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Núcleo urbano da cidade de Guimarães

Núcleo urbano da cidade de Guimarães

O ponto de interesse Núcleo urbano da cidade de Guimarães encontra-se localizado na freguesia de União das freguesias de Oliveira no municipio de Guimarães e no distrito de Braga.

Núcleo urbano sede municipal. Cidade situada em vale. Cidade de fundação senhorial com castelo e cerca urbana. Núcleo urbano de formação medieval caracterizado por tecido edificado tipologicamente diversificado, mas com uma grande unidade formal no seu conjunto, integralmente erguido com os sistemas construtivos tradicionais (taipa de rodízio e taipa de fasquio). Entre a diversidade de tipos, pode-se distinguir os seguintes: casas burguesas quinhentistas - construídas utilizando o granito como material construtivo, completada nos pisos superiores pela taipa de rodízio. Existem ainda dois exemplares: uma situa-se na antiga Rua do Cano de Cima, a N. do castelo, a segunda no início da Rua de Santa Maria, na qual se observam ao nível do rés-do-chão duas portas com arcos adintelados e no segundo piso duas janelas rectangulares de mitra chanfradas e biseladas. Casas nobres urbanas quinhentistas - surgem na primeira metade do século 16, frequentemente resultado de transformações e adaptações preexistentes, seguindo o novo gosto renascentista que então se difundia no NO. do país, utilizando nas suas fachadas a cantaria de granito, material "distintivo da nobreza". Enquadráveis nesta tipologia, ainda hoje existentes, são a habitação de Pedro Álvares de Almada no antigo Largo da Tulha (actual Rua Dr. Avelino Germano)e a Casa dos Valadares de Vasconcelos, ao cimo da Rua de Santa Maria. Esta apresenta, à esquerda do frontão e no piso térreo, um portal de chanfro e volta redonda, sobre o qual se abre uma janela de sacada rectangular, moldurada e com o típico lavrado manuelino no arranque dos colunelos. Mais tarde, a casa viria a ser ampliada, já na segunda metade do século 18. Ao longo do século 17 a tipologia da habitação comum diversifica-se segundo os seus materiais construtivos, a disposição dos vãos, a variedade dos elementos decorativos. Existe uma tendência para a estabilização das alturas, piso térreo e dois sobrados, e da frente do lote urbano que, contudo, mantém profundidade variável. Desde o início do século 16 que se caminha para esse lote padronizado. Trata-se apenas de uma tendência, observando-se em Guimarães casas seiscentistas de três ou apenas um piso, ao mesmo tempo que a largura da frente das parcelas também é variável, e de um modo geral mais estreita que no Porto. Casas de ressalto, de acentuada construção no século 17, construídas em alvenaria de granito ao nível do rés-do-chão e nos pisos superiores (normalmente com três pisos) em taipa de rodízio. São assim designadas, uma vez que o primeiro e (ou) o segundo andares se debruçam sobre a rua com ressaltos mais ou menos acentuados, com traves e barrotes completamente visíveis, desviando-se dos alinhamentos existentes das construções confinantes. Casas alpendradas - construções seiscentistas, construídas em granito no piso térreo e nos pisos superiores em taipa de rodízio, situadas normalmente em largos e praças. Primitivamente as