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Convento de Nossa Senhora das Portas do Céu

Convento de Nossa Senhora das Portas do Céu

O ponto de interesse Convento de Nossa Senhora das Portas do Céu encontra-se localizado na freguesia de Lumiar no municipio de Lisboa e no distrito de Lisboa.

Arquitectura religiosa, maneirista, barroca e pombalina. Convento franciscano, composto por igreja e zona conventual, que evolui em três pisos, de linhas simplificadas, rasgadas por janelas de verga recta, como ordenava a Ordem. A igreja é de planta longitudinal composta por nave e capela-mor mais estreita, com coberturas interiores diferenciadas em falsas abóbadas de berço abatida, assentes em cornija, uniformemente iluminada por janelas rectilíneas rasgadas nas fachadas laterais. Fachada principal barroca, com remate em fragmentos de frontão e empena curva, encimados por cornija, rasgada por portal de verga recta, flanqueado por pilastras, talvez de execução maneirista, encimado por grandes janelões que iluminam o coro, de modinaturas amplamente decoradas, barrocas. A torre, no lado esquerdo, poderá ter fundação maneirista, sendo atacarrada, com remate em coruchéu bolboso, barroco. Fachadas com cunhais em cantaria de granito, rematadas por friso e cornija, as laterais da nave da igreja, rasgadas por portas travessas de verga recta. Interior com coro-alto assente em arco de volta perfeita, sob o qual se situam os confessionários. Capelas laterais confrontantes, inseridas em arcos de volta perfeita. Arco triunfal de volta perfeita, rematado por frontão triangular, numa invocação maneirista. Junto à igreja, desenvolvia-se a escada regral, em cantaria. Edifício seiscentista fundado por personagem oriunda do Oriente, onde teve formação cristã, começando por criar um pequeno oratório, que deu origem a amplo convento franciscano, bastante arruinada, de que já não resta o claustro e várias alas conventuais; também a igreja se encontra despojada. Nesta, destaca-se o tratamento da fachada, com portal simples, mas com as modinaturas das janelas do coro-alto elaboradas, com espaldares de festões e cornijas, a central prolongando-se numa lápide que comemora a sua reconstrução após o terramoto, com o patrocínio régio e do próprio Marquês de Pombal. A torre é algo atarracada, apontando para época diferente de construção, apenas de destacando o coruchéu bolboso como elemento barroco. No interior, o coro-alto assenta em pilastras com fustes almofadados, formandos falsas estípides. Mantém o arco triunfal maneirista, em cantaria e com os escudos do orago e de Portugal, envolvidos por decoração fitomórfica barroca, revelando uma remodelação neste período. No sub-coro, mantêm-se os confessionários, transformados em espaços de arrumação ou em escaparates. O coro tem uma guarda vazada entrelaçada, pouco comum na época barroca, em que se optava por balaústres.

