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Cerca do Antigo Convento dos Carmelitas Descalços da Província de Portugal

Cerca do Antigo Convento dos Carmelitas Descalços da Província de Portugal

O ponto de interesse Cerca do Antigo Convento dos Carmelitas Descalços da Província de Portugal encontra-se localizado na freguesia de Luso no municipio de Mealhada e no distrito de Aveiro.

Paisagem cultural - cerca conventual. Microclima particular que favorece o desenvolvimento luxuriante da vegetação, em que inúmeras espécies atingem um desenvolvimento notável, estabelecendo um contraste significativo com a envolvente (menor diversidade favorecida pela monocultura). Apresenta uma das melhores e mais majestosas colecções dendrológicas da Europa (Paiva, 1987). Há uma integração na paisagem do património edificado como elemento ao serviço de um programa religioso, revelando simultaneamente quer na traça arquitectónica como nos materiais utilizados, um estilo austero, simples e rústico, sendo características as decorações com embrechados de quartzo branco e jorrá negra, revestimentos de cortiça, pavimentos calçados com seixos e cantarias em aparelho tosco. Este foi o único deserto do género que existiu em Portugal. Julga-se que a composição do edificado e sua distribuição, se processa segundo o que se passava na Cidade Santa de Jerusalém (Varela, 2004).

