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Quinta das Águas Férreas

Quinta das Águas Férreas

O ponto de interesse Quinta das Águas Férreas encontra-se localizado na freguesia de União das freguesias de Cedofeita no municipio de Porto e no distrito de Porto.

Arquitectura civil residencial e judicial. Palácio, e respectiva quinta, posteriormente adaptado às exigências programáticas de um tribunal de menores e de estruturas anexas para observação de menores em internato. A adaptação da antiga Quinta das Águas Férreas a tutoria da infância e respectivos refúgios comporta procedimentos que colocam este estabelecimento a par dos seus congéneres de Lisboa e Coimbra, também instalados em estruturas preexistentes utilizadas por congregações ou entidades religiosas, e que constituem um grupo de características específicas no universo das instalações para acolhimento, julgamento e internamento de menores em Portugal. Em todas estas intervenções, ocorridas até 1932, desenrolam-se operações de ajustamento do existente às novas necessidades, numa prática arquitectónica balizada por contingências impostas pela preexistência e pelos limitados recursos disponibilizados, de um lado, e por imperativos de funcionamento em programas desta natureza, do outro. A adaptação das antigas estruturas é então, por regra, acompanhada de adições contemporâneas, e estas duas modalidades são conformadas por um vincado carácter funcionalista, por vezes elementar, numa arquitectura preocupada com a simples resposta aos requisitos mínimos necessários, nomeadamente aos temas do controle, vigilância e separação dos contingentes de menores em grupos e sua instalação em alas, pisos ou zonas autónomas (desiderato raramente alcançado), da salubridade e higiene e da durabilidade e resistência da construção. A extensão das propriedades escolhidas para tal instalação permite a edificação de uma miríade de construções, servindo valências funcionais não contidas pelas antigas estruturas senhoriais ou religiosas e dispostas em redor destas: novas camaratas, oficinas, centrais eléctricas ou equipamentos para a exploração agro-pecuária. São construções de desenho ora mais elaborado - as construções agrícolas, p. ex., que constituem programas mais comuns entre os projectistas e portanto passíveis de estandardização e apuramento técnico superiores -, ora mais rudimentar - caso dos novos blocos de alojamento dos menores, erguidos como extensões das tutorias de Lisboa, Porto e Coimbra, que traduzem liminarmente a função a que se destinam, isto é, fornecer abrigo em vastos compartimentos de utilização colectiva e facilmente controlável de modo simples e espartano. Nestes casos, a construção de pavilhões anexos às estruturas antigas constitui um paliativo para a relativa dificuldade com que aquelas respondem às solicitações de isolamento e autonomia das partes do programa geral, agravada, aqui, pelo facto de se juntarem, à necessidade de separação etária, as exigências das numerosas modalidades de observação, detenção e internamento parcial ou condicionado, contempladas pelo sistema nos seus diversos momentos. O projecto do gabinete do Arq. Rodrigues Lima para os lares de semi-internato anexos ao Tribunal Central de Menores do Porto traz, 40 anos depois da instalação da tutoria, na primeira intervenção de vulto por um técnico com vasta experiência nos programas prisionais de menores e maiores, a concretização de propostas que importa enquadrar. Trata-se de uma arquitectura despojada de qualquer sentido historicista e informada por correntes internacionais que preconizam, por um lado, uma contextualização diferente da obra arquitectónica, assente na utilização livre de elementos vernaculares essenciais trabalhados de modo contemporâneo (os panos de pedra aparelhada, as coberturas em telhado de uma só água muito projectada, por exemplo), e, por outro, um brutalismo no emprego da estrutura em betão armado enquanto mecanismo privilegiado de composição arquitectónica, conferindo, de novo, elevado peso plástico a elementos arquetípicos ancestrais da arquitectura como o pilar ou a trave, aqui destacados dos planos da fachadas.

