Mosteiro feminino, de Clarissas de fundação seiscentista, construído ao longo dos sécs. 17 e 18, composto por igreja, zona regral e cerca, a igreja virada ao Mondego e ao terreiro de acesso, formando uma frente, onde existem a igreja, sacristia de fora e os coros, surgindo, perpendicularmente, a portaria e os corpos da hospedaria, destinada aos peregrinos. O Mosteiro Impõe-se na paisagem da margem ocidental da cidade de Coimbra, no cimo de um monte, a que se acede por caminho bastante íngreme, onde se enquadram capelas da Via Sacra, evocando um monte santo e o caminho ascendente de sacrifício até ao templo, onde se cultua, de forma muito intensa, a Rainha Santa Isabel, cujo corpo aí se encontra depositado, no retábulo-mor, simultaneamente expositivo, com trono para o Santíssimo, e relicário, guardando o corpo incorrupto da mesma. As fachadas são sóbrias, com os elementos estruturais vincadamente marcados, num esquema tipicamente maneirista, com pilastras da ordem colossal romana que descarregam o peso das coberturas interiores em abóbada, rasgadas por janelas em capialço e, na principal, portal de verga reta, mais ostensivamente decorado com tabela e escudo nacional. Igreja de planta retangular simples, com nave e capelas laterais à face, e capela-mor de pequenas dimensões, antecedida pelos coros sobrepostos. A igreja revela uma unidade impressionante do ponto de vista decorativo, estudado como um todo formal, e iconográfico, criando o efeito de um "bello composto", com as estruturas retabulares semelhantes, comportando baixos-relevos que contam episódios da vida de cada um dos oragos, que têm em comum o facto de pertencerem ao mundo dos franciscanos ou a santos de particular devoção desta Ordem, havendo uma insistência particular na devotada a São João Baptista, não verificável em outros edifícios de Clarissas; estes retábulos formam um percurso narrativo, contando as ligações entre o mundo destes místicos e o celeste, que culmina no retábulo-mor, para onde tudo converge, onde se presta devoção à Rainha Santa, cujos símbolos surgem em profusão na decoração do imóvel. Os coros têm as mesmas dimensões da nave, o inferior dividido em três naves com cobertura em abóbadas de aresta e o superior de nave única e cobertura em abóbada de berço assente em pilastras, ambos com profusa decoração de pinturas murais e estruturas retabulares maneiristas, nacionais, joaninas e algumas de talha rococó, surgindo, no alto, a tribuna do sacrário. Os coros denotam, talvez, do ponto de vista decorativo, as maiores singularidades, revelando várias campanhas de pinturas murais, desde o século 17 à decoração fitomórfica rococó, reaproveitamento de azulejos, de vários períodos e proveniências, onde se destacam alguns hispano-mouriscos, e de talha dourada, dando origem à existência, num único conjunto, de estruturas maneiristas, com acrescentos nacionais ou joaninos e mesmo com integração de tábuas quinhentistas, provenientes do primitivo mosteiro de Santa Calara-a-Velha. Possui dois órgãos, um em cada coro, com caixas acharoadas com decoração dourada, o do coro-alto mais profusamente decorado. Claustro adossado ao lado esquerdo, quadrado e de dois pisos, o inferior com arcadas onde se joga com as linhas curvas e retilíneas, sendo o segundo marcado por janelas de sacada. Reflete, também, a longa campanha de obras no imóvel, sendo construído ao longo de vários períodos artísticos e, se ostenta estrutura maneirista, com dois andares, o inferior com arcadas onde se joga com as linhas curvas e retilíneas, a solução encontrada para os ângulos, arredondados pela colocação de fontes decoradas e pelas janelas de sacada no segundo piso, denotam um esquema teatral mais barroco. Este segundo piso marcado por janelas de sacada, revelando solução pouco comum, ostenta uma série de nichos, para os quais poderia estar programada a inserção de escultura, e as fontes angulares da quadra, simbolizando os quatro rios, estando prevista uma quinta para a zona central, substituída por um monumento a Nossa Senhora da Conceição, de particular devoção dos franciscanos, os principais difusores deste culto. Na zona regral mantém-se a cisterna e o refeitório, com bancos corridos e o púlpito de leitura. A cerca possui várias capelas.
