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Bairro Alto de São Roque

Bairro Alto de São Roque

O ponto de interesse Bairro Alto de São Roque encontra-se localizado na freguesia de Misericórdia no municipio de Lisboa e no distrito de Lisboa.

Sector urbano. Bairro resultante de expansão urbana quinhentista, implantado extra-muros, junto a uma porta da muralha e caracterizado por traçado quase ortogonal decorrente de duas fases distintas do processo de urbanização. A malha ortogonal apresenta o quarteirão como unidade fundamental da estrutura urbana. O traçado é organizado com base num esquema hierarquizado de ruas e travessas: as ruas, eixos estruturantes perpendiculares ao rio; e as travessas, eixos secundários paralelos ao rio. A matriz do loteamento reflecte a persistência do uso da unidade do cadastro medieval designada por chão; a divisão e multiplicação desse módulo origina variações na tipologia arquitectónica. O espaço construído é dominado pelo tipo de habitação implantada em lote estreito e alongado, com 3 ou 4 pisos, composição assimétrica da fachada, com janelas de sacada ao nível dos vários andares, vãos alinhados, escadas de tiro junto à empena lateral e telhados de 2 águas, com introdução frequente de águas-furtadas. Embora menos representativo, o edifício pombalino assegura a sua presença, introduzindo essencialmente modificações ao nível da composição das fachadas. Embora permitindo diversos graus de variação tipológica no desenho das fachadas, a repetição de certos elementos, como o cunhal, a janela de sacada e a janela de peitoril, o beirado e as águas-furtadas, asseguram uma imagem de homogeneidade às frentes urbanas. Conjunto urbano de extrema importância no contexto da cidade de Lisboa, e até mesmo no contexto nacional, na medida em que ainda hoje mantém a estrutura fundiária inicial, representativa de um processo de urbanização iniciado e concluído no século 16, numa zona exterior adjacente à cerca fernandina, operação essa formalizada através de um traçado quase ortogonal. O conjunto continua a apresentar uma clara identidade na malha urbana, sendo as intervenções contemporâneas muito pontuais, não interferindo de modo decisivo na imagem global do bairro. Apesar de não se identificar grande variedade nos elementos arquitectónicos, nem mesmo ao nível da tipologia de habitação, o conjunto não se revela monótono, pois todas as modificações sofridas ao longo dos séculos transformaram o bairro num quadro infinito de variações sobre um mesmo tema. A clara definição dos limites deste conjunto em relação à cidade envolvente, tornou-se também num factor claro de protecção da integridade e privacidade do bairro, mantendo-o inalterado, único e original até aos dias de hoje.

