Convento cisterciense feminino, de fundação manuelina, com igreja composta por nave, transepto e capela-mor, com entrada tranversal a norte, claustro e três alas, seguindo o esquema cistersiense de organização dos espaços, tendo no 1º piso a cozinha, refeitório e calefactório e no 2º as celas. Portal principal manuelino, posteriormente ampliado em altura por fogaréus barrocos encimando a estrutura, constituindo a marca mais antiga da construção, sendo contemporâneo da campanha construtiva original. Igreja e alas conventuais barrocas. Único convento da Ordem de Cister no Sul do País no qual a importância da água está bem presente na proximidade em relação ao rio, porventura adaptando uma antiga linha de água de que hoje não restam vestígios, possui enorme impacto na paisagem de Tavira, tendo sido o maior convento da cidade. A transformação do conjunto conventual em fábrica de moagem levou à subsversão dos antigos interiores, em benefício de um claro utilitarismo dos espaços e dos recursos; a casa dos antigos proprietários da fábrica apresenta elementos de tradição construtiva eclética, como as pinturas do hall de entrada e o capitel em gesso a imitar mármore, com outros decorrentes da tradição arquitectónica algarvia, como a platibanda que separa os dois registos dos alçados exteriores da ala poente; conserva-se ainda muita maquinaria e elementos industriais, assim como a alta chaminé de tijolo, verdadeira marca de industrialização na região; a casa dos antigos proprietários da fábrica apresenta interessantes elementos ecléticos e tradicionais.
Planta composta pela igreja, de planta rectangular com nave única, transepto e capela-mor, e pelas dependências conventuais. Volumes articulados, massas dispostas na vertical com cobertura diferenciada em telhados de 2 águas na igreja e dependências conventuais, em cúpula na capela-mor. IGREJA: fachada principal a N. com a marcação de antigos telhados de construções demolidas; é composta por três corpos claramente definidos em altura; a O. o corpo mais alto, de três registos, o inferior cego e os restantes rasgados por dois janelões cada, de arco abatido moldurado; corpo intermédio, correspondente à nave e transepto, organizado em dois registos; no inferior o portal em arco de volta perfeita assente em três arquivoltas, de bases prismáticas de pé-estrelado, fustes cilíndricos e capitéis decorados com elementos vegetalistas; nos extremos do arco, sobrepondo-se à última arquivolta, duas colunas que se prolongam em altura até à altura do arco exterior, suprimindo os saiméis da última arquivolta; o conjunto é encimado por cinco fogaréus dispostos verticalmente sobre uma mesma linha horizontal de arcos contracurvados invertidos, faltando o fogaréu central, sobre o qual existe lápide quadrangular com inscrição praticamente ilegível, datada de 1676; a ladear o portal pequena janela de arco abatido; no segundo registo rasga-se janelão de arco abatido, semelhante aos janelões do corpo anterior; a E. o corpo correspondente à capela-mor, retraído em relação ao prolongamento natural do alçado da igreja; compõe-se de dois pisos, o primeiro com delimitação de cunhais com telhado assente em cornija desenvolvida, vendo-se o arranque da cúpula; o segundo, rectangular, ocupando parcialmente a capela-mor e a ala E. do convento, transversal em relação à igreja, com telhado de duas águas e em terraço, contendo uma caixa de água de forma cúbica. Fachada O. adossada ao barracão da antiga fábrica. Fachada S. (que daria para o claustro) organizada em três corpos; corpo O. com separação de registos efectuada pelas antigas linhas onde assentavam os suportes do tecto do claustro; no registo inferior duas portas de arco recto, simétricas; no segundo registo porta axial, de arco abatido; no terceiro registo duas janelas de arco abatido, axialmente dispostas em relação às portas do primeiro piso; corpo intermédio organizado em dois registos, com grande rombo ao centro prolongando-se pelos dois pisos; duas portas de arco abatido davam para o claustro, no espaço entre o rombo e a ala E. do claustro; corpo E., correspondente ao alçado S. da capela-mor, organizado em dois registos, em cota mais baixa em relação ao piso do claustro; primeiro piso com porta de arco abatido que dá para S., para uma zona posteriormente ocupada pela fábrica com fossas, ladeada por uma janela quadrangular entaipada; segundo registo,cego separado do primeiro através de uma linha de telhado já inexistente. Fachada posterior de um registo, delimitada