Arquitectura religiosa manuelina, barroca, rococó e neo-clássica. Ermida rural de planta longitudinal regular, de nave única e capela-mor cupulada. Arco triunfal manuelino, artisticamente rude, mas mantendo íntegras as característica estilísticas epocais, como as bases poligonais com faces marcadas, capitéis igualmente de secção poligonal e decoração animalista fantástica. Capela-mor barroca, de planta quadrada, com paredes laterais cobertas por painéis de azulejos azuis e brancos datáveis da primeira metade do séc.18 e na órbita dos Grandes Mestres que monopolizaram a produção de azulejo nesta metade de século; abóbada cupulada com lanternim. Retábulo-mor rococó, de quatro registos com ampla tribuna central, apresentando "alguma contenção decorativa" (LAMEIRA, 2000). Fachada principal neo-clássica, conjugando elementos estilisticamente aplicados durante toda a Idade Moderna, como o portal de arco recto com lintel sublinhado, com outros ainda decorrentes do Barroco, como o coroamento contracurvado irregular do alçado, juntamente com um sabor neo-clássico típico da cronologia tardia desta reforma, dado pela cartela delimitada lateralmente por elementos vegetalistas. Fonte barroca de bica única, definida por um alçado rectangular irregular, estreitando-se superiormente para revelar o coroamento, com uma concha disposta verticalmente suportada por duas figuras míticas.
Planta longitudinal composta por nave, capela-mor, sacristia e duas dependências anexas às fachadas laterais. Volumes articulados dispostos verticalmente, com coberturas diferenciadas em telhado de duas águas sobre a nave e sobre a sacristia, cúpula sobre a capela-mor e telhado de uma água sobre os restantes espaços. Fachada principal orientada composta por dois registos e pano único, delimitado lateralmente por pilastras-cunhais pintados a azul, terminando superiormente em impostas salientes; o primeiro registo integra o portal principal, de arco recto com moldura em cantaria e lintel sublinhado por pequena cornija saliente; a sobrepujar o portal, uma cartela oval irregular, disposta horizontalmente, decorada com elementos vegetalistas nas extremidades e ostentando uma data ao centro; segundo registo separado do primeiro sem qualquer elemento, compõe-se de um grande janelão aberto axialmente em relação ao portal, de perfil rectangular disposto verticalmente, com moldura em cantaria e sobrepujado por um frontão contracurvado com um elemento decorativo vegetalista ao centro; fachada termina em empena triangular irregular, com duas grandes volutas, assentes sobre as impostas das pilastras que delimitam a fachada e terminando sensivelmente ao centro do alçado, enquadrando aí um pequeno óculo em forma de losango, e sendo sobrepujadas por uma terminação piramidal que sustenta uma cruz; lateralmente, sobre os arranques das volutas, elevam-se dois pináculos de dupla secção superior e terminação piramidal, o do lado S. parcialmente truncado. Fachada lateral N. organizada em dois registos e dois corpos distintos: corpo E. corresponde à capela-mor, reentrante em relação ao prolongamento natural do corpo O.; primeiro registo sem qualquer elemento no alçado, à excepção de uma pequena porta de acesso ao interior, de arco recto, colocada na extremidade do corpo, na intersecção dos dois corpos; segundo registo com um óculo polilobado ao centro, sobre o qual se situa a linha de beiral; à altura do óculo eleva-se a E. a torre sineira, integrada na parede da capela-mor, com arco sineiro de volta perfeita, com impostas ligeiramente salientes, protegidos superiormente por frontão contracurvado; corpo O. corresponde à nave e possui uma construção anexa, mais baixa que a parede da nave, com uma porta ao centro, a que se acede através de um degrau, e uma janela no lado E. Fachada lateral S. mais complexa, organiza-se em quatro corpos distintos: corpo O. corresponde a parte da nave, com um pequeno lanço de escadas adossado paralelamente ao alçado, de quatro degraus, que daria para uma porta hoje entaipada e que se vislumbra ainda no alçado; linha de telhado assente em beiral com cornija; corpo intermédio O. corresponde a uma construção anexa, com telhado de água única que arranca do beiral da nave; anexo com entrada a partir de O., com uma porta de arco recto adossada à parede da nave e pequena janela quadrangular do lado S.; corpo sem qualquer elemento decorativo, sendo a sua fachada S. uma ampla massa pétrea pintada de cal, com telhado assente directamente na parede; corpo intermédio E. corresponde à sacristia, definido no prolongamento para S. da capela-mor; alçado em empena triangular, com telhado a arrancar um pouco acima do lóbulo inferior do óculo, desenvolvendo-se em duas águas para E. e para O.; corpo extremo E. corresponde ao acesso interior da tribuna do retábulo-mor, é reentrante em relação aos corpos anteriores, e possui telhado em água única, arrancando um pouco abaixo do óculo da capela-mor. Fachada posterior virada a E. compõe-se de dois corpos, sendo o principal o prolongamento da capela-mor, com empena triangular e sem qualquer elemento decorativo à excepção de um pequeno ressalto inferior a servir de embasamento, e o lateral S. o prolongamento do corpo de acesso interior à tribuna do retábulo-mor. Alçado E. da sacristia, bastante mais saliente que o corpo E., possui ainda uma janela quadrangular, ao nível do solo, protegida por duplo gradeamento. Lanternim da cúpula: forma circular, com quatro aberturas de arco em volta perfeita, sendo rematado