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Royal Cine

Royal Cine

O ponto de interesse Royal Cine encontra-se localizado na freguesia de São Vicente no municipio de Lisboa e no distrito de Lisboa.

Arquitectura cultural e recreativa, ecléctica. Cinema de bairro cuja fachada apresenta um desenho de características monumentalizantes, similar à frontaria do edifício de A Voz do Operário (PT031106510272), igualmente da autoria de Norte Júnior, embora o Royal Cine seja de escala muito mais reduzida. Na prática ecléctica caracterizadora do trabalho deste arquitecto, o Royal Cine denota a aplicação de elementos colhidos na linguagem Arte Nova, especialmente visível na decoração. A primeira sala da capital a projectar filmes sonoros.

Planta regular, composta por dois rectângulos, correspondentes um - o mais estreito -, ao átrio e escadas de acesso ao piso superior, o outro - mais largo e com construções adossadas ao alçado N.-, à antiga sala de cinema, hoje um espaço comercial. Coberturas diferenciadas em telhados de duas águas. Fachada principal virada a E.: envasamento de pedra, seguido de reboco pintado, recorrendo-se à diferenciação textural e policromática para acentuar a decoração em múltiplos pormenores. No essencial, a frontaria é enquadrada por um grande arco abatido no seio do qual duas colunas estriadas com capitéis decorados sustentam um frontão desenhado e ornamentado com molduras de linhas rectas que se recortam ou ligeiramente se abatem ao centro. Os vãos criados por esta estrutura são preenchidos por uma caixilharia de ferro e vidro colorido: as das portas (3) que franqueiam a entrada, vagamente reentrante, no edifício, e o do vão que preenche o espaço entre o arco e o frontão, aproveitado ainda pelo arquitecto para no prolongamento das colunas utilizar como motivo ornamental duas carrancas figurando a Tragédia e a Comédia. Visto do interior, em contra-luz, semelhante concepção propicia forte efeito estético, acentuado pela simplificação das linhas que definem a fachada, bem como pelo desenho geométrico das caixilharias. O alçado principal exibe por fim um remate concebido a partir de umas "pilastras" com decoração geométrica, nos ângulos do edifício, e uma cornija que as une, com motivos ornamentais idênticos, interrompida para um frontão recortado se elevar acima da empena: nova decoração, agora floral, aqui é adicionada, recebendo ainda sobre ela uma estrela a sobrepujar o conjunto e calculadamente alinhada com o bico do frontão da entrada que mostra no tímpano uma lira. INTERIOR - duas zonas distintas podem ser consideradas: o espaço correlativo à antiga sala de espectáculos, cujo interior foi demolido para dar lugar a uma superfície comercial de média dimensão, recentemente readaptada às exigências e modelo comuns à cadeia de supermercados Pingo Doce; e um outro espaço, concebido como zona de circulação e encontro, correspondente ao átrio, onde se localizam também as escadas que permitem subir ao pavimento superior: esta parte, poupada aquando das obras de conversão do cinema a supermercado, mantém a estrutura e decoração primitivas. O átrio é continuado por uma zona de acesso ao interior do edifício, ao fundo da qual se encontram as escadas, localizadas lateralmente, que permitem aceder ao segundo pavimento. O pé direito do átrio decresce aqui em virtude do piso superior se estender para este corpo do edifício: em consequência desta organização espacial, forma-se uma espécie de corredor, recebendo a superfície aberta ao átrio, e em oposição à entrada, uma fenestração tripartida, com linhas de composição e decoração similares à fachada (se observada do interior) e com ela harmonizadas. A madeira, também utilizada nas escadas, o vidro e as decorações florais nas paredes estucadas, conferem, sobretudo em ambiente nocturno, tom de requinte similar ao inspirado pela arquitectura da fachada. Um relógio esmaltado, contendo dentro da circunferência interior a designação Royal Cine, além da estrela, de modo emblemático aqui aplicada de novo, constituem a memória materialmente residual do antigo cinematógrafo.

Materiais

Observações

* Isto, segundo o PDM, no que respeita à "Classificação do Espaço Urbano", porque quanto à definição das "Unidades Operativas de Planeamento" aparece considerada como área histórica habitacional. O perímetro desta mancha urbana define-se a O. da Baixa e Martim Moniz, a NO. da Av. Almirante Reis, tendo a S.-SE. o rio e a E. uma linha de contorno menos preciso que passa pela Rua de Sapadores e Bairro das Colónias. ** Em virtude do Proc. de Obras se encontrar em restauro no Arquivo da CML, ele não pode ser consultado, aguardando-se que fique disponível para ser por nós trabalhado. Assim, na elaboração desta ficha, utilizámos a documentação gráfica inserta na tese de PAIXÃO, 1989, bem como plantas do cinema publicadas em outras obras (RIBEIRO, 1978, entre outras). As diferenças registadas entre os diversos documentos, uma vez que PAIXÃO dá a conhecer o projecto inicial (alçado e plantas do 1º e 2º pavimentos), leva-nos a supor o efifício ter conhecido, até a adaptação a supermercado, uma ou mais intervenções.