Arquitectura religiosa, renascentista, maneirista, barroca. Igreja conventual com pórtico, o claustro, dependências anexas, Capítulo, refeitório e dormitório grande renascentistas. Fachada maneirista, com muitos elementos ornamentais que parecem tirados dos tratados de Segredo e de Sérlio; a sua conjugação e a sua composição geral revelam uma revolucionária transgressão maneirista, precedendo, nas soluções globais, o despontar do estilo em Portugal (BRANCO). Considerado o primeiro exemplar de arquitectura da Renascença construído no Alentejo, com influências paladianas e formas vitruvianas renovadas na renascença. O prospecto exterior do conjunto é impressionante e singular; original na arquitectura portuguesa pela sua massa escura de granito trabalhado, volumes e estilo. Exemplo único na arquitectura portuguesa da época, são também as quatro imponentes esculturas de granito que segundo a tradição representam os primeiros mártires da Inquisição queimados em Évora no ano de 1543. As janelas perspectivadas e o friso do altar do presbitério constituem exemplos máximos da renascença portuguesa. Original integração da galilé na fachada. Enquanto no primeiro registo da fachada principal tudo parece reduzido ao essencial, no segundo, ao nível do coro-alto, tudo é "invenzione": a profusão decorativa, a desarticulação da composição, a solução do duplo frontão no coro que se anticipa à sua utilização e divulgação por Palladio; a primitiva abóbada de Miguel de Arruda, de canhão com lunetas de penetração, era ao modo da Igreja de Jesus de Roma (BRANCO).
Planta longitudinal, irregular, composta pela igreja de nave única antecedida por nártex, claustro adossado a S., dependências conventuais organizadas em redor do mesmo e torre campanário a SO. entre o claustro e a igreja. Volumes articulados, massas dispostas na horizontal. Cobertura diferenciada em telhado de 2 águas na igreja claustro e em terraço. IGREJA: fachada principal orientada, de dois registos e pano único delimitado por cunhais apilastrados dispostos angularmente; inferiormente 4 colunas toscanas, 2 adossadas, suportando entablamento; dos lados duas colunas iguais suportando idêntico entablamento; no 2º registo frontão triagular assente em pilastras angulares no prolongamento das inferiores; entre elas, de cada lado dois grandes rosetões gomeados; ao centro janelão, sobreelevado ao nível do tímpano, perspectivado, enquadrado por duas colunas jónicas, adossadas; as ombreiras da janela são constituídas por duas colunas jónicas idênticas, mas de menores dimensões, num escalonamento de volumes; verga arquitravada sobreposta de vieira estilizada; no tímpano dos lados, panóplias com mascarões; rematando o janelão pequeno frontão rasgado por óculo, com dois anjos nas vertentes e no vértice cruz de pedra sobre base rectangular; lateralmente, sobre as pilastras, quatro grandes esculturas sentadas, representando atlantes, empunhando lanças de ferro, apoiadas em globos de fogo; no friso da colunata inferior está gravada a legenda CONDITVM SVB IMPERIO DIVI JOAN III PATRIS PATRIAE *2; nartex espaçoso, lajeado por placas quadradas de granito; conserva vestígios da arquitrave e do arranque da abóbada destruída por desabamento; entrada principal, de arco pleno, com duas colunas caneladas, óculos vasados e cimalha sobrepujada por tabelas de volutas de enrolamento, em cujo dintel se lê a inscrição: VIRGINI GRATIAVM SACR: nos lados rasgam-se nichos *3 de jambas perspectivadas, envolvendo plintos, voltados ao observador, idealmente colocado ao centro do nartex. No lado N. fica a porta que comunicava ao coro, integrada no corpo primitivo da fachada, composta por pilastras de caneluras e frontão triangular ornamentado por desenho perolado. O campanário, de granito, que se atinge por escada helicoidal de cúpula semi-esférica, domina toda a fachada conventual. Compõe-se de corpo inferior, reservado a inscrição, e de espadana filipina. É construído