Setor urbano. Área urbana situada em encosta. Área rural medieval de jurisdição régia, com expansão moderna e contemporânea. Núcleo inicial formado junto à ribeira, crescendo no século 17 por via da fundação dos mosteiros (clarissas xabreganas e clarissas urbanistas) e do paço real. Eixo paralelo à margem do rio traçado no início do século 18, permitindo a ligação centro - periferia e o crescimento urbano em direcção a ocidente. Instalação das primeiras fábricas na época industrial junto à margem ribeirinha e ao vale, originando a construção de vilas operárias. Consolidação da malha urbana junto ao núcleo inicial, através da implantação de um bairro planeado em meados do século 20. A ribeira de Alcântara cedo se contituiu como limite natural do termo da cidade de Lisboa, depois revelando uma vocação industrial devido à força motriz dos seus caudais. Estruturação urbana conjugando a edificação de edifícios monacais e a instalação de um paço real. Integra o Bairro de Santo Amaro planeado por Frederico Ressano Garcia, mas construído em duas fases, proposto quando o engenheiro ainda trabalhava para a Câmara de Belém. Tecido urbano drasticamente interrompido pelas obras de construção dos acessos à ponte sobre o Tejo. A poente da Calçada de Santo Amaro, as quintas e terrenos foram ocupados por grandes equipamentos públicos desarticulados da malha urbana.
Área composta por malha urbana heterogénea, cuja formação se iniciou no século 17 com a edificação das casas religiosas e do paço real no sítio do Calvário. A mudança da corte para o alto da Ajuda, com o terramoto de 1755, acentuou a tendência para as famílias nobres mudarem a sua residência do centro para as quintas nos subúrbios. O grande desenvolvimento de Alcântara foi fomentado pela indústria no século 19, originando num aumento populacional exponencial que teve como consequência o aparecimento dos primeiros bairros operários e escolas comerciais. Foi neste contexto que surgiu o plano do Bairro do Calvário desenhado por Ressano Garcia e a sua posterior expansão para Santo Amaro com o loteamento do Casal do Roldão. Povoamento inicial, relacionado com o eixo viário que ligava Lisboa à Ajuda e que até ao fim do século 16 constituía a única forma de aceder por terra da capital aos subúrbios ocidentais. O eixo começava junto às portas de Santa Catarina, passava por São Bento, Rua das Janelas Verdes, Pampulha, Sacramento até Alcântara e continuava pela azinhaga, a atual Calçada da Tapada, prosseguindo pela Rua do Cruzeiro até ao rio Seco, subindo ao alto da colina onde se encontrava a ermida de Nossa Senhora da Ajuda, a sede da paróquia. O núcleo edificado cresceu junto à ponte de Alcântara e ao paço do Fiúza (v. PT031106021141), num entroncamento de três vias: estrada da Tapada, estrada do Alvito e a estrada da Fábrica da Pólvora, que davam acesso respetivamente à Ajuda, à serra de Monsanto e a Sintra. Um pouco mais distante encontrava-se o morgado da Junqueira que, a par da Quinta da Cesária dos Condes de S. Lourenço (v. PT031106021056) e da Quinta dos Condes da Ponte, constituía um território rural. No séc. 17 Alcântara ganhou uma nova dinâmica, em particular no lugar do Calvário, graças à fundação de duas casas religiosas: a primeira de freiras provenientes da Flandres (v. PT031106020229) e a segunda o mosteiro de clarissas (v. PT031106020812), que deu o nome ao sítio. A compra de uma quinta em Alcântara, junto ao mosteiro do Monte Calvário, por Filipe I, trouxe um novo interesse ao subúrbio ocidental, já que o monarca aí fez albergar um paço régio, que se situava a N. da Rua Direita de Alcântara (antiga Rua Direita do Ferrador), em frente ao largo onde se encontram as antigas cocheiras reais. No decorrer de Seiscentos outros casais e quintas foram comprados por D. João IV para a constituição da Real Tapada da Ajuda (v. PT031106021118), destacando-se entre eles a Quinta da Ninfa e do Casal do Rio Seco. No início do século 18 foi aberto o caminho até Belém pelo sítio da Junqueira (v. PT031106320747) e foi autorizado o aforamento de terras junto à estrada, muitas delas adquiridas por famílias nobres para residência de veraneio. Com o terramoto de 1755 a corte mudou-se para a zona do alto da Ajuda, reforçando a escolha feita pelos anteriores monarcas nas zonas de Alcântara e Belém. Foi a partir desta época que a indústria começou a desenvolver-se ao longo da ribeira e nos sapais em terrenos conquistados ao Tejo. A partir de meio do século 19 estabeleceram-se companhias de transporte coletivo que contribuíram em grande parte para o crescimento desta área: primeiro, a Companhia de Carruagens Lisbonense com os Americanos, que tinha uma com uma filial em Alcântara situada em terrenos dos Condes da Ponte e, mais tarde, a Companhia de Caminho de Ferro que, para além do transporte de pessoas e mercadorias, foram responsáveis pelo encanamento da ribeira e consequente salubridade de Alcântara. Neste contexto foi criada em Alcântara a primeira Escola Industrial (v. PT031106020149) e o primeiro bairro associado a uma fábrica (v. PT031106021308), para alojamento de operários e suas famílias. O aumento populacional gerou a necessidade de criar novas áreas habitacionais, tendo a Câmara Municipal de Belém promovido, nos terrenos da Quinta do Calvário cedidos pela coroa e com a orientação de Ressano Garcia, um loteamento destinado a um bairro operário, mas que foi ocupado pela classe média. O plano do bairro do Calvário foi apenas cumprido numa primeira fase, com a proposta de ruas ortogonais largas à semelhança dos loteamentos feitos na Estefânia e em Campo de Ourique; enquanto isso a segunda fase de loteamento, já executada após a extinção do concelho de Belém, começou por propor um bairro económico para a quinta do casal do Roldão, mas após dificuldades de financiamento municipal os lotes foram vendidos para prédios de rendimento, seguindo o esquema da fase anterior na ortogonalidade das ruas e no alinhamento dos quarteirões até à calçada de Santo Amaro. A O. desta calçada os terrenos e quintas foram ocupados por grandes equipamentos públicos, formando um espaço desarticulado da malha urbana. A travessia sobre o Tejo tornou necessária a expropriação de terrenos para acessos e construção da ponte, rompendo o traçado preexistente, isolando o núcleo inicial e o bairro da quinta do Jacinto. Ainda junto à tapada localizam-se dois bairros de habitação social (o Bairro do Alvito, v. PT031106020743 e o Bairro do Casalinho da Ajuda) e, ao longo da Avenida de Ceuta, situa-se a vila operária da Quinta do Cabrinha. No final do século 20 a preocupação em requalificar o espaço de fábricas desativadas, transformando-o em zonas residenciais, de comércio ou serviços, reflectiu-se em intervenções limitadas às áreas de ocupação fabril, sem articulação com o tecido urbano preexistente.
Materiais
Não aplicável
Observações