Arquitectura comercial, eclética novecentista. Mercado municipal construído durante a vigência da 1ª República, caracterizando-se por uma linguagem inovadora e progressista ao nível dos aspectos construtivos, combinando o ferro e o vidro com uma arquitectura chã regional, para marcar o desejo de progresso pretendido pelos governos da época. Edifício destinado ao duplo comércio de vendedores ambulantes e fixos num mesmo espaço, típico das construções de mercados desta cronologia. Confluência de linguagens artísticas progressistas e tradicionais.
Descrição baseada em antigas fotografias: Planta longitudinal rectangular composta por um espaço central, quatro corredores ao longo das fachadas e quatro torreões nas extremidades. Volumes articulados dispostos horizontalmente, à excepção do lanternim central, disposto verticalmente, com coberturas diferenciadas em terraço, sobre os torreões, em quatro águas, sobre o espaço central, e em duas águas, sobre os corredores. Fachada principal virada a E. composta por três corpos; corpo central mais prolongado e definido a um só registo, com sete panos; pano central ostentava, ao centro, o portal principal, de arco rebaixado moldurado em toda a sua extensão, com entablamento proeminente elevando-se acima do limite superior do corpo e compondo-se de duplo entablamento com uma inscrição ao centro; restantes panos ladeiam o central, em número de três, separam-se entre si através de pilastras bem marcadas, enquadram vãos de arco recto simetricamente abertos nos panos; superiormente, uma moldura recta, semelhante às pilastras que delimitam os panos, corria ao longo deste corpo, sendo apenas interrompida pelo entablamento mais elevado do pano central, antecedia a linha de telhado; corpos laterais correspondiam aos torreões nas extremidades e organizavam-se a três registos de pano único; marcação dos torreões efectuada através de cunhais moldurados denteados; primeiro registo semelhante aos panos laterais do corpo central, mas com vão mais estreito, o que aumentava a massa pétrea destes torreões; segundo registo separava-se do primeiro através da moldura corrida que decorava superiormente os panos laterais do corpo central, compunha-se de um janelão único, rectangular e disposto verticalmente, com parapeito moldurado recto e saliente, aberto harmonicamente no alçado; terceiro registo muito menor que os restantes, separado através de moldura corrida, ostentava uma pequena janela, de secção horizontal semelhante ao do janelão do registo inferior, e antecedia a linha de beiral. Organização dos restantes alçados semelhante, tendo os alçados N. e S. quatro panos laterais no corpo central e não apenas três. No interior espaços diferenciados em duas grandes áreas: os corredores ao longo das fachadas e o espaço central, amplo e artificialmente seccionado pelas bancas. Corredores correspondiam às lojas, denunciadas pela organização exterior dos alçados, com iluminação directa através das portas de acesso ao interior. Espaço central dividido em duas grandes zonas a N. e a S., com abundante iluminação superior, proveniente de duplo lanternim, um maior a rodear toda o espaço central, elevando-se logo acima do telhado de duas águas sobre os corredores, e um menor, quadrangular, delimitando um espaço mais pequeno na zona mais elevada do telhado. Circulação efectuada em dois eixos fundamentais, um S. - N. e outro E. - O., aproveitando as linhas de simetria proporcionadas pelos portões principais.
Materiais
Não aplicável
Observações
*1 - Logo em 1913 fizeram-se sentir as primeiras reacções negativas acerca da construção: em reunião da Comissão Executiva Municipal desse mesmo ano, um cidadão protestou contra a localização do imóvel em frente ao Colégio "cujo edifício vai ficar altamente prejudicado" (VENTURA e MARQUES, 1993); *2 - Projecto camarário constava da construção de uma ampla alameda na Praça da República "visando a revitalização da zona mais nobre e comercial da cidade" (Proposta do Presidente da Câmara Municipal de Portimão datada de 4 de Junho de 1999). Projectou-se ainda a construção de um parque subterrâneo de estacionamento, de dois andares, num total de 266 lugares; *3 - Posteriormente, veio o Provedor de Justiça inviabilizar uma queixa popular contra a demolição do imóvel.
