Arquitectura religiosa, maneirista, barroca e tardo-barroca. Igreja de Misericórdia de planta longitudinal composta por nave e capela-mor, interiormente cobertas com abóbada de cruzaria de ogivas, de dois tramos e falsa abóbada de berço, respectivamente, com antigas dependências e hospital desenvolvido junto à fachada lateral esquerda e posterior, à volta de pátio central quadrangular. Fachada principal da igreja terminada em empena, de friso e cornija em massa, coroada lateralmente por sineira, rasgada por portal de verga recta ladeado por duas colunas estriadas, de terço inferior marcado, sustentando friso de ordem jónica, inscrito, e frontão triangular, encimado por janela, sobrepujada por cornija contracurvada, e a do edifício do hospital de dois pisos, terminada em cornija de massa e beiral, alteada e curva ao centro, rasgada no primeiro por portas e janelas de peitoril, rectilíneas, dispostas em ritmo irregular, e, no segundo, por quatro janelas de peitoril e, ao centro, uma de sacada, de verga abatida, chave saliente, brincos laterais, encimada por cornija contracurvada e com guarda em ferro. No interior, a nave tem as paredes revestidas a azulejos de padrão, de massaroca de pintinhas, e a capela-mor silhar de brutescos e "ferroneries", maneiristas, coro-alto assente em colunas e arquitrave de cantaria, púlpito quinhentista igualmente de cantaria acedido por portal, no lado do Evangelho, retábulo lateral do Evangelho em barroco joanino, de talha dourada, planta convexa e três eixos, o antigo retábulo das Almas tardo-barroco, em mármore branco e azul de planta recta e um eixo e o da antiga Capela de Nossa Senhora do Rosário e retábulo-mor em barroco nacional, ambos em talha dourada, de planta recta, corpo côncavo e um eixo. A sacristia das Almas é revestida a azulejos alusivos ao orago, atribuídos à oficina de Policarpo de Oliveira Bernardes, e possui pinturas murais no corredor de acesso datadas da década de 1740. O edifício do hospital desenvolve-se à volta de pátio central, com fachadas de dois pisos, tendo duas alas arcadas em ambos os pisos, e as duas outras rasgadas a ritmos irregulares, conservando no piso térreo dependências com abóbada de cruzaria de ogivas e na ala N. a antiga capela dos enfermos, com portal abatido encimado por cornija de perfil curvo de influencia borromínica e, no segundo, acedido por duas escadas, ampla cozinha, enfermaria com retábulo de mármore policromo rococó e, no corpo virado à fachada principal, antiga enfermaria dos nobres envergonhados, com silhar de azulejos de figura avulsa, do 2º quartel do séc. 18, retábulo de talha policroma e sanefas tardo-barrocas. Inicialmente instalada numa capela do antigo hospital do Espírito Santo que já existia na vila, a Irmandade da Misericórdia de Vila Viçosa rapidamente se dedicou à aquisição e permuta de propriedades para poder construir a sua igreja e ampliar o hospital, ao ponde de constituir amplo quarteirão na malha urbana, actualmente incompleto. A primitiva igreja, segundo documentos de 1609, integrava-se na tipologia das Misericórdias com nave rasgada por tribuna, comunicando com a Sala do Despacho, onde se reunia a Confraria e por onde se acedia à sacristia, a qual foi apeada ou fechada em data ainda não definida. Exteriormente, a fachada principal revela uma reforma da 2ª metade do séc. 18, na janela sobre o portal da igreja e no esquema do remate e vãos do edifício do hospital, período em que também se construiu a torre sineira, reformulou o pátio, a respectiva capela dos enfermos e outros espaços do hospital. No interior da