alpendradas constituíam um mercado abrigado para os dias de chuva, abrindo-se no rés-do-chão para os espaços livres de passeio e de serventia pública, formando ainda um recanto discreto dos moradores. Casas nobres urbanas seiscentistas - casas em cantaria de granito, armoriadas, de um só piso acima do rés-do-chão, muito sóbrias, desenvolvendo-se horizontalmente face à rua, possuindo janelas de sacada com varandas gradeadas no andar nobre; nos pisos térreos observam-se ainda permanências quinhentistas na cantaria de granito, onde se rasgam portais chanfrados. São exemplares deste tipo a Casa dos Portugais (Largo Dr. Mota Prego e Rua Gravador Molarinho), a Casa dos Araújo Abreu (Rua de Val de Donas), a Casa dos Laranjais (v. 0308340060). Casas urbanas de fachadas lisas - construídas nos séculos 17 e 18, em alvenaria de granito e em taipa de rodízio, nos pisos superiores, outras construídas em perpianho (alvenaria de granito) de baixo a cima, em fiadas de esquadria; é um tipo sóbrio, de dois ou três andares, sem o mínimo destaque de ornamentos salientes de padieiras e ombreiras laterais, com a ausência de rebocos. Casas nobres urbanas do século 18 - casas em cantaria, armoriadas, ocupando lotes de superfície variável, mas de dimensões mais reduzidas que as dos seus predecessores seiscentistas, cujos pátios e escadarias exteriores se transferem para o interior do piso térreo. Gradualmente, devido à sua total integração em frentes urbanas, a grande visibilidade de que disfrutavavam anteriormente vai-se esbatendo. Constituem exemplos deste tipo a Casa dos Amarais, na Rua Dr. Avelino Germano, que abre para o Lg. Condessa do Juncal, Casa dos Lobo Machado, entre outras. Casas nobres urbanas da transição do século 18 para o 19 - apresentam características diferentes entre si, sintomáticas de tensões existentes entre permanências assumidas e o despontar de novos tipos, numa época charneira e de grandes transformações urbanísticas em Guimarães, salientando-se a horizontalidade das fachadas e uma maior sobriedade de linhas. Construções Oitocentistas de feição pombalina - situadas no Largo do Toural, construídas em alvenaria de granito, com revestimento a reboco estanhado, caracterizam-se pela sobriedade, uniformidade e equilíbrio das suas linhas e cérceas, subordinado ao projecto de conjunto, resultante das medidas adoptadas pela Junta das Obras Públicas, que mandava elaborar planos gerais para as fachadas dos edifícios. Construções revestidas a azulejo do século 19 - construídas em alvenaria de granito, contendo um género de revestimento só utilizado em Portugal a partir desta época, quando emigrantes portugueses regressaram à sua terra natal e investiram os seus capitais na compra ou financiamento de fábricas de cerâmica, incrementando nelas o fabrico de azulejos tipo padrão, destinado a revestimentos exteriores de edifícios. A cidade foi uma das primeiras, depois do Porto, a usar nas fachadas das casas azulejos, de tipo diverso: uns lisos, de estampilha ou não, outros relevados e outros baixo-relevados. Construções revestidas a azulejo do século 20 - construídas em alvenaria de granito contendo azulejos monócromos (verdes, cor de vinho, torrados, etc.) com o tamanho normal ou com a forma de meio azulejo, facetado.

