Arquitetura religiosa, maneirista e arquitetura hospitalar, do séc. 20. Mosteiro feminino de clarissas urbanistas dependentes do ordinário, composto por igreja de estrutura maneirista com nave de capelas laterais intercomunicantes e capela-mor, tendo a zona conventual a desenvolver-se na fachada posterior da igreja, em torno de um claustro quadrangular. Igreja de planta retangular com eixo longitudinal interno e acesso lateral, iluminada unilateralmente por janelas em capialço rasgada no lado O., enquadradas por contrafortes que suportavam uma primitiva abóbada, substituída, no séc. 18, por uma de lunetas. Para a igreja abrem os coros, iluminados por janelas virada a O.. Claustro com arcadas no piso inferior e terraços no superior, com a quadra ajardinada, dividida em quatro canteiros que enquadram um chafariz de pedra. Para o claustro, abrem capelas domésticas, a Portaria e Casa do Capítulo. As capelas da igreja e do claustro encontram-se forradas a azulejo de tapete policromo, surgindo, na Casa do Capítulo e na Portaria azulejo figurativo, de produção joanina. O edifício foi remodelado e transformado em hospital, recebendo vários corpos adossados e outros de feitura recente, construídos na antiga cerca. Antigo Mosteiro feminino, adaptado a hospital, mas mantendo a estrutura da igreja e algumas dependências conventuais, bem como parte do seu recheio decorativo. O edifício apresenta uma estrutura maneirista, alterada pontualmente por elementos introduzidos no final do séc. 18, fazendo face a necessidade de reconstrução pós-terramoto, sendo de destacar a opção por abóbadas mais leves, de lunetas, surgindo falsas lunetas em locais destituídos, atualmente, de luz natural. Em termos decorativos, destaca-se o espólio azulejar abrangendo azulejaria de padrão do séc. 17, nas capelas da nave e espaços de transição, azulejo de figura avulsa, composições seriadas de açafates na ala inferior do claustro, bem como painéis de composição figurativa na Casa do Capítulo que formam um conjunto de grande interesse iconográfico, ilustrando a vida de Santa Teresa de Ávila, São Francisco, Santa Clara e, intimamente ligados com a Ordem de São Francisco, painéis alusivos aos Pia Desideria, legendados e inspirados em gravuras de Boetius Van Blomswert, destinadas a ilustrar uma edição dos Pia Desideria *6. Desconhece-se se o revestimento de azulejos se encontra tal como foi concebido, uma vez que o teto parece ter sido rebaixado, as dimensões da porta foram reduzidas e os próprios azulejos revelam manipulações várias, devendo considerar-se a possibilidade de alguns dos painéis terem vindo de outras salas do Convento. O teto da nave apresenta influências das gravuras de Hironimus Cock, de 1553, a partir de desenhos de Benedetto Battinini, de 1550.
Núcleo edificado de planta retangular irregular, composta por vários edifícios construídos em períodos distintos, integrando parte do primitivo Mosteiro de Santa Marta. Antigo CONVENTO de planta retangular irregular, desenvolvido em redor de um claustro quadrangular, com a igreja desenvolvido a O., estando os demais corpos dispostos a E.. IGREJA de planta retangular com eixo longitudinal interno, composta por nave para onde abrem seis capelas laterais intercomunicantes e capela-mor, ladeada por capelas colaterais, com sacristia externa adossada ao lado esquerdo, com coberturas diferenciadas em telhados de três águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, a principal virada a S., à Rua de Santa Marta, de que se separa por um portão e dois lanços de escadas divergentes, de acesso a pequeno adro, pavimentado a lajeado. Fachada ritmada por panos definidos por pilastras com gárgulas em forma de balaústre, surgindo, ao centro, portal de verga, flanqueado por pilastras firmadas por pináculos de bola, que ladeiam frontão triangular interrompido por cruz latina. Num registo superior, cinco janelas em capialço, divididas por contrafortes. No lado direito da fachada, um pequeno pano rasgado por frestas, revelando uma zona de escadas. INTERIOR rebocado e pintado de branco, com pavimento em soalho e cobertura em abóbada de lunetas, rebocada e pintada de branco, assente em amplo friso e cornija. Na parede fundeira, o vão retilíneo do coro-baixo, ladeado por dois vãos em arco de volta perfeita, surgindo, num segundo registo, um pequeno vão retilíneo, correspondente à ligação ao coro-alto. As capelas têm acesso por arcos de volta perfeita, com correspondência de arcadas no lado do Evangelho, uma delas a enquadrar o