Liceu Nacional projetado e construído na década de 40, no âmbito do "Programa de construções, ampliações e melhoramentos de edifícios liceais", o designado "Plano de 38". Obedece, grosso modo, ao "Programa Geral para a Elaboração dos Projectos dos Liceus", programa base definido pela Junta das Construções do Ensino Técnico e Secundário (JCETS), no qual são estabelecidas as exigências e as características espaciais que os liceus devem observar, definindo a representação espacial da organização curricular, os diferentes grupos de serviços existentes (administrativos, escolares, especiais, de educação física, comunicações e diversos), e as dependências necessárias para cada um, com referência à sua posição relativa, dimensões e materiais a empregar, iluminação e exposição solar, e acessibilidade. Assim, os edifícios liceu desenvolvem-se em dois ou três pisos, consoante a exigência da topografia do terreno. Em termos programáticos os espaços relativos aos serviços escolares encontram-se divididos em dois grandes grupos (um correspondente ao 1.º ciclo, e outro aos 2.º e 3.º ciclos), qualquer um deles com acesso independente a partir do vestíbulo de entrada, o que define, na maioria dos casos, uma opção por uma planta simétrica centralizada em torno deste vestíbulo, envolvido pelas dependências do serviço administrativo (secretaria, reitoria, direção dos ciclos e instalações sanitárias). Os serviços especiais, comuns aos vários graus de ensino (biblioteca, museus, sala de professores) localizam-se, regra geral, no ponto mais central do piso térreo. A distribuição das salas de aula (regulares e especiais, salas de ciências geográfico-naturais, físico-químicas, de trabalhos manuais e de desenho, e instalações para a Mocidade Portuguesa) é feita sobretudo no primeiro piso (ou nos primeiro e segundo pisos), sempre a partir do átrio de entrada seguindo o corredor lateral de distribuição. Nos topos do imóvel, ou nos pontos de inserção dos corpos com direções perpendiculares, encontram-se as escadas. É exigência do plano de estudos a existência de uma sala de aula por classe, o que faz com que a sala de aula seja a unidade organizadora do espaço, definindo a capacidade do liceu em termos do número de turmas, logo de alunos. Os requisitos apresentados para as salas de aula são: espaço retangular de 6x9 metros, com um pé-direito de 4 metros de altura; iluminação unilateral e segundo a maior dimensão da sala, assegurada por janelas localizadas a 1,20 metros acima do pavimento numa superfície correspondente a 1/5 ou a 1/6 do total do pavimento. As salas de aula regulares e os laboratórios são orientados preferencialmente para S., as salas de desenho e trabalhos manuais e os corredores para N.. O grupo de Educação Física deve assegurar uma igual acessibilidade a todos os grupo, pelo que se encontra, normalmente, numa posição axial em relação ao átrio de entrada, em acesso direto a partir deste, ou no seguimento do corredor, encerrando o circuito interno. Destaca-se da restante composição, quer pela sua volumetria, quer pela diferença na abertura dos vãos de iluminação, onde existe uma maior liberdade do que para as restantes salas. O programa base previa ainda a existência de uma entrada independente para este espaço e o contacto direto com os campos de jogos (exteriores) que o complementam e cuja área deve permitir a realização de atletismo, ginástica ao ar livre e jogos de grupo. A organização do espaço exterior do imóvel, localizado dentro de recinto murado, diferencia as zonas de circulação, as áreas ajardinadas e de recreio e os espaços reservados à prática desportiva. Os edifícios construídos ao abrigo deste programa base apresentam um cariz monumentalista, reforçado por elementos historicistas. A fachada principal é revestida a pedra e rematada com frontões. O edifício do Liceu Nacional de Gil Vicente obedece, grosso modo, a este programa base, apresentando como principal diferença a assimetria da construção, que se prolonga para E., remetendo o grande pátio aberto para esta direção. Esta assimetria, assumida como forma de responder, a baixo custo, à irregularidade do terreno, conduz a uma deslocalização da fachada principal para a direita, a O., ficando, assim, o átrio também deslocado nesta direção. Desta forma, a divisão entre os dois blocos letivos é feita, não a partir do átrio de entrada, mas a partir do grande pátio que centraliza o conjunto. Também os serviços especiais, comuns aos vários graus de ensino, se encontram dispersos pelos pontos centrais dos primeiro e segundo andares de ambos os blocos letivos. As instalações desportivas ficam localizadas a eixo face ao pátio e não ao átrio de entrada no edifício. Por último, o que justifica a própria assimetria do edifício, ao contrário da maioria dos edifícios liceu construídos ao abrigo do referido plano, o Liceu Nacional de Gil Vicente não foi construído em área de expansão urbana, mas antes na antiga cerca do Mosteiro de São Vicente de Fora, na propriedade rústica adjacente às suas antigas instalações, reservada oficialmente para o efeito desde 1931, integrado na malha urbana preexistente.
