Jazigo construído entre 1906 e 1909, pela Misericórdia de Lisboa, para albergar os restos mortais dos beneméritos da Instituição, em revivalismo neomanuelino. Implanta-se à entrada do Cemitério do Alto de São João, em posição destacada, ladeando o eixo central de acesso à capela, em paralelo com o Jazigo do Visconde de Valmor. Possui planta em cruz grega, com cabeceira pentagonal, e fachadas em cantaria, de volumes articulados profusamente decorados, com motivos vegetalistas, cordas, a esfera armilar e cruzes, coroados por pináculos e coruchéu facetado ornado por cogulhos vegetalistas. Interiormente, estrutura-se em capela, ao nível do piso térreo, em cantaria, coberta por abóbadas de nervuras e de aresta, e cripta, abaixo do nível do solo, decorativamente mais simples, comunicando entre si por escada de caracol. Foi projetado pelo arquiteto Adães Bermudes, que realizou outras obras para a Misericórdia na mesma época, como a Sala de Extrações da Lotaria e o Museu de São Roque. Os trabalhos de cantaria foram realizados por canteiros de Coimbra, ligados à Escola Livre das Artes do Desenho e saídos da Oficina de João Machado, o qual foi responsável pela execução do relevo do portal do jazigo, representando Nossa Senhora da Misericórdia.
Planta em cruz grega, com cabeceira pentagonal, de volumes articulados, dispostos na vertical, profusamente decorados com elementos vegetalistas (flores, alcachofras, folhagens), esferas armilares, cordas, cruzes, figuras zoomórficas e efígies. Fachadas em cantaria, desenvolvidas sobre soco saliente, rasgado por frestas de arejamento, com o corpo central mais elevado que os braços da cruz, definido nos ângulos por pilares hexagonais, decorados por cabo central, integrando no topo gárgulas zoomórficas e coroados por pináculos vazados e rendilhados; o corpo central remata em cornija e platibanda vazada, ornada com cruzes de Cristo inseridas em círculos, e é coberto por abóbada sobreposta por amplo coruchéu piramidal, oitavado, vazado e coroado por cruz. Os corpos dos braços da cruz, à exceção do correspondente à cabeceira, são limitados por conjunto de três pilastras, criando edículas geminadas, de arco apontado e remate em pináculos rendilhados e de cogulhos vegetalistas, possuindo na zona inferior das edículas medalhões envolvidas em elementos entrelaçados. Estes corpos, com cobertura plana, são rematados por cornija decorada por florões e em cabo, encimada por platibanda rendilhada de acantos. Fachada principal, virada a sudeste, com portal em arco de volta perfeita, de três arquivoltas, assente em colunelos de capitéis vegetalistas, sendo a arquivolta interior polilobada, a central decorada com elementos vegetalistas e a exterior encimada por molduras com cogulhos vegetalistas, criando falso arco canopial; ao centro deste surge cartela com relevo, representando Nossa Senhora da Misericórdia. Porta em ferro, decorada com elementos geométricos circulares, flores-de-lis e uma cruz. Fachadas laterais viradas a nordeste e a sudoeste, idênticas, rasgadas por uma janela mainelada, em arco deprimido, sobre colunelos de capitéis vegetalistas, envolvidos por moldura em arco trilobado, ornado de cogulhos. Fachada posterior, voltada a noroeste, com cinco panos separados por falsos contrafortes, com gárgulas, coroados por pináculos de remate helicoidal e cogulhos vegetalistas, rematada por platibanda vazada de acantos. Nos três panos centrais abre-se uma fresta, com moldura em arco de volta perfeita sobre colunelos de capitéis vegetalistas. INTERIOR de planta em cruz grega, em cantaria, com cruzeiro separado dos braços da cruz por arcos de volta perfeita, de duas arquivoltas, sobre colunelos com capitéis vegetalistas, decorados no intradorso com florões, e cobertura em abóbada estrelada, assente em mísulas vegetalistas e pendentes trilobados, tendo os bocetes em botão e, no fecho, em florão. Pavimento em mármore, rosa e negro a formar padrão geométrico simples, com uma cruz na zona do cruzeiro. Os braços laterais da cruz têm ao centro uma janela mainelada, com vitrais de desenhos geométricos, com moldura em arco canopial sobre colunelos de capitéis vegetalistas; as faces laterais são decoradas por painel almofadado, com arco canopial. Cobertura em abóbada de arestas, sobre mísulas vegetalistas e bocete em botão. Capela-mor de planta pentagonal, com os três panos centrais rasgados por frestas, contendo vitrais com desenhos geométricos, emolduradas por arcos, de volta perfeita, e capitéis vegetalistas. Cobertura em abóbada estrelada, sobre mísulas vegetalistas, com bocetes em botão ou, no fecho, em florão. Altar de cantaria, frontalmente com três arcos trilobados sobre colunelos, de decoração distinta, com capitéis vegetalistas, e remate em friso de florões e cornija. A partir do braço lateral esquerdo acede-se à cripta, por escada de caracol, com guarda plena em cantaria. A cripta tem também planta em cruz grega, com as paredes rebocadas e pintadas de branco, estruturadas por arcos, assentes em pilares, com capitéis de cantaria decorados com romãs, e cobertura em abóbada de aresta. Três braços da cruz possuem prateleiras de suporte de caixões e, no braço onde se desenvolve a escada, possui sob essa pequena sala de arrumos. Pavimento em tijoleira de motivo geométrico.
Materiais
Estrutura em alvenaria rebocada; revestimentos parietais e trabalhos de escultura em cantaria; vitrais; portas em ferro ou madeira; pavimento em mármore e em tijoleira.
Observações