igreja, o púlpito, acedido por porta com escada estreita rasgada no interior da caixa murária, assenta em três consolas, de faces exteriores e interiores com inscrições latinas, datadas de 1568, possuindo ainda inscrições na verga sobre a porta e na bacia, todas elas de invocação Mariana. No séc. 18, foi deslocado do local original para o 1º tramo da nave, a fim de se construir a capela de Nossa Senhora do Loreto, fazendo com que a inscrição exterior de uma das consolas ficasse parcialmente tapada e se alterasse sensivelmente o esquema do padrão dos azulejos daquele tramo. Todos os tramos integram superiormente painel de azulejos policromos com representação do Santíssimo numa custódia. A capela de Nossa Senhora do Loreto, possuindo já alguns elementos rocaille, tem a estrutura revestida a talha dourada, com a cornija sobreposta por cartela contendo invulgar alegoria à Virgem e ao Menino como principais protectores da Igreja, e alberga retábulo com os eixos definidos por quarteirões com atlantes de vulto sustentando açafates e vários símbolos Marianos integrados na decoração da capela. O retábulo das Almas, actualmente sem o painel pintado alusivo ao orago, é de influência borromínica, apresenta o remate do ático tapado pelo arco da capela e conserva o frontal de altar em talha de estilo nacional com acantos bastante relevados. A capela do Santíssimo Sacramento, a única profunda, conserva apenas da antiga decoração a sanefa em talha com representação da Adoração do Santíssimo sobre o arco; o vão entaipado no lado da Epístola, com moldura recortada, corresponderá provavelmente a uma antiga porta exterior de acesso, que foi entaipada com a construção da torre sineira. Na Capela de Nossa Senhora do Rosário evidencia a introdução de uma arquivolta assente em pilastras de diferente tratamento plástico, com inscrição na arquivolta da capela apontando para o culto à Virgem da Natividade, e cartela de anjos com cruz constituindo fragmentos de talha reaproveitados. As paredes da capela-mor evidenciam algumas reformas, visto surgir um primeiro silhar de azulejos de padrão policromo reaproveitados encimado por um outro de grutescos, truncado, e com azulejos com os mesmos motivos também reaproveitados no espelho da escada de acesso à tribuna do retábulo-mor. Este, apresenta o corpo parcialmente suspenso, devido ao apeamento do banco e tendo o altar, sacrário e estrutura de apainelados de acantos envolventes constituída por reaproveitamentos de talha barroca. A sacristia da Capela das Almas é revestida a azulejos de composição figurativa alusiva ao orago, da 2ª metade do séc. 18, integrando-se no chamado Ciclo dos Mestres joaninos, possuindo já misturados elementos rococós, tal como acontece com as pinturas murais do corredor de acesso. A actual Sala do Despacho correspondia à antiga enfermaria dos pobres envergonhados, reformada no segundo quartel do séc. 18, denunciando a porta lateral a E. o prolongamento das instalações hospitalares para aquele lado. As sanefas em talha policroma sobre os vãos da sala são tardo-barrocas, tal como o corpo central do retábulo, mas os corpos laterais do mesmo são já posteriores, possivelmente do séc. 20, tal como os nichos rasgados, intercalados por capitéis de inspiração coríntia recentes. De realçar ainda a mesa circular da Confraria, com escalfeta, envolvida por cadeiral de três cadeiras, de esteira em couro gravado, tipicamente portuguesas do séc. 17. No retábulo da enfermaria destaca-se o volume dos acantos no banco e na cozinha o reaproveitamento de azulejos de diferente padrão maneiristas.
