Arquitectura civil residencial, gótica. Paço condal e ducal fortificado, de planta irregular, com a forma predominante de um L, composta actualmente por três corpos rectangulares, de diferentes tamanhos, dois deles dispostos em eixo, assente em plataforma poligonal de granito. Do paço apenas restam parte das fachadas e algumas paredes interiores, assim como três dos cinco corpos que o formariam, e que se uniriam, à torre que se erguia sobre a ponte. Apresenta claramente um marcada influência militar, que se insere bem nas soluções da Idade Média tardia em que a arquitectura militar e a palaciana se tenderam a miscigenar (ALMEIDA, 1990), originalmente com remates em merlões, ligado a uma das torres da muralha que o envolvia, assente sobre plataforma de feições também militares, com panos em talude, remate em cordão e parapeito, assentuadas no séc. 19 com a colocação de merlões e bases para guaritas, que hoje em dia já não existem. As fachadas, em aparelho de granito, de dois registos, são rasgadas por portais em arco quebrado e angular e por janelas de verga recta, algumas com cruzeta e conversadeiras interiormente. No interior subsistem ainda alguns fogões de sala em granito com altas chaminés circulares. Estas características são em tudo semelhantes ao Paço Ducal de Guimarães (v. PT010308340013), também ele construído por volta da mesma altura por D. Afonso, também com inspiração em modelos do Norte da Europa, nomeadamente de França, nos remates em merlões e na forma dos altos e agudos telhados que também existiriam no paço de Barcelos e que coroariam as chamadas "casas torres". O recurso às janelas cruzetadas é uma influência claramente francesa, difundida em diversos palácios a partir do séc. 14. Esta influência poder-se-á explicar pelas viagens de D. Afonso à Europa e aos lugares santos que este havia efectuado antes de iniciar a construção do paço. O seu lugar de implantação privilegiado, que seria originalmente completamente cercado pelas muralhas, assim como o seu carácter marcadamente militar, aproveitando o morro granítico em frente à ponte e uma das principais entradas na antiga vila, levaram a que fosse considerado ao longo do tempo como "o castelo" ou "o paço fortaleza" de Barcelos, apesar desta vila nunca ter tido castelo para residência do alcaide. O Paço de Barcelos é juntamente com o Paço de Guimarães dos poucos exemplos em Portugal de arquitectura residencial do final da Idade Média, chegado até nós, com influência bastante marcada por modelos do norte da Europa. O Paço de Barcelos devido ao local onde se implanta, limitado a S. pelo rio, e a N. pela Colegiada, nunca terá tido oportunidade para se desenvolver, razão pelo qual teria ficado inacabado do lado da Colegiada e progressivamente abandonado pela Casa de Bragança, em detrimento dos seus grandes Paços em Guimarães e posteriormente em Vila Viçosa (v. PT040714030009).
Plataforma de planta poligonal, onde se erguem ao centro as ruínas do paço, de planta irregular, com a forma predominante de um L, composta por três corpos rectangulares, de diferentes tamanhos, dois deles dispostos em eixo, no sentido E. / O., no mais longo já não existem as paredes que formavam o ângulo SE., adossando-se ao extremo deste, e em parte ao outro corpo, um outro mais pequeno. Estes corpos apenas conservam as paredes até ao nível do arranque dos telhados, sendo ainda visíveis os vestígios de outros dois corpos, também rectangulares, que se adossavam a N. e a S., entre os ainda hoje existentes. Plataforma de panos em talude, de granito de aparelho rusticado, cunhais com alhetas, com porta em arco quebrado ladeada por frestas, de acesso a espaço ocupado pela Junta de Freguesia, no lado E. e lápide com inscrição, no pano S., virado ao rio. Remate com cordão e parapeitos. Paço com fachadas em granito, de aparelho isódomo, já sem remates, parcialmente destruídas, com dois registos. Fachada N. de três panos, o central com demarcação de um outro corpo já destruído, rasgada ao nível do primeiro registo, no pano do corpo destruído, por duas portas uma em arco abatido e outra mais pequena em arco angular, possuindo entre estas painel de azulejos figurativos, monocromos a azul, e