Espaço verde funerário. Cemitério-Jardim de carácter pós-moderno presente na preocupação com o desenho do espaço, relativamente à sua forma, embora adotando a tipologia de socalcos, tão comum na nossa paisagem. Representa no entanto também uma rutura com a tradicional cultura cemiterial, tendo como base o conceito de cemitério anglo-saxónico, refletido na predominância de extensas áreas relvadas.
Cemitério-jardim de planta irregular implantado numa encosta orientada SE., que pela sua situação de contiguidade com uma linha de cumeada oferece vista sobre a zona NO. da cidade. É delimitado por um muro quebrado por secções de gradeamento que permitem a ligação visual com o espaço exterior. O cemitério-jardim desenvolve-se, adaptando-se à morfologia do terreno, em socalcos relvados definidos por caminhos transversais acompanhando as curvas de nível e longitudinais, que se estruturam a partir de um eixo central, cuja nomenclatura remete para a botânica*1. O espaço é caracterizado por vastas áreas relvadas pontuadas por pequenas lápides e recortadas por caminhos pavimentados em cubos rematados por lancil, ambos em pedra calcária, que percorrem o espaço. A entrada do cemitério-jardim situa-se na base da encosta, no limite SE., num amplo terreiro recortado por dois edifícios, de planta organizada em forma de cruz, que ladeiam um gradeamento com três portões. O edifício a SO. acolhe quatro salas mortuárias e uma sala ecuménica e o edifício a NE. os serviços administrativos e uma loja de flores*2. Estes dois edifícios estão implantados junto à entrada numa PRAÇA CENTRAL com um LAGO onde tem início a ALAMEDA DA ÁGUA. Esta marca o eixo central do cemitério-jardim, de direção NO.-SE., desenvolvendo-se o mesmo a SO. desta. A área a NE. da Alameda destina-se à 2ª fase do projeto que ainda não foi construída*3. Na base da encosta, numa área plana, existe uma ZONA DE ESTADIA e no extremo S. uma zona de serviços técnicos de apoio, que tem um acesso destinado apenas a funcionários a partir da Rua Rio Vouga. Os TALHÕES DE ENTERRAMENTO ocupam a encosta modelada em socalcos e no topo da encosta situa-se o MIRADOURO junto ao limite NO. e uma zona destinada a JAZIGOS no extremo O. A ALAMEDA DA ÁGUA é composta por uma extensa área de relvado e dois cursos de água, com origem em dois lagos, ambos de planta quadrangular, que descem a encosta em cascatas sucessivas, em posição simétrica, no meio dos quais existe um caminho relvado que dá acesso, na zona de menor cota a uma ILHA no centro do LAGO, cujo centro é assinalado pela presença de uma árvore, um salgueiro (Salix babylonica)*4. O LAGO encontra-se enquadrado por duas áreas relvadas e quatro bancos, dois de cada lado, orientados para o mesmo. Entre a ilha e estas áreas relvadas, os canais podem ser atravessados através de lajes retangulares em pedra calcária, entre as quais a água corre para o lago, permitindo percorre-lo em todo o seu perímetro. A SO. da PRAÇA, paralelamente aos TALHÕES DE ENTERRAMENTO, situa-se uma ampla ZONA DE ESTADIA composta por duas extensas áreas relvadas de forma retangular, separadas por um caminho longitudinal que liga a PRAÇA à zona de serviços técnicos de apoio, pontuado por bancos e freixos (Fraxinus angustifolia). Estas áreas relvadas são circunscritas por um caminho e por arbustos de alecrim (Rosmarinus officinalis), alfazema (Lavandula angustifolia), buxo (Buxus sempervirens), folhado (Viburnum tinus), loendro (Nerium oleander) e junípero-rastejante (Juniperus horizontalis) e atravessadas por caminhos transversais marcados por ciprestes (Cupressus sempervirens). Os TALHÕES DE ENTERRAMENTO situam-se nos socalcos que modelam a encosta acompanhando a topografia do terreno. O topo dos socalcos é ocupado por sepulturas, a parte frontal por jazigos e as laterais por ossários. Esta zona é delimitada lateralmente por dois caminhos, um junto ao muro limítrofe SO. e o outro junto à Alameda da Água, dos quais partem CAMINHOS LONGITUDINAIS que separam os socalcos, acompanhando o seu desenho. Ao longo destes caminhos encontram-se bancos em madeira e bebedouros e várias escadas que dão acesso aos talhões superiores. Os socalcos são atravessados por dois CAMINHOS TRANSVERSAIS ladeados por canteiros ocupados por espécies variadas como ameixoeira-de-jardim (Prunus cerasifera pissardii), jacarandá (Jacaranda mimosifolia), alecrim (Rosmarinus officinalis), alfazema (Lavandula angustifolia), buxo (Buxus sempervirens), escalónia (Escallonia rubra), folhado (Viburnum tinus), loendro (Nerium oleander) e madressilva (lonicera sp.) e pontuados por abrigos de planta quadrangular. Estes são compostos por uma área pavimentada delimitada por um gradeamento