Planta trapezoidal com igreja longitudinal, composta por nave única e capela-mor, tendo adossado à fachada lateral direita, integrada a meio da nave, torre sineira quadrada e vários corpos rectangulares, à lateral esquerda corpo rectangular perpendicular, com duas sacristias, casa do despacho e outras dependências da Irmandade, desenvolvendo-se posteriormente os corpos do antigo hospital à volta de pátio quadrado. Volumes articulados e escalonados com massas de disposição horizontalizante, e coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na igreja e hospital, de uma água nos anexos e cúpula bolbosa na torre. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com cunhais e friso superior da fachada principal e faixas pintado de azul, terminando em cornija e beiral. Fachada principal virada a N., com igreja terminada em empena, de friso e cornija de massa, coroada por cruz latina de cantaria; é rasgada por portal de ordem jónica, em mármore, de verga recta, ladeado por duas colunas estriadas, de terço inferior marcado, assentes em plintos paralelepipédicos, de almofadas côncavas, sustentando friso decorado de métodas e triglífos, tendo ao centro a inscrição em três regras: "ESTA IGREIA HE DA MIZERICORDIA", e frontão triangular, tendo no tímpano cartela circular; sobre o portal, surge janela rectangular de verga abatida, com moldura em cantaria e fecho relevado com florão, gradeada, encimada por friso e cornija do mesmo perfil, sobrepujado por elemento decorativo em estuque, com florão em cartela circular e gotas. Recuada relativamente à igreja, desenvolve-se à esquerda a fachada do antigo edifício do hospital, de dois pisos, terminada em friso e cornija de estuque, alteada e curva ao centro, sobreposta por beiral, e rasgada por vãos rectilíneos com molduras simples de cantaria; no primeiro piso abrem-se quatro portas e quatro janelas de peitoril, dispostas em ritmo irregular, e, no segundo, quatro janelas de peitoril e, ao centro, uma de sacada, com verga abatida, de chave saliente, com pequenos brincos laterais, encimada por cornija contracurvada igualmente com chave saliente, e guarda em ferro de motivos vegetalistas. Fachada lateral direita marcada pela volumetria dos vários corpos adossados, terminados em cornija e beiral ou apenas pelo beiral, de telha de canudo. Torre sineira de paredes rebocadas e pintadas, com cunhais em cantaria, de dois registos separados por friso, abrindo-se no primeiro, virada a O., porta de verga recta moldurada a cantaria sobreposta por duas pequenas frestas, também molduradas, e, no segundo, em cada uma das faces, sineira em arco de volta perfeita, sobre pilastras, albergando três sinos, um deles inscrito com "IHS. 1717"; termina em cornija e coruchéu em campânula, decorado com elementos circulares relevados em almofadas e coroado por catavento. Entre a torre e o contraforte do extremo da nave, com a metade inferior em cantaria, dispõem-se os volumes das capelas laterais, a do Sacramento com janela virada a S., gradeada; seguem-lhe dois pequenos volumes rectangulares, adossados à capela-mor, um com janela moldurada virada a O.. Em plano recuado, desenvolve-se a actual fachada principal do hospital, de dois pisos, separados por faixa pintada de azul, rasgada no primeiro piso por três portas, a central mais larga, intercaladas por três janelas, rectilíneas, e no segundo por cinco janelas de peitoril, de verga abatida, e moldura fina, e pequenos óculos circulares junto à faixa pintada. INTERIOR da igreja com nave coberta por falsa abóbada de estuque em cruzaria de ogivas, de dois tramos, com bocetes circulares pintados, o central do segundo tramo com a pomba do Espírito Santo, assente em pilastras adossadas. Apresenta as paredes integralmente revestidas a azulejos "tipo tapete", com padrão 2 x 2 em "massaroca de pintinhas" (P-102) com cercadura C-1 e friso F-13, dividido em dois registos por cercadura C-78 e friso F-13, os quais envolvem ainda os registos figurativos policromos com representação do Santíssimo numa custódia que surgem a meio de cada um dos panos da nave. Coro-alto suportado por três arcos em cantaria, o central maior e em asa de cesto e os laterais de volta perfeita, assentes em quatro colunas toscanas e entablamentos, os centrais decorados com almofadas circulares e em losango; acedido por porta de verga recta no lado do Evangelho, possui guarda em balaústres e acrotérios de