por pequena linha de cornija sobre a qual se elevam quatro pináculos circulares e, em cima, um fogaréu mais complexo. INTERIOR: Espaços diferenciados em nave, capela-mor, sacristia e duas dependências autónomas, anexas a S. e a N. das fachadas laterais. Nave única relativamente extensa, decorada a meia altura por painéis contínuos de azulejos, de padrão geométrico inseridos em molduras vegetalistas; pavimento de tijoleira e cobertura de madeira tripartida, com uma secção central mais elevada e duas laterais, disposta obliquamente em relação às paredes; no pavimento, ao centro da nave pela banda N., uma pequena tampa de madeira, de secção trapezoidal; paredes sem decoração acima dos painéis de azulejos, pontuadas apenas por dois candeeiros dispostos harmonicamente no alçado; pia de água benta inserida na parede fundeira, do lado S., ao nível do registo superior dos azulejos; iluminação escassa, efectuada a partir do janelão do segundo registo da fachada principal. Arco triunfal duplo, com dois colunelos adossados que acompanham toda a curvatura do arco, existindo ainda uma moldura exterior que reforça visualmente este elemento; bases do arco e dos colunelos distintas, sendo as do lado S. mais simples, com incisões de carácter vegetalista e encordoado inferior delimitando a secção semi-circular destas bases, e as do lado N. mais complexas, apresentando secção poligonal delimitada inferior e superiormente por socos salientes, que enquadram uma decoração aparentemente vegetalista organizada por faces do polígono; capitéis do arco e dos colunelos igualmente distintos, mas organizando-se tripartidamente, prolongando-se a decoração por todo o campo escultórico dos três capitéis: do lado N., secção poligonal delimitada por socos salientes enquadrando decoração vegetalista; do lado S. secção idêntica ostentando, ao centro, cobras que se mordem mutuamente, sendo mesmo uma dessas acções a representação principal. Capela-mor de planta quadrangular irregular, composta por altar, retábulo-mor e painéis de azulejos; Retábulo-mor enquadrado por arco-nicho de volta perfeita, delimitado por duas grandes pilastras de secção rectangular, de impostas bem marcadas e salientes, amplamente decoradas com painéis policromados a imitar mármore, decoração que se prolonga pela curvatura do arco; retábulo organizado em quatro registos, com sotobanco oblíquo de planta trapezoidal decorado com painéis policromados enquadrando um medalhão central com uma cruz, predela muito estreita repetindo a decoração em painéis policromados, em número de quatro ladeando um central mais elevado; terceiro registo corresponde ao corpo, com pano tripartido, ostentando o central a boca do retábulo, em tribuna elevada para suportar um nicho envidraçado com a imagem da padroeira; panos laterais compostos por nichos sobre mísulas, delimitados por pilastras rectangulares de fuste complexo e de coroamento reentrante; último registo corresponde ao coroamento, acompanhando a volta perfeita do arco-nicho em que se insere e da terminação da tribuna, organizando-se também numa composição tripartida, com duas pilastras interrompidas no prolongamento vertical das pilastras do registo inferior, terminando com a interseção de volutas que se prolongam para os panos laterais; pano central composto por ampla decoração vegetalista enquadrando um medalhão central polilobado; alçados laterais da capela-mor revestidos por painéis de azulejos azuis e brancos, em três registos principais, separados entre si por cornijas; último registo ostenta, ao centro, um óculo polilobado que filtra luz para o interior, de moldura em cantaria; alçado S. mantém a mesma organização de três registos cobertos por azulejos, mas com a porta de acesso à sacristia aberta no extremo O. do alçado; cobertura da capela-mor através de cúpula sobre pendentes, com cornijamento inferior a toda a volta, elevando-se, no eixo, um lanternim. SACRISTIA: espaço quadrangular adossado a S. da capela-mor, com pavimento em tijoleira; no topo E., um lanço de escadas dá acesso ao tardoz do retábulo-mor, ao nível da tribuna do retábulo, com arco rebaixado decorado por elementos vegetalistas recobertos por cal. FONTE: planta rectangular definida no prolongamento para E. do alçado N. da capela-mor; espaldar virado a N., de pano único, de alvenaria rebicada e caiada com remate em frontão curvo decorado ao centro por grande concha amaparada de cada lado por putti a que faltam as cabeças; sob a concha registo de azulejos azul e branco figurando Nossa Senhora com o Menino e inscrição com a data 167..; em baixo, axial, a bica decorada por animal marinho invertido, em massa pintada de azul cobalto, de cuja boca sai a água; tanque quadrangular aberta no solo, protegida lateralmente por dois grandes degraus a O. e a E., confinantes com as extremidades da fachada principal.
Materiais
Alvenaria rebocada e caiada; tijoleira; vidro; madeira; talha; azulejo; telha; estuque.
Observações
*1 - Anteriormente designada por Ermida de São Marcos, por se situar numa localidade com esse nome, de que resta ainda o topónimo relativamente mais a N. do local onde hoje se encontra a ermida; *2 - De acordo com as conclusões de Arnaldo Casimiro Anica, é possível que a transferência dos frades para uma casa situada no interior da cidade tenha ocorrido ainda em finais do séc.15, pois logo em 1601 é referido o convento na cidade; *3 - terá sido esta entrada um acesso a uma anterior torre sineira junto anexa à fachada principal e posteriormente suprimida.