Arquitectura religiosa, maneirista e oitocentista. Convento da Ordem de Cristo, de que apenas subsistem vestígios da área conventual e o transepto, capela-mor da igreja e retro-coro, dando origem a uma planta em T invertido, sendo difícil aquilatar a sua primitiva estrutura. Fachada principal executada no séc. 19, com remate em frontão triangular, com os vãos rasgados em eixo, composto por portal de verga recta e janelão rectilíneo do antigo coro-alto. Fachadas cirunscritas por cunhais apilastrados, rematadas em cornija, surgindo, no antigo transepto, frontão triangular e platibanda plena, a lateral esquerda rasgada por várias janelas rectilíneas, algumas em capialço, que permitem a iluminação intensa do interior. No topo da fachada lateral, a sineira seiscentista, de pequenas dimensões, com ventanas de volta perfeita e cobertura em domo. O interior constitui um interessante exemplar de uma igreja maneirista, com acção mecenática régia, servindo de panteão à Infanta D. Maria. Possui as paredes em cantaria, formando apainelados almofadados de várias tonalidades de calcário, tendo arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, flanqueado por retábulos colaterais de talha dourada e policroma, ambos do período barroco joanino. Apresenta coberturas diferenciadas, em aresta no cruzeiro do transepto, com os braços cobertos por abóbadas de berço, todas ornadas por elemetos apainelados cruciformes, destacando-se a cobertura da capela-mor, em caixotões, também eles com almofadados recortados, numa bicromia branca e vermelha. Esta tem as paredes divididas num jogo de vários tramos e registos, com ordens arquitectónicas distintas e vazadas por nichos com estatuária. Retábulo-mor de talha dourada, de tipologia por andares, de planta recta, dois registos e três eixos, definidos por quarteirões, compostos por painéis pintados com temática mariana. Ao centro, maquineta vazada, maneirista, com estrutura em dois andares, composto por colunas corintias, com o terço inferior ornado por grotescos, consistindo na ligação com o retro-coro, entretanto transformado em sacristia, num recurso comum na época, mas de que restam poucos vestígios, talvez o mais conseguido, o de São Vicente de Fora (v. PT031106510059). A zona conventual mantém a mole do primeiro piso da fachada principal, onde se denotam vários elementos de cantaria, portais maneiristas, em arco de volta perfeita e duplas pilastras toscanas, sendo outros em arco abatido, revelando uma reforma no final de Setecentos.
Planta rectangular simples, composta por igreja em T invertido, correspondendo ao transepto e à capela-mor da primitiva igreja, com sacristia, sineira e capelas mortuárias adossadas à fachada posterior, e pela zona conventual, rectangular, bastante ampla e muito adulterada por ocupações distintas. IGREJA com coberturas diferenciadas em telhados de duas e quatro águas, com fachadas rebocadas e pintadas de branco, flanqueadas por cunhais apilastrados colossais, assentes em plintos paralelepipédicos, rematadas em friso e cornija. Fachada principal virada a E., com três panos, o central mais elevado, rematado em frontão triangular, com painel ovalado, ladeado por almofadados no tímpano, com cruz latina sobre plinto galbado no vértice; é rasgada por portal de verga recta, com moldura dupla, flanqueado por pilastras toscanas, assentes em duas ordens de plintos paralelepipédicos, que sustentam friso e cornija; o portal encontra-se protegido por porta de duas folhas de madeira pintada de verde e almofadada, encimada por bandeira, também almofadada; sobre o portal, surge o janelão do coro, de perfil curvo e rematado em cornija com o mesmo perfil, com caixilharia metálica e vidro martelado. Os panos laterais são semelhantes, rematando em platibanda plena, rebocada e pintada de branco, com os cunhais exteriores encimados por plintos paralelepipédicos e pequenos pináculos, ostentando vestígios de duas janelas rectilíneas, actualmente entaipadas; possuem moldura recortada, prolongando-se inferiormente, formando falsos brincos. Fachada lateral esquerda, virada a S., tem o corpo do templo marcado por dois panos, o do lado direito, correspondente ao antigo topo do transepto e