Arquitectura religiosa, novecentista. Capela de planta em cruz latina, com coberturas interiores de madeira em masseira, iluminada por pequenas frestas cruciformes, rasgadas nas fachadas laterais. Fachada principal em empena, rasgada por portal em arco abatido e fachadas rematadas em cornija. Duas torres sineiras ladeiam um conjunto de sete pequenas capelas. Interior com retábulos de madeira com telas pintadas.
Planta em cruz latina, composta por nave, transepto saliente e capela-mor pouco profunda, de disposição horizontalista das massas, com correspondência entre exterior e interior e cobertura homogénea de oito águas. Fachadas em cantaria granítica aparente com aparelho isódomo, percorrida por embasamentos de cantaria e remates em friso e cornija saliente em papo de rola, suportando cruzes de secção octogonal sobre os cunhais e empenas. Fachada principal, voltada a O., rasgada por portal em arco abatido moldurado contendo friso com inscrição, e porta de duas folhas, tendo disposta em cruz, nos seus madeiramentos, inscrição. Sobrepujam o portal duas outras lápides contendo inscrições, a primeira com um baixo-relevo alusivo a uma Cruz radiante, contendo ao centro a inscrição, e que nasce, na aparência, de uma roseira, dispondo-se em volta dela nova inscrição e, entre dois dos caules volutados da roseira, um alfa e um ómega, este último invertido; a segunda lápide, em forma de pergaminho, contém inscrição. Fachada lateral esquerda virada a N., rasgada, na nave, por duas janelas gradeadas em forma de cruz latina com moldura de cantaria saliente e, na capela-mor e faces E. dos braços do transepto por janela idêntica. No transepto, surge, na face O., pórtico com vão de arco abatido sobrepujado por inscrição. No topo do transepto, duas lápides, a inferior com a gravação de três cruzes contendo, cada uma delas, uma inscrição; a lápide superior contém uma planta do recinto da capela e uma inscrição picada e ilegível *1. Fachada lateral direita virada a S., idêntica à oposta, encontrando-se, na face O. do braço do transepto e sobre o pórtico, inscrição; a lápide superior contém dois ramos de rosas, duplamente cruzados, desenvolvendo-se, à sua volta, inscrição. Fachada posterior em empena, com duas lápides sobre pequena fresta moldurada, uma delas com motivos geométricos simbolizando o sol, a lua e 12 estrelas, com inscrições, sendo sobrepujada por outra lápide contendo o baixo-relevo de uma cruz rodeada por um ramo florido de onde nascem seis pequenas cruzes, contendo inscrição. INTERIOR rebocado e pintado de branco, com elementos estruturais em cantaria granítica, com cobertura de madeira em masseira com molduras compondo caixotões, com medalhão central no cruzeiro e pavimento constituído por lajes de granito cobertas com madeira corrida. Coro-alto constituído por placa de betão, ao qual se acede por escada em caracol do mesmo material. No transepto, do lado do Evangelho, um altar composto por retábulo de madeira pintada de branco, de planta recta de três eixos divididos por pilares almofadados contendo três pinturas a óleo, alusivos à Paixão de Cristo, a São Pedro e a Santo André, com molduras douradas compostas por profusão de pontas de diamante. Do lado da Epístola, altar semelhante com três pinturas, uma alusiva ao "Achamento da Cruz" e dois santos laterais. O retábulo-mor, com trabalhados e lavrados em talha dourada, tem pinturas a óleo, alusivas à "Deposição de Cristo no túmulo" e dois santos crucificados; os plintos contêm as letras "A", "M", "O" e "R", e remata em entablamento e cornija saliente inferiores sobre friso em dentilhão. O ático é recortado por três arcos de volta perfeita que rematam cada um dos eixos verticais, sendo compostos por pequenas molduras de forma semicircular onde se encontram apostas cruzes floridas. Sobre a banqueta, um sacrário de talha dourada, com motivos fitomórficos insculpidos, delimitado por colunas estriadas e rematadas por pináculos, e um Cristo crucificado assente sobre um "Agnus Dei". Duas portadas laterais com cruzes radiantes em talha dourada e contendo, ao centro, a expressão "IHS", inserem-se na estrutura do retábulo permitindo o acesso à estreita sacristia que se localiza em plano posterior ao do altar.O ANEXO, de planta rectangular, é composto pelo corpo de sete pequenas capelas, adossadas lateralmente, e por duas torres sineiras nos seus extremos. As coberturas das capelas são compostas por lajes graníticas enquanto que as torres sineiras possuem coberturas de forma cruciforme de cantaria de oito águas, formadas por cunhas dispostas em empena em todos os alçados. Fachada voltada a O. composta pelas sineiras, unidas pelo corpo da sete capelas, em aparelho isódomo de cantaria. Nos panos das sineiras, idênticos, rasga-se, em plano intermédio, porta em arco abatido com moldura saliente, antecedidos por escadaria de dez degraus, e, no registo superior, ventana em arco abatido. Nos panos das pequenas capelas, rematados por cunhas de granito salientes dispostas em empena, rasgam-se sete portas, nos braços inferiores das cruzes formadas pela moldura de cantaria saliente. Fachadas N. e S. das sineiras compostas por janela em arco abatido entaipado, ao nível do piso intermédio, e, no registo superior, por ventana de arco abatido. Remates compostos por cunhas salientes dispostas em empena. Fachada posterior cega nos registos inferiores e rasgada, no piso superior das sineiras, por ventana de vão abatido e remate composto por cunhas dispostas em empena. Na sineira S., rasga-se porta em arco abatido de acesso ao passadiço que se forma sobre as capelas em plano posterior às suas empenas. Um pequeno carrilhão composto por três sinos pende das ventanas da torre sineira S. *2.