A unidade do tecido urbano intra-muros, de origem medieval, apresenta-se funcionalmente integrada, caracterizando-se pela autenticidade de tipos arquitectónicos diferenciados, erguidos com os sistemas construtivos tradicionais, constituindo exemplos de evolução da cidade nas suas diferentes épocas. Estruturou-se em função de uma dinâmica urbana gerada por duas forças opostas de atracção e protecção - o Castelo na colina (v. PT010308340011) e o mosteiro dúplice na planície, com a localização que hoje corresponde à do complexo da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira (v. PT010308340007). Conformada à sua topografia, polarizada em torno das referências militar e religiosa, foram-se desenvolvendo dois povoados distintos, crescendo em paralelo, entre os séculos 9 e 13, com autonomia jurisdicional plena. Situação que só foi alterará com D. João I, que os incorporará num só único município, doravante Guimarães, atribuindo a supremacia jurisdicional ao burgo canónico. A circulação entre estes dois pólos era garantida por uma importante via urbana estruturante, a Rua de Santa Maria, ainda hoje assim designada. Do ponto de vista do parcelamento e edificação, sucessivamente efectuados ao longo dos percursos que estruturaram os núcleos urbanos em formação, parece ter-se assistido à progressiva acentuação da construção habitacional estruturada de forma "cerrada", pese embora ainda a permanência de edificações isoladas em lotes autónomos e com uma irregular ordenação das frentes, na sequência da primitiva tradição urbanística medieval, com provável origem no parcelamento rural. Nesta fase, a estreiteza dos lotes e o facto das habitações serem térreas e terem apenas duas frentes, poderá conduzir-nos à pressuposição duma organização interna rudimentar e pouco diferenciada e, como consequência dessa compartimentação, a um alçado simples constituído em função da frente do lote, com um ou dois janelos ou frestas que asseguravam o acesso e iluminação do interior da habitação. Do ponto de vista construtivo, as residências de maior prestígio seriam numa primeira fase já executadas em cantaria de granito e cobertas com telha, assente em estrutura de madeira. No que respeita ao sistema construtivo da habitação corrente, supõe-se que os materiais perecíveis, sobretudo a madeira, acompanhada pelo adobe, palha e barro, fossem os mais utilizados. A sua cobertura seria executada em colmo, pois o uso da cobertura em telha só se tornou obrigatório no início do século 17. No reinado de D. Dinis, construiu-se a segunda cintura de muralhas (v. PT010308340016), englobando as duas vilas alta e baixa, mais tarde completada por D. João I, que a guarneceu com torres e ameias. A edificação da nova cerca respeita no seu traçado as primeiras vias que para a vila influíam e que permaneceram do período anterior, dando-lhes passagem através das diversas portas guarnecidas com fortes estruturas defensivas. Nos séculos 15 e 16 a vila reparte-se por várias actividades profissionais com especial destaque para as indústrias de cutelarias, ourivesaria e tratamento de couros, a par com o comércio de mercadorias. Este incremento industrial e comercial, justifica a ampliação da rede viária fazendo de Guimarães um importante nó rodoviário das relações N. / S. e sobretudo litoral / interior. Em meados do século 18 o processo de evolução e expansão urbana de Guimarães, encontrava-se consolidado, marcando os limites de vila, que, com poucas alterações, permaneceram até à actualidade. Nesse desenvolvimento foi de fundamental importância a edificação de casas nobres, igrejas e conventos, fora e dentro de muros. Definiram ruas, originaram praças, incrementaram o desenvolvimento de corredores de circulação entre a vila e o espaço que lhe era contíguo, preenchido posteriormente pela malha urbana. A criação dos campos junto das muralhas, corresponde à sua perda de importância como estrutura defensiva. A cerca torna-se "transparente", deixando de ser um obstáculo divisório entre o dentro e o fora de muros, antes constituindo um factor de aproximação das duas zonas, fomentada pelo desenvolvimento da construção adossada ao seu interior. Ainda em Setecentos, verificou-se a primeira manifestação de "planeamento urbano" em Guimarães, quando foi enviado à Câmara, pelo poder centralizador pombalino, o projecto do edifício que limita o Largo do Toural pelo lado E.. O pensamento iluminista impõe à cidade um edifício a construir de acordo com um plano de conjunto, ultrapassando a tradição medieval, embora fosse pensado para ser realizado em parcelas, pela iniciativa privada. As vias de comunicação que não tinham sofrido grandes alterações, desde o esquema viário definido no período medieval, foram então profundamente modificadas.

