Arquitectura infraestrutural, barroca e neoclássica. Aqueduto de grande extensão, alimentado por várias nascentes de águas, constituindo uma rede de ramais laterais ao seu percurso, relativamente longo e sinuoso, com implantação maioritariamente subterrânea, recorrendo à solução de arcadas nas zonas de vales, através de arcos de volta perfeita, abatidos ou apontados, em cantaria de calcário, em aparelho isódomo, que sustenta o canal, onde a água corre por acção da gravidade. Este é coberto por paredes de alvenaria argamassada, com cobertura, maioritariamente, curva, cortada por respiradouros ou clarabóias, quando corre no sub-solo, assegurando a iluminação das galerias e a sua oxigenação, de modo a garantir a salubridade da água. Apresenta três mães de água principais, as duas da nascente, de planta centralizada, com coberturas em domo, coroadas por lanternins encimados por pináculos, tendo no interior pias circulares, de inspiração claramente barroca; o reservatório terminal, de planta quadrangular, é formado por três corpos adossados, com cobertura em terraço, protegido por platibanda, iluminada em todas as fachadas por janelas em arco de volta perfeita, de inspiração sóbria e clássica, tendo o interior com coberturas em abóbadas de aresta, suportadas por pilares, assentes no fundo do grande tanque central, que recebe água através de uma cascata, elemento muito utilizado nos jardins barrocos. Nas zonas onde os ramais e aduções ocorrem, aparecem clarabóias circulares, com cobertura em domo, rasgadas por portas de verga recta e janelas, ostentando, por vezes, elementos eruditos, como pilastras, ou gramática decorativa, como volutas ou concheados. A partir do troço final saem várias galerias ou aquedutos, que permitem abastecer a cidade de Lisboa, questão que se colocava desde o séc. 16, e que se tornara difícil de resolver atendendo ao facto da expansão urbana ter sido desenvolvida para O., para o lado oposto, relativamente à localização das nascentes de água, na zona de Alfama. Aqueduto cuja construção foi morosa, atravessando todo o séc. 18 e prolongando-se, com a construção dos ramais e chafarizes, pelos início do séc. 19, sendo os troços resultado da concepção de dois engenheiros distintos, Manuel da Maia e Custódio Vieira da Silva, apresentando, contudo, uma unidade construtiva bastante grande. As zonas mais importantes, as Mães de Água, clarabóias e o troço das Amoreiras são objecto de um tratamento mais erudito e de decoraçã omais cuidada. A obra, pela sua concepção, envergadura e qualidade construtiva, pode ser considerada uma estrutura única no contexto da produção arquitectónica portuguesa, com soluções bastante inovadoras para a época, como atesta a opção pela construção de galerias com pé-direito à escala humana, permitindo a sua manutenção e, simultaneamente, a realização de obras numa galeria sem que fosse necessário interromper o abastecimento. É composto por vários troços à superfície, que acompanha, maioritariamente, o troço do antigo aqueduto romano. O mais eminente é o que se lança sobre a Ribeira de Alcântara, numa sucessão de arcos apontados de diferentes dimensões, o único perfil possível para a dimensão do espaço que atravessa, os quais descarregam em pegões de cantaria, sendo o canal encimado por lanternins de inspiração clássica, em silharia fendida, com coberturas a quatro águas, tendo pináculo no vértice e assentes em frontões triangulares, com os ângulos flanqueados por pilastras toscanas, mais largas na base e assentes em dados, rematadas em friso e cornija, tendo, em cada face, arco de volta perfeita, assente em impostas salientes e com pedra de fecho também saliente; são diferentes dos existentes nos restantes troços, de planta quadrangular, com cobertura a quatro águas e rasgados por quatro janelas rectilíneas, protegidas por grades. Apresenta, ao longo do percurso, várias clarabóias, que podem ser simples ou artisticamente trabalhadas, algumas de clara inspiração barroca, com cobertura em cúpula, encimada por pináculos de bola. Os arcos das Amoreiras e de São Bento apresentam linhas sóbrias, de composição geométrica, denotando uma certa ordem neoclássica, filiados nos arcos triunfais romanos, pontuados por elementos decorativos de inspiração barroca. A Mãe de Água terminal podia ter sido planificada com uma dimensão unicamente utilitária, mas foi assumida como pretexto para uma elaboração de espaço de carácter artístico, para o qual também contribuiu a sua localização, que lhe dá imponência tornando-a mais forte e evidente. O edifício apresenta linhas arquitectónicas de grande sobriedade e simplicidade, que apesar de tudo não deixam de recorrer aos elementos clássicos, como é o caso da ordem toscana. Os únicos elementos decorativos existentes são as gárgulas que se dispõem na cornija. Os vãos, que se rasgam em todas as fachadas, apresentam dimensões reduzidas relativamente ao espaço onde se inserem, estes em conjunto com as pilastras, conseguem transferir para o exterior a organização do espaço interno.