Materiais
Granito na estrutura, cimento, tijolo, telha cerâmica, madeiras de castanho e de pinho, ferro forjado, vidro, bronze, pintura a óleo, talha e talha policromada.
Observações
*1 - A planta do recinto que surge na lápide é um pouco diversa do projecto que foi concretizado, notando-se que teve uma inscrição que se encontra picada e que, segundo Gonçalves da Costa, rezaria: "FORAM FUNDADORES DESTA CAPELA O P. MANUEL GONÇALVES DA COSTA, P. ALBINO ALVES PEREIRA E O P. JUSTINO AUGUSTO DE FREITAS" (COSTA, 1975, p. 183); *2- o carrilhão de sinos original pertenceu anteriormente ao Santuário da Senhora dos Remédios, tendo sido oferecido à capela de Santa Cruz a quando da sua edificação; *3 - Justino de Freitas foi autorizado, em 30 de Abril de 1883, através de provisão episcopal, a utilizar hábito talar e sobrepeliz nas funções religiosas da paróquia; em 1884, ao completar 17 anos matriculou-se no seminário diocesano como externo, ficando a residir no Paiol, em casa de seu tio que era capelão do Santuário da Senhora dos Remédios; em 1885 encontrava-se já a frequentar as aulas do seminário como interno, gratuito; em 25 de Julho de 1894, obtém licença para a celebração da primeira missa, desempenhando nos anos seguintes e até 1910, o cargo de prefeito do seminário de Lamego; *4 - na planta primitiva estava prevista uma capelinha em honra do Anjo da Guarda, em frente da principal, dedicada à Exaltação da Santa Cruz, seguida de outras 7, em memória das 7 Dores de Nossa Senhora, disposta ao longo do caminho que desce até à EN, intento, no entanto, abandonado por acarretar demasiada despesa, pelo que se erigiram as 7 capelinhas na retaguarda do templo, entre as duas torres sineiras, ficando o espaço intermédio com a função de cemitério; *5 - o requerimento da sagração, segundo as disposições canónicas, deveria ser apresentado pelo abade, sendo que em caso de se julgar inconveniente a benção da capela, deveria o mesmo ser comunicado à prelatura; *6 - no mesmo decreto se diz que "em vista das informações do pároco e de outras pessoas e por os mais interessados terem assinado uma escritura na Câmara Eclesiástica, pela qual se obrigavam a não dar ao templo um destino diferente daquele para que fora construída, e proverem às despesas para a manutenção do culto, o Bispo relevava-os da falta de licença para a construção da obra, por estar persuadido de que o fizeram por desconhecimento da lei"; mais se regista que "a capela seria pública, em tudo sujeita à jurisdição do pároco, que nela podia exercer acções paroquiais e impedir os actos contrários à disciplina eclesiástica; os encarregados poriam à sua disposição as alfaias sempre que ele lá quisesse celebrar"; desse modo, autorizava o vice-reitor do seminário, cónego Joaquim Pereira Pedrosa e Sousa a proceder à bênção da capela e a celebrar nela a primeira missa, depois de ser lido o decreto ao povo e, no fim, lavrar-se-ia o respectivo auto assinado pelo sagrante, pároco e outras pessoas.