no pano do extremo esquerdo por porta em arco quebrado, ladeada superiormente, pela esquerda, por outro painel de azulejos figurativos, monocromos a azul. Segundo registo com pano do extremo direito com janelão de cruzeta, pano central com três portas de verga recta, desalinhadas, e pano do extremo esquerdo com pequena janela em capialço, e três janelas, a central, desalinhada, e as laterais com cruzeta. O pano central corresponderia outrora a uma parede interior, sendo ainda visíveis os sulcos onde encaixariam as traves de suporte do soalho. Fachada O. com porta em arco angular, ladeada pela esquerda por par de janelas de verga recta, e elevado ao centro, acima destas, pano de chaminé, terminado em alto canudo em granito. A ladear a chaminé, ao nível do segundo registo, dois janelões em cruzeta. Fachada S. marcada por corpo central avançado, ladeado do lado esquerdo por pano que corresponderia a parede interior de corpo já desaparecido, também com sulcos de travejamento do soalho entre pisos, possuindo no primeiro registo porta em arco angular e mísula com carranca de guerreiro, representando o fundador mítico de Barcelos, e no segundo porta em arco em arco abatido, e do lado direito apenas vestígios do que seria outro pano, com arranque de arco quebrado junto ao corpo central. Este último apresenta no pano lateral esquerdo duas portas de verga recta em cada uma dos registos, e no pano frontal e lateral oposto, arco quebrado no primeiro registo e janela rectangular jacente no segundo, junto ao cunhal. Da fachada exterior E., já nada resta, sendo apenas visíveis as paredes que seria interiores, do corpo mais longo, com portas em arco abatido e quebrado, no primeiro piso, e os vãos das janelas, as de cruzeta, com conversadeiras, e fogão de sala, no segundo. No interior do corpo do extremo O. são ainda visíveis os sulcos de encaixe do travejamento do soalho, assim como as mísulas de suporte do mesmo e ao nível do que seria o segundo piso as conversadeiras dos janelões de cruzeta e o fogão de sala embutido na parede, com boca da lareira em arco abatido.
Materiais
Estrutura em cantaria de granito.
Observações
Numa reconstituição que a Dra. Clara Pimentel do Vale tenta fazer do paço, descreve-o da seguinte forma: Era provavelmente constituído por três zonas distintas, uma área de entrada, uma de habitação, com 10 câmaras intercomunicantes, e outra de serviço. A entrada principal era feita no corpo virado a S. por uma porta maior em arco quebrado. Neste corpo encontravam-se para além da entrada, a adega, salgadeira e armazém de géneros. Seguia-se a Sala de Armas com saída para o exterior, com acesso à zona de serviço e ao piso superior, através de uma escada com ligação para uma antecâmara que por sua vez comunicava com o passadiço que ligava à Igreja Matriz e ao Salão Nobre. O Salão nobre, o maior das 5 salas que existiriam, possuía fogão de sala, 3 janelas com conversadeiras e uma pequena janela que encimava a porta principal. Seguia-se a antecâmara que servia de quarto de vestir do Conde e de dormir dos filhos adolescentes e escudeiros. Tinha 2 janelas com conversadeiras e uma janela interior de comunicação com a câmara da dama, que tinha acesso também pela antecâmara. A câmara do Conde, mais pequena do que a da dama, era virada a S. / O., e tinha aberturas a S., pequeno balcão que confrontava com o da Torre da Ponte e 1 janela com conversadeira. A câmara da dama, que seria virada a O., possuía 3 janelas com conversadeiras e um fogão de sala. Era destinada à dama, aias e filhos menores, comunicando apenas com a câmara do Conde. A zona de serviço era constituída por três câmaras no piso inferior, nomeadamente a cozinha, que se localizava mais a S., onde se podia encontrar uma lareira. Lateralmente à cozinha estava uma outra câmara com abertura para o exterior, destinada ao armazenamento de lenha. Entre as duas câmaras encontrava-se uma dependência para os criados com comunicação com o exterior e acesso ao piso superior (VALE, 1991); *1 - DOF: Paço dos Duques de Bragança (ruínas) / Paço dos Condes de Barcelos (ruínas); *2 - a cabeça da estátua de Barcelos encontra-se exposta numa mísula colocada na fachada S. do paço.