Aqueduto construído em cantaria e alvenaria de calcário, tendo, no seu troço principal (desde a Mãe de Água Velha até às Amoreiras) a extensão de 14,256 Km., com vários aquedutos subsidiários e galerias de adução, perfazendo uma rede com 58,135 Km.. O aqueduto principal nasce na Mãe de Água Velha (v. Aqueduto das Águas Livres - troço de Sintra - PT031111040249), próximo de Caneças, junto à povoação de D. Maria, concelho de Loures, terminando na Mãe de Água das Amoreiras (v. PT031106461221), concelho de Lisboa. Ao longo do seu percurso, a água é transportada por acção da gravidade, tendo uma implantação subterrâneo ou a aflorar a superfície, e, quando atravessa vales mais profundos, como Carenque, Reboleira, Damaia e Alcântara, apresenta uma arcaria de volta perfeita, em arco abatido ou em arco quebrado, caso dos 14 arcos apontados sobre o Vale de Alcântara (v. Aqueduto das Águas Livres - troço entre a Buraca e as Amoreiras - PT031106100028). Todos os troços visíveis têm estrutura em cantaria de calcário aparente, em aparelho isódomo, que sustenta os canos, protegidos por paredes de alvenaria argamassada, com cobertura em meia cana, plana ou angular, rasgados, equidistantemente por frestas de arejamento jacentes, podendo surgir lanternins sobre a estrutura, com a mesma função, de planta rectangular e rasgada por janelas rectilíneas em todas as faces, protegidas por grades metálicas, os do troço de Alcântara mais elaborados, com elementos eruditos, como pilastras e frontões, formando arcos de volta perfeita de arejamento. No interior, as paredes são em alvenaria rebocada, apresentando entre 50 a 80 cm. de espessura, dando origem a galerias com tectos em abobadilha de tijolo, com a largura de 1,50 m. e uma altura de 2,50 m.. Nestas, surge um passadiço central em lajes de cantaria separando as duas caleiras, que correm lateralmente, executadas em silhares de cantaria, com formato de meia cana, com 30 cm. de profundidade e 25 cm. de largura, unidas segundo um sistema de macho / fêmea. Nalguns troços, os passadiços são substituídos por escadas ou rampas, algumas com declive bastante acentuado acompanhado pelas caleiras e formando um lambril com cerca de 50 cm. de altura. Por vezes, surge apenas um arco, atravessando uma via pública, caso do troço do Arco do Carvalhão (este com dois), o das Amoreiras e o de São Bento (v. PT031106231243), ostentando profusa decoração e elementos eruditos, inspirados nos arcos triunfais. Nos extremos, encontram-se as Mães de Água, subsistindo, nas Águas Livres (a Mãe de Água Velha e a Nova), a das Amoreiras, a do Aqueduto de Carnaxide (v. PT031110030014) e a da Falagueira (v. Aqueduto das Águas Livres - troço entre São Brás e a Buraca - PT031115030003), constituindo tipologias distintas. As das Águas Livres e de Carnaxide são de planta centralizada, circular, com cobertura em domo, coroadas por lanternim, rasgadas por janelas rectilíneas em cantaria, possuindo tanques circulares de onde sai a água para a conduta geral. A Mãe de Água das Amoreiras é um edifício monumental, de planta rectangular em cantaria, em cujo interior a água era armazenada em vários tanques, alimentados por uma cascata, criando um efeito decorativo. A Mãe de Água do Aqueduto das Galegas, na Falagueira é de planta quadrangular simples, com cobertura tronco-piramidal, encimada por lanternim. Nas zonas onde os ramais e aduções ocorrem, aparecem clarabóias circulares, com cobertura em domo, rasgadas por portas de verga recta e janelas, ostentando, por