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Paço dos Duques de Bragança

Paço dos Duques de Bragança

O ponto de interesse Paço dos Duques de Bragança encontra-se localizado na freguesia de União das freguesias de Oliveira no municipio de Guimarães e no distrito de Braga.

Arquitetura residencial, medieval e revivalista. Paço de fundação medieval, de planta quadrangular, formada por quatro alas dispostas em torno de um pátio central, integrando capela ao centro da ala posterior e quatro torreões nos ângulos. Tenta reproduzir o modus vivendi da nobreza europeia que, para alguns autores, seria inspirada em modelos de residências fortificadas, italiana, flamenga e francesa *5. Segundo Custódio Vieira da Silva, são evidentes as semelhanças formais e construtivas entre o Paço dos Duques de Guimarães e o Paço dos Reis de Maiorca, em Perpignan, na organização do espaço em torno de um pátio interior com capela no centro do corpo oposto à entrada principal e as alas laterais a albergar as dependências maiores; assim como, o recurso às janelas retangulares cruzetadas, de influência francesa, difundida em diversos palácios a partir do séc. 14. Apresenta ainda semelhanças com o Paço Ducal de Barcelos (v. PT010302140002), com obras quase simultâneas e também mandado construir por D. Afonso, nomeadamente nas janelas retangulares cruzetadas, nas altas chaminés que coroam os remates e nas coberturas de grande inclinação e remates em ameias, que possuía originalmente como é visível no desenho de 1509 de Duarte de Armas. O interior organiza-se em torno de um amplo pátio, percorrido por galerias em arco apontado no piso térreo e em colunata no piso superior. Fronteira à entrada principal e ao nível do andar nobre surge a capela, com portal em arco apontado, de arquivoltas sobre colunelos, e rasgada na parede testeira por dois grandes vãos em arco apontado, de três lumes e bandeiras decoradas com motivos de desenho flamejante, e com vitrais figurativos que iluminam o espaço de decoração neo-medieval. A ligação entre os pisos faz-se por escadas de caracol nos torreões e escadas de lanços nas quatro alas. Estas organizam-se em amplas salas comunicantes, algumas com lareira em pedra e tetos revestidos a madeira. Paço medieval de grande dimensão, bastante transformado pela ação dos vários intervenientes que o ocuparam ao longo dos tempos, já que teve a construção iniciada em 1420 e prolongada até finais do séc. 15, início do séc. 16, altura provável em que se elevou o número de pisos e se fez o remate em ameias, posteriormente devoluto e ocupado como quartel, entre o início do séc. 19 e 1935, altura em que se começa a desenhar o projeto de restauro da DGEMN. Constitui um exemplar de arquitetura civil único no país, onde a monumentalidade se associa ao conforto que a época exigia, como é visível pelo grande número de lareiras de aquecimento coroadas por altas chaminés em tijolo, mesmo a capela já possuía aquecimento, nas laterais do corpo virado a NE. com as duas longas chaminés adossadas; pelas inúmeras escadas de serviço e pelas condutas de escoamento das águas pluviais inseridas nas paredes. É de destacar a influência das construções militares na fachada posterior, com dois pequenos balcões fechados nos corpos laterais da capela e dois corridos nos torreões, todos sustentados por mísulas escalonadas, que se procurou reproduzir no pano central da fachada principal com balcão corrido. A grandeza dos paços construídos em Guimarães e Barcelos pelo Duque de Bragança e sobretudo a dimensão e o lugar central ocupado pela capela no de Guimarães reforça a importância que a casa de Bragança detinha, competindo com o próprio monarca. O Paço sofreu uma das maiores e mais profundas obras de restauro, levada a cabo pela DGEMN, sob a orientação do arquiteto Rogério de Azevedo *6, com o objetivo de recriar um modelo tipológico de residência nobre europeia, dos séculos 15 e 16, dotando o paço de uma simetria que não existia originalmente ao nível das fachadas, dos quatro torreões, ainda que a planta original confirme o tratamento igual que todos os muros apresentam até um determinado nível, indicando que o paço foi idealizado como um grande quadrilátero; no coroamento de ameias em todos os muros (coroamento que foi baseado no achado de um único exemplar primitivo datado do séc. 16), na forte pendente das coberturas e na organização do espaço interior em galeria no primeiro piso e a sua correspondente térrea, em todas as faces, apesar das respetivas fundações apenas conservarem os orifícios correspondentes ao encaixe das vigas de suporte do pavimento da galeria nas três faces, excetuando a do corpo principal. Aliás, a fachada principal foi a mais intervencionada, pois era a que detinha os dois pisos menos elevados e não possuía torreão no lado esquerdo; em contrapartida, a ala menos alterada, não só ao nível dos volumes, como de fachadas, foi a posterior, porque era a mais bem conservada até à altura do restauro. O projeto de restauro do Paço foi planeado como um todo, até mesmo a sua decoração foi um processo estudado para o qual se constituiu uma Comissão de Mobiliário com a atribuição de recriar o ambiente das residências nobres, com peças de mobiliário e obras de arte do séc. 17 e 18, utilizadas com uma intencionalidade político-ideológica, nomeadamente visível na iconografia dos vitrais *7 e no brasão que coroa o portal da capela.

