Arquitectura religiosa, barroca e rococó. Igreja de planta longitudinal composta por exonártex, nave, ambas elípticas, e capela-mor rectangular, com torre sineira quadrangular adossada à fachada posterior da última, interiormente coberta por falsa abóbada de berço ou cúpula e amplamente iluminada pelos vãos laterais e axial. Fachadas rebocadas e pintadas, de panos curvos ou rectos, com pilastras nos cunhais, coroadas por urnas ou pináculos, acentuando a verticalidade do imóvel, e terminadas em friso e cornija sobreposta por beirada. Fachada principal com exonártex terminado em empena contracurvada e rasgado por portal de verga abatida, encimado por espaldar recortado e alteado ao centro, encimado por janelão ovalado, ambos com molduras recortadas e interligadas. As fachadas laterais do exonártex e da nave apresentam os panos curvos rasgados por vãos de verga ligeiramente abatida e molduras com pequeno recorte ou avental segundo um esquema simétrico, embora na lateral direita se abra porta travessa com o mesmo tipo de moldura, bem como na capela-mor, de panos rectos, e na torre sineira, esta com três registos marcados por cornijas. Interior com molduras e arcos pintados a marmoreados fingidos e dourado, com coro-alto no exonártex, sobre arco deprimido, com guarda de talha vasada, policroma e dourada, nave octogonal marcada por pilastras colossais formando três panos, os centrais com duas capelas laterais em arco abatido contendo retábulos de talha rococó, de planta recta e um eixo, com decoração fitomórfica e concheados do estilo auricular, ladeados por eixo de vãos composto por portal, janela e óculo, com molduras recortadas, e paredes decoradas com pormenores de estuque ou de pintura mural a marmoreados fingidos. A capela-mor alberga retábulo rococó, de planta côncava e um eixo, com as mesmas características dos laterais. Excelente exemplar da arquitectura barroca portuguesa apresentando soluções interessantes ao nível da articulação dos vários corpos, de diferentes alturas, e do ritmo ondulante das suas fachadas, sobretudo da nave e exonártex, mas também como exemplo da arquitectura religiosa bracarense devido à opção de colocar a torre sineira adossada à capela-mor. O emprego de pilastras sobrepujadas por ânforas, a empena contracurvada, sublinhada por fragmentos de frontão, acompanhando a altura da nave, o portal e o janelão interligados e formando eixo convergente para o remate, sublinhado pela cruz de cantaria, salienta a verticalidade e monumentalidade da fachada principal, cuja plasticidade permite atribuir esta obra a André Soares. Estes aspectos, segundo Eduardo Pires de Oliveira (1993), permitem relacionar a igreja com outros imóveis da região, nomeadamente, com a Casa da Câmara de Braga (v. PT010303520123), com o Arco do Souto ou Porta Nova (v. PT010303520012), com o Santuário de Santa Maria Madalena ou da Falperra (v. PT010303280222), com o conjunto de imóveis do Largo de São Paulo (v. PT010303070056), com o Palácio do Raio (v. PT010303420027) e, com o Chafariz da Capela da Unção, cujo motivo decorativo do espaldar, provavelmente, deriva do frontão da Igreja do Bom Jesus de Matosinhos (v. PT011308060015). O conjunto de talha, geralmente atribuída a Fr. José de Santo António Vilaça, segundo Robert Smith, evidencia a influência germânica, do estilo designado por Ohrmuschelstil ou Style Auricaulaire, associado à obra de Gilles de Meissonier (1725-1730), e baseia-se nas gravuras de Pier e de Engelbrecht. Robert Smith considerou o retábulo-mor o exemplo mais original da talha do séc. 18, principalmente por se tratar do primeiro caso em que a base das colunas foi abolida, desde 1600, apesar deste esquema compositivo também surgir em Lamego. A abolição das colunas realça os perfis que rodeiam o altar e o nicho, formando ao mesmo tempo o remate. Destaca-se ainda o facto das mesas de altar parecerem parte essencial dos retábulos, graças às molduras que os enquadram. Alguns pormenores da decoração do espaldar do portal principal é reproduzido interiormente nos portais.
