Arquitectura residencial e arquitectura agrícola, seiscentista. Quinta de recreio totalmente murada, em que se mantém a estrutura de um espaço multifuncional lúdico e produtivo, de partes programáticas e formais distintas, desenvolvendo-se em socalcos e em eixos definidos por latadas. A casa situa-se num dos topos, de planta em L irregular e dois pisos, revelando uma época de construção recuada, talvez do séc. 17, rasgada, mais ou menos uniformemente, por janelas rectilíneas ou em arco abatido, as do piso superior em sacada ou de varandim. O jardim desenvolve-se na zona posterior, onde surge um espaço relvado, um chafariz, um tanque de rega de grandes dimensões, alimentado por uma nora, e uma fonte de embrechados, semelhante à da Casa da Quinta do Conde do Lumiar (v. PT110618080797).
Quinta de planta rectangular irregular, murada, voltada a poente e organizada em socalcos, cumprindo o programa característico de uma quinta de recreio, tendo, no primeiro patamar, a casa com jardim associado, no segundo a área correspondente ao antigo pomar, actualmente com um relvado e uma estrutura amovível, destinada a eventos, e no terceiro a horta. No interior, destaca-se um eixo que atravessa transversalmente toda a quinta, que se inicia junto ao edifício termina num miradouro, em que o diferente tratamento da vegetação reforça as áreas que percorre; perpendicularmente a este e acompanhando os terraços de cada área temática desenvolvem-se outros eixos, cobertos em toda a sua extensão por uma latada, que se completam por dois eixos paralelos ao principal e que se desenvolvem pela periferia. O acesso à propriedade processa-se por dois portões que flanqueiam a fachada principal do edifício, localizado no extremo da propriedade. O do lado esquerdo é em amplo arco abatido, com moldura simples em cantaria de calcário, protegido por portão metálico pintado de verde, com postigo de acesso, na folha do lado direito. Neste mesmo lado, um registo de azulejo policromo identifica o imóvel. O portão do lado direito, bastante recuado relativamente à fachada principal, é rectilíneo, protegido por portão semelhante ao anterior. CASA com planta em L irregular invertido, com o braço mais pequeno bastante mais largo e desenvolvido, de volumetria paralelepipédica simples, evoluindo em um e dois pisos, com coberturas diferenciadas em telhados de uma, duas e quatro águas, com chaminé e águas-furtadas. Fachadas rebocadas e pintadas de rosa, rematadas por beirada dupla, que, na fachada principal, é antecedida por friso de cantaria. Fachada principal, virada a SE., percorrida por embasamento de cantaria, dividida em três panos, por pilastras toscanas da ordem colossal, as dos topos possuindo dois candeeiros em ferro, dos primeiros tempos da iluminação pública, e em dois registos por friso de cantaria. Os vãos não se distribuem de forma homogénea e todos possuem moldura saliente, em cantaria de calcário, com portas de madeira ou caixilharias do mesmo material, pintadas de branco e verde, tendo grades nas janelas do piso inferior e portadas no interior. O pano do lado esquerdo é rasgado por duas janelas de peitoril rectilíneas, em cada piso, surgindo, no central, duas janelas de peitoril semelhantes, e portão de acesso ao imóvel, em arco abatido, com porta de duas folhas com postigo. No piso superior, três janelas de sacada, com bacia em cantaria, guardas vazadas, em metal pintado de verde, formando elementos geométricos e volutados, com os vãos rectilíneos. O pano do lado direito tem porta de verga recta no piso inferior e duas janelas de peitoril no superior, ambas rectilíneas. Fachada lateral esquerda, virada a SO., percorrida por estreito passeio em calçada, onde surgem dois bancos de cantaria adossados à fachada. No piso inferior, possui duas portas rectilíneas e duas janelas de peitoril com o mesmo perfil; surgindo, no segundo piso, sacada corrida, com bacia de cantaria, assente em oito modilhões, para onde abrem duas janelas rectilíneas. Fachada lateral direita, virada a NE., de dois panos, seccionados por um dos portais de acesso à propriedade, o do lado esquerdo de dois pisos, rasgado por três janelas jacentes, dispostas em alturas distintas, surgindo, no piso superior, quatro janelas de peitoril rectilíneas e uma janela de sacada, com bacia de cantaria e guarda metálica, tendo o vão rectilíneo. O pano do lado direito, de apenas