Planta quadrangular, formada por quatro alas dispostas em torno de um pátio central, integrando capela ao centro da ala posterior e quatro torreões nos ângulos. Possui volumes escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de uma e duas águas nas galerias do pátio e de quatro águas nos restantes corpos, de pendente acentuada, com trinta e seis chaminés, em tijolo, e quatro guaritas cilíndricas cilíndricas nos ângulos interiores dos torreões, com cobertura em coruchéu piramidal. Fachadas de três pisos, em alvenaria ao nível do piso térreo e em cantaria de granito, de aparelho isódomo nos restantes, possuindo gárgulas entre os panos murários, sendo estes rasgados por vãos de diferente dimensão e modinatura, alguns protegidos por gradeamento, e com remates em ameias com chanfro decoradas por flor-de-lis. Fachada principal virada a NO., de disposição simétrica, com pano central recuado, e remate destacado por um balcão corrido, suportado por mísulas trilobadas, com caminho de ronda que une as pequenas guaritas, dispostas junto aos ângulos dos torreões. Piso térreo rasgado por portal em arco apontado de aduelas marcadas, encimado por mísulas que pertenceriam a um alpendre e dez pequenas frestas retilíneas, em cada um dos pisos superiores abrem-se seis janelas de verga reta de cruzeta; os corpos laterais torreados são rasgados por vãos de verga reta, de forma assimétrica; no torreão da esquerda, uma fresta e uma janela de cruzeta por piso; no torreão da direita, cinco frestas e uma janela de cruzeta por piso. Fachadas laterais, de disposição simétrica com pano central mais baixo. A fachada lateral NE. é percorrida por mísulas que teriam sustentado um alpendre corrido, e por friso de cantaria saliente, encimada por quatro vãos quadrangulares, em cada um dos panos, sendo estes em capialço e sobrepujados por pingadouro; ao nível do piso térreo a fachada é ritmada por dezoito frestas retilíneas, no pano central, é rasgada por vão de arco apontado e ladeada por janelas de verga reta, de cruzeta, gradeadas, uma do lado esquerdo e três do lado direito; os torreões apresentam no último piso três janelas de verga reta de cruzeta encimados por friso de cantaria saliente. A fachada lateral SO. apresenta, no pano central do piso térreo portal em arco apontado com aduelas marcadas precedido por escadaria de lanços retos opostos com guarda plena em cantaria, sobrepujada por onze frestas retilíneas desalinhadas; no piso superior abrem-se cinco janelas de verga reta, de cruzeta, sobrepostas por janelas jacentes retilíneas; a organização dos vãos nos dois torreões é idêntica, sendo rasgados por fresta retilínea e janela de verga reta de cruzeta, gradeada, ao nível do piso térreo e por três janelas de verga reta de cruzeta em cada um dos pisos superiores. Fachada posterior virada a SE., de cinco panos, o central, correspondente à capela, mais destacado e rasgado por três janelas de verga reta de cruzeta, encimadas por dois janelões de arco apontado, divididos em três lumes com bandeiras decoradas com motivos de desenho flamejante, integrando vitrais figurativos; é ladeado por dois corpos mais recuados de dimensões diferentes; o do lado esquerdo, maior, possui no extremo esquerdo portal de arco apontado, de aduelas marcadas, com acesso por escada adossada de um só lanço e guarda plena de cantaria, sendo encimado por quatro pequenos vãos retilíneos e sobrepujado por dois vãos em volta ligeiramente apontado também de aduelas marcadas; no piso superior duas janelas de verga reta de cruzeta e balcão fechado coberto por telhado de uma água, suportado por mísulas quadrilobadas e rasgado por duas janelas retilíneas; um pouco mais elevado, rasga-se pequeno vão retilíneo, em capialço; o do lado direito apresenta ao nível do piso térreo, no extremo direito, portal em arco apontado, com aduelas marcadas, encimado por fresta retilínea e, a