Edifício residencial e comercal oitocentista situado sobre um antigo convento trinitário, de planta retangular irregular, com cobertura a duas e três águas e fenestração regular. Fachada principal de três registos e três panos, revestida a azulejo e elementos definidores em cantaria. Dentro dos princípios pombalinos de grande austeridade decorativa e predominante horizontalidade, contrariada pela marcação do eixo central. Numa aproximação á habitação nobre privilegia-se a marcação do eixo central e de um andar nobre, pela utilização das sacadas de varanda corrida, abaulada no vão central. Trabalho de cantaria denotando alguma rigidez de talhe, como em alguns prédios na Rua da Madalena (por exemplo o prédio n.º 85 (v. PT031106190903) ou n.º 119 (v. PT031106190900), manifestando uma continuidade de um neoclassicismo empobrecido e esgotado pelas apropriações fora de uma formação erudita. Organização do interior dentro das matrizes pombalinas, com acesso por átrio, delimitado por arco, e escadaria central interligado os três pisos.
Planta irregular, de desenvolvimento rectangular, formada pela junção de três corpos articulados e escalonados, com coberturas diferenciadas a duas e três águas, com pátio rectangular a S., de desenvolvimento longitudinal e fechado por muro, e saguão a N.. Fachada principal voltada a O., organizada em três registos e três panos, enquadrada por pilastras de cantaria, e rematada por cornija e beiral. Embasamento ligeiramente saliente, primeiro registo revestido a cantaria de calcário e seguintes revestidos a azulejo de padrão e figura em cobalto e branco, divididos por friso de cantaria. Fenestração a ritmo regular, de vãos emoldurados a cantaria, fundamentalmente de perfil recto recortado. Pano central com porta axial em arco abatido e marcação da pedra de fecho com motivo esgrafitado, ladeada por janelas de peitoril com prolongamento do dintel simulando consolas. No extremo direito porta semelhante á central, e no esquerdo porta de perfil recto á face enquadrada por frisos de cantaria que se estendem á porta do pano lateral esquerdo com perfil idêntico. Segundo registo rasgado por cinco vãos de peitoril ornados por botão no eixo da moldura superior. Janela axial com tratamento nobilitante, sobre friso, ladeado por simulação de aletas, onde se inscreve ornamento composto por dois leões afrontados segurando medalhão oval, e rematado por cornija recta ornada por roseta. O terceiro registo com cinco janelas de sacada corrida, suportada por dez modilhões ornados por esgrafitados, que assentam no remate dos vãos anteriores, com guarda em ferro forjado, de perfil abaulado ao centro onde se dispõe ornamento com dois leões afrontados segurando estrela de oito pontos e onde se inscreve a data 1838. As janelas, intercaladas por painéis de azulejo de figura, são rematadas por cornija recta, recebendo a axial festão sob a cornija. Os panos laterais são simétricos, exceptuando ao nível do primeiro registo onde o pano lateral esquerdo foi adulterado e a porta com moldura em arco abatido transformada em porta de perfil recto recortada á face, repetindo os registos seguintes o modelo do pano central á largura de apenas um vão. Fachada lateral direita, rebocada e pintada, é articulada em torno de pátio, com planta rectangular, fechado por muro de alvenaria pintado de rosa, e com pavimento em calçada portuguesa formando ondas. O primeiro registo, pintado por rosa e rematado por cornija saliente, é marcado pela arcaria de volta perfeita, lançada sobre pilastras, do claustro do antigo convento. A face O. de três registos, com uma arcada parcialmente entaipada excepto ao nível do arco resguardado por estrutura de madeira com falsa balaustrada onde se abrem janelas de peito; nos registos seguintes, pintados de amarelo, rasga-se uma janela de sacada com guarda em ferro forjado em cada. A face N., de dois registos, com cinco arcadas, no ângulo NO. arcada aberta, seguindo-se duas arcadas entaipadas rasgadas por pequenas janelas quadrangulares resguardadas por grades de ferro, e duas arcadas envidraçadas com caixilharia de alumínio. No segundo registo, parcialmente recuado, e protegido por guarda em ferro forjado intercalado por acrotérios de cantaria, é rasgado por portas com bandeira, caixilharia de madeira e moldura de perfil recto de cantaria. Face E., também de dois registos, o primeiro com arcada envidraçada com caixilharia de alumínio e o segundo com janela de peitoril de perfil recto e moldura de cantaria. INTERIOR: