julho de 1974 (data do despacho da criação do SAAL) e 5 de Novembro de 1976, data de um despacho emitido pela Comissão Directiva do Fundo do Fomento da Habitação, que veio rever a relação entre o Fundo do Fomento da Habitação e as equipas projectistas, questionando a acção das brigadas técnicas. As operações SAAL comportaram um carácter profundamente experimental, tratando-se, de acordo com Nuno Portas, de uma iniciativa de natureza "não convencional" que tinha, acima de tudo, o intuito de criar um "loteamento eficiente" e que assentava em pressupostos de natureza diversa. Entre estes: 1. o princípio da auto-organização e iniciativa própria das populações, concepção influenciada quer pelo pensamento do sociólogo e intelectual francês Henri Lefebvre (1901-1991) - que defendia a importância das necessidades de apropriação do espaço -, quer pela convicção ideológica de que a auto-organização "facultava uma dinâmica de gestão democrática"; 2. a manutenção das localizações originais, arredando a hipótese de favorecer operações de especulação fundiária, ao mesmo tempo que permitia o acomodamento das populações em locais cujas "referências urbanas e de vizinhança já tinham sido adquiridas"; 3. a autonomização dos moradores na gestão financeira, definição das premissas programáticas, participação nas opções tipológicas e na execução da obra; 4. a possibilidade de recorrer ao sistema de auto-construção, tendo por base a convicção que o investimento pessoal, físico ou monetário, reforçava os sentimentos de apropriação do espaço da casa e do bairro. Para além do mais, este princípio "garantia taxas de execução mais realistas, dado o enorme deficit habitacional no país"; 5. o princípio da descentralização administrativa e disseminação equitativa dos técnicos pelo território nacional, superando as políticas centralistas do regime anterior; 6. o sentido experimental do processo, propondo a reforma das práticas correntes, com implicações sobre as próprias metodologias de projecto e construção.. (cf. Rosmaninho, 2007, pp. 121, 122)
Conjunto habitacional formado por cento e vinte e oito habitações dispostas em quatro blocos de apartamentos duplex, com três quartos, pátios alongados e espaços ajardinados. Na extremidade de cada bloco, junto da rua da Boavista, surgem três pequenos volumes, de forma geométrica, que integram equipamentos colectivos e a entrada do parque subterrâneo.
Materiais
Betão, ferro, vidro simples.
Observações
*1 - O projecto iniciou-se como Fundo de Fomento à Habitação, sendo posteriormente reconvertido em operação SAAL - Serviço de Apoio Ambulatório Local, criado por iniciativa do Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo do II Governo Provisório, o Arquitecto Nuno Portas. *2 - As cooperativas Sete Bicas e Ceta e a Associação de Moradores da Bouça, criaram a Cooperativa das Águas Férreas.