Conjunto de planta poligonal irregular, composta por vários corpos retangulares, de dois a três pisos, articulados entre si. O edifício original encontra-se estruturado a partir de dois grandes blocos retangulares, paralelos, correspondentes a conjuntos de salas de aula, ligados por um terceiro corpo, igualmente retangular, perpendicular aos primeiros, que com estes forma um grande pátio que serve de ligação entre os dois blocos letivos, de recreio e de acesso exterior ao pavilhão gimnodesportivo. O CORPO PRINCIPAL localiza-se a N. e é composto por três blocos contíguos, desenvolvidos na direção E.-O.. O primeiro, a E., é composto por um módulo quadrangular saliente, que forma um torreão, o segundo é mais recuado e de menor profundidade e o terceiro, a O., mais saliente e com maior profundidade, contempla a original entrada principal do edifício. Tem coberturas em telhados de duas, três e quatro águas. O acesso ao edifício, feito a partir da Rua da Verónica, foi remodelado na última campanha de obras. Muito embora se mantenha a grande fachada de aparato, antecedida por uma escadaria monumental, a entrada principal foi deslocalizada para O., sendo servida, exteriormente, pelo portão desta direção. As fachadas do edifício principal são rebocadas e pintadas, rematadas por cornija de alvenaria simples e percorridas por soco de pedra. Os vários panos de fachada são separados por cunhais de pedra e rasgados por janelas retilíneas com moldura de alvenaria simples. A fachada principal, virada a N., é marcada no lado esquerdo pelo torreão, que se encontra a uma cota inferior à da restante fachada e é centralizado por três grupos de três janelas a assinalar cada um dos três pisos. A face virada a O., que forma ângulo com o corpo imediato, é cega. O segundo bloco, o mais comprido, tem hoje, justaposta, uma nova construção que lhe cria um novo piso, ao nível da cave. Esta nova construção, de forma cúbica, apresenta a fachada revestida a gradeamento branco, centralizada por amplos envidraçados. Num plano mais recuado surge o edifício original, mostrando dois panos de fachada, de dois pisos, contendo, o do lado esquerdo, sete janelas em cada piso. O pano do lado direito, mais estreito, corresponde a uma zona de circulação vertical, encerrando uma caixa de escadas, o piso térreo tem uma porta, encimada por janela quadrangular. Forma ângulo com o terceiro corpo, tendo, na face E., uma janela em cada piso. O terceiro corpo tem três panos, o central revestido a pedra e rematado em frontão triangular ornado por um baixo-relevo representando o escudo de Portugal. O piso térreo é rasgado por um portal com moldura de alvenaria simples, encimado por sete mísulas que suportam uma sacada com guarda balaustrada de ferro, centralizada pelo mastro para a bandeira nacional. É ladeado por dois panos simétricos, cada um deles rasgado por cinco janelas retangulares no primeiro piso, a que correspondem cinco janelas quadrangulares, maiores do que as anteriores, no segundo. A fachada lateral esquerda é constituída por dois panos de três pisos, o do lado esquerdo recuado e o direito, parede lateral do torreão, com três janelas quadrangulares no extremo esquerdo; o piso inferior é marcado por friso de cantaria. A fachada lateral direita evolui em dois pisos e é rasgada por um grupo de três pequenas janelas quadrangulares colocadas no topo de cada piso, no lado esquerdo, e, ao centro, uma janela quadrangular em cada piso. Em ambas as fachadas laterais, no lado direito, entre os segundo e terceiro pisos existe um baixo-relevo figurativo. A fachada posterior é constituída por quatro panos, um primeiro de dois pisos, rasgado por quatro janelas ao nível do teto do primeiro piso e dois grupos de três janelas retangulares no segundo. O segundo pano, também de dois pisos, é bastante mais estreito e rasgado por duas janelas quadrangulares, uma em cada piso, corresponde a uma zona de circulação vertical, com caixa de escadas. O terceiro pano, de três pisos, é constituído por uma arcada de volta perfeita no piso da cave e quatro grupos de três janelas retangulares em cada um dos restantes pisos. A arcada encontra-se atualmente fechada, sendo o seu interior aproveitado para salas de aula. Por último, o quarto pano, também de três pisos, tem um primeiro grupo de três pequenas janelas retangulares ao nível do teto do primeiro piso e um grupo de três janelas retangulares em cada um dos restantes. Perpendicularmente a este corpo surge o CORPO CENTRAL, com cobertura de duas águas, desenvolve-se no sentido S.