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Núcleo urbano da vila de Óbidos

Núcleo urbano da vila de Óbidos

O ponto de interesse Núcleo urbano da vila de Óbidos encontra-se localizado na freguesia de Santa Maria no municipio de Óbidos e no distrito de Leiria.

Núcleo urbano sede municipal. Vila situada em colina. Vila medieval de fundação e jurisdição régia e posterior jurisdição senhorial (Casa das rainhas), com castelo, cerca e arrabalde. Núcleo urbano muralhado integrando alcáçova de origem muçulmana. Traçado consolidado na época medieval com importantes intervenções de rectificação no séc. 16, em especial no que se refere à Rua Direita e à Praça da Vila. Implantação em socalcos paralelos ao declive, onde se desenvolvem as ruas principais, paralelas entre si: a Rua Direita, a Rua de Cima e a Rua de Baixo. Os percursos transversais são feitos por ruas secundárias, que frequentemente são transpostas através de escadas. As ruas apresentam-se estreitas e os espaços públicos de dimensões reduzidas, à excepção da Praça da Vila ou de Santa Maria, que concentra os edifícios públicos e religiosos de maior relevância e que, tal como em Monsaraz, se abre lateralmente à Rua Direita, a qual liga a Alcáçova à Porta da Vila. É ainda na Rua Direita que se concentram as casas nobres e as casas abastadas, todas de frente larga, geralmente ocupando toda a profundidade do lote, incluindo o quintal. São de salientar as situações em que o lote é construído na sua totalidade, localizando-se o quintal e outros anexos da casa num quarteirão vizinho, obrigando a que o acesso seja feito por passadiço sobre a rua. As casas nobres, de 2 e 3 pisos, apresentam características que denunciam alguma erudição, tais como o cuidado na distribuição formal e decorativa dos diversos elementos. Com janelas de sacada, varandas de pedra e guardas de ferro a marcar o piso nobre, apresentam vãos bem ritmados, com cantaria de verga recta ou curva e cornijas em argamassa a rematar os panos de parede. Na maioria dos casos os cunhais são de pedra, sendo frequente o uso do aparelho rusticado. A casa abastada é também uma casa grande e rica, mas com uma configuração menos elaborada. Geralmente de 2 pisos e sem janelas de sacada ritmadas, apresenta com mais frequência janelas de peito. Ambas têm o piso térreo afecto a funções de apoio à habitação, adegas, lagares e cocheiras, enquanto os pisos superiores eram reservados a habitação. As casas correntes apresentam esquemas formais muito simples e de grande uniformidade. Dividem-se em dois grandes grupos, definidos pela existência ou inexistência de quintal. As casas sem quintal são em menor número e de dimensões reduzidas. Surgem por vezes adossadas à muralha ou à rocha, em zonas de maior declive. Existem situações de edifícios sem quintal, com 1, 2 e 3 frentes, com alguma concentração na Rua Direita, mas com presença pontual na restante área urbana. As casas com quintal são predominantes e têm como variantes a posição relativa da entrada. São diversos os casos em que a entrada para a casa é assegurada exclusivamente pelo quintal. Mais comuns são as situações de entrada pela casa e pelo quintal, ou só pela casa. Os quintais são murados e de carácter intimista. As suas dimensões são variáveis, mas quase sempre surpreendentemente amplas para um conjunto urbano muralhado. São de salientar dois tipos particulares de casa, que se destacam independentemente da presença do quintal, um caracterizado pela presença de escadas exteriores, outro pela integração de um passadiço sobre a rua, que prolonga o espaço privado para outro quarteirão. A organização dos volumes, a composição das fachadas e a distribuição interna das casas não reflecte especificidades relativamente a cada uma das variantes, sendo muito grande a diversidade de soluções. Também as soluções e os materiais construtivos são comuns aos vários tipos, com excepção da utilização da pedra em maior quantidade nas casas nobres e noutras situações pontuais. São de salientar as portas medievais em arco quebrado e as janelas maineladas, assim como os trabalhos de cantaria em portas e janelas dos séculos 16, 17 e 18., e os cunhais, em especial os de aparelho rusticado. São frequentes os pormenores decorativos em trabalhos de argamassa, caiados com as mesmas cores dos socos e faixas verticais, assinalando os limites do alçado das casas. Imagem urbana homogénea e de grande efeito na paisagem dada a implantação alongada da povoação fortificada no topo de uma elevação e, também, devido à fraca incidência de imóveis totalmente dissonantes; apresenta uma malha pouco densa, devido à predominância de lotes com quintal; existência de arrabaldes em época recuada (séc.12). O arrabalde principal desenvolveu-se no vale E. junto à Porta de Nossa Senhora da Graça e não junto à porta da Vila, provavelmente por aqui ter funcionado até ao séc. 17, a gafaria e a albergaria; os eixos principais de circulação na vila e de ligação ao exterior desenvolveram-se inicialmente no sentido transversal E./ O. Só a partir do séc. 17, a Rua Direita, que se desenvolve no sentido N./ S., entre a Alcáçova e a Porta da Vila, passa a ser o eixo fundamental; são notáveis as portas medievais com a verga em arco de ogiva e as portas de cantaria chanfrada, bem como a presença de cunhais rusticados; notável colecção de varandas em ferro na Rua Direita; intervenção arquitectónica contemporânea na área do castelo.

