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Mosteiro de Leça do Balio

Mosteiro de Leça do Balio

O ponto de interesse Mosteiro de Leça do Balio encontra-se localizado na freguesia de União das freguesias de Custóias no municipio de Matosinhos e no distrito de Porto.

Arquitectura religiosa, românica e gótica. Igreja hospitalária fortificada, orientada, de planta longitudinal de três naves de quatro tramos, com transepto inscrito, cabeceira tripartida, escalonada, e torre sineira quadrangular adossada lateralmente à fachada principal. Na cobertura desenvolvem-se passadiços de ronda e disparo. Fachada principal, revelando a divisão espacial interior, com portal principal em arco quebrado, com decoração de motivos geométricos e vegetalistas, encimado por balcão de mata-cães. A rosácea é idêntica na morfologia à da Igreja de Santa Clara de Vila do Conde (v. PT011316280004) e à da Igreja de São Francisco do Porto (v. PT011312130005). Destaca-se o portal S. inserido em gablete simples, decorado com motivos vegetalistas e zofitomórficos. Fachada posterior com cabeceira ritmada por volumosos botaréus românicos. Alta torre quadrangular adossada, de fundação anterior à igreja, rematada por merlões, com balcões de mata-cães nos ângulos. Interiormente, não maciça, com masmorra, como a torre de menagem do Castelo de Belver (v. PT041209020001) e as torres do Castelo da Amieira (v. PT041212020003), ambas também construções da Ordem do Hospital. Interior com coberturas em vigamento de madeira nas naves. Naves separadas por arcos quebrados assentes em pilares cruciformes com colunas adossadas, com capitéis decorados com motivos vegetalistas, figurativos e hagiográficos, de tradição românica, destacando-se os que representam cenas do pecado original, como a Tentação de Eva, e cenas da Infância e Paixão de Cristo, e de tradição gótica com destaque para a Crucificação de Cristo, patenteando o deterimento da natureza essencialmente divina do Filho de Deus, que domina a iconografia românica. Capela-mor com parede testeira poliginal, de cobertura gótica e absidíolos com paredes testeiras e coberturas idênticas à da capela-mor, mas em escala mais pequena, apresentando a do Evangelho vestígios de pintura. Pia baptismal em pedra de Ançã, renascentista, com alguns elementos manuelinos. Diversa tumulária inserida em arcosólios, com estátuas jacentes e inscrições, sendo o de Frei João Coelho, manuelino e o de Frei Cristovão Cernache renascentista. É considerada arquitectónicamente um dos exemplos mais significativos de igreja-fortaleza, pertencente a uma ordem monástico-militar, devido às suas proporções e execução. As correntes estilisticas integram-se no edifício de forma harmoniosa. As fiadas de merlões que percorrem o extradorso das naves, a robusta torre e a cabeceira, confere ao edifício um cunho de fortaleza. A torre, não maciça, com masmorra no interior, apresenta estrutura defensiva, patente nos balcões de mata-cães e no coroamento de ameias. Poderia isoladamente, devido à sua grandeza e robustez, ser a torre de menagem de um castelo, apesar do serviço de sineira que lhe foi acrescentado no último piso aberto em janelas ogivais. Igreja com fachada principal protegida por raro balcão ameado. No interior, destaca-se a pia baptismal, obra da renascença, que segundo Lurdes Craveiro é um dos mais importantes trabalhos do escultor coimbrão Diogo Pires, o Moço, e na Capela do Ferro, placa de bronze com inscrição e ornamentada com desenhos decorativos, em que se destaca uma rara representação da Anunciação da Virgem, pois figura a Alma de Jesus em forma de Menino descendo de Deus para Maria. Possui diversas inscrições epigrafadas, numa das pedras da torre, na pia baptismal e na diversa tumulária, destacando-se o túmulo de Frei João Coelho, Prior do Crato, com a assinatura epigrafada do autor no frontal da tampa.