-N., e incorpora, no primeiro piso, uma dupla arcada, hoje encerrada e aproveitada para espaço de circulação interna. Justaposto a este foi criado um novo núcleo, um retângulo, que, colocado a uma cota inferior, forma uma grande esplanada com cobertura em terraço. A fachada principal deste corpo, a E., corresponde à fachada principal do grande pátio exterior. Em primeiro plano, antecedendo a fachada primitiva, aproveitando o socalco que divide os dois níveis do pátio, surge um novo pano de fachada envidraçado, construído na última campanha de obras. Numa cota mais elevada e num plano mais recuado encontra-se, então, a fachada primitiva deste corpo central. De dois pisos, esta é formada por um único pano, rasgado, de ambos os lados (esquerdo e direito), por uma janela quadrangular, isolada, em cada piso, marcando exteriormente o espaço das caixas de escadas. Centralizam-no uma dupla arcada, formada por arcos de volta perfeita, no primeiro piso, encimada por quatro grupos de três janelas retangulares, no segundo piso. A fachada posterior deste corpo é constituída por dois panos, um primeiro, mais largo, centralizado, no primeiro piso por uma arcada formada por seis arcos de volta perfeita, encimados por nove janelas quadrangulares no piso superior. Actualmente é por esta arcada que se acede ao interior do imóvel. Nos extremos deste pano encontra-se uma janela retangular em cada piso. O segundo pano, é estreito e centralizado por um janelão de duplo pé-direito, dirá respeito à caixa de escadas. Perpendicularmente a este corpo, surge o SEGUNDO CORPO LETIVO, localizado a S., desenvolve-se no sentido E.-O., apresenta coberturas em telhado de duas e três águas. A sua fachada principal encontra-se virada a N. e é formada por dois panos. O primeiro, a E., acompanha a transição entre os dois níveis da praça, sendo o primeiro terço de três pisos e os outros dois de dois pisos, é composto por grupos de três janelas retangulares em cada piso. No final, este pano forma ângulo com o corpo central, a O., depois de novo ângulo com o corpo central, apresenta um segundo pano, mais estreito que o anterior, de dois pisos, centralizado por quatro janelas retangulares. A fachada posterior deste corpo localiza-se a S. e desenvolve-se no sentido O.-E., situa-se numa cota mais baixa, sendo de três pisos, marcados, cada um, pela existência de cinco grupos de três janelas dispostos em toda a sua largura. Adossado a este corpo, surge, a E. um pequeno módulo de galeria coberta, que estabelece a ligação interna ao PAVILHÃO GIMNODESPORTIVO, cuja planta forma um retângulo no sentido N.-S., com um quadrado no seu extremo S.. O pavilhão apresenta coberturas em telhado de duas e três águas, contando com a presença de duas chaminés, a S. A sua fachada principal encontra-se na continuidade da fachada N. do segundo corpo letivo, é composta por um único pano, de dois pisos, centralizado, ao nível do primeiro piso, por uma porta de acesso exterior e independente às instalações gímnicas, encimada, no segundo piso, por um óculo. A fachada lateral esquerda do pavilhão gímnico desenvolve-se a E., no sentido S.-N., é composta por dois panos, o primeiro ligeiramente mais recuado é rasgado, no primeiro piso, por duas pequenas janelas elevadas, apresentando uma parede cega de duplo pé-direito (parede lateral do palco que antecede o ginásio), no segundo piso. O segundo pano (ginásio) é rasgado, ao nível do primeiro piso, por nove janelas, apresentando, ao nível do segundo piso, um duplo pé-direito visível exteriormente pelos grandes janelões que o centralizam, na sua extremidade direita existe ainda uma janela quadrangular no piso térreo e um janelão de duplo pé-direito, que deixa antever um espaço de circulação vertical interior. A fachada posterior do ginásio é composta por três panos. No primeiro é visível uma porta de acesso ao exterior servida por escadas. O segundo é rasgado por três pequenas janelas retangulares junto ao teto e o terceiro é cego. Por último, na fachada lateral direita do pavilhão gímnico, a O., são visíveis dois panos, o primeiro, mais comprido é centralizado por um grupo de seis janelas retangulares sem moldura, junto ao soco surgem nove pequenas janelas retangulares. No último pano, mais estreito e ainda mais recuado são visíveis escadas para um acesso externo. Paralelamente à fachada S. foi implantado