Núcleo urbano com castelo (v. PT031012040001), definido por perímetro muralhado de traçado aproximadamente triangular, sendo o maior dos lados de orientação N./ S. Inclui dois pólos de expansão extramuros, a E. e a S. As muralhas da cerca acompanham o declive acentuado do terreno e têm como pontos mais altos a alcáçova, onde se ergue o Paço do Alcaide, a N., e a e a torre do Facho, a S.. Conservam-se cinco portas e dois postigos: a Porta da Vila a S., integrando oratório, a Porta do Vale a E., que inclui a capela de Nossa Senhora da Graça, e a Porta da Talhada a O., que ligavam a vila aos três principais eixos de comunicação com o exterior. A Porta da Traição e a Porta da Cerca são as mais antigas e abrem-se na muralha da alcáçova, a primeira a O., estabelecendo a ligação inicial ao núcleo extramuros do Mocharro e ao caminho para a lagoa, e a segunda, voltada a E., de difícil acesso, que seria utilizada só em tempo de guerra. Os postigos terão surgido posteriormente, por necessidade de acessos intermédios, um dos quais a O.; outro foi aberto a E., onde se desenvolveu o arrabalde e onde existiam os poços públicos. O traçado urbano intramuros é de formação linear, estruturado por um eixo principal, a Rua Direita, que liga a Porta da Vila à Porta do Castelo e à igreja de São Tiago (v. PT031012040027) e que se desenvolve paralelamente à muralha N.. A Rua de Baixo (actual Rua Padre Antunes Tavares) acompanha a muralha no lado S. e liga a Porta da Vila à Porta do Vale. Aqui nasce a Rua Nova (actual Rua do Coronel Pacheco), que faz a ligação à Porta do Castelo, fechando o triângulo principal de circulação. Adjacente à Rua Direita, e num plano inferior a esta, no lado E., abre-se a Praça de Santa Maria, amplo espaço rectangular, actualmente arborizado, onde se erguem a igreja de Santa Maria (v.PT031012040003), a antiga Casa da Câmara (v. PT031012040029), o pelourinho (v. PT031012040002), o antigo mercado da vila (conhecido por Telheiro da Vila) e os principais edifícios de habitação senhorial. Este é o principal espaço público da vila, pensado e ordenado de forma a constituir uma zona de acolhimento e comércio, simultaneamente pólo de representação do poder político. Resultante da demolição de algumas construções, foi regularizado no séc. 16, desenvolvendo-se numa zona plana, de cota inferior à da Rua Direita. A diferença de cotas é vencida por duas rampas de larguras diferentes. Na praça, adossado ao muro de sustentação da Rua Direita, voltado à praça e no eixo do portal da igreja, encontra-se o chafariz da Vila. O pelourinho foi colocado no mesmo eixo, sobre o muro de sustentação ao nível da Rua Direita. É possível que a localização inicial do pelourinho tivesse sido fronteira à Casa da Câmara, na mesma praça. Quase paralela à Rua Direita, a Rua de Cima (actual Rua D. Antão Moniz) é estreita e irregular, mas representa um eixo fundamental na ocupação da parte alta da vila. Estes eixos desenvolvem-se em patamares paralelos ao maciço, sendo que todas as ruas secundárias que lhes são perpendiculares se apresentam estreitas e com grande declive, recorrendo em diversas situações a escadas. A Rua Josefa de Óbidos é um eixo intermédio que liga a entrada da vila ao Largo de São Pedro, espaço de forma