cantaria, e, no lado da Epístola, órgão de armário; no sub-coro, coberto por três abóbadas de berço independentes, pintadas com cartelas circulares policromas, flanqueia o portal duas pias de água-benta circulares encimadas por nichos semicirculares, apresentando o arco central guarda-vento em madeira e vidro. Do lado do Evangelho ainda no primeiro pano, rasga-se porta de verga recta, moldurada, de acesso à Sacristia das Almas. No segundo tramo, dispõe-se o púlpito em cantaria, de bacia rectangular sobre três consolas volutadas, com o lintel e as faces exteriores e interiores destas apresentando inscrições latinas, e com guarda em balaustrada, sendo acedido por porta de verga recta, encimada por friso inscrito e cornija, a partir de escada desenvolvida no interior da caixa muraria. Segue-se a capela de Nossa Senhora do Loreto, com retábulo de talha dourada de planta convexa e um eixo. No lado da Epístola dispõem-se três capelas laterais, com arcos de volta perfeita sobre pilastras toscanas, a primeira inicialmente dedicada às Almas e actualmente ao Sagrado Coração de Jesus, com retábulo em mármore, de planta recta e um eixo, e frontal de altar em talha dourada. A segunda, mais profunda, dedicada ao Santíssimo Sacramento, cerrada por grade de talha dourada e policroma, e a última, dedicada a Nossa Senhora do Rosário, com o arco revestido a talha dourada e possuindo retábulo igualmente em talha dourada, de planta côncava e um eixo. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilares facetados, de fuste almofadado, sobre plintos, totalmente envolvido por azulejos de tapete, com padrão 2 x 2 (B-67), sobrepujado a meio por tela semicircular, de moldura dourada, com representação da Adoração da Custódia. Capela-mor sobrelevada, com paredes pintadas e rebocadas, decoradas com friso vermelho escuro e bege, sobre azulejos formando silhar, tendo inferiormente tapete, de padrão policromo B-67, e superiormente monocromos azuis sobre fundo branco de brutescos, actualmente truncado. Pavimento de mármore com supedâneo de três degraus e cobertura em falsa abóbada de berço, pintado com brasão nacional coroado inserido num medalhão oval, envolto por friso fitomórfico que se prolonga ao longo da cornija, enquadrando ao centro da mesma grinaldas e nos ângulos florões. Retábulo-mor de talha dourada de planta recta, corpo côncavo e um eixo, definido por quatro pilastras, de fuste ornado por motivos fitomórficos, a exterior mais estreita e a interior assente em plintos com acantos enrolados e friso com querubim, e quatro colunas intermédias, de fuste torso decorado por pâmpanos, e de capitéis coríntios, que se prolongam no ático em igual número de arquivoltas, as intermédias torsas e com pâmpanos, unidas no sentido do raio; ao centro, apresenta tribuna em arco de volta perfeita, de intradorso decorado com acantos enrolados, interiormente com pinturas murais e albergando trono expositivo, sendo fechada por cortina. Sotobanco com painel de talha ornada de acantos; o banco foi apeado, encontrando-se vazado pelas portas de acesso à antiga sacristia do Santíssimo, actualmente vedado. Altar paralelepipédico, com frontal de talha dourada, marcando sanefa e sebastos, decorado por acantos, encimado por friso com acantos enrolados, sobre o qual assenta sacrário em forma de templete, com elemento fitomórfico e atlantes nos cunhais, terminado em friso de acantos e com porta ornada por cruz e elementos eucarísticos (Árvore da Vida); a base da tribuna é decorada por apainelado de talha dourada com acantos formando elemento triangular central. Nas paredes laterais abrem-se portas de verga recta, com moldura de meia cana, a do lado da Epístola para corredor de escadas de acesso à tribuna, com o espelho revestido a azulejos de brutescos reaproveitados, e a do lado do Evangelho de acesso a corredores de passagem, de onde partem escadas de ligação ao segundo piso do hospital, e duas sacristias. A primeira é a das Almas, disposta frontalmente à sua capela, de planta rectangular, acedida por corredor estreito, coberto por abóbada abatida com pinturas murais, representando as Almas e inscrição numa cartela recortada. Apresenta pavimento em tijoleira, tecto plano de madeira, formando apainelados e as paredes revestidas a azulejos monócromos azuis sobre fundo branco, com painéis de composição figurativa alusiva às Almas. Na parede testeira tem arcaz, encimado por