vezes, elementos eruditos, como pilastras, ou gramática decorativa, como volutas ou concheados. Estas têm, no interior, os canos de entrada e de saída, o último ligado a um dos canais do aqueduto principal. Destes canais subsidiários, distinguem-se o Aqueduto do Caneiro (situado a montante da Água Livre) e de que fazem parte os Aquedutos do Olival do Santíssimo, do Bretão, das Mouras, de D. Maria, Salgueiro, Carvalheiros e o da Câmara, que se associam ao Aqueduto da Quintã, na Mãe de Água Nova. Deste local desenvolve-se um novo ramal que se associa igualmente ao Aqueduto das Águas Livres, no sítio do Salto Grande. No trajecto para Lisboa reconhece-se ainda o caudal proveniente da Fonte Santa, assegurado pelo fornecimento de água através dos aquedutos da Rascoeira, de São Brás, das Galegas e da Buraca. Estes complementam-se entretanto pelos aquedutos das Francesas, do Brouco, e da Mata (com nascentes próximas de Vale do Lobo). Do troço das Amoreiras e da Mãe de Água das Amoreiras partiam quatro galerias subterrâneas, constituindo uma rede complexa de distribuição de água, servida por aquedutos secundários e chafarizes: Aqueduto ou Galeria de Santana, que começava no Arco do Carvalhão e terminava no chafariz do Campo de Santana, a partir do qual partiam dois ramais, um para o antigo Colégio de Santo Antão-o-Novo, actual Hospital de São José (v. PT031106240045) e, outro para o Intendente, abastecendo o respectivo Chafariz (v. PT031106310126); também abastecia de água os chafarizes de São Sebastião da Pedreira (v. PT031106501077), de Entrecampos (v. PT031106040206), da Cruz do Taboado e o do Socorro. O Aqueduto ou Galeria das Necessidades partia do Arco do Carvalhão terminando na Tapada das Necessidades (v. PT031106261094), onde nascia outro ramal à superfície, que atravessava o Vale da Cova da Moura, actualmente a Avenida Infante Santo, até às Janelas Verdes, abastecendo o respectivo chafariz (v. PT031106260356); a abertura da Avenida implicou a sua demolição; conduzia, ainda, a água para os chafarizes de Campo de Ourique, da Estrela, da Praça de Armas (v. PT031106260234) e das Terras. Um terceiro ramal era o Aqueduto ou Galeria da Esperança, que partia do antigo Arco de São Bento, na Rua de São Bento, e terminava no Chafariz da Esperança (v. PT031106370029); o quarto é o Aqueduto ou Galeria do Loreto *3, que terminava no Largo do Directório, em frente do São Carlos, e daí partia outro ramal para a Cotovia, actual Praça da Alegria, abastecendo o respectivo chafariz e, também o chafariz da Rua Formosa, existindo ainda uma terceira derivação que conduzia a água até ao Chafariz do Carmo (v. PT031106270020); alimentava de água o chafariz do Rato (v. PT031106460022), de São Paulo (v. PT031106490856), do Loreto e de São Pedro de Alcântara (v. PT031106150433). No entanto, outros sistemas de condutas subterrâneas ou, de canalização, foram construídos expandido a área de abastecimento a outras zonas e implicando a edificação de outros chafarizes *4 e do Reservatório da Patriarcal, localizado no subsolo da Praça do Príncipe Real e incluído na rede de distribuição de água da zona baixa da cidade, com a capacidade para 880 m3., estando em funcionamento 3000 poços, dos quais 1200 situados ainda dentro da antiga circunvalação; além destas estruturas no interior da cidade, existiam outras beneficiárias dos troços de ligação à nascente, nomeadamente o Aqueduto da Gargantada (v. PT031111070250), que abastecia o Palácio de Queluz (v. PT031111070008).