Complexo arquitectónico rectangular, constituído por: igreja num dos topos e dependências conventuais, bastante arruinadas, dispostas em L, criando, actualmente, um pátio aberto, virado a N., servindo de estacionamento, o primitivo claustro. A IGREJA é de planta longitudinal simples, com nave única e capela-mor mais estreita, de volumes escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas, com torre sineira adossado à fachada lateral esquerda, com cobertura em coruchéu bolboso, rebocado e pintado de branco, e sacristia adossada ao lado oposto. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, flanqueadas por cunhais apilastrados, em aparelho isódomo, percorridas por embasamento de cantaria, e rematadas em friso e cornija. Fachada principal virada a N., com remates em fragmentos de frontão, que enquadram empena curva, volutada, sobrepujada por friso e cornija angulares, rematados por pináculos piramidais e, no vértice, plinto galbado com cruz metálica. É rasgada por portal de verga recta e moldura dupla de calcário, flanqueada por duplas pilastras toscanas, assentes em plintos paralelepipédicos, todos almofadados, rematado por entablamento, de onde evoluem dois pináculos bolbosos e pequeno friso; é protegido por porta de duas folhas, em madeira, almofadada, com pregaria metálica e a data "1696"; sobre o portal, uma cartela curva com inscrição, servindo de base a janelão central, de perfil contracurvado, com moldura de cantaria recortada, e rematado por espaldar curvo e cornija com o mesmo perfil, tendo um escudo português e coroa fechada, como pedra de fecho. Encontra-se encimado por óculo circular, integrando pétalas de flores, e está flanqueado por duas janelas de menores dimensões, em arco abatido, com molduras semelhantes às anteriores, encimadas por espaldar com festão e cornija curva. No lado esquerdo e em plano mais recuado, torre sineira quadrangular, flanqueada por cunhais de cantaria, rebocados e pintados de branco, rematada por friso e cornija, com pináculos nos ângulos, também pintados, dividida em três registos, definidos por friso e cornija, o inferior com fresta de iluminação e arejamento na face frontal, um óculo circular no topo, surgindo, no registo intermédio, óculo circular; o registo superior encontra-se rasgado por quatro ventanas em arco de volta perfeita, assente em impostas salientes. Fachada lateral esquerda, virada a E., rasgada por três vãos rectilíneos e de molduras simples, correspondentes a porta de verga recta e, superiormente, a duas janelas. No corpo da capela-mor, porta semelhante e pequena janela quadrangular, ambas com molduras de cantaria de calcário. Fachada lateral direita, virada a O., semelhante no corpo da igreja, tendo a sacristia rasgada por seis janelas sobrepostas, três em cada piso, rectilíneas e com molduras de cantaria, as inferiores jacentes. Fachada posterior adossada. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco, com pavimento em lajeado de granito e cobertura em falsa abóbada de berço abatido, rebocada e pintada de branco, assente em cornija de cantaria. Coro-alto assente em arco abatido, sustentado por pilastras de cantaria, com os fustes almofadados, criando falsas estípides, com guarda de madeira vazada, com o tecto do sub-coro em estrutura de barrote, com guarda-pó de madeira. O portal axial encontra-se protegido por guarda-vento de madeira, flanqueado por pias de água-benta em calcário vermelho, de perfis circulares e bordos boleados. Confrontantes, no sub-coro, surgem duas portas de verga recta e com molduras de cantaria, provavelmente antigos confessionários. Confrontantes, duas portas travessas, de verga recta e molduras de cantaria, rematadas por frontões triangulares, a partir das quais se secciona o espaço, sendo ambas as paredes interiores semelhantes, circunscritas por pilastras toscanas da ordem colossal, rematadas por cornija, tendo, cada uma delas, duas capelas laterais profundas, em arcos de volta perfeita assentes em pilastras e com o fecho volutado, tendo os fundos pintados de azul. Entre cada uma delas, pequena porta em arco abatido e moldura de cantaria, encimadas por púlpitos quadrangulares, com bacia em cantaria de calcário e florão inferior, com guarda plena de madeira e acesso por porta de volta perfeita com moldura simples, encimada por friso contracurvado em cantaria vermelha, que se prolonga das capelas laterais. Arco triunfal, antecedido por presbitério de um degrau, com perfil de volta perfeita, assente em pilastras toscanas colossais, com enormes seguintes de cantaria e fecho volutado; remata em frontão triangular, contendo escudo em estuque com as armas de Portugal, escudo com uma chave, totalmente envolvido por folhagem, palmas e encimado por coroa fechada. Capela-mor alteada por um degrau, com as paredes rebocadas e pintadas de branco, lateralmente rasgadas por portas de verga recta e por tribunas em arco de volta perfeita, sustentadas por cornija; ao centro, o altar-mor e, na parede testeira, enorme nicho em arco de volta perfeita com o fundo pintado de azul, junto ao qual surge altar paralelepipédico, elevado por supedâneo de dois degraus. DEPENDÊNCIAS CONVENTUAIS bastante arruinadas, dispostas em L e evoluindo em três pisos, com as fachadas parcialmente rebocadas de rosa, e possuindo vários vãos entaipados, flanqueadas por cunhais apilastrados e rematadas em cornija e beirada simples. Fachada lateral esquerda, virada a E., formando um ressalto central, onde se divisam vários vãos entaipados, totalmente revestida a cimento; nos panos laterais, recuados, surgem, em cada um deles, duas janelas de peitoril rectilíneas e moldura de cantaria calcária, a superior parcialmente entaipada; no lado direito, é visível uma porta de verga recta de grandes dimensões, também entaipada. A fachada lateral direita, virada a O., marcada pela igreja e, no topo, por pano rebocado e pintado de branco, com cunhais apilastrados e rematado em platibanda plena, onde se rasgam, no piso inferior, janela rectilínea, e, no superior, uma janela de peitoril e uma de varandim, ambas rectilíneas, a última com guarda metálica, pintada de verde. A fachada posterior divide-se em dois panos, o do lado esquerdo de menores dimensões e totalmente remodelado, com cunhais de cantaria, rebocados e pintados de branco, rematando em platibanda plena, evoluindo em três pisos, o inferior com portal em arco abatido e janela de peitoril rectilíneas, surgindo, em cada um dos pisos superiores, três janelas rectilíneas, com caixilharias de alumínio e vidro simples. O pano do lado direito, arruinado, possui cerca de dez vãos por piso, com molduras de cantaria, alguns entaipados e flanqueados por mísulas de cantaria. PÁTIO constituído por duas fachadas, uma virada a O. e outra N., constituindo um ângulo de 90 graus. A fachada E. possui, no piso inferior, sete portas de verga recta, surgindo, nos superiores, nove janelas de peitoril, com molduras nos extremos, todas entaipadas. A fachada N. tem quatro portas de verga recta entaipadas, duas janelas jacentes, uma delas gradeada, uma de peitoril e um vão de volta perfeita, assente em impostas salientes e com pedra de fecho saliente, constituindo o principal acesso à zona conventual. Os andares superiores possuem seis janelas de peitoril com molduras de cantaria, uma delas com pano de peito em cantaria. A partir deste, surge um patamar, com cobertura em abóbada de aresta, que abre para porta de verga recta no lado direito, e, frontalmente, um arco de volta perfeita acede a escadarias de cantaria, de três lanços, cada um deles separados por patins, com cobertura em abóbada de aresta.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista, parcialmente rebocada, com os vãos entaipados a alvenaria de tijolo, alguns rebocados a cimento; modinaturas, empenas, cunhais, cornijas, coro-alto, arco triunfal, bacia do púlpito, escadas em cantaria de calcário e mármore; janelas com vidro simples; armas em estuque pintado; guardas em ferro forjado; caixilharias em alumínio; portas, caixilharias, guarda do coro-alto, púlpito e mobiliário em madeira; cobertura exterior em telha.