actual nave, com alto embasamento de cantaria, flanqueado por pilastras colossais, encimadas por plintos paralelepipédicos e pequenos pináculos, rematada em frontão triangular, que se sobrepõe a platibanda plena, rebocada e pintada de branco; é rasgada por janela rectilínea em capialço, com moldura saliente em calcário vermelho, assente em pequenas mísulas, rematada por friso, cornija e pequeno frontão semicircular; sobre esta surge óculo circular, com moldura de cantaria. O segundo pano está reentrante, protegido, no lado esquerdo, por muro com alto lambril de cantaria e cunhal em cantaria, que se adossa à torre sineira, bastante elevada, com cunhais perpianhos nas faces exteriores, rasgada por quatro ventanas em arco de volta perfeita, com remate em friso, cornija e pináculos angulares, com cobertura em domo, com pináculo no vértice; a ventana posterior apresenta moldura de azulejo em monocromia, azul sobre fundo branco, formando motivos fitomórficos e a data "1618". O pano é protegido por muro de cantaria, encimado por grades e com portão metálico no lado direito, pois desenvolve-se abaixo da cota da via pública, estando o pavimento, em lajeado de granito, alagado de água. Apresenta alto silhar de alvenaria não afeiçoada, de carácter rústico, no centro do qual se rasga nicho em arco de volta perfeita, que integra um nicho com o mesmo perfil, mas de menores dimensões, com aresta boleadas, a que se adossa tanque trapezoidal, de bordo saliente; o nicho encontra-se flanqueado por dois painéis rectilíneos, que integram arcos de volta perfeita, cegos, que centram ampla cruz latina; o do lado esquerdo possui vão quadrangular, protegido por grades metálicas; ambos estão encimados por lápides rectangulares, emolduradas e com inscrições; o silhar apresenta, ao centro, a pedra de armas da Infanta D. Maria, rodeado por cartela com concheados. Num nível intermédio, surge nicho em arco de volta perfeita e moldura rectilínea, rematando em frontão triangular, onde se integra a imagem da Virgem com o Menino, em cantaria de calcário, flanqueado por duas janelas rectilíneas, em capialço, com molduras salientes e rematadas por friso, cornija e pequenos frontões semicirculares, estando protegidas por grades metálicas. Sobre estas, corre a bacia de um balcão, sustentado por seis mísulas, que servia de acesso a uma porta de verga recta, aberta na sineira; está sobrepojado por três respiradouros e três janelas rectilíneas, com molduras salientes. Ainda na fachada lateral direita, surge um alto muro de alvenaria, pintado de creme e capeado a cantaria, com porta de verga recta no extremo direito e protegido por grade metálica, de acesso a um pequeno jardim, à primitiva fonte e ao retro-coro, hoje zona de apoio às actividades paroquiais, rasgado por porta de verga recta e moldura simples e por três janelas rectilíneas, em capialço e com molduras salientes. O acesso à fonte processa-se por escadaria de doze degraus, com cobertura em falsa abóbada de berço, e rodapé com azulejos enxaquetados e hispano-mouriscos, surgindo, na parede de topo, cinco registos de azulejos hispano-mouriscos, encimados, dispostos em forma de cruz e encimados por uma cruz latina em cantaria. No lado direito, um portal em arco apontado, encimado por um escudo e a cruz de Cristo, permitindo o acesso à fonte. Adossado a este espaço, as capelas mortuárias, formando dois panos, a do lado direito, com janela rectilínea, protegida por grades e a do lado esquerdo, reentrante, rasgada por duas portas de verga recta; no ângulo formado, surge a porta de verga recta, de acesso à primeira capela e uma janela rectilínea. Fachada lateral direita, virada a N., com o corpo do templo dividido em quatro panos cegos, o do lado esquerdo, correspondente ao antigo transepto, flanqueado por pilastras toscanas colossais, encimadas por pináculos, rematando em frontão triangular que se sobrepõe a uma platibanda plena, rebocada e pintada de branco; sucedem-se, mais baixos, o corpo da capela-mor e o do retro-coro. Fachada posterior da capela-mor rectilínea, a que se adossa o retro-coro, em empena cega. INTERIOR totalmente em cantaria de calcário, com o antigo transepto coberto por abóbada de