intercalado por pilares que suportam uma estrutura em metal, cujo um quarto é coberto por um pequeno telhado de quatro águas constituído por placas metálicas. Os CAMINHOS TRANSVERSAIS dividem os socalcos organizando os talhões de enterramento em secções numeradas, cujo número se encontra gravado em baixo relevo nas escadas de acesso a cada talhão. O espaço destinado às sepulturas é definido por áreas relvadas pontuadas pelas lápides de identificação, delimitadas por uma faixa plantada com diferentes espécies de árvores, arbustos e herbáceas como ameixoeira-de-jardim (Prunus cerasifera pissardii), cipreste (Cupressus sempervirens sempervirens), jacarandá (Jacaranda mimosifolia), lódão (celtis australis), olaia (cercis siliquastrum), plátano (Platanus orientalis), alecrim (Rosmarinus officinalis), alfazema (Lavandula angustifolia), buxo (Buxus sempervirens), escalónia (Escallonia rubra), folhado (Viburnum tinus), hibisco (Hibiscus rosa-sinensis) loendro (Nerium oleander), gazânia (Gazania rigens), hera (Hedera helix) e madressilva (lonicera sp.). O acesso é feito por um caminho adjacente à faixa plantada que contorna o seu limite e por caminhos transversais com ligação às escadas. A zona dos JAZIGOS PARTICULARES situa-se num pequeno cabeço que se encontra organizado por um eixo central, com origem no caminho adjacente ao limite SO., marcado por um alinhamento de ciprestes (Cupressus sempervirens sempervirens e Cupressus sempervirens horizontalis) ladeado por duas escadarias. Estas ligam os quatro níveis que compõem o cabeço, definidos por caminhos que acompanham a topografia do terreno. Na zona envolvente encontram-se exemplares de ciprestes (Cupressus sempervirens horizontalis), pimenteira-bastarda (Schinus molle), franco (Platycladus orientalis) e cambará (Lantana camara). O MIRADOURO situa-se no ponto mais alto do cemitério-jardim de onde se pode usufruir da vista sobre a cidade. Apresenta uma forma retangular e contém uma pérgula em ferro com dois bancos e ao centro um pequeno lago quadrangular ligado a uma cascata que desemboca num lago retangular situado no nível inferior que envolve o miradouro. Esta zona é destinada às sepulturas perpétuas.
Materiais
INERTES: pavimento em cubos de pedra calcária e lajetas de betão pré-fabricadas; delimitação de pavimentos em lancil de pedra calcária; muro limítrofe em alvenaria; muros de suporte e muretes em betão armado; escadas em lajes de pedra calcária com guardas em metal; gradeamento do muro limítrofe, pérgulas e abrigos em metal; bancos em betão armado com assento em laje de pedra calcária; bancos em madeira e metal; sinalética, papeleiras, candeeiros e bebedouros em metal. VEGETAIS: árvores - ameixoeira-de-jardim (Prunus cerasifera pissardii), cipreste (Cupressus sempervirens sempervirens e Cupressus sempervirens horizontalis), franco (Platycladus orientalis), freixo (Fraxinus angustifolia), jacarandá (jacaranda mimosifolia), lódão (celtis australis), olaia (cercis siliquastrum), pimenteira-bastarda (Schinus molle), plátano (Platanus orientalis), salgueiro (Salix babylonica); arbustos - alecrim (Rosmarinus officinalis), alfazema (Lavandula angustifolia), buxo (Buxus sempervirens), cambará (Lantana camara), escalónia (Escallonia rubra), folhado (Viburnum tinus), hibisco (Hibiscus rosa-sinensis) loendro (Nerium oleander), junípero-rastejante (Juniperus horizontalis); herbáceas - gazânia (Gazania rigens); trepadeiras - hera (Hedera helix), madressilva (lonicera sp.).
Observações
*1 - Ruas, Travessas e Caminhos com nomes de plantas como: Rua dos Miosótis, da Gardénia, da Magnólia, das Hortenses, da Rosa, do Jasmim, do Rosmaninho, do girassol, das Margaridas, dos Malmequeres e do Alecrim, Travessa dos Narcisos, das Azedas, da Alfazema, das Violetas e dos Lilases, Caminho das Giestas, das madressilvas e das Papoilas. *2 - este edifício foi pensado para acolher também uma loja de pedras ornamentais e adereços funerários e uma cafetaria. *3 - a 2ª fase do projeto do cemitério jardim de Carnide inclui a construção de mais talhões de enterramentos, de outra zona de jazigos particulares, de um crematório e de uma parada e duas zonas de estacionamento, do lado exterior, em frente à entrada do cemitério. Esta 2ª fase continua sem avançar de devido a problemas técnicos relacionados com uma deficiente decomposição dos corpos. Atualmente parte desta área esta a ser utilizada como depósito de automóveis pela PSP. *4 - estava prevista a construção de um monumento com base na torre de captação de energia eólica que serviria para mover a cascata. O arquiteto paisagista Júlio Moreira pretende que "o monumento reforce a carga simbólica cultural da transformação de energia".