Arquitectura religiosa, manuelina, maneirista. Igreja monástica com capela-mor elevada e naves abobadadas, coro alto separado por parede transversal da nave; tendência para a unidade do espaço interno das naves abobadadas quase à mesma altura, apesar da marcação dos arcos torais; claustro com arcadas de diferentes perfis, a N. da igreja; decoração manuelina (esferas, torsais). Características maneiristas no tratamento do espaço e elementos decorativos na casa do Capítulo. Concepção inovadora da abóbada estrelada com combados da capela-mor, mais evoluída estilisticamente, sinal da sua construção mais tardia (DIAS, 1978 e 1986).
Igreja de planta longitudinal, orientada, composta por 3 rectângulos justapostos, a capela-mor, a nave e o coro. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhado, de 2 águas sobre a nave e coro, facetado de 8 águas sobre a capela-mor. Fachada principal, virada a S., encimada por platibanda envolvente, marcada por contrafortes escalonados, rematados por pináculos torsos; a E. a cabeceira, mais elevada, com chanfros em papo de rola nas arestas, transformando a base rectangular num octógono; portal rasgado na nave, inscrito em gablete, com arquivoltas em arco levemente quebrado, vão mainelado de verga em arco policêntrico; 1 janelão na nave, outro na capela-mor, de vão mainelado; a O., sobre o antecoro, o volume prismático da torre sineira. INTERIOR: 3 naves de 3 tramos e meio, separadas por arcos quebrados sobre altas colunas torsas; abóbada de cruzaria de ogivas sobre a nave principal, de meio berço sobre as laterais, descarregando em mísulas; uma parede transversal rasgada por vãos quadrangulares e antecedida por varandim gradeado separa a nave do coro alto; sub-coro menos profundo que o coro-alto e coberto por abóbada de berço abatido; coro alto com 3 tramos cobertos por abóbada de berço, separados em 3 naves por arcos a pleno centro sobre colunas oitavadas; capela-mor mais elevada que as naves, de 2 tramos, com abóbada estrelada descarregando sobre mísulas, ábside facetada, com trompas sob arcos em carena, nos cantos, altar-mor sobre falsa cripta. A N. da igreja adossa-se a sacristia e o CLAUSTRO, de planta quadrangular; a SALA DO CAPÍTULO rectangular, abre para a ala E. do claustro. Claustro de 4 alas e 2 pisos, o inferior aberto por arcadas de diferente perfil (quebrado, pleno, policêntrico) para a quadra central; lavabo de planta quadrada no canto NO., coberto por terraço, com murete envolvente, com abóbada estrelada sobre mísulas decoradas por cabeças; cobertura em madeira nas 4 alas, 3 arcos transversais na ala S. e nas diagonais dos cantos; sala do capítulo com tecto em madeira corrida, altar entre janelas rectangulares, a E., duplo portal de vão rectangular.
Materiais
Cantaria e alvenaria - pedra calcária e mármore da Arrábida, betão armado, telha cerâmica, vidro, madeira
Observações
*1 - DOF: Igreja do antigo Mosteiro de Jesus, claustro, incluíndo a primitiva Casa do Capítulo, em que presentemente se encontra a farmácia da Misericórdia. *2 - A igreja era não só local de culto da comunidade e da vila, mas também panteão da família da fundadora: o seu filho mais velho e descendentes foram sepultados na cripta, estando previsto o enterramento do seu segundo filho no sub-coro. As letras que se repetem no portal (A, Y) têm sido interpretadas como as iniciais da fundadora Ama Yusta (DIAS: 1978), como a Santíssima Trindade: A - o Pai, o mistério da criação, Y - o Filho, o mistério da Encarnação, o círculo que as une como o Espírito Santo (PEREIRA, 1989) e ainda como Cristo e os 12 Apóstolos: 2 Yotas e 12 Alfas, simbolizados nas 13 freiras que inicialmente professaram (DIAS, 1990).*3 - Câmara Municipal de Setúbal, 12 de Janeiro 2006