Materiais

Não aplicável

Observações

*1 - No edificado intervencionado é constante a manutenção das técnicas construtivas tradicionais (a taipa de rodízio e taipa de fasquio), a utilização de argamassas pobres e de tintas artesanais, nomeadamente a tinta de cal, utilizada para paredes de pedra e rebocos interiores e exteriores; a tinta de cola e leite para rebocos de interior e as tintas de óleo para madeira no exterior e interior; a utilização da telha tradicional, a telha de canudo (telha que apresenta a forma de meia cana e cuja dimensão varia de produtor para produtor); a utilização de ardósia e telha de canudo como revestimento de andares suplementares ou simplesmente as empenas destes acréscimos. *2 - A intenção de ocupação funcional de alguns edifícios, teria cedido lugar à proliferação da tercearização e implantação de bares, resultando num edificado carente de ocupação habitacional. Porém, com a operação de reabilitação urbana em curso, através de uma gestão regulamentada e definição de regras quanto à utilização do edificado, conseguiu-se impedir eficazmente esta tendência. A gestão regulamentada impediu igualmente a demolição dos edifícios autênticos, substituindo edifícios de corpo e alma por edifícios apenas dotados de corpo, impecáveis na geometria que a técnica moderna permite mas sem qualquer valor cultural, porquanto renovar não é, por definição, destruir e construir semelhantemente, mas sim manter os valores temporais dos espaços e não criar um espaço sem tempo. Por outro lado, as ruas e as praças, são invadidas pelo tráfego e estacionamento automóvel, em conflito com o facto de serem também os principais espaços para a circulação e convivência das pessoas. Com efeito, a qualidade de vida e a imagem da cidade dependem muito da forma como consegue compatibilizar as funções técnicas destes espaços (comunicação, acessibilidade) com as funções sócio-culturais. É, por isso, que a par da reformulação do desenho urbano dos espaços públicos, se vem gradualmente devolvendo estes, ao uso pelos peões, de acordo com o plano geral de Tráfego-Acção Trânsito, elaborado em 1984. No centro histórico de Guimarães não existem problemas de maior de poluição, nem mudanças climáticas que possam afectar o edificado construído. Nesta área, o tráfego automóvel constituía o maior motivo de preocupação, por começar a contribuir para a degradação de alguns materiais, como a pedra e das espécies arbóreas. Também o estacionamento, sobretudo nas praças e largos, era motivo de poluição visual, que a reabilitação urbana destes espaços veio resolver. Há ainda algumas áreas na "zona tampão" onde é necessário proceder a operação idêntica. As árvores e arbustos são salvaguardadas pela Câmara Municipal de Guimarães que possui uma equipa específica para este tipo de protecção, assegurado pelo DSUA (Departamento de Serviços Urbanos e Ambiente). Na sequência das preocupações dos responsáveis políticos e técnicos da Câmara Municipal de Guimarães quanto às condições de segurança do seu centro histórico (preocupação agravada pela ocorrência de dois incêndios relativamente recentes), foi solicitado ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil a realização de um estudo sobre segurança contra incêndios. Assim sendo, foi elaborada uma análise e diagnóstico preliminar, abordando a questão da segurança contra incêndio na dupla vertente da realidade física do centro histórico, constituída pelo parque edificado e pelos espaços exteriores privados e públicos, incluindo nestes as infra-estruturas urbanas. Este estudo está a ser debatido com as entidades responsáveis - Câmara Municipal, Polícia de Segurança Pública e Serviço Nacional de Bombeiros - , tendo já sido tomadas algumas medidas, como a colocação de marcos de incêndio de alta pressão em pontos estratégicos e a anulação de barreiras arquitectónicas em que se incluem alguns casos de estacionamento automóvel. Foi também elaborado e posto em vigor, em 1998, um "Plano Municipal de Emergência", pelo Serviço Municipal de Protecção Civil do concelho de Guimarães, com vista a possibilitar uma unidade de direcção e controlo, para a coordenação das acções a desenvolver e a gestão dos recursos mobilizáveis, face a um acidente grave, catástrofe ou calamidade. *3 - Com o arranjo urbanístico destes espaços, encontra-se concluída a reabilitação de praticamente todos os espaços públicos existentes na zona classificada. Ficará apenas a faltar a zona envolvente do Castelo e Paço dos Duques (v. PT010308340013), cujo estudo está entregue ao Arquitecto Álvaro Siza Vieira. A requalificação dos espaços públicos constituiu, desde o início da operação de reabilitação, elemento integrante de uma metodologia de projecto para a cidade, coordenada com a recuperação de edifícios municipais bem como o apoio técnico à iniciativa privada. Através da reabilitação dos espaços públicos (dotados de infra-estruturas e novo desenho urbano), devolvem-se praças, largos e arruamentos à cidade, aos seus habitantes e visitantes, que com o continuado crescimento da cidade se tinham convertido em espaços caóticos de estacionamento automóvel. Na reabilitação dos espaços públicos esteve sempre presente a necessidade de implantação de mobiliário urbano.