Materiais
Estrutura em cantaria de calcário; alvenaria de calcário, argamassada e, em alguns casos rebocada e pintadas; canos em cantaria ou barro; gatos e grades das janelas em ferro.
Observações
*1 - Por decreto do Ministério da Cultura (dec. nº 5/2002 de 19 de Fevereiro) foi alterado o Decreto de 16 de Junho de 1910, publicado em 23 de Junho de 1910 que designava o imóvel como "Aqueduto das Águas Livres, compreendendo a Mãe de Água", passando a ter a seguinte redacção: "Aqueduto das Águas Livres, seus aferentes e correlacionados, nas freguesias de Caneças, Almargem do Bispo, Casal de Cambra, Belas, Agualva-Cacém, Queluz, no concelho de Sintra, São Brás, Mina, Brandoa, Falagueira, Reboleira, Venda Nova, Damaia, Buraca, Carnaxide, Benfica, São Domingos de Benfica, Campolide, São Sebastião da Pedreira, Santo Condestável, Prazeres, Santa Isabel, Lapa, Santos-o-Velho, São Mamede, Mercês, Santa Catarina, Encarnação e Pena, municípios de Odivelas, Sintra, Amadora, Oeiras e Lisboa, distrito de Lisboa.". *2 - Para tal, D. Manuel I mandou projectar um chafariz monumental para o Rossio ordenando a Francisco de Holanda que realizasse um estudo sobre a possibilidade de garantir o abastecimento de água, surgindo, em 1580, na obra "Da Fabrica que falece à cidade de Lisboa", a primeira proposta para a execução de um sistema de abastecimento de água para a cidade de Lisboa; durante o reinado de D. João III, o infante D. Luís pretendeu conduzir a água até à Ribeira das Naus; em 1588, Nicolau de Frias, mestre-de-obras do Arcebispado de Lisboa, ficou encarregue de realizar as primeiras experiências, dispondo de 690.000 cruzados e, no séc. 17, Filipe II nomeou o engenheiro espanhol Leonardo Torreano para concretizar novos estudos. *3 - - Este aqueduto, ou galeria, também era conhecido por Aqueduto de Pombal, pois abstecia um chafariz, na Rua Formosa, mandado erguer pelo Marquês, a fim de abastecer um palácio, de que era proprietário, nessa rua, cedendo para esse fim algumas casas. O que fez não só neste caso, como para todos os palácios que possuía na cidade. *4 - o caudal de água conduzido por esta estrutura favorecia da existência de chafarizes pré-existentes, nomeadamente o do Andaluz (1336), a Fonte da Samaritana (1508), o do Rossio (1606 e demolido em 1786) a Bica dos Olhos (1615) (v. PT031106491162), o chafariz do Terreiro do Paço (1652, destruído durante o Terramoto de 1755) e a Bica do Regueirão dos Anjos (séc. 16, encerrada em 1931). *5 - dos 24 chafarizes previstos, apenas 18 recebiam água directamente do aqueduto: o do Loreto, o do Carmo, o de São Pedro de Alcântara, o da Rua Formosa, o do Campo de Santana, o da Esperança, o do Cais do Tojo, o das Janelas Verdes, o de Alcântara, o do Arco de São Bento, o da Rua do Arco, o das Amoreiras, o da Estrela, o de Buenos Aires, o de São Sebastião da Pedreira, o da Cruz do Taboado e, o da Cotovia. *6 - a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos tinha a função de elevar as águas provenientes do rio Alviela conduzindo-as para o reservatório da Verónica e para a Cisterna do Monte, permitindo aumentar o volume de água no abastecimento de Lisboa. Actualmente esta estação possui dois espaços de exposição, um de carácter permanente e outro temporário.