espaldar centrado por sacrário, ladeado, à direita, por armário embutido; na parede do lado esquerdo, virada a N., entre duas janelas, surge o lavabo em cantaria de mármore. Através de portal de verga recta inscrita, a sacristia comunica com uma outra, a actual da igreja, mais simples, com pavimento em tijoleira e tecto em barrotes, acedida pela igreja através da porta junto ao púlpito. As restantes salas do primeiro piso têm paredes rebocadas, pavimento em tijoleira ou em madeira e, algumas, tectos em abóbada de cruzaria de ogivas. O segundo piso, acedido exteriormente pelo portal junto à fachada da igreja, apresenta ampla sala rectangular, com pavimento em tabuado de madeira e tecto alto de estuque, em gamela; tem à direita porta de acesso a escadas estreitas rasgadas no interior das paredes para o coro-alto, fronteiro ao lance de escadas, com guarda de ferro, porta de ligação a outras dependências do hospital, e no topo E. porta para a actual Sala do Despacho, de verga recta encimada por friso inscrito e cornija. Esta dispõe-se perpendicularmente, com silhar de azulejos monocromos azuis sobre fundo branco com padrão de figura avulsa, tendo nos cantos "pintas", possuindo no topo S. retábulo de talha policroma, de planta recta e cinco eixos. HOSPITAL: o actual portal principal acede a vestíbulo, com pavimento cerâmico e cobertura em falsa abóbada de berço, flanqueado de ambos os lados por gabinetes, acedidos por portas de verga recta, sendo frontalmente fechado por porta metálica envidraçada de ligação ao pátio. Este, sensivelmente quadrangular, tem fachadas pintadas de branco e faixa cinzenta, de dois pisos separados por friso e terminadas em cornija de massa sobreposta por beiral. As fachadas N. e E. são rasgadas a ritmo irregular no primeiro piso por amplos arcos de volta perfeita, sobre pilastras pintadas, fechados por portas envidraçadas ou janelas envidraçadas sobre guarda em alvenaria rebocada e pintada; no segundo piso, apresentam arcada composta por arcos de volta perfeita e chave saliente, sobre pilastras, fechadas por guarda rebocada e pintada e janelas com bandeira, acedido por escadas de cantaria nos ângulos NO. e SE., a primeira formando L e a segunda de tiro, com guarda rebocada e pintada e corrimão em cantaria. A meio da fachada N. rasga-se o portal da antiga capela dos defuntos, de verga abatida, com chave saliente e moldura formando pequenos brincos, encimado por espaldar recortado com elementos ovais salientes e cornija de perfil curvo. Interiormente, possui planta longitudinal, com cobertura em falsa abóbada de berço, tendo na parede testeira arco de volta perfeita, moldurado e de chave saliente, assente em pilastras; estas são ladeadas por altos painéis relevados, terminados em cornija, ao nível do capitel das pilastras, encimada por motivos relevados curvos. Na fachada S. do pátio rasgam-se no primeiro piso portais de verga recta, de diferente tamanho, e um óculo oval, e, no segundo piso, janelas de peitoril sem moldura; na fachada O. apresenta no primeiro piso o arco de acesso ao pátio, de volta perfeita, encimado por cartela de mármore oval, pintada com as armas da Misericórdia, e portal de verga recta, e, no segundo piso, janelas rectilíneas e de verga abatida; a meio da fachada existem vários respiradouros circulares e um pequeno sino de bronze. O pátio tem pavimento em calçada à portuguesa, com amplo brasão da Misericórdia ao centro. Ao nível do piso térreo, algumas dependências conservam coberturas em abobadilha de tijolo e outras em cruzaria de ogivas, de um ou mais tramos. No segundo piso, as alas à volta do pátio possuem pavimento em cantaria, formando losango branco e preto, para onde dão as várias dependências e enfermaria com portas de verga recta e janelas de peitoril rectilíneas de molduras simples; destaca-se uma enfermaria feminina, com tecto de estuque em gamela, bastante alto, e integrando numa das paredes do topo retábulo em mármores policromos, de planta côncava e um eixo. Numa outra ala, situa-se a cozinha, rectangular, com pavimento em lajes de cantaria, tecto em gamela, de estuque, pintado de ocre, tendo em cada um dos topos armários embutidos, num deles enquadrando ampla chaminé de verga abatida, em cantaria rosa, revestidos a azulejos de padrão policromo P-388 reaproveitados, integrando ao centro painel com azulejos monocromos azuis sobre fundo branco, com padrão semelhante ao P-382.