Planta longitudinal de três naves de quatro tramos, com transepto inscrito, cabeceira tripartida e torre sineira quadrangular adossada lateralmente a S., junto à fachada principal. De dominante horizontal quebrada pela acentuada verticalidade da torre sineira, correspondendo interiormente à sacristia. Volumes da nave, transepto e cabeceira escalonados. Coberturas diferenciadas em telhados de uma água nas naves laterais, de duas águas na central e no transepto, de quatro águas na torre sineira e em laje de granito na capela-mor e absidíolos. A nível da cobertura da igreja desenvolvem-se passadiços de ronda e disparo. Fachadas em cantaria aparelhada de granito, sendo as da igreja rematadas por cornija assente em cachorrada, encimada por platibanda ritmada por merlões, e as da torre sineira por merlões, com balcões de mata-cães nos ângulos. Fachada principal orientada, de três panos escalonados. Pano central enquadrado por contrafortes, de dois registos marcados por balcão ameado assente em cachorrada. No primeiro registo, portal em arco quebrado de quatro arquivoltas decoradas com motivos geométricos e vegetalistas, sobre colunas com capitéis decorados com motivos vegetalistas, e no segundo rosácea radiante. Panos laterais rasgados por estreita janela em capialço, com moldura em arco de volta perfeita. Torre sineira provida de balcões com mata-cães, a meia altura, a O., S. e E.. É rasgada nas quatro faces por seteiras e junto ao remate por janelas em arco de volta perfeita. Na face S., junto ao piso térreo, pedra com inscrição epigrafada. Fachadas laterais rasgadas a nível das naves por janelas maineladas com moldura em arco abatido e no transepto por grande janelão mainelado em arco quebrado. Fachada lateral N. com portal em arco quebrado, rasgado ao nível do transepto. Na fachada lateral S. abre-se a nível da nave portal inserido em gablete simples encimado pela cruz de malta, de quatro arquivoltas, sendo a interior decorada com motivos vegetalistas, com colunas capitelizadas com lavores zoofitomórficos, e no transepto portal em arco de volta perfeita, e na face E. do mesmo, ao nível do remate, eleva-se sineira em empena com ventana em arco de volta perfeita. Fachada posterior a E. com cabeceira ritmada por volumosos botaréus românicos, entre os quais se rasgam janelões mainelados em arco quebrado na ábside e altas frestas, também em arco quebrado, nos absidíolos. INTERIOR com pavimento rebaixado, com acesso por degraus, em laje de cantaria de granito, paredes em cantaria de granito aparente e coberturas em vigamento de madeira nas naves. Nave central aberta para as laterais por arcos quebrados assentes em pilares cruciformes com colunas adossadas, com capitéis decorados com motivos vegetalistas, figurativos e hagiográficos, de tradição românica, destacando-se os que representam cenas do pecado original, como a Tentação de Eva, e cenas da Infância e Paixão de Cristo. Sobre os arcos, rasgam-se as janelas do clerestório. Braços do transepto marcados por arcos quebrados, mais altos do que os do corpo da nave, assentes em pilares com colunas adossadas, de perfil polilobado com a face voltada à nave central lisa. Na nave, do lado do Evangelho, junto à parede fundeira, sobre soco de granito de dois degraus, pia baptismal, em pedra de Ançã, com taça octógonal assente em pedestal bojudo com base mais larga, também octogonal. É decorada na taça com motivos vegetalista, meias-esferas armilares, numa das faces apresenta a pedra de armas de Frei João Coelho exposta por um anjo, e uma faixa com inscrição gótica epigrafada, e no pedestal por dragões, cujas faces reposam sobre a base. Próximo da pia baptismal, mas já no segundo tramo, arqueta, de granito, de Frei Garcia Martins, de formato singelo, assente em três rudes animais. Na nave, do lado da Epístola, porta de acesso à torre. Capela-mor marcada por arco triunfal quebrado, em arquivolta com capitéis decorados com motivos vegetalistas, encimado por óculo. Parede testeira poliginal e pavimento mais elevado onde se encontra campa rasa com a pedra de armas dos Almeidas e Vasconcelos. Cobertura de dois tramos, o primeiro rectangular e o segundo poligonal coberta por abóbada de nervuras com bocete central, com cadeia longitudinal no primeiro e no segundo prolongadas no topo em colunas embebidas nos cantos, entre fenestração. Na parede do lado do Evangelho, em arcosólio, com o brasão dos Cernaches e Pintos, a arca túmular de Frei Cristovão de Cernache, ornada com estátua em oração em terracota, envergando o hábito dos Hospitalários, e na parede do lado da Epístola, em arcosólios arcas tumulares de Frei Lopo Pereira de Lima e Frei Diogo de Melo Pereira. Absidíolos marcados por arco quebrado, com paredes testeiras e coberturas idênticas à da capela-mor, mas em escala mais pequena, apresentando a do Evangelho vestígios de pintura. No do mesmo lado, abre-se arcosólio com o túmulo de Frei João Coelho, Prior do Crato, com estátua jazente, com o hábito claustral dos cavaleiros de Malta. No frontal da tampa, assinatura do autor epigrafada e no da arca, ao centro, figura de anjo, sustentando inscrição epigrafada relativa ao jacente, ladeada pelas pedras de armas dos Coelhos. E no oposto, também denominado por Capela do Ferro, campa rasa de Frei Estevão Vasques, tendo na parede placa de bronze com inscrição.