1. CARACTERIZAÇÃO BIOFÍSICA - 1.1. ELEMENTOS GEOMORFOLÓGICOS: Relevo: A serra do Buçaco (de morfologia estreita e alongada) estende-se de NW para SE (11 km). As cotas de maior altitude encontram-se numa área relativamente plana junto à porta do Telégrafo da cerca do Buçaco (568 m). A partir deste local, a altitude decresce para SE em direcção ao vértice geodésico de Peniceira Grande (com 440 m de altitude) e para NW (onde se encontra a cerca do Buçaco). A cerca que delimita a mata corresponde à linha divisória de águas (sobretudo a S e a E da cerca). A altitude intra-muros decresce de SE na porta do Telégrafo (560m) para NW na porta do Luso (235m). O relevo muito acidentado é marcado por um vale profundo (vale dos Fetos), onde encaixa um afluente da ribeira da Vacariça. A S deste vale existe uma pequena plataforma, relativamente plana onde se encontra o hotel. Declives: Os declives são muito elevados na mata do Buçaco. Os mais acentuados variam entre 25º e 70º, localizando-se principalmente na área adjacente ao muro que vai desde a porta da Cruz Alta até à porta das Lapas, inflectindo desta para NE (para a vertente N do vale dos Fetos). Por outro lado os menores declives localizam-se: junto ao hotel do Buçaco; próximo da porta do Telégrafo; no fundo do vale dos Fetos e em rechãs; junto às portas do Luso e Coimbra (com valores que rondam os 0 e 5º de inclinação). Exposição de Vertentes: As vertentes encontram-se principalmente expostas a N e NW. A margem N do vale dos Fetos, designada por Costa do Sol, constitui uma das excepções pois exposições a S/SW propiciam uma maior radiação solar. Rede hidrográfica: A principal linha de água (afluente da ribeira da Vacariça) nasce junto à porta do Sula (a E), encaixa no vale dos Fetos (com orientação SE - NW - SW), atravessando grande parte da mata e por fim passa junto à porta das Lapas a W. As restantes nascentes e linhas de água ou desaguam neste colector principal ou encontram-se canalizadas e convertidas em fontes. Este recurso também é aproveitado para o abastecimento nas estufas, jardins, casas de guarda e hotel. Geologia: Formações datadas entre as Eras do Pré-câmbrico (período do Proterozóico Superior - com inicio há 2500 M. a.) ao Mesozóico (período do Cretácico - inicio há 145 M. a.). Nas duas principais falhas encaixam as linhas de água do vale dos Fetos (a N) e do vale do Carregal (a S). A primeira falha (a N) passa aproximadamente, pela porta do Serpa, para S até ao vale dos Fetos e deste inflecte novamente para N, até à porta da Rainha, delimitando o Complexo Cristalofílico (mais antigo) do período do Proterozóico (vertente N do vale dos Fetos). A segunda falha (a S) é, na realidade, um prolongamento da primeira, que se subdivide junto à porta do Serpa e inflecte para SE (paralelo à cerca), passando junto à ermida do Calvário até à porta do Telégrafo (aproximadamente). Esta falha delimita duas unidades geológicas: a área de Metarenitos do período do Ordovícico inferior (com inicio há 510 M. a.), que vai desde a porta das Lapas até à porta da Cruz Alta e a unidade de Conglomerados e Arenitos do período do Cretácico, situada entre a porta da Cruz Alta e a porta do Telégrafo. Entre estas duas falhas encontram-se Conglomerados, Arenitos e Pelitos, datados do período do Carbónico Superior (com inicio há 363 M.a.), abrangendo uma faixa central da mata, entre a porta do Sula, passando pelo Palace-Hotel até à porta do Luso (Sequeira, 2004). Solos: Os solos dividem-se em litólicos húmicos e não húmicos de baixo pH (4/5). Os quartzitos correspondem de uma forma geral a solo litólico húmico. O substrato geológico da cerca sofre uma intensa meteorização física. A acção química é reduzida pelo que os solos são geralmente pouco profundos e dependendo da rocha mãe, variam entre uma textura média a grosseira (solos pedregosos associados a afloramentos rochosos). Na Costa do Sol (parte N da cerca) é mais fácil encontrar um solo mais espesso (cor clara), com fraca agregação e acompanhado de cascalho e pequenos calhaus. Na envolvência da Cruz Alta, o solo apresenta uma maior agregação, material mais grosseiro e pH mais baixo (cor escura). 1.2. CLIMATOLOGIA : A serra do Buçaco caracteriza-se por um microclima ameno, húmido e temperado (Paiva, 1987). Segundo dados recolhidos na estação climatológica do Buçaco (entre 1926-42), os maiores valores de insolação registam-se nos meses de Junho, Julho e Agosto (224, 276 e 221 horas mensais respectivamente) (Santos, A. 1993). A temperatura máxima média regista-se em Agosto (cerca de 27º C), ocorrendo em Janeiro a temperatura mínima média (cerca de 5º C). Durante 67 dias ocorrem temperaturas superiores a 25º C e somente durante 4 dias são inferiores a 0º C. A amplitude térmica anual é por isso relativamente baixa. Embora as ocorrências de neve, saraiva e granizo sejam raras, entre Novembro e Março ocorrem cerca de 20 dias de geada. A humidade relativa apresenta valores entre 71% (Agosto) e 88% (Novembro), relacionando-se