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Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e Torre fortificada de Cascais

Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e Torre fortificada de Cascais

O ponto de interesse Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e Torre fortificada de Cascais encontra-se localizado na freguesia de União das freguesias de Cascais e Estoril no municipio de Cascais e no distrito de Lisboa.

Fortaleza marítima construída no séc. 16, com traçado abaluartado, planta triangular irregular, com pátio central também triangular, integrando dissimuladamente num dos lados torre quadrangular quinhentista. A data do início da construção da fortaleza de Nossa Senhora da Luz e a autoria do seu projeto ainda estão por apurar, mas a descoberta de um documento no arquivo de Veneza, por Julieta Marques Oliveira, comprovam que já existia aquando da invasão espanhola de 1580, visto nele se referir que em Cascais "há un castello di forma triangular com baluardo alla moderna per guardiã del maré", datando as primeiras representações iconográficas de 1590. Com uma planimetria pouco utilizada em Portugal, de notória influência italiana, e com algumas semelhanças com o Forte de Santa Catarina, em Buarcos (v. IPA.00002711), construído já em período filipino, é composta por três baluartes adaptados à topografia do terreno, um virado a terra, com flancos curtos e faces bastante agudas, e dois poligonais desiguais virados ao mar, com orelhões, interligados por cortinas retilíneas. Apresenta a escarpa exterior em talude, com os paramentos em cantaria de aparelho rusticado e em alvenaria de pedra rebocada, com cordão e parapeito liso ou com merlões e canhoneiras, possuindo nos ângulos flanqueados guaritas de várias formas. A porta fortificada rasga-se numa cortina virada a terra, inicialmente precedida por ponte levadiça sobre o fosso, e possui arco de volta perfeita, de aduelas em cunha, moldurado por silhares rusticados sustentando frontão triangular, com as armas de Portugal. A partir do pátio central fazia-se o acesso às casernas, dependências intermédias entre os baluartes, desenvolvidas em dois pisos, e aos baluartes, com salas sucessivas, todas abobadas e interligadas por arcos, e à bateria alta da fortaleza. A fortaleza integra no seu interior e sem a ter destruído, a Torre de Santo António, construída em finais do séc. 15 que, à semelhança de outras construídas durante o reinado de D. João II, como a da Caparica e a de Belém, possuíam características de transição entre a arquitetura medieval e a abaluartada. Uma gravura antiga representa-a com uma torre quadrangular medieval, de parapeito ameado e com balcões nos ângulos, um corpo retangular mais baixo, envolvidos por uma cerca, com canhoneiras em plano intermédio, para uso de artilharia. Com a modernização da defesa marítima de Cascais, esta torre foi integralmente mantida a meio da cortina sul da fortaleza, continuando a ser o principal núcleo habitado ao longo dos séculos, conservando-se até hoje os seus paramentos aprumados, com cunhais de cantaria rusticada, algumas troneiras, mas já sem o remate de ameias. A muralha exterior foi em grande parte arrasada, mas subsiste um troço a este, aproveitada para confrontar uma das paredes-mestras de apoio lateral à nova cortina sul. As fachadas leste e parte da sul do corpo retangular adossado à torre foram elevados, tornando-se, assim em pontos de descarga da esplanada. A torre possuía uma capela, à qual se pensa terem pertencido os azulejos de aresta encontrados durante as escavações arqueológicas, que desapareceu com o terramoto, e duas cisternas, a principal, de planta em L, sob a torre, que depois do séc. 16 é alargada e acedida pelo pátio da nova fortaleza. Em finais do séc. 16, é construída junto e interligada à fortaleza a Cidadela, de modo a ampliar a frente marítima fortificada.