aresta, assente em mísulas, com o pano ornado por elementos geométricos, que criam uma retícula de nervuras, tendo os braços separados por arcos de volta perfeita, com os topos seccionados em dois registos, através de friso e cornija, o inferior em cantaria de calcário lioz, e o superior com um jogo de cantarias claras e vermelhas, formando apainelados rectilíneos, que, no lado do Evangelho, envolvem a janela e o óculo e, no lado oposto, criam elementos semelhantes, falsos, com cobertura em abóbada de berço, seccionada em apainelados, ornada por elementos cruciformes; as ilhargas apresentam decoração semelhante, com apainelados e falsas portas rectilíneas, com molduras salientes, rematadas em friso, cornija e pequeno frontão semicircular, tudo rodeado por almofadas de cantaria branca. Portal axial remata em frontão triangular e está protegido por guarda-vento de madeira, encimado por pequena guarda, criando um falso coro-alto. No lado do Evangelho, surge, no topo, uma lápide alusiva ao sepultalmento da princesa D. Maria no pavimento, surgindo, no lado oposto, uma porta de verga recta, moldura simples e remate em friso e frontão triangular, de acesso a uma pequena capela funerária, com altar de calcário branco e vermelho, tendo dois túmulos, um com pedra de armas e inscrição. Arco triunfal de volta perfeita, assente em colunas toscanas, de fustes almofadados, tendo, no intradorso, três nichos sobrepostos, em arco de volta perfeita assente em pilastras toscanas e abóbada de concha, assentes em mísulas ornadas por enrolamentos; entre cada nicho, surge apainelado quadrangular, com moldura saliente e elemento circular de calcário vermelho, ao centro; no ângulo oposto da capela-mor, surge arco igual, com o mesmo tipo de decoração e com imagens de Apóstolos. O arco tiunfal encontra-se flanqueado por duas capelas, dedicadas a "São Bento dando a regra aos frades de Cristo e às freiras da Encarnação" (Evangelho) e Bom Jesus ou Santo Cristo (Epístola). Capela-mor com as paredes em cantaria de calcário lioz e vermelho, dividida em três tramos e em dois registos, o inferior sobre embasamento de cantaria, formando elementos geométricos almofadados (círculos e quadrados), marcada por quatro pilastras jónicas, mas com o terço inferior do fuste liso; o superior separa-se por friso e cornija e assenta em silhar com mesmo tipo de decoração do registo inferior, ostentando quatro pilastras de fuste liso e capitéis coríntios, rematando em friso e cornija. Confrontantes e centrais, duas capelas dedicadas à Circuncisão do Menino (Evangelho) e Sagrada Família (Epístola), estando flanqueadas e encimadas por nichos em arco de volta perfeita e abóbada de concha, com moldura rectilínea recortada e rematada por friso convexo, cornija e falso frontão, formado por enrolamentos, que centram cartela enrolada. Possui cobertura em abóbada de berço de caixotões, decorados por elemento cruciforme e almofada central, assente em friso e cornija, e pavimento em lajeado de calcário com várias tonalidades. Sobre supedâneo de três degraus, o retábulo-mor, de talha dourada, com planta recta, de dois registos, definidos por cornija, e de três eixos, formados por quarteirões; ao centro, o registo inferior é saliente, apresentando tribuna em arco de volta perfeita, com moldura côncava, com pedra de fecho e seguintes marcados, respectivamente, por querubins e anjos, contendo uma maquineta de dois andares, o inferior com três nichos vazados, o central rctilíneo e os laterais em arco de volta perfeita, divividos por colunas coríntias, com o terço inferior ornado por grotesco, assentes em dados decorados por elementos vegetalistas e querubins, as quais sustentam um friso de acantos e cornija, onde surge o segundo registo, apenas com um nicho central, de volta perfeita, assente em colunas semelhantes às inferiores, rematando em cornija. O nicho central inferior possui sacrário em forma de "tempietto", com colunas coríntias, a sustentar uma cúpula bolbosa. Nos eixos laterais, dois painéis pintados a representar a "Anunciação" (Epístola) e "Apresentação da Virgem no templo" (Evangelho). O segundo registo é separado por friso de acantos, surgindo, no segundo, três painéis pintados, o