directamente com a presença de vegetação. A evaporação média anual é de 800 mm, sendo mais intensa no Verão (quando o déficit de saturação é maior). De modo inverso, a precipitação distribui-se pelos meses de Outono e Inverno, registando-se no Verão os meses secos. Os valores de precipitação oscilam entre Agosto (20 mm) e Dezembro (225 mm), num total médio anual de 1500 mm. Ainda que a incidência de nevoeiros seja constante ao longo do ano a sua maior frequência coincide com os meses mais quentes (de Junho a Setembro), ocorrendo nas áreas de maior altitude, sobretudo durante a noite e o início das manhãs (devido à sua natureza orográfica). Os ventos sopram predominantemente de NW e de SE. 1.3. VALORES BIÓTICOS: Flora: Na mata do Buçaco, a vegetação autóctone já dispunha de características únicas (com uma baixa diversidade e um porte pouco frondoso), restando alguns vestígios desta floresta junto à Cruz Alta. Na floresta primitiva o predomínio seria de carvalhos (Quercus), pontuados por castanheiros (Castanea sativa), aveleiras (Corylus avellana), azereiro (Prunus lusitanica), entre outras. Embora seja difícil determinar o ano da introdução de espécies exóticas, diversos registos indicam que precede a fixação dos Carmelitas Descalços (1628). Introduzido no inicio do sec. 17, o cedro-do-Buçaco (Cupressus Lusitanica) originário da América central (México) é a espécie mais emblemática da mata devido à sua adaptação (encontra-se um exemplar de 1644 junto à ermida de São José). Algumas espécies exóticas presentes na mata: Araucariáceas - pinheiro-de-bunya (Araucária bidwillii), pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia), araucária-colunar (Araucaria columnaris), pinheiro-de-damara (Agathis robusta); Pináceas - pinheiro-bravo (Pinus pinaster), pinheiro manso (Pinus pinea), pinheiro-da-casquinha (Pinus sylvestris), pinheiro negro (Pinus nigra), pinheiro das Canárias (Pinus canariensis), pinheiro do himalaia (Pinus roxburghii) e várias espécies de abetos; Taxodiáceas - Sequóias (Sequoia sempervirens e Sequoiadendrum); espécies lenhosas de Portugal - o aderno (Phillyrea latifolia), o medronheiro (Arbutus unedo), o folhado (Viburnum tinus), loureiro, (Laurus nobilis), torga (Erica arborea), azevinho (Ilex aquifolium), pereira brava (Pyrus bourgaeana) (Paiva, 2004). Fauna: Em 1905, Seabra realizou um inventário da fauna da mata, onde identificou 23 espécies de mamíferos, 80 de aves, 10 de répteis, 9 de anfíbios, 5 de peixes, 22 de moluscos e 134 de borboletas. Destaca-se a ocorrência da lontra (Lutra lutra), e da salamandra-de-cauda-comprida (Chioglossa lusitanica) espécies raras no contexto ibérico e europeu (Paiva, 1987). Sistema de vistas: O coberto arbóreo, diversificado e abundante, reduz naturalmente o sistema de vistas. No entanto, o relevo acidentado favorece em locais de maior altitude a observação da mata e da envolvência. A Cruz Alta (um dos sítios de maior altitude na mata), assim como o Passo de Caifás localizam-se no topo de vertentes com um elevado declive, possibilitando uma vista privilegiada para W, em direcção ao Luso, Vacariça, Mealhada e Pampilhosa, onde se destacam alguns elementos dominantes na paisagem, como: a linha-férrea, algumas vias rodoviárias, o povoamento disperso por toda a área envolvente, o rio Cértima, as manchas de vegetação circundante e as serras do Caramulo e da Boa Viagem. As capelas de Santo Antão, Sepulcro e Calvário estão também localizadas em vertentes com declive acentuado. Destes locais consegue-se observar o Palace-hotel do Buçaco, destacando-se a vegetação da mata pela sua diversidade em contraste com a vegetação circundante (monocultura). 2. CARACTERIZAÇÃO DOS ASPECTOS ANTRÓPICOS - 2.1. PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO: A mata é contornada por um muro composto por 11 portas. As portas de Coimbra (assim designadas por se encontrarem orientadas para esta cidade), edificadas no século 17, constituíam a antiga portaria do convento, que com a Porta da Rainha (a NE) perfazem as entradas mais antigas da mata. As portas de Sula (a NE), da Cruz Alta (a SE), do Luso (a NO), das Ameias (a mais próxima das Termas do Luso), das Lapas, do Serpa (a N), dos Degraus, de São João e do Telégrafo (a SE), edificadas entre os séculos 19 e 20, têm características arquitectónicas distintas das primeiras, resultantes da época e objectivo da sua construção. As portas de Coimbra, da Rainha e de Sula têm ambas estruturas em arco com embrechados. Por outro lado destacam-se a porta dos Degraus e a de São João, pequenas e modestas entradas na mata (tal como seria a do Telégrafo). Somente as portas das Ameias, da Rainha e da Cruz Alta, comunicam com a rede rodoviária exterior (EN 234, 235 e 336), sendo permitido o acesso pedonal nas restantes. A porta do Telégrafo e das Lapas encontram-se actualmente encerradas. As casas dos guardas da mata, edificadas no fim do séc. 19 início do séc. 20, apresentam uma estrutura tipológica semelhante, decorrente