um piso, tem duas portas, uma delas em arco de volta perfeita e moldura em forma de sulco no muro, por duas janelas de peitoril e uma janela jacente. Fachada posterior cria um amplo pátio de forma irregular, tendo, na face SO., dois panos, de um e dois pisos, seccionados por porta de verga recta, ladeado por fonte do tipo nicho, que acede a um pátio mais pequeno, junto à casa, de planta quadrangular, pavimentado a calçada à portuguesa. O pano do lado esquerdo tem três portas rectilíneas e duas janelas de peitoril com o mesmo perfil. O pano do lado direito, de dois pisos, possui três portas de verga recta, a que correspondem três janelas de varandim, com guarda metálica pintada de verde. A fachada virada a NO. é marcada por uma arcada de quatro arcos abatidos, assentes em pilares, abrindo, para três deles portas de verga recta e, no segundo do lado esquerdo, túnel que liga o exterior ao pátio, marcado por dois arcos com o mesmo perfil, tendo tecto pintado de branco. No segundo piso, cinco janelas de peitoril, protegidas por caixilharias de guilhotina. A face NE. tem duas portas de verga recta, encimadas por janelas de peitoril rectilíneas, também com caixilharia em guilhotina. A face NO. do braço mais curto tem porta de verga recta, três janelas de peitoril, rectilíneas, encimadas por janela de peitoril e por janela de sacada, com bacia de cantaria, assente em três mísulas, com guarda metálica e janela rectilínea; sobre a cobertura, surge mansarda com duas janelas rectilíneas. No lado direito, ampla chaminé. A FONTE é de cantaria, composta por amplo arco de volta perfeita, assente em impostas salientes, rematado por cornija, tendo o interior com cobertura em abóbada de berço e o pano de fundo revestido a azulejo de figura avulsa, onde se insere a bica, que verte para tanque quadrangular, levemente saliente. Junto chaminé, uma NORA, em metal, sustentada por trave de madeira, onde se inicia o sistema hidráulico, que capta água do lençol subterrâneo que vem da Quinta de Monteiro Mor, transportando-a por uma caleira que alimenta um tanque, localizado no extremo S. do primeiro patamar; este comunica com as restantes áreas por um conjunto de condutas subterrâneas que alimentavam dois reservatórios localizados nos diferentes patamares (um na horta, ainda existente, outro, no patamar do pomar, já destruído). Nas imediações, fica o denominado LAGAR da Ordem de Avis, transformado em sala recuperada para apoio a realização de eventos, com as paredes rebocadas e pintadas de amarelo, pavimento em lajeado de granito e sobertura em vigamento de madeira; está constituído por dois tanques quadrangulares, as varas de madeira e a prensa. No JARDIM encontram-se alguns elementos arquitectónicos dispersos, nomeadamente um tanque de planta circular, em cantaria, de bordos boleados, encimados por gradeamento, tendo ao centro plinto de onde jorra a água. No mesmo espaço, encostado ao muro da casa anexa, uma fonte de espaldar de embrechados (conchas, vidrado cerâmico e pedras), contendo cascata, rodeado por rochas dispostas de forma natural; é formado por duas pilastras, que sustentam friso, cornija e platibanda, tendo, ao centro, as iniciais "MCS", sobrepujada, na do lado esquerdo, por estátua feminina. A cascata encontra-se envolvida por nicho em arco de volta perfeita, de onde sobressai metade de uma estrela de oito pontas.
Materiais
CASA e ANEXOS com estrutura em alvenaria mista, rebocada; modinaturas, escadas, lagar, pavimentos em cantaria de calcário; pedra de Ançã; basalto; latada com esteios de granito; pavimentos em tijoleira; cobertura exterior em telha cerâmica; azulejo tradicional; caixilharias de madeira, protegidas por vidro simples; guardas com ferro forjado e fundido; embrechados de conchas, vidrado cerâmico e pedras; nora metálica.
Observações
*1 - após um estudo executado pelo Gabinete da Divisão dos Núcleos Dispersos / Direcção Municipal de Reabilitação Urbana e com base em documentação sobre o local foi possível identificar-se o lagar pertencente actualmente à Quinta das Hortênsias como tendo sido o antigo Lagar da Ordem de Avis; de facto é sabida a presença dos freires de Avis entre o Lumiar e o Paço do Lumiar conforme atesta uma descrição quinhentista do actual palácio do Monteiro-Mor, pertencente ao antigo cartório conventual de Avis e incorporado no Arquivo Histórico do Ministério das Finanças.