organizado em três pisos comunicantes por duas escadarias, uma fronteira á fachada principal outra á fachada posterior. Acesso ao prédio pela porta axial da fachada principal, abrindo para átrio rectangular, com pavimento em mármore branco e negro formando losangos, e paredes revestidas a meia altura por azulejo joanino de figura em azul e branco, é delimitado por arco abatido em cantaria, antecedido por dois degraus de cantaria, com caixilharia e bandeira em madeira lacada, precedendo dois arcos adjacentes, um de volta perfeita que emoldura porta e outro abatido que marca o arranque da caixa de escadas, de perfil abaulado, com friso de azulejo cobalto e branco no rodapé*1, guarda e corrimão em ferro forjado e degraus em cantaria até ao primeiro patamar e de madeira nos seguintes. Escadaria secundária, cuja comunicação com o primeiro piso se encontra hoje em dia interrompida, de lanços rectos, guarda e corrimão em ferro forjado e degraus em cantaria, com caixa de escadas decorada por azulejo cobalto e azul, figurando albarradas. O primeiro piso está parcialmente ocupado pela cervejaria Trindade. O restante primeiro piso e seguintes estiveram ocupados por escritórios*2, que não alteraram a distribuição original das dependências, inter-comunicantes e mantendo as molduras de cantaria das portas. No terceiro piso, no topo da escadaria secundária, nicho embutido maneirista do antigo convento da Trindade em mármore branco e rosa. CERVEJARIA TRINDADE: com acesso pelas duas portas á esquerda na fachada principal, ocupando grande parte do primeiro piso e todo o pátio. Organiza-se em três salas fundamentais, dispostas longitudinalmente no sentido O.-E., ás quais se agregam á direita o pátio e á esquerda as zonas de serviço como as cozinhas e dispensários. Acesso pelas duas portas à esquerda da fachada principal, para primeiro espaço fundamental com cobertura em cruzaria de ogiva*3 lançada sobre pilares revestidos a meia altura de azulejo industrial amarelo, paredes laterais com painéis de azulejos figurativos com representações alegóricas; divisão do espaço por três arcos, o central abatido e de maiores dimensões, os laterais de volta-perfeita, lançados sobre pilares onde se colocam painéis de azulejo figurativo. Segundo salão, de maiores dimensões, com cobertura em abóbada de lunetas e paredes revestidas a azulejo decorativo, com figuras alegóricas inscritas em falsos nichos arquitectónicos. Transição para a terceira sala faz-se por espaço intermédio enquadrado por dois arcos abatidos onde se instalaram áreas de serviço. Terceira sala também de planta rectangular, com cobertura em abóbada de berço abatida em alvenaria, formando-se nichos nas paredes laterais onde se dispuseram painéis de azulejo pombalino; entre os nichos painéis figurativos em mosaico*4. Á direita da sala acesso para pequena sala rectangular, voltada para a arcaria do pátio*5. Aqui tem-se acesso a duas pequenas salas complementares onde se instalou uma galeria, desta última acede-se á escadaria secundária do prédio, com a mesma decoração azulejar com albarradas. As cozinhas apresentam cobertura em alvenaria formando abóbadas de aresta.
Materiais
Estrutura em alvenaria mista revestida a azulejo, molduras de vãos, embasamento, revestimento de primeiro registo, frisos, pilastras, sacadas, cornijas e arcaria do pátio em cantaria de calcário; guarda de balaustrada em ferro forjado; azulejo decorativo no interior; mosaico em painéis no interior; calçada portuguesa no pavimento do pátio; madeira na caixilharia dos vãos.
Observações
*1 - ficou recentemente visível a pintura mural original da caixa de escadas, muito danificada e sob várias camadas posteriores de tinta, que é semelhante à pintura da caixa de escadas do n.º 16 da Rua Nova da Trindade (v. PT031106270945) mandado construir pelo mesmo proprietário. *2 - atualmente o prédio encontra-se sem utilização, exceptuando a Cervejaria, estando em estudo um possível projeto de reutilização do mesmo. *3 - espaço correspondente ao antigo refeitório dos frades trinitários. *4 - estes painéis, da autoria de Maria Keil, inspirados na calçada lisboeta, foram realizados especificamente para este local; realizados em mosaico de pedra pequena, em tons de preto, cinzento e rosa pálido, em representações estilizadas próprias do estilo da pintora. *5 - nesta sala é facilmente observável a fisionomia do antigo claustro.*6 - guardam-se ainda no prédio azulejos soltos de padrão maneiristas em cobalto, amarelo e azul.