Caracteriza-se por uma malha quase ortogonal composta por quarteirões de forma rectangular com uma proporção de 2 lotes de largura para 6 a 8 lotes de comprimento, em que o lado de maiores dimensões acompanha as ruas e o de menores dimensões se volta para as travessas. Esta configuração espacial não é, no entanto, patente em todo o bairro; a N. da Travessa da Queimada, os quarteirões, embora mantendo a mesma forma rectangular e uma métrica de loteamento idêntica, assumem uma configuração diferente, mostrando o lado de maiores dimensões voltado para as travessas. Esta nova orientação da malha reflecte uma maior abertura à zona de São Roque, ligada à presença da Casa Professa dos Jesuítas e marca o início da 2ª fase de urbanização do Bairro. A medida base dos lotes que compõem os quarteirões corresponde ao designado "chão" - medida agrária medieval que representa um lote com 60 palmos de comprimento por 30 palmos de largura (13,2m x 6.6m). É este o módulo que aparece nos quarteirões em que predominam edifícios dos séculos 16 e 17; nalguns casos aparecem também lotes correspondendo a meio chão, destinados a uma população de mais fracos recursos económicos. Embora menos frequente, verifica-se também a junção de mais do que um lote ou mesmo a ocupação de todo um quarteirão, como por exemplo nos casos do Palácio Andrade (v. PT031106150313) e do Palácio Ludovice (v. pt031106150051). Em intervenções posteriores, sobretudo as levadas a cabo durante o período pombalino, verifica-se o aumento dos lotes para múltiplos das medidas iniciais. O forte índice de ocupação verificado no bairro durante os séculos 17 e 18 originou grandes mudanças ao nível da configuração dos quarteirões; muitos edifícios foram aumentados, quer em altura, quer em comprimento, ocupando o espaço dos logradouros. É esta a imagem que predomina actualmente no bairro; fortemente denso, tornou-se num local sombrio, em que apenas os últimos pisos dos edifícios mais altos beneficiam de boa exposição solar. No desenho das vias que percorrem o interior do Bairro Alto, verifica-se uma hierarquia entre os eixos estruturantes (ruas), orientados no sentido N.-S., na direcção do Tejo, e os eixos secundários (travessas), perpendiculares aos anteriores e orientados no sentido E.-O. A hierarquia das vias apresenta uma clara homogeneidade em termos de escala, não havendo grande variação de dimensões das ruas para as travessas. Característica que não apresenta continuidade nas zonas adjacentes ao Bairro Alto, já que as vias definidoras dos seus limites possuem uma maior largura, como que encerrando-o e preservando o carácter de intimidade que o caracteriza. Apenas uma rua - a Rua da Rosa - percorre o Bairro de um extremo ao outro parecendo quase remeter-se para uma tradição medieval de rua direita, dividindo o bairro ao meio; de uma forma menos linear, o eixo definido pela Rua da Rosa é cruzado perpendicularmente por um outro, formado pela Rua João Pereira da Rosa (antiga Cç. dos Caetanos) e pelas Travessas dos Inglesinhos e da Queimada, dividindo o bairro em quatro zonas distintas e constituindo um reflexo das diferentes fases do processo de urbanização. É na zona a E. da Rua da Rosa que o desenho ortogonal da malha do bairro é mais perceptível; toda a zona O. do bairro - que inicialmente constituía a periferia da cidade - apresenta uma malha mais heterogénea, onde foi edificada a maioria dos edifícios de escala monumental existente no bairro. Situados na Tv. dos Inglesinhos e R. dos Caetanos, destacam-se o antigo Convento e Colégio dos Inglesinhos (v. PT031106150422) e o antigo Convento dos Caetanos, actual Conservatório Nacional (v. PT031106280715) e, no limite SO. do bairro, o Palácio Marim-Olhão (v. PT031106280515)*2. Para além de apresentar um traçado ortogonal, de algum modo marcando uma nova forma de desenho da cidade, a construção do Bairro Alto fomentou a utilização de novos padrões construtivos, na passagem do edifício de estrutura de madeira para o edifício de alvenaria com fachada plana. As casas mais antigas existentes no bairro, datadas do século 16 e 17, apresentam dois tipos de habitação: edifício baixo de rés-do-chão e 1º andar, de planta quadrada e vãos assimétricos, constituídos por pequenas janelas de peitoril; e o edifício estreito e comprido, de 3 a 4 pisos, com janelas de sacada ao nível dos diferentes andares e vãos alinhados. O primeiro tipo, de tradição mais rural foi, ao longo do tempo, substituído pelo segundo - de tradição medieval e que permitia um maior índice de ocupação -, conservando-se hoje poucos exemplos. É o segundo tipo que aparece com mais frequência e do qual ainda existem alguns exemplos, em especial na Rua da Atalaia. Pela natural evolução tipológica e pelo aumento da população residente durante o século 17, cada um destes tipos foi-se transformando, conforme as necessidades dos habitantes. O segundo tipo assimilou o primeiro, sofrendo algumas alterações ao nível da planta e da fachada, tais como a colocação das escadas junto à empena lateral, obrigando a um desenho de fachada assimétrico, em que a faixa correspondente às escadas é pouco fenestrada. Embora o Terramoto de 1755 não tenha provocado grandes estragos no Bairro, pode identificar-se um tipo especificamente associado ao período pombalino, com estrutura em gaiola, adaptando-se aos tipos mais antigos ou com soluções mistas. O prédio pombalino apresenta usualmente 4 andares com ordens de janelas diferenciadas. Ao nível da fachada, identifica-se uma simetria possibilitada pela existência de caixa de escadas central, com dois lanços opostos, e a existência de janelas na mansarda. O início do século 19 conhece o aparecimento de um novo tipo de edifício, derivado da simplificação e adulteração dos sistemas construtivos do edifício pombalino. No entanto, os prédios de rendimento do tipo "gaioleiro" não encontram grande representação no bairro, sendo mais comum, neste período, a alteração de pormenores nas fachadas dos edifícios já existentes. A construção de palacetes de gosto romântico, resultantes de uma colagem à estética arquitectónica francesa, identifica-se sobretudo nos limites N. e E. do Bairro, em especial na zona de São Pedro de Alcântara, na qual se destaca o Palacete Laranjeiras (v. PT031106150305). Apresentam uma forte valorização da fachada, com varandas salientes, gradeamentos requintados, molduras de vãos mais trabalhadas e a aplicação da linha curva, em especial no desenho das vergas das janelas e nos edifícios de gaveto. Da mesma época, existem ainda edifícios construídos como habitações operárias, organizados em vilas ou em pátios, como é o caso do Pátio do Tijolo. Constituem-se como edifícios multifamiliares de 2 a 3 pisos, com grande densidade de ocupação e pé-direito mínimo. A influência da arquitectura do séc. 20 é pouco sentida no bairro, encontrando-se apenas exemplos pontuais.

Materiais

Pedra: calcário, cal e areia, tijolo, betão armado, madeira, telha cerâmica: meia cana, lusa e marselha, ferro forjado, azulejo

Observações

*1 O conjunto inventariado também se encontra incluído na freguesia de Santa Catarina. *2 Actualmente, a circulação nas artérias interiores do Bairro Alto encontra-se condicionada, com apenas algumas vias abertas ao trânsito, nomeadamente: a Rua da Rosa, Rua Luísa Todi, Travessa do Conde de Soure, Calçada do Tijolo, Rua João Pereira da Rosa, Rua Nova do Loureiro, Travessa da Cruz de Soure, Rua dos Caetanos, Rua da Vinha, Rua de São Boaventura, Rua Luz Soriano, Pátio do Tijolo e Alto do Longo, todas elas situadas a O. da R. da Rosa.