do facto de serem do mesmo autor. O convento e o palácio (v.PT0201111040006 e PT020111040001), localizados no centro da mata, estão rodeados por jardins de buxo, geometricamente desenhados, pontuados por lagos, fontes e pérgulas. A via-sacra (v. PT0201111040006) representa o percurso efectuado por Jesus Cristo para o calvário e a sua crucificação. Na mata do Buçaco o paralelismo com Jerusalém é evidente, principalmente, na relação das capelas espalhadas pela mata e a morfologia do terreno. O passo do Horto inicia um percurso (2840 m de comprimento e 105 m de ascensão) cuja dificuldade é gradualmente acentuada até ao Sepulcro, sendo no entanto, compensado pelo enquadramento cénico deste último passo. Os passos são geralmente de planta quadrangular de fachadas simples e coberturas em telha de forma piramidal rematadas por pequena cruz e ornatos singelos. Ainda no século 17 são construídas onze ermidas (v. PT0201111040006) possuidoras de oratório, sacristia, espaço para repouso e casa de fogo para aquecimento e preparação de refeições, campanário com sineta, bem como pequenos jardins com alegretes e uma cisterna. As capelas devocionais estão um pouco por toda a área da mata mas situam-se quase sempre na proximidade de uma fonte que a abastecia de água para serviços domésticos e rega do jardim (Araújo, 1962). A decoração das edificações, na maioria das vezes, reflecte-se na utilização de embrechados, nos quais é empregue uma mistura de seixos, quartzo branco, jorrá negra e conchas, que nas ermidas representa o cenário da Caverna de Elias (Varela, 2004). Também foram sendo inseridas na paisagem várias fontes, aproveitando o elevado número de nascentes e linhas de água existentes no Buçaco. Estas construções eram, como todas as restantes, dedicadas aos santos da devoção carmelítica. Dos fontanários e lagos destaca-se a Fonte da Samaritana, de planta rectangular e coberta por abóbada semi-circular e a Fonte Fria composta por uma escadaria com dez lances e igual número de patamares, que termina num pequeno lago. Ainda se encontram com estilos arquitectónicos distintos a Fonte de Santa Teresa, a do Carregal, a de São Silvestre e a de São Elias. No vale dos Fetos localiza-se o lago Grande. Os cruzeiros são também um elemento marcante na paisagem, destacando-se o cruzeiro da Cruz Alta pela sua arquitectura, posição geográfica e altitude, que propicia um sistema de vistas privilegiado, tornando-o no miradouro mais conhecido de toda a mata. Os restantes cruzeiros são: o cruzeiro do Marquês da Graciosa (no centro Oeste da mata, isolado entre a porta das Lapas e a porta do Serpa); o cruzeiro do convento (em frente do mesmo, no centro da mata) e o cruzeiro das portas de Coimbra (num largo junto a esta porta). 2.2. OUTROS ELEMENTOS ANTRÓPICOS: O turismo, alicerçado no elevado valor ecológico e cultural da mata, constitui a principal actividade aqui desenvolvida. Decorrente deste facto a população é flutuante, exceptuando os guardas florestais e respectivas famílias, que residem nas casas de guarda da Feteira e do Forno do Tijolo. Entre a porta da Rainha e as portas das Ameias e do Serpa uma via principal atravessa a mata, passando junto ao Palace-hotel e à ribeira do vale dos Fetos. A avenida do Mosteiro, que liga o convento às portas de Coimbra, destaca-se não só por ser uma das vias mais antigas na mata, mas também por ter um declive quase nulo. Uma densa rede de trilhos e caminhos de pé-posto percorre a mata. Destes realçam-se: o percurso da Via-sacra (v. PT0201111040006) entre o passo do Horto, localizado a NE. do Palace-hotel, e o passo do Sepulcro, junto à Cruz Alta; e o trilho que vai da porta das Lapas até à Fonte Fria, paralelo à ribeira do vale dos Fetos (que lhe concede um enquadramento cénico notável). Ao longo deste percurso elementos como a Fonte Fria, os lagos Grande e Pequeno e a ribeira proporcionam um espaço de elevado conforto bio-climático, aliado a um coberto vegetal exuberante, que proporciona áreas de sombras, óptimas para o retiro e lazer. Os restantes trilhos estabelecem a ligação entre as capelas, fontes e cruzeiros, dispersos pela mata e as portas/casas de guarda.

Materiais

Inúmeros exemplares do designado Cedro do Buçaco (Cupressus lusitanica) com 35 a 40 metros de altura. Sequóias americanas, eucaliptos, pinheiros e carvalhos. Fetos vários, grande variedade de exóticas. Imóveis: Estruturas de alvenaria de pedra argamassada e rebocada; coberturas em abóbada e estruturas de madeira com telhas; estrutura em material pétreo; estrutura autoportante em alvenaria seca e alvenaria de pedra argamassada.

Observações

*1: DOF: Conjunto denominado "Palace Hotel do Buçaco e mata envolvente, incluindo as capelas e ermidas, Cruz Alta e tudo o que nela se contém de interesse histórico e artístico, em conjunto com o Convento de Santa Cruz do Buçaco". Anualmente, a 27 de Setembro, realiza-se uma procissão até ao monumento comemorativo da Batalha do Buçaco, junto da porta da Rainha.