Arquitectura religiosa, gótica, renascentista, barroca. Convento de Clarissas, de fundação gótica com profunda renovação estrutural e decorativa nos séc. 16, 18 e 20. Conserva, no piso térreo do claustro, dois tramos completos de arcaria gótica sobre colunelos geminados.
Planta composta, irregular, com os volumes articulados em disposição horizontal à volta de um claustro de planta quadrada, sobre terreno inclinado de NE. para SO.; cobertura diferenciada em telhados de duas águas. Fachada SE., de SO. para SE.: a cerca, a entrada para o quintal da igreja, com portal de verga e sobreverga rectas; as traseiras da cabeceira da igreja, com cachorrada corrida, duas janelas gradeadas de quarto de círculo e friso com esgrafitos em frontão triangular; as traseiras do dormitório (piso superior), exibindo um grande janelão, em arco abaulado, com óculo redondo contracurvado, ladeado por duas janelas rectangulares, apresentando também duas frestas correspondentes ao piso térreo, estando todos os vãos gradeados; a fachada da entrada antiga, com dois registos de vãos, gradeados, portal de moldura granítica rectangular, com sulcos paralelos a toda a volta, arquitrave, frontão com volutas entre duas urnas, enroladas em florões, na base, ladeando o monograma IHS, sendo o conjunto encimado por meia concha terminada por urna. Fachada SO. é constituida pela cerca que envolve o quintalão. Fachada NO., de SO. para NE.: a cerca com entrada para o jardim; o topo do dormitório (piso superior), com janelão idêntico ao do outro topo já descrito; a nova entrada da Biblioteca Municipal; o portal gradeado, em arco abaulado, de acesso ao claustro; o jardim, apresentando ao centro, uma fonte de mergulho, dentro de um cubo com abóbada de arestas de nervuras e acesso através de dois arcos redondos com mainel. O claustro tem planta quadrada, está ajardinado e apresenta, ao centro, fonte de mármore, de secção triangular sobre bacia circular, com lavores Rococó; no corpo NO. apresenta, no piso térreo, quatro conjuntos de quatro arcos quebrados de cantaria, sustentados por cinco conjuntos de colunas geminadas de bases e capitéis de feitura simples; no piso superior, quatro janelas; no corpo NE., o piso térreo é igual ao anterior, a galeria superior apresenta quatro conjuntos de três arcos redondos sustentados por quatro colunas esbeltas de mármore, de concepção simples, e o 2º andar tem oito janelas molduradas de feição setecentista *1; o corpo SE. apresenta, abrindo para a galeria inferior, cinco grandes arcos redondos de cantaria de granito separados por pilastras e, sobre cada um destes arcos, já na galeria superior, sobre murete, dois arcos redondos assentes sobre três colunas iguais às da galeria superior do corpo NE.; o corpo SO. está estruturado por dois contrafortes centrais apresentando, na galeria inferior, arcadas iguais às do corpo SE., e no piso superior, depois de faixa de separação, cinco janelas de vão rectangular de moldura granítica. As galerias inferiores dos corpos NO. e NE. são iguais, com pavimento de tijoleira, tecto de madeira e ladrilho e apresentam, no canto N., uma capela. As galerias inferiores dos corpos SO. e SE. são iguais, com o mesmo pavimento das outras, os tectos de abóbada de arestas em múltiplos tramos e possuem: no corpo SO., portas e janelas do antigo refeitório *2 e comunicação com a igreja e coro baixo; o corpo SE. possui as portas para o vestíbulo e parlatórios. Entrando pela porta antiga, da R. de Santa Clara, ficamos num átrio que possui, à esquerda, a portaria propriamente dita, ladeada por uma grade de parlatório, com banqueta, e uma roda; em frente, a porta de acesso ao claustro; para a direita, um parlatório de duas grades ( hoje apenas com os vãos, estando um deles transformado em porta ), com um pequeno vão ao centro que terá constituído uma pequena roda ou janelinha para passar objectos pequenos. No topo NO. da galeria inferior SO., uma porta dá acesso a um vestíbulo que, para a direita, apresenta duas portas para a actual portaria (uma delas com batentes medievais), ladeando um lavatório de parede ( talvez o do refeitório ); em frente, a porta para o coro baixo, com moldura rectangular apresentando sulcos paralelos, com pequena pia de água benta dentro da parede; à esquerda, porta para a zona do refeitório. O coro baixo sustenta o tecto e piso do coro alto através de três colunas no eixo central, possui a porta para a igreja, uma grade dupla com portinholas e a porta para o confessionário. A igreja ( ainda carbonizada por incêndio ), apresenta planta simples, rectangular, de uma só nave. A cabeceira está orientada a SE., apresentando o altar, camarim ladeado por colunas e trono; uma porta dá acesso à sacristia, com restos de azulejos. A meio das paredes laterais tem uma porta e um púlpito de cada lado. O tecto é de estuque em arco de maceira. No andar superior, são de destacar o antigo dormitório, a SO., sobre o antigo refeitório, comunicando com o coro alto; este apresenta grade e porta de acesso à torre sineira. Esta torre funcionava também como mirante, possuindo, nos dois últimos registos de vãos, janelões de arco redondo com adufas; no seu interior, ao nível do coro alto, o tecto é de abóbada de arestas de nervuras; a terminação da torre é feita por lanternim fenestrado. O antigo quintalão foi transformado em moderno jardim com miradouro sobre a cerca.
Materiais
Mármore, granito, pedra indiferenciada, tijolo, argamassa de cal e de cimento, ferro, tijoleira, madeira, azulejos, telha.
Observações
*1 - as janelas do 2º andar do extremo E. do claustro foram construídas, por cópia, já neste século; *2 - a localização da antiga cozinha é hoje difícil de fazer, no entanto, pensamos que ela não se situaria no corpo SO. ( o do refeitório ) - onde no princípio dos anos 70 deste século ainda existia uma cozinha -, já que aí não havia chaminé; pensamos ser mais provável a sua localização no corpo NO., em instalações hoje inexistentes, junto à fonte de mergulho, onde se sobrelevava uma grande chaminé; *3 - Teve capacidade para 60 religiosas, tendo-se distinguido, pela fama de santidade, a Madre Isabel do Menino Jesus; *4 - Existe uma lápide, solta, num nicho do canto S. da galeria inferior do claustro, datada de 1792, registando, possivelmente, uma outra intervenção, ao tempo da abadessa Mariana Clara Francisco de Assis.