Materiais
Alvenaria rebocada e caiada ou pintada; elementos estruturais, molduras dos vãos, cunhais da torre sineira, arcos, colunas, pilastras, coro-alto, púlpito, retábulo lateral, pias de água benta e outros em cantaria de mármore; silhares e revestimento da nave e sacristia das Almas em azulejos; elementos decorativos em estuque; retábulos de talha dourada, policroma ou em mármore; portas e caixilharia em madeira ou alumínio; pavimentos da igreja e algumas zonas do hospital em mármore, da sacristia das Almas e corredores anexos em tijoleira e das restantes instalações em madeira; grades de ferro; cobertura em telha de aba e canudo; sinos de bronze.
Observações
*1 - Várias personalidades ilustres pertenceram à Confraria da Misericórdia. Refira-se Afonso de Lucena, que fez várias doações, o martirizado Francisco de Lucena e o Dr. Cristóvão de Matos. Contudo, os membros mais prestigiados da Confraria foram os duques de Bragança, tendo sido Irmãos D. Filipe, D. Teodósio II, D. Duarte, D. Alexandre, D. João II e seu filho e o príncipe D. Teodósio. Os duques de Bragança interferiam directamente no funcionamento interno da Confraria e na eleição do Provedor e outros Irmãos da Mesa. Dotaram a Misericórdia de legados para a sua manutenção, financiaram as principais obras da Confraria, facilitaram a aquisição de propriedades e dotaram as estruturas edificadas de condições de financiamento, pagando a aquisição de roupa para as novas enfermarias, contribuíram para a alimentação dos doentes e apetrechando o hospital com pessoal adequado. A partir de 1640, a interferência da Casa de Bragança fez-se a partir de Lisboa, que passou a servir de intermediária nas relações com a Coroa, que se estreitaram. Na Misericórdia reflectia-se a reprodução das redes cliantelares e do poder da Casa de Bragança. Por ordem do duque D. João II, o hospital recebia 39$670 para 200 varas de pano e 34 mantas. *2 - O Duque D. João I recomendou em testamento que seu filho protegesse a Misericórdia e cumprisse o testamento de seu tio D. Constantino de Bragança, de quem fora testamenteiro, e que deixara 1000 pardaus para se fabricar uma enfermaria nova nos quintais ao longo da R. das Vaqueiras com uma varanda no cabo para os convalescentes tomarem sol. Como os 1000 pardaus não chegavam para aquela obra, lembra a seu filho D. Teodósio II que consertasse "antes" a "enfermaria que corre ao longo da rua de três", que se achava destelhada e fizesse uma varanda na quadra ou pátio da parte do poço com pilares e arcos de ladrilho. *3 - Na cópia do Compromisso datada de 1661, estabelecia-se que a Confraria deveria ter três núcleos documentais: um para os Irmãos e eleições, outro para o património, gestão e administração da casa e o terceiro para as obras da misericórdia praticadas; neste último, teria de existir um livro para o registo dos presos, outro para os doentes do hospital e o terceiro para as sepulturas perpétuas da igreja. *4 - Segundo Cadornega, a Confraria de Nossa Senhora do Rosário incorporava escravos negros, muitos deles que serviam no Paço e homens ricos da vila. *5 - De acordo com Túlio Espanca, a capela do Rosário possuía pinturas murais nas paredes, "do tipo de brocado", e a abobada tinha pintada a pomba do Espírito Santo. *6 - Na sacristia existia a meio mesa de mármore setecentista.