ladear o portal, três pequenos vãos de verga reta; é sobrepujado por dois vãos em arco de volta ligeiramente apontada, de aduelas marcadas, e, no piso superior, surge janela de verga reta de cruzeta e um balcão idêntico ao anterior, fechado e coberto por telhado de uma água, suportado por mísulas quadrilobadas e rasgado por duas janelas retilíneas, sendo este encimado por pequeno vão retilíneo, em capialço. Os torreões, ao nível do último piso, apresentam balcões corridos, suportados por mísulas quadrilobadas, encimados por três vãos retilíneos; no torreão do lado esquerdo rasgam-se quatro janelas de verga reta de cruzeta, duas por piso, e quatro frestas retilíneas; no torreão do lado direito abre-se uma janela de verga reta de cruzeta, um vão quadrangular em capialço e cinco frestas retilíneas de dimensão diferenciada. INTERIOR com amplo pátio retangular, pavimentado a lajes de granito com acesso direto através do portal da ala NO.. Possui as alas definidas por vãos em arco apontado, rasgados na caixa muraria, de granito aparente, de seis tramos nas alas NO. e SE. e de quatro tramos nas laterais NE. e SO., no piso superior, por vãos arquitravados, sustentados por colunas toscanas; e no último piso, a ala NO. apresenta-se rasgada por sete janelas de verga reta de cruzeta e na ala SE. por quatro balcões apoiados em mísulas trilobadas, sendo dois de menor dimensão, cobertos por pequeno telheiro de uma água e dois corridos, rasgam-se ainda de forma assimétrica seis pequenos vãos retilíneos em capialço, encimados por friso saliente. A organização é marcada, no piso térreo, por inúmeras salas separadas por estreitos corredores perpendiculares às fachadas, onde se localizam as áreas de receção do visitante e de serviços; na ala da fachada principal insere-se uma caixa de escadas de quatro lanços, em granito e um elevador. As salas são contíguas e exibindo paredes em granito, pavimento em laje de cantaria no primeiro piso e mosaico cerâmico no superior, tetos de madeira com o travejamento à vista, alguns apresentando pinturas vegetalistas. O piso superior, correspondente ao percurso museológico é marcado pelos amplos salões, com lareiras de pedra, nomeadamente, o Salão de Banquetes e o dos Paços Perdidos, de grande pé direito, com teto do tipo quilha de barco invertida, em madeira de castanho. Na ala SE., rasga-se ao centro uma tribuna enquadrada por grande arco de volta perfeita, apoiado nas colunas de pedra, com capitéis lisos, coberta por estrutura em madeira, de duas águas. Fronteiro à tribuna, e numa posição elevada, rasga-se o portal da capela, enquadrado por quatro arquivoltas em arco quebrado, com a arquivolta exterior envolvida por friso decorado por elementos geométricos em ponta de diamante, que assentam em quatro colunas de mármore e capitéis com decoração vegetalista, encimado por brasão do 1º Duque de Bragança, sendo precedido por escadaria; a ladear a capela surgem salas contíguas *2. CAPELA de nave única com pavimento e teto de madeira com o travejamento à vista, e presbitério mais elevado, demarcado por guarda de madeira vazada por arcos polilobados, ladeado, a toda a altura das paredes, por tribunas de madeira de dois registos, encimadas por cornija e abertas por arcaria trilobada flamejante com guarda de madeira plena. Na parede testeira, altar paralelepipédico de madeira, encimado pelas janelas de desenho flamejante; onde surge, em posição elevada, peanha com a imagem da Virgem. Sobre o portal de verga reta, coro-alto, estreito, de madeira, com guarda vazada, com acesso aos balcões da fachada exterior e de ligação aos corredores das restantes alas. O último piso da fachada principal está destinado á residência oficial do Presidente da República, composto por cinco quartos de dormir com instalações sanitárias privativas, encaixados por duas suites nos extremos da ala, correspondentes aos torreões.