Conjunto composto pelo mosteiro, que inclui igreja, dependências monacais e hospedaria, além de construções anexas, tanto coevas da ocupação inicial (duas capelas) como resultantes da adaptação do cenóbio a complexo militar no séc. 20. O Mosteiro tem planta quadrangular irregular, prolongada por duas alas definindo um eixo N. - S.. IGREJA de planta retangular com acesso transversal e eixo longitudinal interno, composta por nave, capela-mor mais estreita e baixa, ladeada pela sacristia a E. e a sala da confraria a O..e ligada aos coros. Fachada principal virada a E., com dois de dois registos definidos por dois registos marcados por friso, rematando em platibanda, tendo, no registo da nave, a marcação das seis pilastras da ordem colossal romana, firmadas por pináculos de bola, que marcam exteriormente os cinco tramos da nave, os dois intermédios de menores dimensões. O corpo da nave tem, ao centro, portal de verga reta, ladeado por triplas pilastras toscanas que sustentam entablamento com friso marcado por triglifos, encimado por tabela retangular decorada por escudo português sustentado por dois anjos e flanqueada por pilastras jónicas e aletas volutadas, tendo, no remate, frontão de lanços com cruz no centro. No topo, cada pano é rasgado por uma janela retilínea em capialço, surgindo, no do extremo direito, uma sucessão de quatro frestas de iluminação de escada. O corpo dos coros tem quatro janelas no registo inferior e cinco no superior, surgindo, no extremo direito, uma sucessão de frestas. O volume da cabeceira é escalonado, sendo visível o corpo da capela-mor, igualmente com cinco pilastras firmadas por pináculos, marcando quatro tramos exteriores, também rasgados por janelas quadrangulares em capialço e emolduradas, com correspondência nos vãos, de estrutura simples, e estruturas arquitetónicas que marcam o corpo mais baixo da sacristia. Sobre a capela-mor, é visível uma janela termal sobre o arco triunfal. As demais fachadas encontram-se adossadas à hospedaria, claustro e dependências conventuais, sendo, no entanto visível a fachada O., rasgada por janelas semelhantes às anteriores. Deste lado S., surge um volume de três andares, com acesso pela sacristia, o inferior marcado por friso, composto por duas janelas em cada um, as do andar intermédio de sacada, protegida por grade metálica. No INTERIOR, a nave encontra-se dividida por teia balaustrada de madeira que percorre todo o perímetro e protege as estruturas retabulares, demarcando, no centro, a zona destinada aos fiéis; possui cobertura em abóbada de berço com arcos torais que descarregam sobre pilastras da ordem colossal romana, assente em frisos e cornijas, alteada no centro da parede fundeira; cada tramo divide-se em 22 caixotões. Tem pavimento em lajeado de calcário. A parede fundeira é marcada por um eixo vertical definido por pilastras toscanas colossais, composto pela grade do coro-baixo, pinturas murais representando anjos com turíbulos, uma tela a óleo representando "Santa Clara pondo em fuga a soldadesca", a grade do coro-alto, em arco abatido, e a estrutura do Santíssimo Sacramento, com dupla face gémea para a nave e para o coro-alto; a ladear a grade do coro-baixo, duas estruturas retabulares dedicadas a Gregório IX, no Evangelho, e a Santa Isabel, na Epístola, ambos encimados por duas telas a representar os Doutores da Igreja. A parede remata em entablamento contracurvo e em frontão semicircular almofadado, formando uma falsa janela termal, ladeada por quartos de luneta, refletindo, simetricamente, o esquema do lado oposto. Confrontantes, surgem duas portas de verga reta de acesso ao coro e as capelas laterais, à face, surgindo, no lado do Evangelho, as dedicadas a Santa Catarina de Bolonha, São Bartolomeu, São Pedro e Nossa Senhora da Conceição; sobre o portal, um painel representando a "Aparição de Santo António a Santa Teresa", enquadrado por estrutura de talha dourada decorada por acantos. Na parede da Epístola, cinco capelas retabulares dedicadas a São João Capristano, São Luís de Tolosa, Rainha Santa, Santo António e São Francisco. Na pilastra do segundo tramo, o púlpito quadrangular com bacia em cantaria, assente em mísula, e guarda torneada de pau-preto, em branco, com acesso por porta de verga reta, encimada por guarda-voz piramidal, sobrepujado por anjo de vulto. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas de fustes e plintos almofadados, com fecho saliente, ladeado pelos retábulos colaterais dedicados a São João Baptista e São João Evangelista, encimados por duas telas representando Doutores da Igreja. A parede remata em frontão rasgado por três janelas com vitral, representando o orago e com temática heráldica. A capela-mor, protegida por teia plena e portas centrais de madeira em branco torneada, tem cobertura em abóbada de berço em caixotões pintados com brutesco, com folhas de acanto, flores e cartelas, temática que se prolonga nas molduras das janelas e pilastras; as paredes laterais ostentam seis telas com molduras de talha dourada, sustentadas por anjos lampadários e encimadas por anjo com escudo português, representando, no lado do Evangelho, "Santa Isabel a tomar o hábito", "São Francisco dá a regra a Santa Clara", "Morte da Rainha Santa", e, na Epístola, "Trasladação das relíquias", "São Francisco recebe o privilégio do Jubileu da Porciúncula" e "D. Pedro II a beijar a mão da Rainha Santa"; sob quatro destas telas, a representação dos quatro Evangelistas. Nestas paredes, rasgam-se duas portas de verga reta, de acesso à sacristia (Evangelho) e à sala da Confraria (Epístola). Sobre supedâneo de cinco degraus centrais, com as zonas laterais protegidas por teia de madeira, surge o retábulo-mor de talha dourada e com o corpo em planta côncava, de um eixo definido por seis colunas com fuste torso e terço inferior decorado com motivos fitomórficos, assentes em mísulas, e quatro pilastras, que se prolongam em cinco arquivoltas, quatro torsas, formando o ático, onde aparece um escudo português. Ao centro, ampla tribuna com trono de cinco degraus e, na base deste, o túmulo de prata e cristal da Rainha Santa entre pilastras e com face apainelada. O acesso à tribuna processa-se por duas escadas laterais. Mesa de altar paralelepipédica, encimada por sacrário em forma de templete. A ZONA REGRAL, de planta retangular, desenvolve-se em torno de um claustro de planta quadrangular; perpendicularmente aos coros, desenvolve-se a portaria, de onde se prolonga, para N., a ala dos dormitórios; o eixo S., no enfiamento da igreja, é definido pelo edifício da hospedaria, muito extenso, e enquadrado por torreões, num dos quais se ergue o mirante, junto ao qual aparece campanário com três sineiras. O conjunto evolui em dois pisos, surgindo, ainda, uma cave e um terceiro piso existente nos torreões, de volumes articulados e com coberturas diferenciadas em telhados de duas, quatro e cinco águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por embasamento saliente, rasgadas em ritmos regulares vãos retilíneos, destacando-se os janelões que iluminam os corredores que percorrem as alas. CLAUSTRO quadrangular, com quatro alas de sete tramos, de dois andares, o inferior composto por arcadas de volta perfeita, assentes em fortes pilares quadrangulares com pilastras adossadas, enquadradas por molduras retilínea, com friso, cornija e, superiormente, seis janelas de sacada de verga reta, intercaladas com nichos envoltos por colunas jónicas e rematados em frontão triangular, encimado por pináculo de bola. A estrutura remata em balaustrada. Os ângulos da quadra encontram-se arredondados, no piso inferior, pela colocação de quatro fontes semelhantes, simbolizando os quatro rios, compostas por nicho de volta perfeita e tanque semicircular, decorado com golfinhos e, no superior, por emblemas alusivos à Rainha; no centro, oito canteiros sobrelevados relativamente às alas que convergem para o centro, onde se ergue uma coluna encimada pela imagem de Nossa Senhora da Conceição.CORO-BAIXO com acesso pela nave, alas E. e N. do claustro, esta última acedendo a um ante-coro, com três naves e quatro tramos definidos por pilares de perfil quadrangular robustos, com paredes rebocadas e pintadas de branco, coberturas em abóbadas de aresta, estas e os pilares profusamente decorados com pinturas murais de concheados, acantos, vasos floridos e ramos de rosas, e pavimento marcado, no lado Evangelho, por sepulturas cobertas por tampas epigrafadas. Na parede fundeira, a ladear a porta de acesso, de verga reta, quatro estruturas retabulares de talha dourada, dedicados ao Menino Jesus e Cristo (Evangelho) e São João Baptista e Nossa Senhora da Nazaré (Epístola); sobre a porta, um Calvário em pintura mural, envolvendo um Crucificado de vulto. Na parede testeira, a envolver a zona da grade, que forma vão de volta perfeita, dois tipos de pinturas murais, correspondendo a duas intervenções distintas, uma com flores coloridas, mais antigo, e outra com acantos enrolados pintados a dourado. O vão é ladeado por dois retábulos de talha dourada, dedicados a Santo António (Evangelho) e Santa Isabel (Epístola). Neste espaço coral, surgem, ainda quatro painéis de pinturas