um novo espaço polidesportivo coberto. INTERIOR: atualmente acede-se ao interior do imóvel a partir da fachada posterior do corpo central (a O.), onde fica situado (por aproveitamento da dupla galeria que, originalmente, servia de recreio coberto) o novo átrio distribuidor. Este acesso ao interior resulta de uma relocalização de espaços imposta pela última campanha de obras e que alterou significativamente a leitura interna do edifício. Assim, no corpo principal, onde antes ficava situado o átrio, encontra-se hoje o espaço do museu, ao qual se acede apenas internamente, estando o portal principal encerrado. Os serviços administrativos que, originalmente, se encontravam organizados em torno deste átrio (hoje museu), estão agora confinados à área mais a O., na junção entre os corpos principal e central, tendo as salas do lado esquerdo (antigo gabinete médico, sala de espera e de tratamentos e gabinete de diretores do 1.º ciclo) sido adaptadas a salas de aula. Os primeiro e segundo pisos dos blocos E. do corpo principal são, desde a origem, preenchidos por salas de aula, de trabalhos manuais/desenho no torreão (aqui incluindo o piso da cave), e normais no segundo bloco. No piso da cave do segundo bloco deste corpo, encontram-se hoje as salas de ciências físico-químicas, para cuja instalação foi construído um novo bloco, nascido da adaptação da galeria coberta que aí existia e cuja largura transcende. No segundo piso do bloco O. do corpo principal permanece a antiga biblioteca, hoje reservada para atos solenes. O restante espaço inicialmente ocupado pelo grupo de serviços especiais é hoje utilizado por salas de aula normais. Uma das grandes apostas da última intervenção foi, justamente, a criação de um núcleo central, localizado na confluência da nova entrada principal, para a instalação dos espaços de maior utilização coletiva (biblioteca/centro de recursos, refeitório e áreas de apoio aos alunos). Esse núcleo encontra-se instalado a partir da criação de uma cave, em socalco, por baixo da antiga galeria aberta do piso térreo do corpo central, que transcende para E. Esta cave sob a galeria e parte do pátio exterior compreende três grandes áreas de utilização, a N. a cafetaria, refeitório e serviço de apoio à restauração, a S. a biblioteca/centro de recursos e o auditório. No piso térreo do corpo central encontra-se a área administrativa e de docentes e o novo átrio. A meio desta ala encontra-se um acesso, subterrâneo, direto ao exterior fronteiro à fachada O. do imóvel. Pelo átrio acede-se a uma grande esplanada que antecede o pátio. O primeiro andar mantém a sua função original, de bloco letivo, é aqui que se situam os laboratórios das ciências naturais. O segundo corpo letivo (a S.) mantém grande parte da sua funcionalidade original, sendo composto por salas de aula normais que se distribuem a partir de um corredor que estabelece a ligação, a E., à pequena galeria coberta (cave e primeiro piso) que antecede as instalações gímnicas. A única alteração da funcionalidade original neste corpo ocorre nas salas de fronte para as escadas na ligação entre este corpo e o central, que originalmente cumpriam as funções de museu e que hoje se encontram convertidas em sala de aulas. O corredor de distribuição do corpo S. liga, a E., este corpo ao antigo pavilhão gimnodesportivo através de uma pequena galeria aberta em dois níveis. O pavilhão, em dois pisos, alojava, originalmente, o refeitório no piso inferior, hoje está todo ele adaptado à prática desportiva, no que é completado por um polidesportivo coberto a S., e um campo de jogos a E..
Materiais
Estrutura em betão armado e alvenaria de tijolo, rebocada e pintada; socos, revestimentos, degraus e pavimentos em cantaria de calcário; caixilharias em madeira, vidro e metal; pavimentos interiores em linóleo.
Observações
1*A importância do evento é atestada pela presença de várias entidades oficiais, a saber: os ministros das Obras Públicas, José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich, e da Educação Nacional, Fernando Andrade Pires de Lima, o administrador delegado da JCETS, José Lancastre e Távora, o diretor geral da Fazenda Pública, António Luís Gomes, e os reitores de ambos os liceus, David Luís Ferreira Pacheco (Gil Vicente), e Francisco Júlio Martins Sequeira (D. João de Castro), de numerosos alunos e familiares, bem como pelo extenso e pormenorizado destaque na imprensa diária (Diário de Notícias, 17 janeiro 1949).