Planta longitudinal composta, de nave única elíptica, acedida por exonártex, igualmente elíptico, e capela-mor rectangular, com torre sineira quadrada adossada à fachada lateral direita da capela-mor. Massa de dominante vertical, volumes articulados, apresentando coberturas em telhados de três e seis águas diferenciadas, destacando-se a da nave, coroada por pináculo, e torre sineira, em coruchéu. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com embasamento escalonado de cantaria no exónartex e em aparelho irregular no resto do imóvel, cunhais apilastrados, coroados por urnas ou, na torre sineira, por pináculos piramidais, e terminadas em friso e cornija sobreposta por beirada simples. Fachada principal com exonártex terminado em empena contracurvada, superiormente decorada com fragmentos de frontão e coroada por cruz latina de cantaria sobre largo plinto, escalonado, tendo os capitéis das pilastras dos cunhais decorados com elemento recortado; é rasgada por portal de verga abatida, de fecho relevado, e moldura côncava e recortada, com pingentes laterais, encimada por espaldar recortado por linhas curvas e volutadas, rematado em dupla cornija, alteada ao centro onde forma ângulo; sobre o portal, abre-se janelão ovalado, de moldura recortada, terminada em cornija contracurvada, de fecho saliente, encimado por cartela recortada acentuando o remate da fachada. As fachadas laterais, de panos curvos, são rasgadas, no exonártex, por dois janelões sobrepostos, de verga abatida. Fachadas laterais da nave rasgadas nos topos por dois amplos janelões de verga abatida e moldura recortada inferiormente, terminada em cornija, intercalados por duas janelas sobrepostas, a superior cega, com moldura superior recortada e formando falso avental; na lateral direita, sob o primeiro janelão, abre-se portal de verga abatida, com moldura recortada, formando pingentes, e terminada em cornija abatida com elemento alteado ao centro. Na capela-mor, rasgam-se, na fachada lateral esquerda, duas janelas, de topos sensivelmente abatidos, moldurados, a da esquerda cega, e na oposta, apenas uma janela de topos abatidos, moldurada. Torre sineira, de três registos separados por friso e cornija, dos quais, o primeiro acompanha a altura da capela-mor, e o terceiro é rematada por cornija recta alteada ao centro, formando arcos canopiais, possuindo cobertura em coruchéu campaniforme de cantaria, encimado por catavento férreo; os dois primeiros registos são rasgados por janelas de verga abatida, molduradas, o segundo tem lateralmente cartela circular de cantaria, e, o terceiro, em cada uma das faces, tem ventanas em arco de volta perfeita, encimado por cartela, albergando, sino. Fachada posterior da capela-mor rasgada por duas janelas sobrepostas, a inferior rectilínea e de moldura superiormente recortada e formando avental. INTERIOR: de paredes rebocadas e pintadas de branco, excepto o coro-alto, que é pintado de rosa, pavimento em cantaria, formando axadrezado em azul e vermelho e molduras dos vãos, pilastras e arcos pintadas a marmoreado fingido a azul e com frisos dourados. No exonártex, com arco de volta perfeita sobre pilastras toscanas, inscreve-se o coro-alto, sobre arco deprimido, assente em pilastras e com chave saliente, acedido por portais de verga abatida, com moldura rematada em cornija, rasgados de ambos os lados; possui guarda de talha vazada, com elemento concheado ao centro, e órgão, do lado da Epístola; é coberto por abóbada de berço, rebocada e pintada de branco, com florão de estuque central, apoiada em cornija de cantaria. No sub-coro, o portal é protegido por guarda-vento, de madeira envidraçada, apresentando as paredes laterais rasgadas por janelões. Nave octogonal marcada por pilastras colossais, que suportam duplo friso e cornija, sobre a qual assenta tambor, baixo, igualmente facetado e com vãos ovais moldurados nos topos, sustentando a cobertura em cúpula, revestida a estuque azul e branco, dividida em apainelados por frisos fitomórficos e rectilíneos, quatro deles de forma trapezoidal com florão de acantos, envolvendo medalhão elíptico central, com representação de Nossa Senhora da Lapa, policroma, sobre glória de anjos. Nas paredes laterais da nave, rasgam-se amplos arcos de volta perfeita sobre pilastras toscanas