Materiais

Estrutura de cantaria, frisos, cornijas, ameias, mísulas, balcões, guardas, gárgulas, escadas, elementos decorativos e pavimentos interiores em granito; betão armado na estrutura, tetos e pavimentos; gradeamentos das janelas em ferro; portas, janelas, coberturas, pavimentos interiores, mobiliário, coro-alto, estrutura da tribuna e bancos da capela em madeira; chaminés em tijolo de burro; diversos pavimentos interiores em mosaico cerâmico; vitrais e vidros simples nas janelas; coberturas em telha.

Observações

*1 - Trata-se de uma Zona Especial de Proteção Conjunta do Castelo de Guimarães (v. PT01030834011), Igreja de São Miguel (v. PT01030834006) e Paço dos Duques de Bragança (v. PT01030834013). *2 - antigas dependências do Duque e da Duquesa. *3 - em 1460, foi testemunha de um aluguer de uma casa feita pelo Cabido da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, um Mestre de Pedraria Antom, sendo esta a única referência a este arquiteto. *4 - a comissão de avaliação da Casa da Câmara fez-se acompanhar pelos Mestres Pedreiros, Gonçalo Vaz de Sampaio e Pedro Lopes e pelo Arquiteto António de Andrade. *5 - ao nível de influência construtiva, este Paço, teve várias opiniões, para Rogério de Azevedo a existência de um pátio interior formado pelo quadrilátero regular revela uma influência italiana, para Ilídio Araújo essa mesma razão leva-o a afirmar que segue os moldes flamengos, para Custódio Vieira da Silva é indiscutível a relação com a transformação que em França, as residências régias e da nobreza estavam a sofrer, os castelos começavam a adaptar-se a residências com um maior número de divisões e maior conforto. *6 - desde o início que esta intervenção foi fortemente criticada, primeiro por Marques da Silva, no Jornal Noticias de Guimarães, em 1934: "completar o que se não conhece, inventando, é atentar contra a arte, contra a verdade histórica"; mais tarde, em 1942, Alfredo Pimenta escreve no Correio do Minho, onde critica a solução dos telhados e a sua aleatória imagem de ascendência nórdica, acrescenta ainda que o critério de reconstituição do edifício, considerado um exemplo único no país, o deveria impossibilitar de um restauro por analogia. *7 - os vitrais da capela foram realizados por António Lino, após a rejeição do primeiro projeto de Guilherme Camarinha.