Fortificação de traçado abaluartado, irregular, de planta triangular, composta por três baluartes, um a noroeste, virado a terra, com flancos curtos e faces bastante agudas e prolongadas, com ângulo flanqueado tipo quilha, e dois baluartes poligonais virados ao mar, desiguais, com orelhões, interligados por cortinas de traçado plano. Possui a escarpa exterior em talude, com os paramentos em cantaria de aparelho rusticado, no terço inferior e nos cunhais, e o restante em alvenaria de pedra, rebocada a cal e areia, e com vestígios de pintura ocre, com cordão e terminados em parapeito liso ou com merlões e canhoneiras. O parapeito do ângulo flanqueado do baluarte noroeste e o ângulo este do baluarte deste mesmo lado integram guaritas, a primeira cilíndrica e a segunda facetada, ambas com cobertura piramidal e rasgadas por frestas de tiro retangulares, sendo acedidas por porta de verga reta, o do baluarte noroeste precedida por três degraus. O ângulo oeste do baluarte oeste e o ângulo intermédio do disposto a este possuem o arranque de duas outras guaritas, uma circular e outra facetada, respetivamente. Os baluartes dispostos a este e a oeste têm orelhões ligeiramente curvos virados a norte, protegendo as canhoneiras nos flancos cobertos, atualmente entaipadas, e têm os seus flancos sul, perpendicular ou ligeiramente oblíquo (baluarte oeste), e os cunhais intermédios avançando externamente para o topo, os do baluarte este formando entrecorte. O baluarte virado a noroeste possui no flanco sul duas canhoneiras em arco, com moldura rusticada, uma delas, entaipada num plano recuado. A cortina virada a sul é rasgada a ritmo irregular, sob o cordão, por três vãos retilíneos, moldurados, um deles, gradeado. O acesso à fortaleza processa-se pela cortina paralela ao Passeio Dona Maria Pia, por largo vão retilíneo, no interior da qual existe dependência revestida a cantaria e coberta por abóbada de berço, no topo da qual se desenvolve a ponte fixa lançada sobre o fosso e antecedendo o portal; a ponte é de alvenaria de pedra, com tabuleiro plano e pavimento de lajes, sobre dois arcos de volta perfeita, fechados por grade de ferro, e com guarda plena. O portal rasga-se na cortina nordeste, e possui arco de volta perfeita, de longas aduelas dispostas em cunha, envolvido por silhares rusticados, sustentando frontão triangular, sobreposto com as armas de Portugal, encimadas por coroa. O portal possui porta de madeira, integrando postigo. INTERIOR: transposto o portal entra-se num compartimento rebocado e pintado de branco, com faixa a azul, com pavimento em paralelos e cobertura em falsa abóbada de berço com bueiro central. Segue-se pátio central triangular, a partir do qual se acede aos vários núcleos, tendo as fachadas rasgadas por vários vãos retilíneos, desiguais e a ritmo irregular, e com vários corpos salientes. Numa das fachadas possui marcados os cunhais da antiga torre joanina, em aparelho rusticado, que integrou a sul, em cujo interior, com a divisão espacial sido muito alterada, conserva parte das antigas abóbadas, apenas com o arranque dos arcos e respetivas mísulas; no paramente oeste, conserva ainda torneira, entaipada. É a partir da torre que se acede à esplanada, onde fica a bateria alta da fortaleza, pavimentada a lajes de cantaria. Sobre a bateria alta virada a sul, eleva-se o corpo da torre, também aí com os cunhais rusticados, flanqueado por outros, que são rasgados por vãos retilíneos e têm cobertura de betão, plana, criando terraço, ou inclinada, ou em telhado de duas águas. A esplanada do baluarte noroeste e respetivas cortinas desenvolvem-se num plano mais elevado. A esplanada do baluarte este tem acesso ainda a partir do terraço do palácio da Cidadela, através de alta ponte de cantaria, sobre um único arco, e com guarda plena. O portal que lhe dá acesso possui arco de volta perfeita sobre pilastras, encimado por frontão triangular, coroado por alto pináculo piramidal rematado por bola. Do pátio acede-se também às antigas casernas, dependências intermédias entre os baluartes noroeste e o do sul, que se desenvolve em dois pisos, bem como aos baluartes, onde se sucedem várias salas abobadas, interligadas entre si por arcos rasgados na alvenaria. A partir do pátio acede-se ainda à cisterna, desenvolvida sob a torre joanina, com planta em L, em cantaria, com cobertura em abóbada de berço e de aresta, no ângulo do L, onde a coluna foi substituída por pilar.

Materiais

Estrutura em cantaria de calcário ou em alvenaria de calcário, aparente ou rebocada; cunhais, molduras dos vãos e outros elementos em cantaria de calcário; placas de betão; cobertura de betão ou de telha.