por fortes cunhais; é rasgada por arco central quadrangular e remata em empena circular moldurada ocultando parte da estrutura da cúpula. INTERIOR: nave com dois andares separados por placas de madeira, correspondendo aos dois níveis de maquinaria da antiga fábrica; capela-mor aprsentando três níveis de património industrial com escadaria férrea de acesso aos pisos superiores. CONVENTO: conserva-se integralmente a ala O. e parcialmente as alas E. e S.. Alas organizadas em estruturas autónomas de dois pisos; ala E., virada para o antigo claustro, dividida em dois panos e dois registos; no primeiro pano, inferiormente, amplo arco abatido rasgado harmonicamente ao eixo do pano, dando acesso ao interior; superiormente três janelas simétricas, harmonicamente abertas no alçado, de arco ligeiramente abatido, estando a primeira ( mais a N. ) entaipada; segundo pano, mais a S., de dois registos, o inferior rasgado por dois arcos aleatoriamente abertos no alçado, sendo o primeiro recto, de acesso ao interior, o segundo abatido, ocupado com maquinaria; segundo registo com três janelas de perfil idêntico às anteriores, duas entaipadas. A zona do antigo claustro apresenta vestígios de pavimento em calçada portuguesa, sem indicações das antigas proporções, com três palmeiras a S. e uma fonte; entrada principal da cerca a S. da antiga igreja, através de arco abatido com portão de ferro; a S. o antigo laboratório, espaço heterogéneo composto por diversas dependências assimétricas e duas grandes zonas da antiga fábrica a N., ocupando o ângulo NO. do Convento e adossando-se à fachada principal da igreja; estas zonas compõem-se de dois grandes corpos, uma torre NO., único corpo que se eleva a três registos, com focos de iluminação para os dois alçados do exterior, e um barracão de dois andares, com telhado de duas águas entre a torre e o alçado principal da igreja; comunicação entre a entrada principal na cerca e o claustro através de passadiço em arco abatido a nível do primeiro registo da ala O. dos antigos dormitórios; imediatamente a N. da antiga casa dos proprietários; a partir deste passadiço acede-se tanto a esta antiga casa, como às dependências a O. da igreja. A casa dos antigos proprietários ocupa o primeiro piso da ala O.; o alçado E. separa-se do segundo registo por uma platibanda de arquitectura tradicional, com marcação de cornijas sobrepostas horizontalmente e elementos decorativos vegetalistas entrelaçados; alçado O. composto por várias portas e janelas quadrangulares simples, igualmente sobrepujadas por platibanda, mas mais simples que no alçado oposto. Atrás da cabeceira da igreja, chaminé de dupla secção quadrangular cintada por gradeamento de ferro, integralmente em tijolo. INTERIOR: no convento, duas amplas salas com tecto em cimento, com escadaria de madeira de acesso ao segundo piso, igualmente composto por duas salas. Ala S., dividida com tabiques, balcões e espaços para armazém. A ala O., a maior que ainda se conserva de todo o conjunto, compõe-se de dois registos; o primeiro correspondente à casa dos antigos proprietários; o segundo integralmente rasgado por janelas, de um lado e outro, de feição quadrangular com moldura em cantaria e lintel desenvolvido superiormente, totalmente entaipadas. A casa dos antigos proprietários organiza-se a partir de átrio central, a que se acede a um corredor longitudinal em relação ao desenvolvimento da ala, siuando-se a S. as dependências privadas e a N. as divisões utilitárias, culminando com o acesso de serviço pelo passadiço; hall de entrada quadrangular com paredes policromadadas em grandes caixotões moldurados e tecto trabalhado também estuque, com medalhão central de onde parte uma decoração semelhante à das paredes; corredor estreito com bandeiras dos arcos das portas decoradas com vidros policromados; a sala ocupa duas dependências com um arco recto arredondado nos extremos definido por pilastras; o quarto ocupa o extremo S. da casa, e contém uma coluna com capitel de perfil jónico suportando o arco da suite; tecto trabalhado em estuque.
Materiais
Alvenaria rebocada e caiada; telha de canudo; vidro; ferro; madeira; mármore; cantarias; gesso
Observações
1 - Segundo Arnaldo Casimiro Anica, existe, de facto, "uma sanja subterrânea que segue do poço do Convento de freiras para o lado do Convento dos Capuchos e outra que sai da nora situada junto deste último na direcção daquela. Porém, qualquer das referidas sanjas não vai além de poucos metros" ( ANICA, 1993, p.77 ).