Edifício dos Paços do Concelho desenvolvido no séc. 20 por adaptação e remodelação profunda de preexistência, com traçado denotando preocupações de reprodução de realidade construída anterior e de inserção na envolvente direta, por meio de um processo de mimetismo formal, simplificado e depurado, característico de alguma arquitetura portuguesa produzida para o interior dos núcleos urbanos consolidados nas décadas de 1950 e 1960. A demolição integral do antigo corpo sobre a Praça da República, assente sobre arcaria, e sua substituição por cópia da construção antiga, é percetível de modo claro na excessiva perfeição da intervenção, bem como em pormenores de indisfarçável contemporaneidade: o traçado exato da arcaria; a correspondência exata entre os vãos de sacada do andar nobre e as arcadas do térreo (pavimentos que, no edifício demolido, haviam sido construídos em momentos distintos e apresentavam, em consequência, métricas distintas), e entre estas e os vãos de porta de acesso ao edifício; a textura uniforme, estereotomia regular e recorte mecânico das cantarias em cunhais, guarnição de vãos, arcadas, embasamentos e faixas; e o desenho, proporção e pormenorização de vãos e caixilharias do piso térreo, entre muitos outros. O edifício erguido nas décadas médias do séc. 20 para paços do concelho de Tavira constitui um exemplo acabado de intervenção sobre um objeto patrimonial concebida em moldes anacrónicos, segundo princípios de levantamento do existente, sua eliminação e substituição por cópia, em versão aperfeiçoada e corrigida, herdados da tradição francesa oitocentista.
Observações
EM ESTUDO