e de intradorso com florões em almofadas, onde se inserem arcos abatidos, formando ângulo, envolvidos por moldura recortada, rematada por dupla cornija, ostentando retábulos de planta recta e um eixo, encimados por vão entrecortado, de moldura recortada inferiormente, enquadrado por decoração em estuque, sendo a do lado do Evangelho dedicada a São Gregório Magno, e, a do lado da Epístola, a São Fabiano. Nas capelas inserem-se ainda lateralmente confessionários em talha. Entre o coro e as capelas, surge eixo de vãos sobrepostos, constituído por portal com moldura superior e lateralmente recortada encimada por espaldar rectilíneo igualmente recortado, janelão de verga recta, de moldura recortada lateralmente, rematada em cornija alteada ao centro, com guarda plena de talha, sobreposta por concheados, amplo colchete central e motivos fitomórficos recortados, em talha dourada, e óculo envolvido por ornamentação fitomórfica em estuque branco. Junto às capelas no sentido da capela-mor surgem dois oratórios, em talha dourada e policroma, dedicados, o do lado do Evangelho, a Nossa Senhora de Fátima, e, o do lado da Epístola, a Nossa Senhora da Conceição. Arco triunfal de volta perfeita, conservando vestígios de pintura de marmoreado fingido a azul e frisos dourados. A capela-mor ostenta as paredes decoradas com pintura mural, formando apainelados em tons de rosa, rematadas por cornija, igualmente policroma, e rasgadas por duas portas, de moldura rematada em cornija, encimadas por janelas de verga recta, com moldura recortada superiormente. É coberta por abóbada de berço com pintura a grisaille figurando motivos fitomórficos. Na parede testeira, sobre o supedâneo, surge retábulo-mor, de planta côncava e um eixo, definido por colunas de fuste liso, profusamente decorado com elementos fitomórficos dourados, sobre grandes plintos galbados, ostentando ornamentação fitomórfica e concheados a dourado; ao centro, abre-se tribuna em arco, com moldura de fecho saliente e sobreposta por colchetes e flores, albergando trono expositivo de quatro degraus, de perfil côncavo e convexo, recortado, ornados com cornijas e concheados, coroado por resplendor com baldaquino, ostentando, no segundo, pequena imagem do orago; ático adaptado ao perfil da cobertura e composto por arco trilobado, coroado por grande cartela, igualmente recortada constituída por elementos fitomórficos; banco com cartela recortada e decorada por concheados e motivos fitomórficos. Altar tipo urna, com frontal decorada por apainelados sobrepostos, concheados e motivos vegetalistas, encimado por sacrário tipo templete, com cruz na porta.
Materiais
Estrutura rebocada e pintada; cornijas, frisos, pilastras, molduras dos vãos, pináculos, urnas, ânforas, cruzes, embasamento e pavimento em cantaria de granito; talha dourada e policroma; trabalhos de estuque; pintura mural; cobertura revestida com telha de canudo.
Observações
*1 - O arquitecto André Soares da Silva também desenhou estruturas retabulares, como no caso da Igreja de Santa Maria Madalena ou Santuário da Falperra (v. PT010303280222), em Braga, executado em 1763, cujo projecto de arquitectura também é da sua autoria. As características deste retábulo permitem relacioná-lo com outros exemplos integrados em Tibães e Bustelo (v. PT011311030019), quer do ponto de vista cronológico, quer estilístico. Neste sentido, pode dizer-se que datam os três conjuntos do período compreendido entre 1760 e 1765 e, provavelmente poderão ter sido riscados pelo mesmo artista. Todavia, a possível atribuição, a André Soares, da responsabilidade de Robert Smith, não pôde ser verificada, dado que a questão das autorias, no contexto específico da região do Alto Minho, nem sempre ser muito clara. *2 - A talha desta igreja é, geralmente, atribuída a Fr. José de Santo António Vilaça frade entalhador do Mosteiro de Tibães (v. PT010303250015), discípulo de André Soares. Segundo Robert Smith, os retábulos de Nossa Senhora da Lapa foram executados durante a segunda metade do séc. 18, mais propriamente depois da década de sessenta, apresentando características similares ao retábulo da capela dos Malheiros Reimões de Viana do Castelo, sobretudo, no que diz respeito, às superfícies pintadas fingindo pedra de cores claras, ao gosto do rococó, mas