Materiais

Estrutura em cantaria aparelhada de granito; lajeado de granito no pavimento; cantaria aparelhada de granito na tumulária; cantaria de pedra de Ançã na pia baptismal; telha cerâmica na cobertura; madeira nas coberturas das naves e na caixilharia.

Observações

Arnaldo Gama descreve a configuração do mosteiro no segundo quartel do séc. 14: "A forte e grossa muralha da cerca, que o rodeava, toda dentilhada de ameias, era flanqueada por quatro grandes torres cobertas de seteiras [...]. O alcácer fortificado, a que a cerca servia de cinto, era uma lata e fortíssima torre, rodeada de um vasto edifício, ou antes de uma grande aglomeração de edifícios, uns mais altos e outros mais baixos, mas todos solidamente construídos e capazes de duradoura defesa. Do meio deles destacava, meio corpo para a frente, uma pequena igreja gótica, com a porta voltada para o vasto patim do castelo. [...] Sobre frontaria da igreja, e no cimo do muro ponteagudo do campanário gótico [...]. *1 DOF: Mosteiro de Leça do Balio, compreendendo a lâmina sepulcral de bronze; *2 Tradicionalmente, a bibliografia tem situado entre 1122 e 1128 o estabelecimento da ordem, em território português em Leça do Balio, mas, recentemente, Paula Pinto conseguiu antecipar um pouco a data, sendo que a mais antiga fundação do Hospital em Portugal, com carácter militar, data do último quartel do séc. 11, com a doação que vai dar origem ao Castelo de Belver; *3 Do mosteiro românico apenas restam elementos dispersos e um lanço do claustro; *4 Bailio era o título dos principais dignatários da Ordem dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, cujos monges-soldados se notabilizaram na protecção e assistência aos fiéis da Cristandade, sendo o mais importante bailio de Portugal o de Leça; *5 Segundo alguns autores, a torre deve possuir alicerces muito mais antigos, sendo que a sua fundação datará provavelmente da época em que pertencia aos beneditinos;*6 Durante o beija-mão a D. Leonor Teles, o Infante D. Dinis, filho do rei D. Pedro I e de D. Inês de Castro, recusou tal homenagem, tendo D. Fernando levantado um punhal para asassinar o irmão, do que foi impedido por dois fidalgos.