Observações

*1 - D. João de Cândia era natural do Reino de Cândia, no interior da Ilha do Ceilão, actual Sri Lanka; ao ser livrado da morte por Frei Francisco do Oriente foi com a mãe e seu sobrinho, D. Filipe (neto do Rei de Cota, Raju), para Goa onde permaneceram quinze anos recolhidos no Convento dos Reis Magos de Bardés e onde receberam os devidos ensinamentos; vieram para Portugal, por ordem de Filipe II, e instalaram-se no Convento de São Francisco da Cidade, em Lisboa (v. PT031106200163); D. João foi depois para o Colégio de São Pedro dos Religiosos Terceiros, em Coimbra (v. PT020603170083) e, mais tarde, para Madrid de onde regressou após obtenção, por parte do rei, de uma licença para se fixar em Lisboa; em 1634, ocorreu o nascimento da sua primeira filha, Maria de Cândia que professou com o nome de Soror Maria Antónia de S. João e que foi, mais tarde, declarada sua herdeira no testamento; em relação à segunda filha, uma freira noviça de nome Simoa Baptista, pouco se sabe. *2 - apesar de nunca chegar a realizar-se, era desejo de D. João de Cândia que os seus ossos fossem trasladados para um dos mausoléus em mármore construídos na capela-mor e que o outro fosse para D. Filipe, que se encontra sepultado no Convento de São Francisco em Coimbra (v. PT020603160020); os ossos de D. João ficaram emparedados do lado do Evangelho da capela-mor. *3 - este quadro foi, após a extinção das ordens religiosas, transferido para a Biblioteca Nacional de Lisboa tendo, de seguida, desaparecido. *4 - são referidos vários paramentos e objectos de culto: 1 cruz e 6 castiçais dourados de pau, 1 cruz com crucifixo e 6 castiçais de estanho dourado, 1 cruz e 6 castiçais de pau dourado e matizado de azul, 1 cruz, 1 cruz com crucifixo de pau Brasil, 3 crucifixos de pau, 23 castiçais avulsos de vários tamanhos em pau, 1 lustre de vidro, 5 frontais de várias cores, 4 sanefas encarnadas de damasco grandes, 1 sanefa do altar-mor, 4 sanefas pequenas, 1 cortina grande de tafetá, 1 cortina de damasco, 7 cortinas de damasco pequenas, 2 credencias pintadas, 1 escada de mão para acender a lâmpada, 4 mochos, 1 estante grande quadrada de pau-preto no coro, 2 estantes pequenas, 2 bancos de encosto, 2 bancos sem encosto e 1 cadeira de pano); na sacristia, existiam vários paramentos, como 1 casula com estola e manípulo preto em lã, 1 estola branca em damasco, 1 estola vermelha, 1 manípulo vermelho, 19 bolsas de corporais de vários tamanhos e cores, 4 manustérgios, 5 sanguíneos, 3 toalhas de altar em linho, 1 toalha de altar em algodão, 3 véus de altar vermelhos em seda e 1 véu de altar verde em seda) e alguns objectos (1 meia cómoda de pau-Brasil com 5 prateleiras e dentro delas 11 ramos de flores, 1 jogo de sacras com vidros e molduras douradas, 5 jogos de sacras de papelão, 1 pedra de ara avulsa, uma umbela encarnada de damasco, 2 pares de galhetas em estanho, 1 jarro de estanho, 2 missais, 4 estantes de missais novas, 1 vaso de estanho para os santos óleos, 6 varas de pálio douradas com estojo novas, 6 varas de pálio velhas, 3 caixões grandes de pau para guardar paramentos, 2 apagadores, 1 caderno de missais de defuntos e 1 pavilhão; nos dormitórios existiam: 2 bancos com encosto, 5 cadeiras de pau, 1 canapé, 4 cadeiras de palhinha, 4 mochos de pau, 4 estantes com armários, 1 painel com moldura dourada, 5 bancos que serviam de cama em ferro, 2 bancos que serviam de cama em pau, 1 banco de pau comprido que servia de cama e 2 bancas de pau. *5 - "QUI SACRAM HANC MARIAE AEDEM FUNDAUIT/HIC/CANDIAE PRINCIPIS OSSA SEPELIUNTUR" (Aqui se sacram sob o nome de Maria e do fundador Príncipe de Cândia, os ossos sepultados).