Conjunto implantado em amplo terreno de contorno poliédrico, resultante de sucessivas intervenções de adaptação ou construção de raiz, com que se procurou modelar o suporte físico às exigências funcionais do estabelecimento. Identificam-se, no seu interior, 3 núcleos construídos fundamentais: a antiga casa da quinta de recreio, anexos e jardim, de fundação setecentista, encostada ao limite E.; os edifícios erguidos no 1º quartel do séc. 20 para ampliação do refúgio da tutoria, entre a fachada O. daquela casa e os primitivos terrenos agrícolas da quinta; e os blocos implantados junto ao limite O. da propriedade, na década de 1980, para instalação de lares de semi-internato. O antigo Palácio do Melo, em cujo piso superior esteve instalado o tribunal de menores, é um edifício de planta em U, com 3 alas de 2 pisos em redor de pátio localizado do lado N., pelo qual se processa o acesso principal, por intermédio de escadaria colocada a eixo daquele espaço exterior. Este pátio estende-se ainda para N. num logradouro de planta trapezoidal empedrado a cubo de granito, delimitado naquele quadrante pelo corpo (de 2 pisos e cobertura dupla de telhado de 4 águas) do antigo posto policial e nos lados E. e O. por muros de c. 3,5m de altura, cada um dos quais perfurado por um portão. Ao centro da linha que une os 2 portões, uma fonte circular em granito com taça elevada. A referida escadaria dá acesso ao piso superior da ala S. do palácio, no lado N. desta, rasgado por alpendre que serve de antecâmara, envidraçada, ao grande vão de porta central. Sob este alpendre, o piso inferior é também aberto por 4 arcos de volta perfeita, dispostos lateralmente à escadaria central. A fachada S. desta ala serve de fundo ao jardim formal da quinta, centrado em fonte circular e cujo eixo E.-O. liga um tanque adossado ao muro E. à escadaria de 2 tramos que efectua a transição para a plataforma inferior, a O. Dispõe-se em 3 pisos (o inferior em semi-cave, abrindo apenas para este lado), sendo o superior (nobre) assinalado por 7 vãos de sacada com varandim, simétricos, distribuídos por 3 panos separados por pilastras. Os 2 pisos inferiores apresentam um vão de porta de verga recta no eixo de simetria e, de cada lado, 3 vãos de peito (com janelas de guilhotina, como a maioria dos restantes deste tipo) no piso intermédio, e 4 vãos de peito (com janelas de abrir) no piso inferior. A fachada O. da ala O. é de desenho semelhante, com idêntica hierarquia entre pisos; a sua correspondente a E., no entanto, apresenta a variação correspondente à sua localização, dado que funciona como frente sobre a R. do Melo, encontrando-se alinhada com o muro E. da propriedade. Assim, nesta o piso superior é marcado por 5 vãos de peito de verga curva, e o inferior, por 3 vãos de bandeira e 2 portas, para além do portal da capela, assinalado por guarnições em cantaria de maior expressão e verga recta com frontão curvo quebrado, no topo N.. O antigo palácio alberga as funções directivas, administrativas e logísticas do centro educativo, no que é complementado pelos edifícios adjacentes. No corpo das antigas casas de função, economato e lavandaria funciona uma escola profissional. Trata-se de um volume paralelipipédico simples de 2 pisos, coberto com telhado de 4 águas e implantado a uma cota inferior, a O. do antigo palácio. Também a O. deste corpo, desenvolve-se o edifício principal do antigo refúgio, edificado para albergar camaratas, salas de estar, oficinas e refeitórios da secção masculina e que hoje, após transformação profunda na década de 1990, alberga uma unidade residencial do regime semiaberto, com campo desportivo anexo. Volume de planta em U aberto a E. em pátio, composto por 3 alas de altura diversa rematadas superiormente por coberturas em telhado de 4 águas: as 2 laterais têm 2 pisos acima do pátio E. nas frentes sobre este e 3 pisos nas frentes exteriores; a ala central conta com 3 pisos sobre o pátio e 4 pisos na fachada O. Este edifício, cujos paramentos exteriores e respectivos vãos são decorados por guarnições, cimalhas e frontões aplicando um léxico pós-modernista, constitui o volume dominante do conjunto, impondo-se na sua frente O. sobre o campo de jogos. O pavilhão da escola, pequeno edifício de 1 piso e meia-cave com cobertura de telhado de 4 águas, de construção primitiva coeva deste último, é hoje dedicado à formação profissional. As principais instalações de alojamento actual do conjunto ocupam os 2 antigos lares de semi-internato do Centro de Observação e Acção Social, nos quais se acomodam, separadamente, as 2 unidades residenciais com que se completa a lotação de 34 menores do centro, dedicadas aos regimes semiaberto e fechado e dotadas de espaços exteriores próprios. Os 2 edifícios assumem uma configuração volumétrica integrada em um só conjunto, articulado em estruturas de 2 tipos: 2 corpos de maior altura (3 pavimentos) de extensão desigual (o bloco a N. com comprimento superior ao do bloco a S.), dedicados à função de alojamento, cobertos por telhados de 1 água desfasados, e dotados de fachadas cuja fenestração denuncia claramente a compartimentação interior (vãos de peito correspondentes aos quartos, incidindo na fachada S., e vãos de bandeira correspondentes às instalações sanitárias, concentrados a N.); e 2 corpos de planta em U de piso térreo, constituídos pela justaposição de partes volumetricamente diferenciadas pela posição relativa (saliências e rotações) e pelo desenho das coberturas (planas e em telhado de 1 água), e dispostas em redor de 2 pequenos pátios que intersectam os pisos térreos dos volumes de maior porte, marcados nestes troços somente pela estrutura. Estes corpos menores, ligados entre si por adição recente, são dedicados às funções de serviços comuns (salas de convívio, aulas e refeições) das respectivas unidades residenciais. Entre este núcleo fundamental de alojamento e as restantes estruturas do conjunto, a área sobrante da propriedade é predominantemente ocupada pelas instalações desportivas (campos de jogos), bem como pela construção, de carácter provisório, do Tribunal de Menores do Porto, que foi subtrair uma parte significativa (c. 5.000 m2) ao vértice NO. do terreno.

Materiais

Observações

*1 Cf. cadastro IRS 1985, onde se refere a cedência de 2 790,80 m2 à antiga Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal, com os quais totalizava 43 904,50 m2).