murais com a representação da "Natividade", "Nascimento da Virgem", "Cristo no Horto" e São Miguel, bem como dois retábulos de talha dourada e policromada, um deles dedicado à Pietà. No centro, o túmulo gótico da Rainha, tendo junto um órgão de tubos com a caixa lacada de vermelho com apontamentos dourados. Ainda no piso inferior, no lado N., o REFEITÓRIO com ante-sala onde surgem dois lavabos de cantaria e, na extremidade oposta a cozinha; com cobertura em abóbada de berço, assente em pilastras que se prolongam em arcos torais, definindo tramos; ambas as salas possuem azulejo padrão de três albarradas a azul e branco, formando silhar. O refeitório mantém os bancos de pedra adossados à parede e o púlpito de leitura. Sobre este, o espaço que serviu de primeira igreja durante a construção do mosteiro. Em frente ao refeitório, a cisterna sustentada por quatro pilares e com cobertura em abóbada. No segundo piso, o CORO-ALTO de nave única e quatro tramos, antecedido de ante-coro, encontrando-se revestido a azulejo, constituindo reaproveitamentos de vários painéis, aparecendo azulejo de padrão polícromo, figura avulsa, painéis e alguns hispano-mouriscos, com cobertura em abóbada de berço com pilastras e remates em friso e cornija. Na parede fundeira, a ladear o portal de verga reta, encimado por estrutura em talha, reaproveitando um antigo retábulo, surgem dois retábulos de talha dourada inseridos em vãos de volta perfeita com pilastras pintadas com marmoreados e motivos fitomórficos, dedicados a São João Baptista (Evangelho) e Nossa Senhora da Encarnação (Epístola). Confrontantes, maquineta em talha policromada com a Senhora da Piedade e Senhora da Boa Morte, surgindo, adossados às paredes, os retábulos dedicados à Sagrada Família, São Joaquim e Santa Ana, São João Evangelista e Senhor dos Passos. Na parede testeira, a ladear a zona da grade, com vão em arco abatido, duas estruturas retabulares dedicadas ao Calvário (Evangelho) - este envolto por azulejos azuis e brancos, onde surgem dois anjos com símbolos do martírio de Cristo e a abreviatura "IHS" (Jesus) -, e São Paulo (Epístola); sobre a grade, um sacrário, assente em nove mísulas, com guarda metálica e duas portas de acesso, em verga reta, com estrutura semelhante à face que liga à nave, encontrando-se envolvida por pintura mural a representar um coro de anjos músicos, anjos tenentes e outros com incensórios; sobre esta, surge uma imitação pintada sobre estuque de embutidos de mármore, que se prolongam em parte das paredes laterais, que decora a cornija, alteada na zona central. No centro, encontra-se o cadeiral de 78 cadeiras, dispostas em duas fiadas de 38 e duas no topo, de madeira em branco, com espaldar dividido em painéis pintados circunscritos por pilastras, marcadas por vasos floridos, tendo cenas da vida de São Francisco e de Santa Clara, santos franciscanos e clarissas; no extradorso, possui parede de apoio de alvenaria e madeira, pintadas em apainelados divididos por almofadado fingido, tendo cartelas envoltas por "ferronerie", acantos e cenas de género, paisagens e anjos. No lado do Evangelho, órgão de tubos de madeira lacada de vermelho e apontamentos dourados. No recinto do Mosteiro, encontram-se duas capelas de planta retangular e com coberturas em telhados de duas águas, uma localizada junto à ala do refeitório, e a outra na proximidade do torreão N. da ala dos dormitórios. Os edifícios propriamente militares levantam-se na área da cerca, formam uma linha descontínua de construções de N. para S. pelo lado poente da propriedade, têm planta retangular, disposição horizontal de volumes e coberturas em telhado, à exceção de um pavilhão de construção mais recente, e aproveitam os desníveis do terreno.
Materiais
Estrutura em alvenaria de calcário, rebocada e pintada; estruturas em alvenaria de tijolo e betão; cornijas, modinaturas, colunas, pilastras, pilares, pináculos, pavimentos em cantaria de calcário; túmulo medieval em cantaria de calcário; mobiliário, coberturas de madeira; retábulos, órgãos e púlpito de talha dourada e/ou pintada; silhares e painéis de azulejo tradicional; túmulo em prata e crista; grades de bronze; guardas metálicas; janelas com vidro simples; coberturas exteriores em telha cerâmica.
Observações
*1 - a ampliação passa a abranger não só o túmulo da Rainha Santa Isabel, o claustro e os coros, como todo o conjunto monástico, designadamente, o dormitório distribuído por dois pisos, o refeitório, as cozinhas e oficinas anexas, a cisterna que abastecia o espaço conventual, a capela isolada no espaço da cerca e a hospedaria.