central de maiores dimensões, representando a "Aparição de Nossa Senhora da Luz", flanqueada por uma "Visitação" (Evangelho) e a "Adoração dos Pastores" (Epístola), estes sobre painel de talha, ornado por motios vegetalistas. A estrutura remata em duplo friso, o superior de querubins, e cornija, surgindo ao centro, frontão interrompido encimado por anjos de vulto, de onde arranca o ático, formado por três tondos, envolvidos por elementos de talha, com enrolamentos, querubins e, o central, por quarteirões e frontão interrompido por cartela com uma cruz; os tondos possuem pinturas a representar, ao centro, a "Coroação da Virgem", flanqueado por "Adoração dos Magos" (Evangelho) e "Apresentação do Menino no templo" (Epístola). Altar paralelepipédico, de cantaria vermelha, com almofadas negras, que emolduram seis painéis de mármore, a representar alegorias às Virtudes, sendo a banqueta de embutidos de calcário, formando acantos enrolados; o altar é flanqueado por duas portas de verga recta e moldura de cantaria, que acede ao retro-coro, com abóbada de berço, ornada por caixotões, assente em cornija saliente, sustentada por mísulas equidistantes. A maquineta do retábulo é vazada para esta dependência, que possui altar de calcário polícromo, ornado por almofadados, que se repetem em toda a paredes, flanqueado por pilastras toscanas. CONVENTO bastante adulterado, restando a fachada principal e alguns anexos no interior da propriedade. Fachada principal de um piso, com embasamento em cantaria, flanqueada por amplos cunhais em cantaria de calcário, em aparelho isódomo, e remate em cornija. Possui três pórticos, dois deles envolvidos por molduras de cantaria, sendo as paredes rebocadas e pintadas de rosa, onde se rasgam um total de vinte e duas janelas em arco abatido, com fecho saliente e as molduras de cantaria prolongando-se inferiormente, formando falsos brincos; encontram-se protegidas por grades metálicas pintadas de verde. O primeiro pórtico do lado esquerdo é em arco de volta perfeita, assente em amplas pilastras toscanas, a que se adossam pilastras da mesma ordem, de maiores dimensões, que sustentam o remate, em friso dórico e cornija. O segundo pórtico é simples e terá resultado da ampliação de um janela, sendo o terceiro em arco abatido, com a moldura escavada no muro que o envolve, de perfil recortado. Ainda na fachada principal, surge um conjunto de três janelas, envolvidas por estrutura de cantaria, todas de perfil abatido, moldura recortada e insculpida no muro, com fecho saliente, surgindo, ao centro, o vestígio de uma sacada, com bacia em cantaria, assente em cinco modilhões. Fachada lateral direita dividida em três registos por apainelados de cantaria, rasgando-se, em cada um deles, uma janela rectilínea, com moldura simples e saliente, protegida por grades metálicas, pintadas de verde. Fachada posterior bastante irregular, rasgada por vãos rectilíneos de forma desordenada.
Materiais
Estrutura em cantaria de calcário lioz ou em alvenaria calcária, rebocada e pintada; pilastras, cornijas, cruzes, modinaturas, pavimentos em calcário lioz; almofadados, lápides em calcário vermelho e azul; altar em mármore de Estremoz; retábulos de madeira; janelas com vidro simples ou martelado, em caixilharias metálicas; grades das janelas em ferro.
Observações
*1: Igreja de Nossa Senhora da Luz de Carnide (Capela-mor e Sepultura da Infanta D. Maria, Filha do Rei D. Manuel I). *2 - a do lado oposto encontra-se vazia, mas sabe-se que representavam Santa Águeda e Santa Luzia. *3 - os frontais estavam protegidos por grades de pau-santo. *4 - Pero Martins lutara nas cruzadas em África e, em 1459, em Tânger, foi aprisionado, tendo sido liberto graças à intervenção da Virgem, que lhe indicou que construísse, no lugar de Carnide, uma ermida em sua honra, num local onde já existia uma imagem sua. *5 - a igreja tinha três arcos que ligavam ao nártex, flanqueados por janelas, surgindo, no andar superior, três janelões com frontões alternados em semicírculo e triângulo, intercalados por nichos, semelhante à igreja do Hospital do Desterro (v. PT031106310398), em Lisboa, revelando uma certa filiação em São Vicente de Fora (v. PT031106510059).