Observações

*1 - A Fortaleza da Luz e a Torre foram classificadas conjuntamente com a denominada Cidadela de Cascais. *2 - No album "Civitates Orbis Terrarum", a torre é representada com planta quadrangular, de paramentos aprumados, terminados em parapeito ameado, tendo em todos os ângulos balcões e sendo coberta por telhado de quatro águas. Tinha adossado corpo retangular mais estreito e mais baixo. Ambos os corpos eram circundados pelo lado do mar por uma muralha, rasgada por três canhoeiras num plano intermédio. Era acedida por duas portas: uma, sobrelevada, na face nascente da torre, e que foi detetada durante as escavações de 2005, e outra ao nível do piso térreo do corpo adossado. A torre teria no piso térreo o paiol, sendo os outros pisos reservados para aquartelamento e casa do alcaide. Durante as sondagens arqueológicas de 2005, verificou-se que o primitivo anexo teria sido ampliado durante a vida útil da torre. O novo edifício passava a ter a mesma largura da torre indo, no sentido do comprimento, encostar ao pano de muralha virado à baia. *3 - Segundo o cronista Frei Manuel Homem, a defesa da barra do Tejo tinha sido reconhecida com grande pormenor pelo engenheiro João Batista Antoneli, o que terá facilitado a ação do exército castelhano, bem como uma deficiente preparação da defesa que "foi tão pouca que podemos afirmar que foi nenhuma". No dia 29 de julho, aproveitando estar a armada imobilizada no Cabo Espichel devido ao mau tempo, o duque fazia um relatório, para ser enviado ao rei, explicando a estratégia de desembarque que iria ser utilizada em Cascais; o local escolhido era a laje do Ramil, onde se planeava que desembarcasse o general Sancho de Ávila com 1500 piques da infantaria alemã e 3 companhias de arcabuzeiros de Nápoles, formando logo um esquadrão; em seguida desembarcaria todo o resto da infantaria dos terços de Nápoles, Lombardia e Sicília, com os quais se constituiria outro esquadrão; entretanto, e como manobra de diversão, as galeras que não transportassem esses soldados avançariam sobre Cascais, para aí concentrar a atenção dos possíveis resistentes; o duque de Alva pensava ainda que, como D. António de Castro, senhor de Cascais, era partidário de Filipe II, não deveria haver grande oposição pela população. *4 - Neste parecer, Leonardo Turriano afirma: "Haciendo de poner en defensa con brevidad el sitio de Cascaes, niguna fortificacio se puede hacer mas presto, ni de menor costa, ni de menos provecho que determinada [...]. Todo lo qual se considera [por la brevedad] mas semejante a trincheas que a muralhas; i haviendo [por las racones referidas] deste modo la dicha fortificacion determinada de la manera que las muralhas no hagan falta, i que lo qal presente se hiciere quede provecho despues; soi desaparecer que se levante de tierra la dicha fortificacion por igual, que con el aviamento necessario i con alguna cal i madera se pendra en defensa en 45 dias con cinco ou seis mil ducados". *5 - Esse dinheiro: "Se ha ponerem uma arca de qutrollaves las cuales han de tener una el dicho Vedor general, otra el dicho Leonardo Turriano, la tercera Pagador y la cuarta la dicha persona que nombrare el Marques de Castel Rodrigo. Dentro de la dicha arca ha de haber un libro encuadernado en que se assiente el dinero que se fuere metiendo en ella y el que se sacare, con dia mes y año, declarando para que efectos, y para la saca y entrada de cualquier partida han de concurrir todas las dichas cuatro llaves sin que los que las tienen las puedam dar uns a otro sino fuere en caso de enfermedad ó por outro formozo y justo impedimento". *6 - O dinheiro das tércias fora aplicado "y de algun tiempo á esta parte para la compra de las naves de la India dejando cuatro ó seis mil ducados para reparos y por ser suma tan costa no se ha podido acudir con ello Á cosa ninguma; encomenda a Gerónimo de Soto e a Leonardo Turriano de duas relações do que era preciso fazer e os respectivos orçamentos; na de Gerónimo de Soto seriam necessários 490 mil ducados para pôr "en perfection las fuerzas del Reyno de Portugal" e 50 mil ducados "para acavar el castillo de Cascaes conforme la traza de Tibúrcio Espanoqui"; na de Turriano com 89 mil e 900 ducados acudia-se ao que era mais necessário e especifica-se que o seu orçamento não inclui o "castillo de Cascaes". *7 - No primeiro projeto de Nicolau de Langres, a vila seria rodeada por muralhas e baluartes até à ribeira; daí partiria outra cintura de muralhas que envolveria o forte de Santa Catarina e cobriria a este, pelo lado de terra, os arrabaldes da vila; o segundo projeto, idêntico, manteria a cidadela anteriormente projetada; e o terceiro reforçaria o Forte da Luz com um revelim e a cidadela com um fosso e dupla muralha pelo lado de terra; preconizava, ainda, a construção de uma cortina que, seguindo a linha da enseada, terminasse no forte de Santa Catarina. *8 - Segundo relatos de alguns prisioneiros, a Fortaleza da Luz era chamada de "inferninho". João Baptista da Silva Lopes relata que os presos, depois de estarem no pátio da cidadela, desciam para a fortaleza por uma escada de muitas voltas, estreita e escura; aos dezassete degraus encontravam umas casas pequenas e, continuando a descer mais, chegavam a um pátio triangular, com vinte e dois passos de lado, tendo uma cisterna próxima a um deles e cinco escadas para outros tantos cubículos, de dois andares e lojas, no total de vinte e duas casinholas, onde acomodavam duzentos e quarenta e um indivíduos, que ficavam muito apertados e sem camas ou coisa de comer nem comodidades. *9 - A servidão militar foi definida em 1897 das faces sul e este desde o meio-baluarte da bateria alta da Ribeira, ou de Santa Bárbara, com o cunhal sudoeste da Alfândega de Cascais, até à orla marítima e seguindo depois pela mesma orla, e na direita pela direção do tiro extremo segundo a linha que unia o saliente do meio-baluarte da bateria dos Artilheiros ao Forte de Santa Marta. Em 1909 os peritos militares consideram que não se deveria aplicar, de forma cega, a servidão militar da cidadela, o que implicaria a demolição de várias edificações; por isso, apela-se para um projeto de lei remetido à Secretaria da Guerra, em 11 março, em cujo art.º 35 refere a possibilidade da servidão militar ser limitada pela esplanada "tal como está hoje traçada, isto é, delimitada pela estrada pública que contorna as duas frentes terrestres da praça e pelo caminho de gola da antiga linha de fusil que existia na margem esquerda da Ribeira do Mocho"; assim, é aplicada a proposta de servidão militar proposta em 1897.