portal, ao lado do qual surge uma porta de acesso a pequeno corredor lateral. No espaço entre os suportes dos arcos, surgem painéis de azulejo figurativo. No lado do Evangelho, a bacia do antigo púlpito, em cantaria. Arco triunfal de volta perfeita, flanqueado pelos vãos dos primitivos retábulos colaterais. Capela-mor com acesso por três degraus de cantaria, com pavimento em lajeado e cobertura em abóbada de arestas, fechadas por painel pintado com a representação da pomba do Espírito Santo *2. No lado do Evangelho, uma tribuna em arco abatido. Sobre alto supedâneo de cantaria, erguia-se o retábulo-mor. Zona CONVENTUAL de planta retangular irregular, com as várias alas do claustro a prolongarem-se longitudinalmente, com as alas de quatro pisos, com coberturas diferenciadas em duas, três e quatro águas, tendo as fachadas rebocadas e pintadas de branco, rasgadas regularmente por vãos retilíneos. Ao lado da igreja, ergue-se o corpo dos antigos coros, a que foi adossado um novo corpo menos elevado e cobertura de três águas, com as fachadas rebocadas e pintadas de lilás, sendo a principal, virada a S., marcada por cinco registos divididos por frisos de cantaria e um pano central ligeiramente saliente, os inferiores rasgados por três arcos de volta perfeita, surgindo no segundo registo a bandeira, e, nos extremos, portas de verga reta, encimadas por óculos circulares. Os dois pisos imediatos têm três janelas de peitoril em arco abatido, com molduras de cantaria, os do piso inferior com fecho saliente, surgindo, nos extremos, janelas de peitoril de verga reta. No piso superior, cinco janelas de peitoril retilíneas, com molduras de cantaria e remate em cornija bastante saliente. O INTERIOR desenvolve-se em torno de claustro quadrangular, com as alas rasgadas por seis arcos de volta perfeita, com pavimentos em ladrilho e paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por painéis de azulejo seriado, formando silhar. O segundo piso forma terraço, para onde abrem várias portas e janelas retilíneas, possuindo silhar de azulejo seriado. A quadra possui quatro canteiros de buxo, que centram um chafariz em cantaria. O coro-baixo, atual CAPELA de planta retangular, com as paredes revestidas a azulejo de padrão e cobertura em falsas abóbadas de lunetas, pintadas a brutesco, centrando um painel com a representação de Santa Marta, possuindo nos panos laterais das lunetas pequenos painéis com elementos fitomórficos. Abrindo para o claustro, a antiga Casa do Capítulo, de planta retangular simples e pavimento em ladrilho axadrezado e cobertura em falsa abóbada de lunetas, rebocada e pintada de branco, com as paredes totalmente revestidas a azulejo figurativo, com a zona inferior, marcando as áreas dos bancos corridos, azulejo de figura avulsa em bicromia azul e branco. Surgem, ainda, no lado direito, dois corpos de feitura mais recente e, na fachada posterior, dois volumes articulados.
Materiais
Estrutura em alvenaria mista; socos, pilastras, pilares, contrafortes, escadas, pavimentos, acrotérios, remates, modinaturas em cantaria de calcário; portas de madeira; pintura mural; painéis de azulejo; janelas com vidro; cobertura em telha.
Observações
*1 - constitui uma Zona Especial de Proteção conjunta dos edifícios classificados da Avenida da Liberdade e área envolvente. *2 - sob a cobertura, existe a primitiva, um teto em forma de masseira decorado com estuque relevado, formando apainelados envolvidos por molduras, também relevadas, sendo visíveis vestígios da decoração estucada da sanca, com painéis geométricos alternando com faixas marmoreadas; os painéis apresentam composições ornamentais eruditas, formando cartelas enroladas, de onde se dependuram fitas, cordões e festões de frutos e flores. *3 - a igreja é abobadada, tendo, na nave, quatro capelas, com arcos de pedraria, bastante fundas, com retábulos de talha dourada e revestidas a azulejo, protegidas por grades de pau-santo; sobre os arcos, as paredes estão revestidas a azulejo, sobre o qual assenta a cimalha de cantaria, sobrepujada por cinco janelas de cada lado; a igreja possui teia de pau-santo, formando um presbitério, onde surgem as capelas colaterais, dedicadas a Nossa Senhora da Natividade (Evangelho) e à Sagrada Família (Epístola). *4 - na capela-mor, existe um quadro grande a representar Nossa Senhora da Assunção, com moldura de talha, da escola de vieira Lusitano, avaliado em 600$000 e, na boca da tribuna, um Cristo em casa de Marta, avaliado em 100$000; o altar de Santo António possui um