trapezoidal, onde se encontra a igreja com o mesmo nome (v. PT031012050026), o Palácio da Vigararia (actual Câmara Municipal, v. PT031012050033) e a capela de São Martinho (v. PT031012050006). O Largo apresenta algum desequilíbrio nas proporções, sendo a área fronteira à igreja e à capela de dimensões reduzidas. A rua segue para N. em direcção ao Largo da Misericórdia, espaço rectangular de pequenas dimensões, constituindo o adro da igreja homónima (v. PT031012040028). A circulação para a Praça de Santa Maria, que se desenvolve a N. e se encontra num nível superior, é estabelecida por vários patamares de escadas. A implantação urbana ter-se-á iniciado na zona intra-muros, que até à época de ocupação muçulmana se restringiu à primeira linha da cerca ou alcáçova (SILVA, 1997), com um arrabalde exterior na encosta O., concentrado em redor de um templo, posteriormente igreja de São João do Mocharro ( actual capela de Nossa Senhora do Carmo, v. PT031012040005). A hipótese, não confirmada, da igreja de Santa Maria ter sido erguida sobre uma mesquita, significaria que o núcleo urbano muçulmano teria maiores dimensões. Com a Reconquista Cristã desenvolveu-se a O. da cerca a mouraria, e posteriormente a judiaria, ao longo de uma rua com direcção E./ O., que veio a dar origem à Calçada, posteriormente Rua Nova (actual Rua do Coronel Pacheco). Este eixo seria fundamental por ligar o núcleo do Mocharro, a Porta da Alcáçova e o vale onde corre o rio Arnóia. O espaço urbano terá sofrido uma expansão progressiva de N. para S., com o estabelecimento das duas paróquias criadas após o avanço cristão, a primeira sedeada na igreja de Santa Maria e a segunda na igreja de São Pedro. A partir dos séc. 12 e 13, desenvolveu-se o arrabalde a E. da vila, no vale mais próximo do rio Arnóia, estabelecendo a transição da zona agrícola com a vila. Era por onde se acedia aos moinhos e aos poços, onde se encontrava o açougue e onde deveriam residir e trabalhar grande parte dos oleiros e outros mestres de ofícios. Com uma estrutura irregular, formada por ruas estreitas, onde foi implantada a igreja da Ordem Terceira de São Francisco, o arrabalde era polarizado pelo largo da Fonte Nova, onde se encontra um chafariz. Deste espaço acede-se à vila intramuros pelo Postigo de Baixo ou do Poço. Do povoado O. só resta a igreja de Nossa Senhora do Carmo ou do Mocharro, pois terá sido progressivamente abandonado, a partir do séc. 15. A grande destruição provocada pelo terramoto de 1531 terá contribuído para o processo de desertificação desta área, o que levou à transferência, no séc. 17, da paróquia de São João do Mocharro para a igreja de São João Baptista (v. PT031012050043), construída no local da capela de São Vicente dos Gafos, instituída no séc. 13 junto à Porta da Vila. Desenvolve-se aqui o terceiro núcleo extramuros, de pequenas dimensões, estruturado pela Rua da Porta da Vila, antigo caminho que dava acesso à estrada que ligava Óbidos a Lisboa e a Torres Vedras. Até ao séc. 17 aí funcionou uma gafaria e a confraria do Divino Espírito Santo com a albergaria anexa, o que tornava este local numa zona marginal e de exclusão. Só após o encerramento da referida instituição este espaço terá começado a ser procurado para habitação e