Arquitectura militar e arquitectura financeira, manuelina, maneirista e revivalista, neo-manuelina. Edifício militar manuelino composto por torre quadrangular de 4 andares e baluarte poligonal com merlões, forma que combina a tradição medieval de torre, filiada no modelo da torre de menagem do Castelo de Vincennes, segundo Mário Tavares CHICÓ, conjugada com as novas técnicas de fortificação decorrentes do aparecimento de nova artilharia piro-balística que implicava muralhas fortes e planimetria poligonal, baseado em modelos italianos. À estrutura original foi acrescentado edifício paralelepipédico de linhas simples, maneirista, e, posteriormente, o seu espaço foi ocupado por um claustro rectangular decorado com elementos neo-manuelinos, patentes em todo o monumento, como cruzes da Ordem de Cristo, esferas armilares, rendilhados, pináculos torsos. A sua originalidade reside na implantação, estrutura e planimetría: uma torre de grande altura (30m) provida de baluarte, construída no leito do rio Tejo, nas imediações do Mosteiro de Santa Maria de Belém e da Capela de S. Jerónimo, com os quais se pode estabelecer uma relação directa a nível funcional. As guaritas são salientes e assentam em mísulas esculpidas com animais fantásticos e uma cabeça de rinoceronte, considerada a 1ª representação deste animal no mundo europeu. Ao invés de ser dissimulada na paisagem, a grande altimetria da Torre, a fragilidade e o demasiado decorativismo escultórico (maioritariamente neo-manuelino) que patenteia, não se coadunam com objectivos bélicos, transformando o monumento num dos símbolos expoentes dos Descobrimentos Portugueses. Todas as abóbadas são de tijolo exceptuando a do 4º piso da torre, construída em cantaria.
Planta composta por torre quadrangular e baluarte de forma hexagonal irregular, de flancos alongados, que se projecta para S em direcção ao meio do rio. Volumes articulados com torre verticalista e baluarte de massa horizontal. Coberturas exteriores em terraço. No ângulo NE um cais com escada protegido por pano de muro coroado de merlões piramidais dá acesso, por ponte levadiça, ao baluarte através de portal de arco pleno com decoração vegetalista e de grutescos, encimado por pedra de armas com brasão real e flanqueado por colunelos rematados por esferas armilares. O baluarte possui muralhas com jorramento onde se rasgam 17 canhoneiras quadradas, de capialços abertos para o exterior, e um óculo a N; coroamento em muro baixo com merlões em forma de escudo curvo com cruz da Ordem de Cristo a envolver terraço; nos vértices guaritas cilíndricas em ressalto, sobre mísulas zoomórficas, cobertas por domos de gomos. Caixa murária e guaritas cintadas por friso torso com grande nó a N. No interior do baluarte uma cave, com acesso por escada em caracol a N, 2 salas contíguas com abobadilhas de berço suportadas por arcos plenos de cantaria, 4 paióis e instalações sanitárias. No 1º piso casamata de pavimento lageado inclinado em direcção ao exterior e cobertura em abobadilhas de berço e de aresta com nervuras, apoiadas em arcos e pilastras de cantaria; perifericamente situam-se os compartimentos onde se rasgam as canhoneiras, de pés-direitos e angulações assimétricas, cobertos de abóbadas rebaixadas. Para o claustro abrem-se 2 arcos plenos, a N e S, e 6 arcos quebrados, a E e O, intercalados por pilares inferiormente quadrangulares, facetados a meia altura, com gárgulas, e rematados em pináculos torsos ligados por balaustrada com cruzes da Ordem de Cristo ao nível do terraço, acantonada por colunas com esferas armilares e tendo a S nicho com imagem de Nossa Senhora com o Menino. Torre a N com 4 registos marcados exteriormente por fenestrações e um adarve e, no interior, um piso inferior constituído por uma cisterna abobadada. No 1º registo, porta rectangular a S, janelas em arco pleno a E e N e guaritas nos cunhais NE e NO. No 2º, varanda a S sobre cachorrada com matacães, constituído por arcada de volta perfeita provida de balaustrada rendilhada e coberta por alpendre de cantaria; a E, N e O janelas de sacada em arco pleno com balcão de duplo-arco mainelado, sobre cachorros; nos cunhais NE e NO nichos com estátuas de S. Vicente e S. Miguel. No 3º, janelas geminadas de duplo-arco pleno mainelado, a E, N e O, e 2 janelas de arquivolta plena, torsa, com balaustrada, intercalando 2 esferas armilares e grande pedra de armas com brasão real. O 4º registo é recuado e rodeado por caminho de ronda ameiado sobre cachorrada com matacães; a N porta em arco pleno e meio óculo, a E janela de peito em arco pleno. O terraço é circundado por muro baixo com merlões piramidais e acantonado por pequenas guaritas. A O torreta cilíndrica que abriga escada de caracol que liga os pisos, embebida na caixa murária e iluminada por frestas. INTERIOR: 1º piso, Sala do Governador, com poço octogonal que abre para a cisterna, nos cantos NE e No estreitos corredores conduzem às guaritas, embebida na parede a O pequena porta de acesso à escada; no 2º, Sala dos Reis, com pequena lareira cantonal; no 3º, Sala das Audiências também com lareira. Os 3 pisos são cobertos com abobadilhas rebocadas. No 4º, Capela de pavimento lageado e cobertura em abóbada polinervada com bocetes com emblemática manuelina, apoiada em mísulas esculpidas.
Materiais
Calcário (lioz), tijolo, madeira, vidro, plástico.
Observações
*1 - contrariamente ao que a maioria dos historiadores afirmam, a Torre de Belém parece não ter sido construída com o único propósito de defesa da barra do Tejo; tal é corroborado pela sua indissimulação na paisagem, falta de protecção pelo lado N., gravoso por se localizar originariamente no meio do rio, pela sua notória fragilidade sobretudo da torre, já por si demasiado alta e dotada de uma varanda corrida na fachada S, configuração dos capialços das bombardeiras, abrindo indevidamente para o exterior e muros demasiado baixos; de facto, na documentação abundam referências como cárcere, local de quarentena e de alfândega, da qual ainda se conserva uma lápide inscrita.