quadro com o Rosário de Pedro Alexandrino (80$000), surgindo, no de Santa Úrsula, o Martírio da Santa (45$000) e no Altar do Depósito, uma Anunciação com moldura de talha (45$000); na sacristia da igreja, o retrato de Soror Maria Helena de São Bernardo (1$000). O coro-alto possui vários quadros a óleo com molduras douradas, a representar São Sebastião, São Roque, Pentecostes, Virgem com o Menino, Nossa Senhora do Rosário e Santo António, surgindo, no ante-coro, a pintura de São José. Na casa do lavor, quadros a representar a Sagrada Família com dois anjos a sustentar os atributos da Paixão e um Senhor do Bom Despacho; no Dormitório das Pretas, um retábulo com a pintura de Nossa Senhora da Apresentação e no do segundo pavimento, dois quadros pintados; a capela deste último possui as pinturas de Nossa Senhora como pastora e Santo António. No corredor da galeria, um retábulo pequeno com o Senhor preso e na escada regral, um quadro com Nossa Senhora da Conceição inserido numa maquineta. O coro-baixo tem a representação de um bispo e de Nossa Senhora do Calvário. O corredor de acesso a este, a partir do claustro possui a pintura do Calvário. No refeitório, uma Última Ceia. A sacristia tem arcaz de madeira de casquinha pintada com 9 gavetas e 2 armários e 2 espelhos. *5 - a igreja é composta por capela-mor, dois altares colaterais e 9 laterais, com duas sacristia, uma delas com pequeno pátio. Na capela-mor, o retábulo com 4 colunas torsas, 2 anjos e a tribuna é entalhada com trono e maquineta; os colaterais são da época da fundação, com 4 colunas torsas, o da esquerda com banqueta de embutidos e o da direita com pinturas fingidas; os laterais do Evangelho são dedicados a Santo António com duas colunas torsas a imitar pedra, a Nossa Senhora das Dores, dourado e pintado de branco com frontal de pedra, ao Senhor dos Passos, com maquineta sobre 4 colunas e paredes forradas a azulejo, a Santo António pobre, com retábulo de madeira e ao Senhor Jesus da Providência, de talha dourada com colunas torsas e 2 anjos de vulto. À esquerda da entrada, Nossa Senhora da Rosa, surgindo, os altares de Santa Úrsula, com moldura simples ao fundo e frontal de pedra, o de Nossa Senhora da Conceição com paredes forradas a azulejo e nicho com 3 quadros e colunas de madeira, e Nossa Senhora do Monte do Carmo, de talha dourada e 2 colunas. A Portaria tem acesso pelo Pátio das Freiras, com 9 metros e dando entrada direta para o claustro, formado por arcos de cantaria, tanque e canteiros com flores e árvores de fruto. NA ala S., locutórios, roda interna, escada pequena, escada principal e ante-coros. Evolui em 3 pisos, o primeiro com a Casa da Abadessa e das Escrivãs, tendo, à direita, a sacristia; sobre este, o ante-coro de cima e a casa de lavor, à direita; à entrada do ante-coro, uma escada de madeira para o piso superior com os sinos e um corredor com janelas que contorna a parede do fundo do coro. Na casa de lavor, junto ao altar de topo, uma escada de madeira que leva à casa do Noviciado, com altar de talha dourada. A ala E. é dividida em 2 partes, uma ocupada pelo Colégio da Associação de Nossa Senhora de Loures e o pátio ajardinado com barracões; no piso superior, aulas e um corredor que leva ao terraço que cobre os locutórios; ao centro, o pátio da cisterna e no lado oposto, o refeitório e a cozinha grande. A ala N. tem 3 pisos, o inferior com a casa do Capítulo, forrada a azulejo, escada de cantaria com quatro lanços e casa da corte e arrecadação; tem dormitório dividido em celas, tendo ao fundo, junto à igreja, pequena capela; no 2º piso, dormitório com escada de 2 lanços e, no 3.º, escada estreita de madeira de acesso a quarto e cozinha com tina de pedra. A cerca forma um polígono irregular com diversos níveis, com tanque, nora, barracas, árvores de fruto e vinha, tendo cerca de 11.817,65 m2. A N., quintais, junto à Quinta do Conde de Redondo, com árvores de fruto, parreiras e sombra. A N. e E., o mosteiro é rodeado de fossos, ajardinados.*6 - a primeira edição foi publicada em Antuérpia em 1624 HERMAN, Hugo, Pia Desideria Emblematis, elegiis & affectibus SS. Patrum illustrata...; na Biblioteca da Academia de Belas Artes existe uma edição de 1740 com as mesmas ilustrações e, embora a temática seja a mesma, não se pode falar de cópia fiel relativamente à fonte gráfica; a Igreja de Santa Cruz da Ribeira, em Santarém, tem um conjunto de azulejos de composição figurativa ilustrando episódios do Cântico dos Cânticos e realizados a partir da mesma fonte gráfica.