comércio. Numa cota superior e paralela à via de acesso à Porta da Vila, encontra-se a referida igreja de São João Baptista e a rua que leva ao cemitério. O actual Largo Prof. Mário Moreira, de forma trapezoidal, antecede a Porta da Vila e deverá ter funcionado como espaço de mercado, ainda hoje a funcionar na sua proximidade. Este espaço é limitado a E. pelo último troço visível do Aqueduto da Usseira (v. PT031012050007), antes da sua entrada no perímetro muralhado. As antigas infra-estruturas de abastecimento de água à vila marcam também de forma decisiva o espaço urbano, estando alguns dos largos mais importantes associados à existência de uma fonte ou chafariz. Desde logo, a presença marcante do já referido Aqueduto da Usseira, que liga a nascente, na Usseira, à Porta da Vila, atravessando o Vale dos arcos, e termina no representativo Chafariz da Vila (v. PT031012040036), na Praça de Santa Maria. No arrabalde, junto ao Postigo do Poço, encontra-se o Chafariz do Poço, também conhecido por Chafariz D. Maria I ou do Arrabalde (v. PT031012050017). Ainda no arrabalde, encontra-se ainda o Chafariz da Biquinha (v. PT031012050024). A área construída apresenta-se pouco densa, sendo muito significativa a presença de amplos logradouros. A Rua Direita é o único eixo formado por uma sequência regular de quarteirões rectangulares, cujo lado maior é paralelo à rua. Numa clara adaptação ao terreno acidentado e sem desenho regulador, o traçado urbano apresenta grande irregularidade e variação nas dimensões de lotes e quarteirões. O espaço construído é dominado por casa de dois pisos que, por adaptação ao acentuado declive do terreno, apresentam menos ou mais pisos para as traseiras. A Rua Direita funciona como patamar intermédio, sendo a "rua de cima" constituída fundamentalmente por muros de quintais e traseiras dos edifícios que têm frente para a primeira, tal como acontece na Rua Josefa de Óbidos. Em regra geral os edifícios apresentam vãos regulares de pequenas dimensões, guarnecidos por cantarias ou pintura com cal pigmentada, constituindo o único elemento decorativo, à excepção de situações pontuais com relevância, como chaminés e trabalhos em relevo de argamassa pintada. Salienta-se a fachada do Solar dos Aboins (v. PT031012040032), o Solar da Praça de Santa Maria (v. PT031012040034), ambos na Praça de Santa Maria, bem como o Solar dos Sanhudos (v. PT031012050048) no arrabalde e a Casa do Arco da Cadeia (v. PT031012040046), que representa um dos frequentes exemplos de casas com passadiço sobre a rua. Predominam os edifícios de habitação unifamiliar com quintal murado, muitas vezes com porta directa para a rua. Actualmente o piso térreo é utilizado para comércio ou serviços, mantendo-se os pisos superiores com uma utilização residencial. O quintal é um factor decisivo na implantação e caracterização do edificado em Óbidos. Com áreas consideráveis e em grande número, são um indício de que a densidade populacional e a pressão urbanística não deverá ter sido grande ao longo do tempo. A sua presença não é evidente no perfil das ruas, uma vez que são murados e muitas vezes desnivelados em relação à rua.

Materiais

Não aplicável

Observações

*1 - DOF: Castelo e todo o conjunto urbano da vila de Óbidos.