em cantaria aparelhada, com três olhais redondos, apilastrados e rematado por frontão triangular, ladeado por pedestais encimados por esferas. A fachada principal do convento é um corpo composto por onze tramos de contrafortes agigantados, de pedra, em andares. Um friso recticulado, clássico em toda a fachada do edifício. Ainda na fachada principal vê-se o corpo correspondente ao pavilhão do Noviciado, Dormitório dos teólogos e Enfermaria, com cobertura de quatro águas, cunhais aparelhados. Este pavilhão ocupa toda a faceira SE do edifício. INTERIOR: Igreja - nave de quatro tramos, de planta rectangular e tecto de caixotões. Cobertura interior nivelada, da nave à capela-mor. No alçado do lado do Evangelho e no primeiro tramo a partir do presbitério, uma fresta de volta redonda. No alçado S. do coro e de acesso à portaria, rasga-se um portal granítico e, na correspondência do piso alto, uma janela arquitravada, actualmente cega. Capela-mor, antecedida de arco triunfal de mármore com proporções exageradas relativamente à escala do interior do edifício; planta quadrangular e cobertura em abóbada. Duas janelas na parede fundeira e uma na lateral N. de mármore trabalhado em baixos-relevos, com colunelos coríntios, estriados, de tabelas perspectivadas com elementos esculpidos losângicos, circulares e rectangulares e uma série de cabeças humanas com ornamentação bélica e triunfal e mítica, numa obra artística da renascença. As duas janelas do fundo estão centradas pela cruz de Cristo. O altar-mor tem friso ornamentado por panóplias simples. O claustro, de planta rectangular, tem três tramos por lado, de arcos geminados, de volta perfeita, emoldurados de colunas toscanas no piso térreo e de colunatas arquitravadas no piso superior. Os tramos são marcados por fortes pilastras de andares, salientes, de cantaria aparelhada. Decoração de ornamentos clássicos de caneluras, triglifos e métopas no primeiro andar. Ligados ao corpo do claustro existem a sacristia, sala do capítulo e refeitório, dependências renascentistas. A sacristia, ligada à capela-mor apresenta a porta de granito de padieira horizontal e jambas emolduradas, sendo iluminada no interior por janelas rectangulares de cantaria. Tem planta rectangular, alongada, de quatro tramos e cobertura em abóbada com nervuras cruzadas formando caixotões geométricos. O refeitório, a S. ao fundo do claustro e em plano inferior, é antecedido por sala quadrangular de alto pé direito e cobertura em abóbada artesonada crescente de mísulas de chanfros ornamentados por volutas com enrolamento. O salão, actualmente ocupado pela sala de convívio da Messe dos oficiais, tem planta rectangular, é iluminado por janelas de chanfraduras quinhentistas, com cobertura em abóbada de seis tramos e artesonado idêntico ao da sala antecedente; escadaria de acesso ao piso superior, com paineis de azulejos padronados monocromos. Junto à portaria fica o Capítulo. O Dormitório ocupa o corpo do primeiro andar do edifício; compõe-se da galeria em planta de cruz latina no sentido N. - S., com tecto em abóbada de berço, iluminada por grandes janelas de sacada gradeadas, com término no ante coro da igreja, dependência de planta octogonal com cobertura hemisférica decorada por caixotões geométricos assentes em arcos de volta perfeita.
Materiais
Alvenarias rebocadas e caiadas, cantarias em granito e mármore, madeira nas caixilharias dos vãos, retábulos de altares, cobertura interior da igreja, telhas cerâmicas na cobertura exterior.
Observações
*1 - em estudo no IPPAR o alargamento da classificação ao convento e corpo da igreja; *2 - os dois frontões eram ornamentados nos frisos por pequenas rosetas, sistemeticamente removidos em época indeterminada, mas talves cumprindo alguma determinação inquisitorial de quem achasse a fachada demasiado festiva; a cruz da frontaria foi refeita recentemente; *3 - os plintos continham as imagens de Santo Agostinho e de Santa Mónica.