Primitiva mesquita almóada adaptada a igreja cristã logo após a reconquista de Mértola em 1238, recebeu uma profunda campanha de obras quinhentista que a transformou numa igreja-salão dentro dos modelos da tradição tardogótica e renascentista. Assim, apresenta a configuração quase quadrangular da planta do templo primitivo, muito embora as suas paredes tenham sido alteadas como forma de uniformizar a cobertura (que se presenta telhada a duas águas não invés das coberturas individualizadas das cinco naves islâmicas), e surjam agora cintadas por contrafortes cilíndricos coroados por pináculos cónicos e esbarros, e encimadas por merlões denteados e chanfrados, característicos do gótico final alentejano de tradição mudéjar; o portal de proporções e decoração clássica integra-se na paralela corrente renascentista, testemunhando a ação de André Pilarte, ativo igualmente na Igreja de Salvador de Ayamonte, mas cuja oficina atuou sobretudo no Algarve, tendo a esta ficado associados outros imóveis, como a Igreja Paroquial de Moncarapacho (v. IPA.00025961), a igreja Matriz de Alcoutim (v. IPA.00017055), a Igreja de Cacela Velha (v.IPA.00009557), a Igreja de Santa Catarina de Fonte do Bispo, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Tavira (v. IPA.00005651) e, em Tavira, a Igreja da Misericórdia (v. IPA.00009143), a Casa na Rua do Poço do Bispo (v. IPA.00016299), a Casa na R. Almirante Cândido dos Reis ( v. IPA.00024754), o Edifício Irene Rolo (v. IPA.00010088) e o Palácio da Galeria (v. IPA.00005653). Interiormente, a igreja apresenta-se com uma ampla igreja-salão, para o que aproveita as paredes que definiam o perímetro da mesquita almóada, tendo, no entanto, desaparecido os arcos em ferradura enquadrados por alfizes que sustentariam a cobertura de madeira, diminuído o número de colunas (de vinte para doze) e aumentado o espaço intercolúnio, reduzindo-se os seis tramos originais para quatro; mantêm-se as cinco naves iniciais, assim como a solução de planta interna em "T", formado pela nave central e o último tramo maiores que os restantes (solução muito utilizada pela arquitetura religiosa almóada), sendo a nave central encimada pelo "mihrab" (com uma decoração que encontra paralelos na Mesquita de Almeria e nas mesquitas almóadas do Norte de África), que hoje serve a decoração da capela-mor. A anteceder a capela-mor, no arco triunfal são encastradas dois colunelos com capitéis de motivos enlaçados, sendo a parte superior do arco preenchida com um elemento radial que produz o efeito de uma vieira. A cobertura foi unificada mediante a criação de uma ogiva única de cruzaria simples, o tramo fronte ao altar-mor foi distinguido dos demais com a presença de uma ogiva mais elaborada, configurando uma estrela de quatro pontas; no conjunto das chaves de abóbada e das mísulas são observados, para além de motivos zoomórficos e fitomórficos, símbolos do Sol, da Lua e uma estrela, normalmente utilizados nas ladainhas a Nossa Senhora (orago do templo) e, simultaneamente, presentes na iconografia de Santiago de Espada (ordem a que o templo estava afeto).
Edifício de planta poligonal, composta por grande nave quadrangular, orientada no sentido sul-norte, à qual se adossa, a nascente, o meio octógono do antigo "mihrab", atual capela-mor, a norte um pequeno anexo retangular, a atual sacristia, e a sudeste, a torre sineira de planta quadrada. A cobertura é telhada a duas águas nos volumes escalonados da grande nave e anexo, a uma só água sobre a capela-mor e em coruchéu de remate bolboso sobre a torre. As fachadas, rebocadas e caiadas a branco, são coroadas por merlões triangulares de recorte denteado, alternando, nas fachadas laterais com pináculos cónicos rodeados por merlões chanfrados. Fachada principal virada a sul, de dois registos e empena angular, apresenta-se delimitada por um contraforte cilíndrico rematado por um pináculo cónico no cunhal esquerdo e, no cunhal direito, por sineira prismática, rasgada por ventanas na parte superior, com fogaréus nos quatro cantos; encontra-se dividida em dois panos por um contraforte de três registos de diferente molduração, terminando em pináculo cónico adossado, localizado ao eixo; à direita deste rasga-se no primeiro registo, em posição descentrada, o portal de vão retangular, enquadrado por molduras com baixos relevos e colunelos e encimado por óculo moldurado, no segundo registo. Fachada lateral direita delimitada pelo volume quadrangular da torre sineira no cunhal esquerdo e pela presença ritmada de quatro contrafortes cilíndricos rematados por pináculos cónicos, destacando-se, entre o segundo e o terceiro contraforte o volume facetado do antigo "mihrab" e, após o quarto contraforte uma porta travessa, com o vão em arco de ferradura inscrito em alfiz, no cunhal direito um contraforte disposto na diagonal, vazado em arcobotante. Na fachada posterior, delimitada à esquerda pela presença de um contraforte mais saliente, disposto diagonalmente, encimado por pináculo cónico, destaca-se o volume prismático do anexo e um portal em arco de ferradura enquadrado por alfiz. Fachada lateral esquerda marcada pela presença de vários contrafortes encimados por pináculos cónicos. INTERIOR: orientada a nascente, apresenta cinco naves de quatro tramos, sendo a nave central e o último tramo mais largos e formando um "T", cobertos por abóbada única de cruzaria de ogivas sobre colunas de fuste cilíndrico e sobre mísulas adossadas às paredes; no conjunto das chaves de abóbada e das mísulas são observados motivos zoomórficos e fitomórficos, e símbolos do Sol, da Lua e uma estrela. No primeiro tramo do lado do Evangelho encontra-se a pia batismal. No último tramo, também do lado do Evangelho, situa-se o púlpito marmóreo, de guarda plena sobre coluna tipo balaústre; do lado da Epístola, encontra-se uma pia de água benta encastrada numa coluna, decorada com enfaixados antropomórficos e florais. O tramo em frente à capela-mor, antigo "mihrab", é coberto por abóbada estrelada, sendo incrustado no seu fecho o brasão dos Mascarenhas e, nas duas mísulas de descarga dos arcos que ladeiam a capela-mor, esculpidos uma face e o letreiro "IOANE". Arco triunfal de volta perfeita sobre colunelos encastrados na parede murária com capitéis decorados com enlaçados, sendo a parte superior do arco preenchida com um elemento radial em efeito de uma vieira; parede testeira da capela-mor com remanescências da antiga pintura mural quinhentista, com quadrifólios dourados a enquadrarem um pequeno nicho, do antigo "mihrab", decorado com arcos cegos polilobados em estuque; no lado do Evangelho encontra-se um nicho para o sacrário (antigo compartimento do "nimbar"), encimado com uma pintura com uma cruz e um anjo de cada lado. De notar, por último, a existência de altar-mor pétreo com figura de vulto do orago e dois altares colaterais, igualmente marmóreos, com figuras de vulto.
Materiais
Estrutura de alvenaria rebocada. Portal de mármore. Cobertura em telha cerâmica. Tijoleira no pavimento
Observações