também, devido à relação entre o altar e o nicho superior. Porém, na perspectiva do mesmo autor, cada um destes conjuntos está relacionado com outros centros urbanos, ou seja, com Porto e Viseu, respectivamente. A Lapa, onde as colunas foram eliminadas proporcionando o realce da beleza fluida dos perfis que rodeiam o altar e nicho, formando ao mesmo tempo o remate, pode relacionar-se com o Porto tendo em conta o desenvolvimento decorativo dos festões de parras de uva, localizados no perfil da tribuna e repetidos na zona inferior, em conjunto com compridos ornamentos convexos, patentes nas gravuras de Pier e Engelbrecht. Em contrapartida, o facto de no retábulo da capela dos Malheiros Reimões surgirem colunas direitas ornamentadas por tarjas e fitas, ao gosto rococó, conduziu Smith a relacioná-lo com a tendência que vigorava em Viseu, mais concretamente nos retábulos de Santo António e dos Terceiros de São Francisco, na mesma época, por sua vez baseada nas gravuras decorativas de Johann Bauer e Martinus Engelbrecht. *3 - O culto de Nossa Senhora da Lapa surgiu em Portugal nos finais do séc. 15, contudo foi durante o séc. 18 que atingiu maior repercussão no país, sobretudo devido à acção de um padre missionário, oriundo do Brasil, de nome Ângelo Sequeira. Este padre pregou em várias regiões do país, tendo começado pelo Alentejo, e depois na região do Entre-Douro e Minho, chegou ao Porto no final de 1754, em 1757 esteve na cidade de Braga e, mais tarde, canalizou a sua acção para o Minho e Trás-os-Montes. A sua pregação era constituída por dois momentos, primeiro seleccionava um local ou um edifício, central e que se destacasse do todo, para colocar uma estampa de Nossa Senhora da Lapa, depois iniciava a sua pregação. Assim, progressivamente foi devolvendo a fé e, também, incutindo a devoção pela Nossa Senhora da Lapa, às populações por onde passou. Ao ponto de conseguir instituir este culto, e fazer surgir oratórios, altares, capelas e, inclusivamente, igrejas dedicados à Senhora da Lapa, embora não se tivesse a certeza de que estivesse autorizado para tal, nem esse era o seu propósito, em alguns casos esteve envolvido na criação dos mesmos. Porém, a aceitação da sua pregação foi enorme, e onde quer que fosse possível prestar culto à Senhora da Lapa, as receitas da Igreja aumentavam consideravelmente. Fenómeno reconhecido pela hierarquia da Igreja e que bastou para que, em Braga, fosse concedido a essa comunidade autonomia em relação ao pároco local, ficando a Igreja com uma jurisdição sobre a mesma, cujos parâmetros se assemelhavam à que detinha sobre os santuários. A partir de então a criação de altares, capelas e igrejas invocando a Senhora da Lapa, foi proliferando por toda aquela região, bem como o culto foi tocando devotos dos mais diversos quadrantes sociais. *4 - A Igreja de Nossa Senhora da Lapa foi edificada sobre uma Capela dedicada a São Brás, demolida aquando da obra para a nova igreja, sendo que a área urbana em que estava integrada seria, na época, muito importante no movimento de romarias na região, implicando melhoramentos ao nível das infra-estruturas, que de certo modo determinaram a construção dessa malha urbana. Para a sua formação contribuiu em grande medida a construção de uma ponte sobre o rio Vez, num período indeterminado, mas que, segundo Félix Alves Pereira, se julga anterior ao séc. 14, cuja função seria facilitar o acesso quer à Feira do Ladário, quer facilitar a circulação da Galiza para a Feira de Ponte de Lima. Por conseguinte, o aglomerado populacional de Valeta / Baleta, pertencente à freguesia de Vila Fonche, situado nas margens do rio Vez, foi progressivamente aumentando os seus limites e construindo a estrutura urbana em que, na actualidade, se integra a Igreja de Nossa Senhora da Lapa. Daí que se estendesse desde a Igreja do Espírito Santo, até à estrada de Monção, incluindo o actual Jardim dos Centenários, primitivamente campo da feira, bem como o Largo onde foi edificada esta Igreja, que inicialmente era designado por Largo de São Brás, topónimo relacionado com a existência de uma capela dedicada a esse santo. A qual estava, na época, integrada na rota da espiritualidade das populações, sendo por isso objecto de romarias bastante importantes *5 - Dof.: ... retábulos e grades.